a minha salvação veio em forma de férias.
Quando os pais do Lucas convenceram os meus a me deixarem ir para a praia com eles, eu quase caí de joelhos agradecendo. Duas semanas. Duas semanas longe da cidade, longe do Opala do meu pai, longe da oficina. Só eu e o Lucas.
Fomos ao shopping comprar roupas de banho. Eu estava nervosa. Experimentar biquíni sempre foi um tormento. Eu me olhava no espelho do provador e só via ossos. Mas dessa vez... dessa vez foi diferente. Eu vesti um biquíni cortininha azul. Olhei para o espelho. Eu vi o corpo que tinha deixado meu namorado doido. Eu não vi falta. Eu vi potencial.
Comprei varios biquínis e um maiô cavado que eu nunca teria coragem de usar antes.
A viagem foi longa, quando o carro dos pais do Lucas pegou a estrada, deixando para trás a minha cidade e a oficina, eu senti meus pulmões encherem de ar de verdade pela primeira vez em dias. Eu olhava pela janela, vendo a paisagem mudar, e prometi a mim mesma que aquela viagem seria um recomeço. Eu ia apagar o medo e a insegurança. Eu ia ser apenas a Clara, namorada do Lucas.
mas a chegada compensou. A casa era enorme, arejada, cheia de tios, primos e agregados. Era uma bagunça deliciosa.
A praia foi uma revelação.
Eu estendi minha canga na areia e tirei a saída de praia. Fiquei só de biquíni. Olhei em volta. Vi mulheres gordas, magras, com celulite, sem bunda, com bundão, velhas, novas. E ninguém ligava. Ninguém estava apontando. Cada corpo contava uma história, e eu estava começando a gostar da minha.
O Lucas, claro, adorou.
— Você tá linda demais, Clara — ele disse, passando protetor nas minhas costas, a mão dele descendo "sem querer" para a minha bunda. — Vou ter que ficar espantando os urubus o dia todo.
A gente riu, mas a tensão estava lá. A casa cheia significava zero privacidade. Os quartos eram coletivos: meninos num quarto, meninas no outro. Eu dormia num beliche com duas primas dele e a irmã mais nova. Ele dormia com os primos e um tio.
Não dava para transar.
A gente tentava se aliviar como dava. No mar, a gente ia para o fundo, onde a água batia no pescoço. As ondas vinham e a gente se abraçava.
— Ninguém tá vendo... — Lucas sussurrava, e a mão dele entrava no meu biquíni debaixo da água.
O dedo dele me tocava rápido, trêmulo, e eu tinha que morder o ombro dele para não gemer quando uma onda batia e ele acertava o ponto certo. Ele encostava o pau duro na minha coxa, roçando, mas não podíamos tirar o calção ali. Era perigoso demais, tinha criança perto, tinha família na areia.
Voltávamos para a casa frustrados, com aquele tesão acumulado doendo na barriga. À noite, a gente trocava beijos quentes nos cantos escuros da varanda, mãos bobas por cima da roupa, mas sempre alguém aparecia. "Ei, vamos jogar baralho?". E a gente tinha que parar, sorrindo amarelo.
Até que chegou a quinta-feira.
A casa lotou ainda mais com a chegada de mais parentes para o fim de semana. Os quartos transbordaram.
— Gente, vamos ter que improvisar — a mãe do Lucas anunciou. — Quem se importa de dormir na sala? Tem colchão.
Lucas e eu trocamos um olhar. Foi telepático.
— A gente dorme! — falamos quase juntos.
Mas não foi tão perfeito assim. O Tio Cláudio, um senhor gordo e simpático que tinha bebido meia caixa de cerveja no churrasco, também ficou sem quarto.
— Eu fico no sofá, criançada — ele disse, já se jogando lá. — Podem ficar com o colchão de casal no chão.
A sala virou um acampamento. Colocamos o colchão no tapete, bem ao lado do sofá. Apagaram as luzes. A casa foi silenciando aos poucos.
Deitamos lado a lado. Eu estava com uma camiseta velha e calcinha e um shortinho fininho. Lucas estava só de cueca samba-canção.
Passaram-se dez minutos. Vinte. E então, começou.
O Tio Cláudio roncava. E não era um ronco qualquer. Parecia um trator engasgado. RRROOOONC... FIIIIUUUU...
Lucas se virou para mim no escuro. Eu não via o rosto dele direito, mas sentia o calor. Ele colocou a mão na minha cintura, debaixo da camiseta.
— Você tá dormindo? — ele sussurrou bem baixinho, a boca colada na minha orelha.
— Com esse barulho? Impossível — respondi, virando de costas para ele, nos encaixando na posição de conchinha.
— É a nossa chance — ele disse. A mão dele desceu para a minha calcinha.
— Eu tô maluco de vontade de você, Clara
— ele confessou. — A semana toda... te vendo de biquíni, te tocando no mar... eu não aguento mais.
