YKARO 18
Como é que dormi depois de beijar um cara? Puta merda, por que eu beijei o Luan? Por que não o afastei e pior? Por que aceitei que ele me beijasse de novo mesmo depois de decidirmos não fazer mais isso? São tantas perguntas que ficam em loop na minha mente a noite toda. Quando finalmente meu corpo cede a exaustão e simplesmente apaga já é de manhã. Agora adivinha com o que eu sonhei?
Adriano já saiu para o trabalho — o que é bom na verdade — ficar sozinho me ajuda a pensar melhor, preparo algo para comer enquanto vejo meu telefone se tem alguma mensagem do Luan, mas não tem — não sei se fico decepcionado ou feliz, — porém a primeira coisa que noto é que ele também abriu minha foto, como eu estava com a interne desligado não consigo saber se ele viu antes ou depois de eu ter visto a dele, mas também né, isso não faz diferença.
Preciso focar em ficar longe dele e não ter mais nada com Luan. Ele é um homem assim como eu e pior ainda é namorado de uma amiga. Me pergunto o que Stella diria se soubesse, com certeza ficaria puta comigo e não falaria mais e como julgá-la, disse a ela que não seria seu amante e agora sou o talarico na relação dela, só fica pior — não importa para qual lado eu olhe.
Helena também me mandou mensagem dizendo que quer me ver hoje, mas não estou afim, ficar com ela até poderia me ajudar a tentar esquecer o beijo. Estou muito confuso agora, não sei se consigo me concentrar em outra coisa, antes eu usava do puro e simples tesão para explicar meu pau duro com Luan, isso até minha curiosidade me levar a mamar o cara e agora a gente se beijou. Luan é como um redemoinho, não importa o quanto eu nade para fora, ele vai me puxar para essa merda de novo e agora acho que não tem mais escapatória, vou me afogar nessas águas perigosas.
— Nem o café pode me ajudar com isso — nem mesmo puro.
— Falando sozinho? — Pense no susto que tomei quando Caio apareceu do nada na cozinha.
— Pensei que eu estava sozinho.
— Bem você estava, é só que esqueci minhas chaves aqui.
— Sempre esqueço que vocês tem a chave — Caio arqueia as sobrancelhas.
— Nós?
— É, você e o Luan — sinto como se os olhos afiados dele estivessem vasculhando meus segredos, esse cara é muito estranho.
— Ah claro, olha se te incomoda eu posso devolver a minha, mas no caso da do Luan, vai ter que pedir para ele — é estranho, mas sinto que quando ele fala o nome do Luan parece que está me testando.
— Tanto faz — termino meu café e levanto para lavar a xícara na pia, assim consigo evitar contato visual com ele.
— Sabe Ykaro, a gente nunca teve muita oportunidade de conversar, né?
— Sim — mesmo de costas sinto seus olhos em mim.
— Então o que você me diz de bom, está gostando de morar com Adriano?
— Sim, ele é bem legal — não faço ideia de como ele está fazendo isso, mas sua conversa mole me faz sentir como se isso fosse um interrogatório.
— Ele é um amor né, só é muito desligado da vida, eu bem que tento por juizo na cabeça dele, mas é tudo em vão.
— Acho que ele é mais esperto do que você pensa — sinto uma estranha vontade de defender o Adriano, estamos ficando amigos e eu sempre tendo a defender os meus.
— É, mas tipo ele vive dizendo que não sente mais nada pelo Luan por exemplo, mas eu sei que ele sente, Luan foi o primeiro amor platônico dele — isso eu não sabia.
— Acho que ele deve ter superado, até incentivou o Luan a ficar com a Stella.
— Verdade, mesmo assim eu conheço meu amigo e também conheço o Luan, ele é terrivelmente hetero para dar uma chance ao meu amigo — sinto como se minha garganta se fechasse e acabo engasgando com minha saliva — você tá legal?
— Tô sim, só me engasguei com saliva — Caio me lança um meio sorriso.
— Não é segredo que eu não gosto do Luan, mas o Adriano gosta, então eu aturo ele.
— Por que você não gosta do Luan?
— Ele é homofóbico, crente, e ele é muito certinho e reprimido — ah se você soubesse, não diria isso.
— Ele parece tentar ser legal pelo menos.
— Esses são os piores Ykaro, eu sei que um dia meu amigo ainda vai chorar por conta dele.
— E você, não dizem que onde tem odio tem amor? — Não sei o que me deu, mas ouvir Caio falando mal do Luan me deixa meio irritado.
