CASAMOS!

Um conto erótico de Juh
Categoria: Lésbicas
Contém 4421 palavras
Data: 24/11/2025 21:32:14

Eu não imaginei que ficaria tão nervosa no dia do meu casamento. Eu sabia que o nervosinho viria, mas não tão forte ao ponto de fazer Lorena e eu passarmos a noite inteira acordadas, conversando baixinho até dar o horário de irmos para o espaço.

Minha cunhada veio me buscar e Sarah levou Lore. Eu não sabia que iam nos separar tão cedo, e fiquei ainda mais grata por termos aproveitado tanto aquela madrugada… cheias de carinho, rindo por qualquer coisa e dividindo tudo o que sentíamos sobre o nosso grande dia.

Assim que cheguei lá e vi tudo arrumado, eu não me aguentei. A gente planejou cada detalhe juntas e conhecia o projeto de cor, mas nada se comparou à sensação de ver tudo pronto. Era como se todas as nossas ideias tivessem ganhado vida diante de mim.

O espaço era todo aberto, abraçado pelas árvores altas que formavam uma espécie de cúpula natural bem em cima do altar. O sol estava forte e, como eu e Lore temos essa paixão enorme pelo céu, eu comecei a imaginar o momento em que ele começaria a descer, pintando tudo com aquela luz dourada que atravessa a folhagem. Só de pensar nisso, meu coração disparou ainda mais.

O corredor estava enfeitado com lavandas penduradas nos assentos, e o cheiro suave delas preenchia o ar de um jeito tão gostoso que eu soube ali, na hora, que nunca mais esqueceria. As flores do altar tinham o mesmo tom lilás delicado, combinando com o meu buquê e com o de Lore. Era como se tudo estivesse milimetricamente calculado para que fosse perfeito — e ia ser.

Mas algo inquietava o meu coração… a falta que eu estava sentindo da minha mãe.

Meu casamento, com certeza, seria um dos dias mais felizes da minha vida, e mesmo assim eu não conseguia parar de pensar em como eu desejava o apoio dela. Era uma vontade que eu não sabia medir. Não era sobre aprovação, nem sobre concordar com tudo; era sobre presença. Sobre ter ali o abraço que me acompanhou a vida inteira.

Eu sabia que ela viria e tentava me concentrar nos detalhes ao meu redor — na beleza daquele lugar, no cheiro das flores, no céu que estava começando a dar sinais de que atenderia nossas vontades e ficaria do jeito que a gente sonhou —, mas uma parte minha continuava presa naquela filha que só queria que a mãe dissesse que estava tudo bem, que ela fosse feliz e que seguisse seu caminho.

Começou a doer.

Era uma ferida ainda sensível e, naquele momento tão grande da minha vida, ela pulsava intensamente.

Não existia mais relação; a gente não se comunicava direito. Apesar das pessoas ao redor tentarem nos ajudar, principalmente Lore e meu pai, nós quase não nos falávamos. Minha mãe sempre foi presente, superprotetora e preocupada. Ela gostava de ter controle das situações, e acredito que não poder dirigir a minha vida de um jeito que ela achasse adequado foi algo que a entristeceu. Porém, eu não tomei nenhuma atitude errada… eu só queria viver o meu amor.

Contudo, eu não conseguia evitar sentir falta da minha mãe — não da versão que não me acolheu, mas da mulher que me criou, que me ensinou a cuidar de mim, a pensar no próximo, a cuidar das pessoas ao meu redor, a fazer café da manhã para duas pessoas e também para uma multidão. Ela quem me ensinou tudo, e eu sentia muito a falta dela ao meu lado no dia mais belo da minha vida.

Eu queria que ela estivesse ali, mesmo que não soubesse exatamente como agir, mesmo que não entendesse tudo… eu só queria um abraço dela.

E, enquanto eu encarava aquele altar tão perfeito, com o coração acelerado, eu também me perguntava se ela, em algum momento, também sentia essa saudade.

— Quantas coisas estão passando nessa cabecinha? — ouvi minha sogra perguntar, ao se aproximar de mim.