— Eu também não... — admiti, sentindo meu mamilo endurecer na palma da mão dele. — Mas aqui? Do lado do seu tio?
— A gente faz bem devagarzinho. Ninguém vai ouvir. O ronco dele abafa tudo.
A ideia do perigo — de estar fazendo amor no meio da sala, cercada pela família dele — acendeu aquela faísca. Mas aqui era diferente. Era um segredo nosso, cúmplice.
— Tá bom... — concordei. — Mas tem que ser de ladinho. E muito quieto.
Meu coração disparou. Estávamos na sala. O tio dele estava a meio metro de distância, numa altura superior no sofá. Se ele acordasse e olhasse para baixo... se alguém levantasse para beber água e acendesse a luz...
O perigo não era sujo. Era um perigo... doméstico. Divertido.
— Vamos fazer uma cabana — eu sussurrei de volta.
Lucas não precisou de mais incentivo.
Debaixo da coberta, no escuro total, começamos a nos despir. Foi uma dança lenta e desajeitada. Ele puxou minha calcinha para baixo, passando pelos meus quadris, joelhos, até eu conseguir chutá-la para o fundo do colchão. Ele baixou a cueca o suficiente para liberar o pau.
Senti a pele quente dele, nua, encostando na minha bunda e nas minhas costas.
Ele se ajeitou atrás de mim. Ele levantou minha perna de cima, enganchando-a no quadril dele para abrir caminho.
— Vou entrar... — ele avisou, guiando a cabeça com a mão.
Eu mordi o travesseiro para garantir o silêncio.
Ele entrou devagar. A posição de ladinho permitia uma penetração profunda, mas suave. Ele deslizou para dentro de mim, preenchendo aquele vazio que estava me incomodando há dias. Foi tão bom, tão quente e "certo", que meus olhos encheram de lágrimas.
Começamos a nos mover.
Era um ritmo milimétrico. Lucas empurrava o quadril contra a minha bunda, afundando em mim, e depois recuava devagar. O colchão no chão era firme, não fazia barulho. O único som era a respiração pesada dele no meu pescoço e o ronco rítmico do tio no sofá.
Roooonc... (Lucas empurrava fundo).
Pfffiuuu... (Lucas recuava).
A gente entrou em sintonia com o barulho.
A mão dele na minha frente desceu para o meu clitóris. Ele começou a me estimular enquanto me penetrava. Aquilo foi golpe baixo. A sensação do pau dele lá dentro, roçando nas paredes vaginais, combinada com os dedos dele brincando com o meu "botãozinho", me fez arquear as costas.
— Shhh... — ele sussurrou, beijando meu ombro, sentindo meu corpo tensionar. — Relaxa, amor... goza pra mim em silêncio.
Aquilo era enlouquecedor. Ter que segurar o gemido aumentava a pressão interna. Eu sentia cada nervo do meu corpo vibrando. O cheiro dele — protetor solar, mar e suor — me envolvia debaixo daquele lençol como uma tenda particular.
Eu levei minha mão para trás e apertei a bunda dele, puxando-o mais contra mim. Eu queria sentir ele todo. Eu queria sentir aquela segurança invadir meus ossos e expulsar qualquer lembrança ruim.
O prazer foi subindo, acumulando na minha barriga.
— Lucas... eu vou... — sussurrei, a voz falhando.
— Vai, linda. Eu tô com você.
Ele acelerou um pouquinho o ritmo, movimentos curtos e precisos, focados no ponto certo.
O orgasmo me pegou de surpresa pela intensidade. Meu corpo inteiro retesou. Eu enterrei o rosto no travesseiro e abri a boca num grito mudo, enquanto minha buceta contraía violentamente ao redor dele, pulsando, apertando.
Sentir meus espasmos fez o Lucas perder o controle. Ele deu três empurrões fortes, segurou meu quadril com força para não fazer barulho, e gozou dentro de mim. Senti ele tremer contra as minhas costas, a respiração dele quente e rápida na minha nuca, enquanto ele derramava tudo em mim.
Ficamos ali parados, colados, o suor misturando nossas peles, o cheiro de sexo preso debaixo da coberta com a gente.
O Tio Jorge deu um ronco particularmente alto e se virou no sofá, as molas rangendo.
Nós dois congelamos, o coração disparado. Mas o ronco voltou, regular.
Lucas soltou uma risada abafada no meu pescoço e me beijou a orelha.
— A gente conseguiu — ele sussurrou, vitorioso.
Eu me virei de frente para ele, ainda debaixo da cabana de lençol, e o abracei forte, entrelaçando nossas pernas.
— A gente conseguiu — repeti, sorrindo no escuro.
E ali, abraçada com ele no chão de uma sala estranha, me sentindo satisfeita, amada e segura, eu soube que a sombra da oficina tinha ficado para trás. Eu não precisava do perigo sujo para me sentir viva. Eu só precisava disso. Do meu amor, do silêncio e da nossa cumplicidade.