Caio reflete por um momento antes de me responder, porra não devia ter caido na sua pilha, esse cara é muito esperto, Adriano mesmo já havia me dito que seu talento para ler pessoas é quase sobrenatural.
— Nesse caso não tenho nenhum interesse no Luan, pode acreditar eu me mataria antes de querer ter qualquer coisa com ele, mas como te falei meu melhor amigo gosta muito dele, e se ele tiver um problema com você isso vai respingar no Adriano.
— Problema, que tipo de problema eu poderia ter com Luan? — Preciso segurar a onda, não posso dar muito na cara.
— Ykaro eu sei — porra, sabia que ele tinha se ligado, mas como, como ele descobriu? — Stella estava com Pamela em uma festa que eu estava performando.
— Espera, o que você sabe? — Agora estou confuso, pois o cenario ficou um pouco pior.
— Eu sei que você é michê.
— Fui, eu não sou mais!
— Tudo bem, não me importa, o que você faz com sua vida para mim não importa, mas eu sei que Stella está dividida entre você e o Luan e se ela te escolher o Luan vai ficar mau com isso e logo isso vai virar uma dor de cabeça para o meu amigo.
— Espera, Caio, como você?
— Descobri — ele me interrompe — Pamela falou sobre um homem do passado dela que ela tinha esbarrado e não foi tão difícil juntar as peças deste lego.
— Você contou para alguém? — Digo bem sério.
— Acho que se você quisesse que a gente soubesse você mesmo teria contato.
— Eu não faço mais isso e você pode ficar tranquilo que eu não tenho nada com Stella.
— Mas teve.
— Acabou.
— Certo.
— Caio, não quero que ninguém saiba.
— Eu imaginei, só não entendo o porque você tem tanto problema com isso.
— Não é da sua conta!
— É você está certo, já me meti de mais, só queria avisar mesmo para você não vacilar com Adriano, pois ele está se apegando a você e odiaria ver meu amigo doce no meio desse triângulo amoroso — ele não veio por conta das chaves, até porque não teria nem conseguido entrar se estivesse sem chaves, ele veio para me interrogar de fato, que cara sinistro.
— Acho que vou querer a chave daqui, melhor só moradores terem a chave.
— Justo — Caio tira a chave do seu chaveiro e coloca em cima da mesa — vou indo, foi ótimo bater papo com você.
— Falou!
Meu passado não me deixa em paz, maldita Pamela que tinha que aparecer justo agora, mas ele não vai contar a ninguém, se fosse fazer isso já teria feito, eu não vou ter nada com Stella, nem eu seria tão filho da puta de meter chifre no Luan com ela, ainda mais depois de colocar chifre nela com ele, isso não me torna menos errado, mas pelo menos me faz pensar que não sou tão fodido assim.
Para todos os lados que eu olho parece que estou ferrado, puta que pariu, não tem como sair disso, que merda.
***
Chego no trabalho que nem um zumbi, minha mente está sobrecarregada com tudo que está acontecendo, para piorar ainda mais minha noite, Pamela deu uma carona para Stella e ficou na porta, me esperando chegar. O que essa filha da puta quer agora, pensei que a Helena tinha colocado ela no lugar dela. Mas aparentemente ela não consegue controlar a própria filha.
— Ykaro!
— Não tenho mais nada para falar com você — passo por ela como se não tivesse ali, mas a desgraçada diz um nome que chama minha atenção e me faz parar — Alexandra.
— O que você quer sua mimada do caralho?
— Não fala assim se não vai me deixar molhada aqui mesmo — faço que vou me virar para entrar no trabalho e ela vai direto ao ponto — eu descobri que a Alexandra assim como eu não consegui te esquecer.
— Vai direto ao ponto — só de pensar no que ela está prestes a fazer já me ferve o sangue.
— Ou você fica comigo ou conto para ela onde você está trabalhando, quem sabe ela pode ser mais persuasiva do que eu.
— Olha aqui sua filha da puta!
— Vai fazer o que machão, vai me bater? — Ela vem na minha direção ficando bem perto — bate.
— Eu não faço mais isso.
— E quem falou que eu vou pagar? Você vai sair comigo e me comer a noite toda de graça, depois disso eu duvido não querer continuar.
— Eu não vou sair com você.
— Então tá bom — ela pega o celular da bolsa, não posso viver o inferno que foi da ultima vez de novo, conta tudo que estou sentindo agora, sou obrigado a ceder a chantagem baixa e barato dessa filha da puta.