— Está tudo tão lindo! — exclamei, sem conseguir conter minhas lágrimas.

Não eram somente lágrimas de felicidade. A saudade realmente apertou e, de alguma maneira, D. Vera sabia.

— Vem aqui, meu amor… — ela disse, me dando um abraço.

Eu não consegui controlar, e aquele turbilhão de emoções tomou conta de mim. Minha sogra rapidamente nos dirigiu para um lugar reservado, para que eu pudesse soltar tudo aquilo que estava dentro de mim.

— Sua mãe te ama, minha linda. Sei muito bem que não é a mesma coisa, mas sempre que você precisar, pode contar com esse colo aqui, está bem? — ela perguntou, e eu só consegui responder com um aceno positivo.

Minha sogra continuou ali comigo por muito tempo. Ela fazia carinho no meu cabelo e dizia que tinha certeza de que seria um casamento muito lindo; que era grata a Deus por eu estar fazendo a filha dela feliz novamente; e que, pelo que Lore passou, ela achou que não veria a filha assim nunca mais. D. Vera falava de como o nosso amor era lindo e de como, naquele dia especial, todos seriam testemunhas disso.

As palavras dela foram me animando, principalmente quando começou a brincar com o futuro: perguntando se Mimi ganharia irmãozinhos e se a gente pretendia continuar passando o São João na casa dela… Eu nem percebi quando minhas lágrimas secaram e acabei me distraindo.

Do futuro, fomos para o passado.

— Quando a senhora soube que Lore gostava de meninas também? — perguntei, curiosa.

Ela ficou pensativa por alguns segundos.

— Acho que eu sempre soube, Juh… Mas tive certeza quando vi. Ela não era uma menina de trazer confusão para casa, pelo contrário, nos ajudava muito. E um dia, quando fui chamá-la para auxiliar o pai nas vendas, a vi beijando uma garota. Eu me assustei, porque achei que ela estaria brincando com a amiga, mas logo saí e contei para o Paulo. A gente não sabia muito bem como reagir, então somente a esperamos terminar e seguimos como se nada tivesse acontecido. No final da noite, conversamos a sós no quarto e chegamos à conclusão de que não alterava nada. Era com quem ela gostava de se relacionar e a gente não ia se meter nisso… Mas morávamos numa cidade pequena e logo se espalhou. Infelizmente, nem todos pensavam como meu marido e eu, então ela sofreu um pouco com alguns comentários e afastamentos, e em pouco tempo todos já sabiam. Chegavam fofocas até nós dois, cobrando uma posição, porém nunca demos importância. O que sempre importou foi quem minha filha é e todo orgulho que sempre nos trouxe. Ela nunca chegou para assumir para nós dois, mas sabia que a gente tinha conhecimento e não escondia nada… Ela só vivia a vida dela, e nós demos liberdade para isso. Até que saiu de casa e, quando fomos visitá-la, nos apresentou pela primeira vez uma mulher como namorada. Não durou muito, e logo apareceu com o pai de Mih. Eles se casaram e o restante você já sabe… — D. Vera contou, pacientemente, com carinho em cada palavra.

— Não tem como Lore ser diferente do que a senhora e meu sogro são… Ela é tão amorosa, tão leal, me passa uma segurança sem igual. Dá pra ver direitinho de onde veio tudo isso — falei, sorrindo, e minha sogra sorriu de volta.

— Minha filha sempre teve um coração bonito, Juh. Sempre. Ela só precisava de alguém que enxergasse isso de verdade — e você enxergou. Você devolveu a luz dela, meu amor. Eu vi minha filha voltar a sorrir como antes, a conversar, a se animar, a viver… Você não tem ideia do tamanho da diferença que fez na vida dela e também na nossa — ela disse, fazendo carinho no meu rosto.

Senti meus olhos arderem de novo, mas dessa vez de um jeito bom.

— Eu a amo muito — respondi, baixinho.

— E isso é tudo, Juh. Todo o resto é só detalhe — ela disse, com o doce sorriso de sempre.

Uma imensa paz tomou conta de mim.

