Mesmo com a relação entre Paulo e Maria florescendo de maneira visível, Sarah não recuou. Pelo contrário, a felicidade do casal parecia alimentar sua determinação. Os flertes tornaram-se mais ousados, mais calculados.
Um dia, no café da manhã, com Maria presente, ela deixou a mão "acidentalmente" escorregar pelo braço de Paulo ao passar a xícara de café. "Toma, querido, ainda está quentinho", disse com um sorriso doce, mas com um brilho desafiador nos olhos voltado para ele. Maria, distraída com o celular, não viu o gesto, mas Paulo sentiu o toque como um choque.
Mais tarde, naquela mesma noite, enquanto Maria tomava banho, Sarah apareceu na porta do quarto dele, usando apenas uma camiseta curta. "Estava com saudades dos nossos bate-papos, Paulo", disse, apoiando-se no batente da porta.
Paulo sentiu uma mistura de raiva e algo mais complexo - uma excitação perversa que o envergonhou instantaneamente. "Sarah, isso já passou dos limites", respondeu firme, fechando a porta suavemente, mas com determinação.
Foi na solidão do bar, horas depois, que a ideia começou a se formar em sua mente. Ele observava os clientes - homens bem-sucedidos, alguns com mulheres mais jovens - e um pensamento doentio surgiu: Se não posso vencer essa tentação, por que não aproveitá-la?
A ideia era simples, mas perversa. Ele começou a imaginar que podia controlar a situação, que talvez pudesse ter o melhor dos dois mundos - a segurança do casamento com Maria e a emoção proibida com Sarah. "Ela é maior de idade", racionalizou consigo mesmo, ignorando o caráter imoral e destrutivo do plano.
Nos dias seguintes, Paulo começou a enviar mensagens ambíguas para Sarah. "Você estava bonita hoje" ou "Sinto falta das nossas conversas também". Ele justificava para si mesmo que estava apenas "brincando com fogo controlado", mas na verdade estava alimentando exatamente o que prometera a Maria que extinguiria.
Sarah, percebendo a mudança, sorriu para si mesma. Finalmente, ele estava cedendo. O que ela não sabia era que Paulo estava se convencendo de que poderia manter as duas relações - um equilíbrio impossível que só poderia terminar em tragédia.
O convite na tela do celular parecia pulsar: "Preciso buscar um livro que esqueci no escritório. Você está no bar hoje à tarde?" Paulo leu a mensagem três vezes. Cada leitura acentuava a batida irregular do seu coração. Ele sabia que era uma armadilha, mas algo dentro dele já não se importava mais.
"Estarei aqui. A porta dos fundos estará aberta", respondeu, suas mãos suadas quase deixando o celular escorregar.
O "Aguardente" à luz do dia era um lugar fantasmagórico, mas hoje parecia carregado de eletricidade. Quando a porta dos fundos rangeu, Paulo não se virou. Ouviu os passos leves de Sarah se aproximando, sentiu seu perfume invadindo o espaço antes mesmo de vê-la.
Ela fechou a porta com um clique suave.
"O livro...", ele começou, mas a voz falhou quando seus olhos encontraram os dela.
Sarah não deu atenção à farsa do livro. Caminhou até ele com uma determinação que fez o ar faltar em seus pulmões. Parou a centímetros, seu corpo quase tocando o dele.
"Chega de joguinhos, Paulo", disse, sua voz um sussurro carregado de verdade. "Ou você me beija agora, ou eu vou embora e você nunca mais vai me ver dessa forma."
O mundo parou. Paulo podia ouvir o tique-taque do relógio na parede, o zumbido da geladeira, o som da própria respiração ofegante. Todos os seus argumentos morais, todas as promessas feitas, tudo desmoronou como um castelo de cartas diante daquela oferta - e daquela ameaça.
Ele não recuou.
Seus olhos percorreram o rosto dela - os lábios entreabertos, os olhos cheios de desafio e vulnerabilidade - e algo dentro dele se rompeu. Foi como se uma corrente que o prendia há anos tivesse se partido.
Quando seus lábios finalmente se encontraram, não houve mais barreiras. Foi um beijo de fome acumulada, de desejo reprimido por tanto tempo que já doía. Suas mãos encontraram a cintura dela, puxando-a contra seu corpo com uma urgência que surpreendeu a ambos.
O bar, o mundo lá fora, Maria - tudo desapareceu naquele momento. Havia apenas a verdade crua daquele beijo, do corpo de Sarah contra o seu, do sabor proibido que ele finalmente experimentava.
Quando se separaram, ofegantes, os olhos de Paulo estavam escuros de desejo e culpa. Sarah sorriu, um sorriso triunfante e perigoso.
"Agora é tarde demais para voltar atrás", ela sussurrou, os dedos traçando a linha de seu queixo.
Paulo não respondeu. Apenas a puxou para outro beijo, mais profundo, mais desesperado. Ele sabia que ela estava certa. Havia cruzado uma linha que não poderia jamais desfazer. O segredo que agora compartilhavam era maior, mais pesado e mais perigoso do que qualquer mensagem de texto.
E no fundo, na parte de si que ainda conseguia pensar com clareza, ele sabia que isto era apenas o começo.