— Beleza, mas hoje eu não posso, estou trabalhando.
— Que horas você sai?
— Hoje eu não posso!
— Tudo bem, mas se você ligar para minha mãe, pedindo ajuda para ela de novo eu ligo para Alexandra na mesma hora entendeu?
— Tenho que trabalhar — me viro de costas para ela, mas a infeliz segura meu braço.
— Espera — Pamela avança ficando na ponta dos dedos e me beija.
Em toda a minha vida nunca passou pela minha cabeça que um uma mulher me beijando me deixaria enojado e puto da vida enquanto o gosto do beijo de um cara fica na minha boca como uma lembrança estranhamente boa.
— Ykaro — a voz da Stella morre no meio quando ela me pega beijando a Pamela.
— A gente se vê, mas olha, não vou esperar muito não tá — ela sussurra para mim — Tchau Stella!
— Tchau Pam.
Ela entra em seu carro e sai com um ar de vitória que me faz revirar tudo por dentro, quero explodir de raiva, a tensão da pura lembrança do inferno que minha vida se tornou por causa da Alexandra me pega em um lugar muito fodido, Stella me encara como se eu a tivesse traído — eu trai, mas não da forma que ela pensa agora — em outro momento eu seria um pouco mais compreensivo, mas estou tão puto de está perdendo o controle sob minha vida de novo, que a raiva me toma.
— Olha eu não tenho nada com você, seu namorado é o Luan, lembra, você escolheu ele!
— Tem razão, e pelo jeito fiz bem, o Luan não ficaria com uma mulher casada.
— É, ele é todo certinho para fazer qualquer coisa errada, por isso ele é muito melhor do que eu! — Me arrependo no momento em que falo, mas agora já foi também, então passo por ela e vou para o meu canto trabalhar.
Stella não fala comigo nada além de coisas do trabalho — não gosto de ficar assim com ela, mas tenho tanta coisa na cabeça agora que sinceramente é até melhor poder só trabalhar sem ter que conversar com ninguém — a filha da puta da Pamela me chantageando, depois do beijo me senti sujo de uma forma que nem quando me vendia por dinheiro me sentia assim.
Tem a droga do beijo com Luan e o Caio que descobriu meu segredo e pode acabar contando para todos, não confio nesse cara, se ele odeia o Luan não acho que exista tantos motivos para ele me adorar, ainda mais depois de ver que ele meio que já me marcou. O que eu faço? Falar com Helena não vai resolver meu problema, ela não conseguiu fazer isso e ainda deu um vacilo, a filha dela solbe que eu falei com ela, que vacilo Helena, porra!
Trabalhar me ajuda, mas sinto que vou explodir, as horas parecem intermináveis. Olhando para a garrafa de Old Parr e sem pensar muito me sirvo uma dose generosa com duas pedras de gelo, tem tempo que não bebo, mas sinto que se não beber algo forte agora vou explodir, Old Parr não é a bebida mais forte que está ao meu alcance, mas vai servir. Não sou de roubar, então coloco a garrafa na minha comanda, pois sei que essa dose não vai ser a última que vou tomar hoje.
Já ouviu falar que quando estamos bêbados dirigimos melhor? Bem, isso é meio que verdade para mim, só que não só na moto, quando estou bêbado minhas bebidas ficam melhores, entre um pedido e outro vou virando dose atrás de dose — whisky puro sempre! Os pedidos vão chegando e vou preparando da forma que sei fazer. Nem consigo dizer quando a bebida começou a fazer efeito, só sei que começo a jogar as garrafas para o ar e depois as pego, tinha tempo que não fazia isso, no meu antigo trabalhando antes da minha vida virar de ponta cabeça, dava shows de marabalismos no balcão, impressionava todos, aqui não tenho plateia, mas nem ligo, essa cozinha pequena é muito melhor do que qualquer balcão que eu tenha passado, aqui eu me sinto protegido — pelo menos me sentia.
— Ykaro, os clientes estão perguntando se mudamos o barman — Stella me puxa de volta dos meus pensamentos — nossa, você sabe fazer isso?
— O que?
— Jogar as coisas por ar e depois pegar.
— Tipo assim — me exibo um pouco, o que a deixa de queixo caido — sei uma coisa ou outra.
— O que você tem, está todo mundo elogiando seus drinks, mas do que o normal no caso.
— Não sei, só estou fazendo meu trabalho.