Era estranho: eu estava ali chorando pela minha mãe, pela falta dela, mas ao mesmo tempo sendo abraçada por outra, que me acolhia com uma naturalidade tão grande que parecia que eu fazia parte da família dela desde sempre.

Não era uma substituição, mas, com certeza, Deus mandou exatamente quem eu precisava naquele momento.

— Obrigada, sogrinha… eu precisava muito disso hoje — falei, abraçando-a mais forte.

— Eu sei. E foi exatamente por isso que vim atrás de você — D. Vera afirmou.

Dei muitos beijinhos nela e, com certeza, me sentia melhor.

— Agora vamos fazer essa maquiagem e se arrumar, porque você tem uma esposa maravilhosa que detesta atraso e vai desmaiar quando te vir entrando — ela brincou, e eu já sorria tranquilamente.

Meu coração deu aquele salto gostoso. Eu sentia o amor da minha nova família vibrar e me abraçar através daquela mulher.

Enquanto a maquiadora e a cabeleireira trabalhavam em mim, aos poucos, a ansiedade deu lugar a uma sensação tão doce que eu já me sentia completamente tranquila.

O brilho leve nos olhos, a pele iluminada, o batom escolhido com tanto carinho. Tudo parecia encaixar perfeitamente no que eu sonhei para aquele dia. Quando a profissional terminou e eu me vi no espelho, meu peito até esquentou. Eu estava linda, tudo suave do jeitinho que eu queria, e só conseguia pensar em como Lorena estava. Foi então que algo me tirou dos meus pensamentos. No cômodo ao lado, ouvi uma vozinha manhosa, quase choramingando, quebrando o silêncio com um draminha encantador.

— Quero vestir logo… — repetia minha filha.

Loren e Sarah vieram até mim, e eu estava saindo para ver como Mih se sentia. Na verdade, eu queria qualquer motivo para dar um cheirinho nela. Minha cunhada foi buscá-la para que eu não precisasse sair.

Em poucos segundos, somente o rostinho dela apareceu na porta com o sorrisinho mais lindo do mundo. Ela estava no colo de Lorenzo, toda animada e, assim como eu, semipronta.

— Que princesinhaaaaa! — exclamei, indo até Mih, que já se jogou no meu colo.

— Mamãe, me veste — ela pediu, cheia de dengo.

— Claro que eu visto, meu amor — confirmei, dando um beijinho em sua testa.

— Estou tentando fazer essa mocinha tomar pelo menos esse iogurte — Lorenzo disse.

— Não quero mais — ela cochichou no meu ouvido.

— Só um pouquinho, para enganar o titio — eu cochichei de volta, e ela aceitou, rindo.

Acabou tomando tudo e aí sim eu a vesti.

Assim que terminei de ajeitar o vestido, ela deu um passinho para trás, segurando a roupa com as duas mãozinhas, toda cheia de charme. O vestidinho era branco, rodado, com pedrinhas, uma pequena faixa lilás que combinava com as nossas flores e um laço atrás que a deixava ainda mais fofa. O cabelo todo enroladinho e com flores miudinhas completava o combo da fofura.

Porém, o detalhe que fez meu coração derreter de vez foram os sapatos. Um saltinho mínimo, escolhido cuidadosamente para não machucá-la, mas suficiente para que Mih andasse se sentindo uma mocinha. E ela realmente estava se sentindo. Ia para lá e para cá batendo o saltinho no chão só para ouvir o barulhinho, olhando para os próprios pés como se aquilo fosse a maior conquista da vida.

— Olhaaaaa, mamãe, eu estou grande! — ela me mostrou, encantada.

— Grandona mesmo, igual à sua missão, está lembrada? — perguntei, rindo.

Na verdade, o difícil seria Mih esquecer, porque ela não parava de falar sobre isso.

— Vou jogar as flores devagarzinho no corredor, assim, olha — ela fez o gesto com a mão e deixou algumas pétalas escorrerem pelos dedos.

— Desse jeitinho! Você está perfeita e vai ser lindo — confirmei.

— É a florista mais linda do mundo — Lorenzo disse, derretido.

— Eu vou jogar bem bonito para minhas mamães! — Mimi disse, jogando flores por todo o quarto.

Naquele momento, para mim, existia ela!

Toda pituquinha de um lado para o outro, animadíssima e com aquele jeitinho fofo. Milena é meu coração fora do peito!!!

— Lore quer ver você, princesa — a moça que ia vesti-la falou.

— Vou mostrar o meu vestido e o meu salto para ela! — nossa filhinha exclamou.

— Vai lá, amor — disse-lhe, e Loren a levou.

Fiquei um pouco sozinha e, sabe quando você está sentindo como se uma corrente elétrica de felicidade atravessasse cada centímetro do seu corpo, ocupando cada célula, cada átomo, invadindo a própria corrente sanguínea e se expandindo sem parar? Era como eu me sentia... E, convenhamos, quando algo desse tipo acontece, parece quase um dever humano, um impulso universal, dever de todo cidadão movimentar o corpo da forma mais idiota possível — e foi o que eu fiz de maneira involuntária, sem controle algum, me olhando no espelho e rindo, rindo muito, rindo pra caramba.

Nessas situações, você só não pode ser flagrada porque pode ir de um negócio engraçadinho para algo tosco em segundos — e foi o que quase ocorreu. Ouvi o trinco da porta e imediatamente parei, tentando voltar a ser uma pessoa normal.

Olhei na direção do som e me deparei com meus pais adentrando o espaço. Tomei um susto tão grande porque minha mãe veio direto em minha direção e me abraçou.

Meu pai ficou olhando de longe, todo emocionado, e eu comecei a aproveitar o momento. Segurei firme nela e fechei os olhos. Eu não sabia quanto tempo ia durar, se significava que estava tudo bem ou se aquela atitude era como se fosse a bênção dela, mas eu gostei muito. Eu sentia falta exatamente desse colo que eu estava ganhando.

Quando minha mãe se afastou só o suficiente para me olhar, senti a postura firme dela voltar por um instante, como se estivesse tentando se manter no controle de suas emoções, mas algo nos olhos a entregava. Parecia vulnerabilidade, mas também conflito. Um amor que ainda não sabia como se expressar no novo mundo que eu estava construindo.

Ela respirou fundo antes de falar, parecia planejar cada palavra para não perder a força e desabar ali mesmo.

— Júlia… não foi assim que eu imaginei você se casando. É longe do que eu sempre considerei ideal… — começou a dizer, e seu olhar se abaixou por um segundo, como se ela mesma quisesse fugir da confissão. — Mas… eu estou feliz por você — concluiu, olhando dentro dos meus olhos.

Não havia dureza na voz dela; eu via uma crua honestidade. Uma honestidade que doía nela só de pensar no que dizer, mas que eu consegui receber porque vinha com uma doçura que eu reconhecia, mesmo depois de tanto tempo afastadas.

Aquilo me atingiu de um jeito tão inesperado que foi difícil até respirar. O “mas” dela nunca tinha sido esse. Nunca tinha vindo junto de algo que me acolhesse e, dessa vez, eu senti o meu coração também ser abraçado por ela.

— Estou feliz porque você está com alguém que realmente te ama, Júlia. Alguém que se preocupa com você, que cuida tão bem de você — ela ia dizendo.

A voz embargou um pouco, eu consegui observar.

Por diversas vezes ela tentou disfarçar, passando o polegar pelo canto do meu olho, como se estivesse limpando minha lágrima, mas talvez fosse a dela que queria esconder.

— Quando ela veio falar comigo hoje, eu percebi que essa menina… essa Lorena… te ama de um jeito muito bonito — e minha mãe soltou essas palavras de vez.

Me faltou ar, me faltou chão.

Minha mãe elogiando Lore??????

— Ela pediu por você com um respeito tão grande, com tanta sinceridade, que eu não tive coragem de negar. E… foi admirável, Júlia. O jeito como ela falou de você… como ela te enxerga de um jeito que eu não consegui — ela prosseguia devagar. — Eu não sei lidar com tudo isso ainda, mas eu sei reconhecer quando alguém cuida bem da minha filha. E essa Lorena cuida.