— Acho que deve ter sido o beijo de mais cedo né! — O beijo de mais cedo. Involuntariamente meu corpo solta um suspiro o que deixa Stella profundamente irritada e a lembra de que ela não está falando comigo.
Ela pega as bebidas que estão prontos e sai. Pode ser a bebida, mas não tenho certeza, só sei que dou de ombros e volto a fazer o que estava fazendo, só que agora o beijo volta para minha mente, preciso esquecer e superar isso. Tenho que fazer tantas coisas, mas hoje não, hoje eu vou ter uma noite agradável, hoje eu não quero pensar, já que meu passado me alcançou, hoje a noite vou ser o Ykaro de antes. Dou um gole em mais um doce e pego meu celular para fazer uma ligação.
— Helena, oi, seu loft está disponível hoje?
***
Foda-se, hoje vou ser o cara que tanto querem que eu seja, o Ykaro que pega o que quer, e faz o que quer, vou ter uma noite sem pensar na Stella, na Pamela, no meu passado, vou me permitir viver um pouco do meu passado denovo, amanhã eu lido com as consequências. Na saída do trabalho vejo Stella vem falar comigo novamente.
— Vai para casa, pode me dar uma carona?
— Não, hoje eu vou para outro lugar, vou poder te levar não foi mau.
— Você está bêbado, não devia nem pilotar!
— Já pilotei pior que isso — digo enquanto coloco o capacete.
— Você sabe que ela está com o marido dela hoje, não vai largar ele para ficar com você.
— Ah mas quem eu vou encontrar sem vem quando eu chamo — Stella vai do pálido ao vermelho de raiva.
Ela é a pessoa que mais me conhece atualmente e ainda sim não sabe tudo sobre mim, tipo quando a conheci estava quebrando e fugindo, mas hoje não, hoje eu sou Ykaro o Michê que curte a vida e que só tem um pensamento agora, que é dar prazer para a próxima pessoa que vai ter a sorte de dormir comigo. Não é querendo me gabar, mas ela vai gozar como nunca gozou na vida hoje a noite.
Deixo Stella pensativa para trás e sai em direção ao loft. As luzes da cidade parecem mais brilhantes, é uma noite fria, mas a whisky ainda está aquecendo meu corpo — em todos os sentidos — nem cheguei no loft ainda e já estou pensando em tudo que vou fazer essa noite, meu pau meia bomba fazendo volume na calça é uma prova disso. Na portaria do loft minha entrada é liberada sem problemas, Helena avisou então acontece como das outras vezes, eu estaciono minha moto na vaga da garagem, depois vou até a recepção e pego o cartão que eles usam aqui como chave.
No elevador dou uma arrumada no cabelo, o álcool liberou meu lado mais vaidoso também pelo jeito. Chego primeiro como de costume. Reuniões de família, isso era tão comum, minhas clientes jantando com suas famílias antes de vir ao meu encontro, “estou com dor de cabeça amor, vou dormir mais cedo, mas você pode ficar” ou “minha filha precisa de mim querido” as desculpas eram tantas, mas no final não importava qual mentira elas contavam para seus pares, pois no final da noite era comigo entre suas pernas que a noite delas acabava.
Tiro minha camisa, e os sapatos, fico só de calça. No mini bar vejo uma garrafa de Hibiki Suntory — Helena sabe que não resisto a bebidas japonesas, principalmente Whisky — bem já que ela me fez esse agrado não vou fazer desfeita, me sirvo com uma dose. Helena sabe como viver, ela foi quem me apresentou a coisas que não fazia ideia que existiam e pior que eu um dia teria acesso, sendo justo com ela, durante meu tempo como michê ela cuidou muito bem de mim. A campainha toca, meu coração acelera um pouco, pois sei que esse é um caminho sem volta, mas não consigo fugir disso, não hoje, não agora.
Viro minha dose de uma vez, limpo a boca com as pontas dos dedos, dou uma última olhada no espelho, arrumo o cabelo, respiro fundo e vou até a porta, mas uma respiração, “vamos lá Ykaro, você precisa disso”. Abro a porta e vejo Luan, lindo, de blusa polo preta e calça jeans, ele esfrega uma mão na outra com se estivesse mais nervoso do que eu.
— Oi — seu sorriso meio tímido e curioso o deixa muito sexy puta que pariu.
— Oi — foda-se, pego o pela camisa e puxo para perto de mim, minha boca não pode mais ficar longe da dele, não hoje, não agora!