Um silêncio suave se instalou entre nós.

O que eu sentia era que não havia perdão total naquele momento, porém era visível uma mudança de mentalidade.

Havia apenas verdade nas palavras dela — verdade e amor.

Ela segurou minhas mãos com força e então disse, quase num sussurro:

— Que Deus abençoe a relação de vocês… e a sua nova família.

Eu conheço minha mãe e tinha certeza que não estava sendo fácil. Sabia que, para ela, aquilo custava algo. Custava romper, mesmo que por um instante, o que ela acreditou a vida inteira.

Mas ela disse. Ela me abençoou. Ela abençoou a gente.

E ali, naquele pequeno recorte de tempo, minha mãe me enxergou, enxergou Lore, enxergou nosso amor. Mesmo que ainda não soubesse como abraçá-lo por inteiro, ela estava tentando.

Infelizmente, não foi uma reconciliação, não foi mudança definitiva, contudo, não há como negar que foi um ato de amor... Dentro das limitações dela, mas, de fato, um ato de amor!

Foi um momento tão raro e sincero que parecia até milagroso.

Não pedi mais nada, não esperei mais nada. Só segurei aqueles minutos com toda força do meu coração, porque foi o que ela conseguiu me dar — e era o suficiente para mim.

Minha mãe saiu correndo logo depois. Meu pai me abraçou garantindo que tudo ficaria bem um dia entre nós. Pensando agora, se tornou uma lembrança um pouco engraçada porque eu estava desolada nos braços dele, ainda querendo minha mãe, e ele comemorando o nosso abraço como se o Brasil tivesse conquistado o hexa. Pedi que meu pai fosse até minha mãe porque, com certeza, ela precisava do apoio dele. Ele me deu um beijinho e foi.

Eu sempre soube que Lorena era diferente. Não digo diferente no sentido comum da palavra, mas no sentido raro. Ela carrega uma coragem tão natural, tão dela, que até quando tenta se esconder, o brilho aparece nos gestos, na voz, no olhar, no humor. Lore tem uma sensibilidade que parece expandir tudo ao redor, como se ela enxergasse mais cores no mundo do que qualquer pessoa e, o mais bonito: ela usa esse dom para fazer as pessoas se sentirem amadas.

Ela me lê no silêncio, ela me protege sem sufocar, ela me encoraja sem me pressionar, ela me dá tempo quando preciso… Ela me ama com uma generosidade que eu não sei explicar!

E naquele dia, justamente no dia mais importante da nossa vida, eu me senti pequenininha diante da grandeza dela. Um amor tão firme, tão seguro, tão absolutamente disposto a me cuidar que, só de pensar, meus olhos já ardiam novamente.

Eu estava tentando respirar fundo, manter a maquiagem intacta e me convencer de que ia ficar tudo bem quando percebi que eu já estava há algum tempo sozinha.

Minha mãe esteve ali, ela me abraçou, ela me abençoou… Eu refletia.

E só conseguia pensar: Foi Lore. Foi ela!

Aquela mulher que eu tenho o privilégio de chamar de meu amor mudou o rumo do meu dia — talvez até o rumo da minha vida — com um gesto gigante e, ao mesmo tempo, silencioso.

Minhas mãos começaram a tremer. Eu precisava dela.

Não por desespero, mas porque não fazia sentido viver um momento tão grande sem dividir primeiro com quem faz meus dias se alinharem.

Peguei o celular e digitei rápido:

“Amor, por favor, vem aqui.”

Eu sabia que ela viria, porque Lore sempre vem.

Ouvi passos apressados no corredor, vozes sussurrando conselhos de que ver a noiva antes do casamento dá azar — que ela obviamente ignorou — e, quando a porta abriu, bastou eu ver aquele rosto preocupado para meu corpo inteiro querer se abrigar nela para sempre.

— Gatinha, tá tudo bem??? — ela perguntou, tentando examinar a situação.

Eu nem pensei direito, só a abracei.

Meus braços cruzaram atrás do pescoço dela e eu senti meu coração pulsar rápido, como se tudo estivesse fazendo sentido só porque eu a segurava.

— Eu não quero chorar… Na verdade eu quero, mas não posso… Então fica caladinha, porque eu sei que se você abrir a boca eu vou me derreter inteira, está bem? — perguntei, e ela apenas assentiu, obediente.

Eu precisava dizer naquele momento para ela.

— Você é incrível. Eu nunca tive dúvidas disso, mas a cada dia você me surpreende mais. Eu não ia conseguir me casar com você sem agradecer por ser tão amorosa, tão cuidadosa, por observar tudo que me afeta — até o que outras pessoas deixariam passar. O que você fez hoje foi grandioso. Eu estava pensando nela, queria ela aqui e, quando menos esperava, minha mãe apareceu. Do jeitinho que você pediu pra ela. A gente conversou, ela disse que não imaginou me ver casando assim, que não é o ideal dela, mas que estava feliz. Disse que está feliz porque eu estou com alguém que me ama, que cuida de mim, e desejou que Deus abençoasse a nossa relação. A minha nova família… — falei, com a voz falhando mais do que tudo.

Olhei para cima, tentando segurar o choro.

Os olhos dela brilhavam. Acredito que os meus também, porque com certeza estavam úmidos.

Ficamos um tempo só nos olhando, até eu lembrar:

— Eu te coloquei no mudo, né? — e nós duas rimos.

— Pode falar alguma coisinha, só não exagera. Você me conhece… estou no limite pra não chorar — disse-lhe.

Lore então disse com aquele sorrisinho impossível de resistir:

— Acho que seremos noivas atrasadas… Eu te amo muito, meu amor. E o que for importante pra você e eu puder fazer, eu irei…

Ela ia continuar falando, mas eu coloquei a mão na boca dela, rindo, porque já estava indo longe demais para meu delineado aguentar.

— Posso dar um beijinho? — ela perguntou.

E eu dei.

Quando Lore saiu do quarto, eu caminhei até o espelho. Minha maquiagem ainda estava intacta — milagre puro — mas meu rosto tinha aquela expressão clássica de quem estava segurando o choro. Toquei levemente minha bochecha, ajeitei uma mecha solta do coque e tentei me concentrar no que ainda precisava fazer.

Minha prima entrou para me ajudar a me vestir e, logo atrás dela, estava a moça do vestido que eu iria usar.

Eu lembro de tudo nos mínimos e mais bobos detalhes.

Elas começaram a arrumar tudo ao meu redor, puxavam, ajeitavam, amarravam, prendiam, enquanto eu respirava tentando manter a calma com o horário, que agora parecia voar. Levantei os braços e senti o tecido frio deslizar pela minha pele antes de se acomodar no meu corpo como se tivesse sido costurado ali, naquele momento. O som dos ganchinhos fechando… tudo aquilo me trouxe uma última onda de realidade: estava chegando a hora. Eu estava pronta — e pronta de verdade — em todos os sentidos.

Quando virei para me ver no espelho, fiquei encantada. O vestido abraçava minha cintura com precisão, as rendas caíam com suavidade, o brilho delicado refletia a luz do cômodo. Aquele era O Vestido, e dentro dele estava A Mulher que se sentia inteira, viva, amada, completa e pronta para um dos dias mais importantes da sua vida.

Havia chegado a hora do “sim” mais belo de nossas vidas!

A luz do pôr do sol estava perfeita, filtrava pelas folhas das árvores, desenhando sombras douradas no chão e transformando o altar numa moldura natural impecável. Era como se o céu tivesse sido pintado justamente para aquele momento, com tons de laranja, lilás e rosa se espelhando nos arranjos florais e nos vestidos.

Nossas mães entraram primeiro, os padrinhos em seguida, formando pares que se alinhavam na lateral do altar. Parecia um cenário vivo de cores que combinava com cada detalhe da decoração. Mih atravessou o corredor com muita delicadeza; o vestidinho branco balançava ao redor dela enquanto ela espalhava pétalas com alegria, fazendo questão de que o som de seu pequeno salto fosse ouvido.

Lore entrou antes, de braços dados com o pai, e o silêncio reverente do salão foi preenchido pela admiração pura dos convidados. O vestido dela se movia como água, o cabelo balançava com a brisa, o sorriso contido pela emoção transformando cada passo em poesia viva. Ao chegar ao altar, seu olhar permanecia firme, preso ao caminho, esperando.

E então chegou a minha vez.

Fui ao lado do meu pai, sentindo o peso doce da responsabilidade e da felicidade se misturarem. A cada passo, algo dentro de mim se fortalecia, como se toda a energia que eu havia gastado nos últimos dias estivesse sendo devolvida em forma de luz. Ao longe, eu enxerguei Lore — meu amor, meu porto seguro — esperando por mim.

Ela parecia brilhante. Não sei se só pela luz do pôr do sol refletindo em seu vestido, mas pelo efeito natural que ela sempre teve sobre mim. Havia algo quase divino naquele instante e, quando nossos olhos se encontraram, tudo ao meu redor silenciou. Era como se o mundo inteiro cedesse espaço porque aquele momento era só nosso.

Quando cheguei ao altar, senti a emoção transbordar. Eu estava exatamente onde deveria — e queria — estar pelo resto da minha vida.

A cerimônia seguiu com uma leveza que eu jamais imaginaria. O celebrante contava partes da nossa história, e eu observava cada rosto presente, todos sorrindo, torcendo, sentindo junto. Mih ficou sentada perto de nós depois de entrar com as alianças, toda comportadinha e bem curiosa, como se não quisesse perder absolutamente nada.

E, quando trocamos os votos, eu senti minha vida inteira passar pelos meus olhos. Foi como se passasse uma retrospectiva na minha cabeça — cada desafio, cada queda, cada cura, cada abraço que nos salvou do mundo. As palavras dela me tocaram de um jeito tão profundo que nem sei como fiquei de pé. Eu me sentia vista, segura, respeitada e, acima de tudo, amada.

Quando enfim fomos declaradas esposas, senti uma euforia gritante no peito. O beijo que demos não foi apenas um beijo — foi o momento que selou tudo o que ainda construiríamos juntas.

Aquele foi o instante em que entendi, com absoluta certeza, que a vida realmente caprichou quando uniu nossas histórias, porque o que já tínhamos até ali era muito bonito.

E, por mais que o dia tivesse sido cheio de emoções intensas, nada — absolutamente nada — se comparou ao momento em que eu disse “sim” não só à mulher que eu amo, mas também à vida que escolhemos dividir.

Uma vida que já havia começado, mas agora era testemunhada diante da natureza, do sol se pondo e das pessoas que mais amávamos. Uma vida que, enfim, tinha o nosso sobrenome juntas!

Após a cerimônia, permanecemos por pouquíssimo tempo na festa. Cumprimentamos a todos, fizemos o que tínhamos que fazer e partimos para Porto Seguro, onde curtimos nossa lua de mel em dois lugares que ganharam lugar em nossos corações: Trancoso e Caraíva. Cada segundo lá foi incrível. Aproveitamos do nosso jeito e, quando voltamos para casa, retornamos convictas de qual seria o nosso próximo passo… A família ia aumentar!

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Foto de perfil de Jubs Oliver Jubs Oliver Contos: 10Seguidores: 20Seguindo: 4Mensagem Se vc n me conhece pelos contos da Lore 💍, vai lá ler tudo que minha mulher escreve e dps volta aq para ver meu pov! 😘

Comentários

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Está muito lindo! ❤️

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Última aposta da história do Beto paga com sucesso ✅

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Eu aposto e todo mundo sai ganhando 😎

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DEZ CONTOS PUBLICADOS. PARABÉNS PELA MARCA, GATINHA! 😺❤️

(vou comemorar de 10 em 10 porque de 100 em 100 é meio complicado 😂😂😂😂😂😂)

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