Eu tinha acabado de fazer 21 anos e, pelos olhos dos outros, eu não fazia nada de importante na minha vida. Quem olhasse para mim diria que eu era uma vagabunda que não fazia nada. Bom, na verdade, era quase isso, mas eu estava fazendo o que mais gostava: curtindo minha mãe, praticando minhas pinturas e, claro, saindo com alguns turistas interessantes que apareciam na cidade. Como falava bem inglês, francês e arranhava o espanhol, sempre encontrava alguma gringa querendo se divertir. Não fazia isso sempre, mas quando a carência batia, eu saía pela praia e quase sempre achava uma boa companhia.
Acho que eu tinha uma certa queda por mulheres mais velhas, ou talvez elas tivessem uma queda por mim. Talvez minha carinha de anjo atraía essas mulheres mais maduras, geralmente acima dos 30 anos. Com isso, fui aprendendo como me divertir na cama. Nunca me apeguei a ninguém e não deixava ninguém se apegar a mim. Não que estivesse fechada para o amor, mas se fosse para me apegar, queria que fosse alguém por perto. No entanto, isso nunca acontecia; geralmente, a mulher em questão tinha um oceano separando minha casa da dela.
Continuava estudando sempre que dava e nunca deixava de pintar, mas sempre sem pressa. Levava meses, às vezes, para terminar um quadro e muitas vezes nem me agradava depois de pronto. Alguns eu nem terminava, e outros guardava com todo cuidado e carinho. Quem sabe um dia eles não fariam parte da minha primeira exposição?
Sonhar não custa nada e, se custasse, eu pagaria. É muito bom ter nossos sonhos, e eu não iria desistir do meu. Algum dia ainda exporia meu trabalho. Porém, queria fazer isso por causa do meu talento e esforço, não alugando uma galeria por um preço absurdo como muitos fazem. Queria ter meus méritos, e para isso, ainda tinha muito o que aprender e aperfeiçoar. Sabia do meu talento, eu entendia de pinturas, e por isso mesmo sabia que eu ainda não era boa o suficiente.
Minha convivência com Milene não poderia ser melhor. Apesar de ela zuar minhas pinturas porque não as entendia, nós nos dávamos muito bem. Minha mãe, a cada dia, demonstrava estar mais feliz. Agora, ela estava fazendo bolos e doces para uma confeitaria local. Nunca precisou disso e nem precisa, mas faz por amor, e eu, claro, a apoiava. Já tinha sugerido que ela abrisse sua própria confeitaria, mas ela disse que não queria. Justificou que não queria responsabilidade nem ter que cumprir horários. Bom, não insisti mais, já que pensava da mesma forma. Acho que nós duas queríamos fazer o que gostávamos, mas sem compromisso. E se podíamos, por que não fazer?
Fui seguindo minha vida, e o tempo foi passando. Nada de novo aconteceu, exceto o fato de que fiquei mais velha, mais experiente e com mais corpo. Já estava com 23 anos e meio e ainda estava na mesma. Se isso estava tedioso? Não, nem um pouco. Mas às vezes pensava em ampliar meus horizontes. Minha pintura tinha evoluído bastante; já me achava bem boa no que fazia. E se eu não saísse daquele sótão, talvez minhas pinturas também nunca saíssem. Porém, eu ainda era nova e não tinha tanta pressa. No mais, minhas rotinas não mudaram muito.
Geralmente, à noite, entrava nos fóruns para ficar por dentro das novidades e saber o que estava acontecendo no mundo das artes. Também sempre acessava a página do Instagram que seguia. Essa página era de uma casa cultural, divulgava quase tudo de importante relacionado à arte na grande São Paulo: peças de teatro, feiras culturais, exposições em museus ou galerias. Mas eu seguia, porque era justamente nessa página que toda nova obra da minha pintora preferida era divulgada. Porém, de uns anos para cá, raramente aparecia algo novo dela. Nos fóruns que participava, os comentários indicavam que ninguém sabia de novas obras dela e provavelmente ela tinha parado de pintar. Eu acreditava, já que os últimos trabalhos dela eram quadros de 10 anos atrás. Era como se alguém tivesse guardado o acervo dela e estivesse divulgando aos poucos.
O problema era que ninguém sabia nada sobre ela. Suas obras surgiram há cerca de 20 anos em uma galeria de arte em São Paulo. As primeiras obras ganharam fama, e logo ela conquistou alguns prêmios, prêmios esses, que nunca foi buscar. Eram sempre enviados para essa galeria que expunha seus trabalhos e ficavam expostos para todos verem. Outra coisa que chamava a atenção era que seus quadros sempre tiveram preços acessíveis, mesmo depois do reconhecimento no Brasil e no exterior. Suas obras novas só eram expostas nessa galeria, mas ninguém sabia de onde vinham os quadros. Era um verdadeiro mistério que a tornava ainda mais famosa.
Ela nunca assinava os quadros; sua única marca era uma pequena Libélula branca pintada no canto esquerdo de cada obra. Era como se fosse sua assinatura. Quem entendia de arte reconhecia seus traços suaves e sua capacidade de retratar a alegria em suas pinturas. Porém, nos últimos trabalhos, ela começou a trazer pinturas mais sombrias e tristes. Nos últimos quadros que vi, ela misturou essas duas fases. Suas pinturas eram uma combinação de tristeza e alegria, e seus traços já não pareciam tão suaves e seguros. Era como se ela tivesse envelhecido e não tivesse mais firmeza nas mãos.
Me apaixonei pelas suas pinturas desde que vi a primeira vez em um leilão online. Acho que isso aconteceu porque suas obras eram exatamente o que eu gostaria de pintar; seus traços e cores eram os mesmos que eu desejava em um quadro meu. Hoje, acho que minhas pinturas são bem parecidas com as dela. Claro que não são idênticas e eu ainda não tenho o talento que ela tem, mas os traços são muito semelhantes. Não que eu fizesse isso de propósito ou tentasse copiar; simplesmente saíam parecidas.
Conheço seu trabalho há cerca de dez anos e sigo essa página que divulga suas novas obras há uns cinco, mas nos últimos três anos, só apareceram dois quadros novos, e o último já tem mais de um ano. Não sei o que aconteceu; se ela parou de pintar ou talvez esteja apenas dando um tempo. Mas sempre entro para ver se tem algo novo dela. Nunca perdi as esperanças e torço para que logo eu veja um novo quadro sendo divulgado.
Às vezes, fico imaginando como ela é fisicamente ou como deve ser sua vida. O problema é que só se sabe que ela é uma mulher por causa da Libélula desenhada em seus quadros. Mas nem isso é certeza; é apenas uma teoria, que sinceramente acredito ser verdadeira. Porém, talvez não seja, e provavelmente eu nunca vou saber.
Em uma dessas visitas que fazia na página, fiquei olhando algumas obras de pintores novos e, claro, fui até a última tela da Libélula, divulgada. Nunca tinha comentado nada, mas nesse dia resolvi deixar um pequeno texto expressando toda a minha admiração por ela e dizendo que ela era minha inspiração para continuar pintando. Apenas escrevi, postei e saí da página. Alguns minutos depois, recebi uma notificação de que alguém tinha curtido minha postagem. Nem entrei para ver quem era; com certeza, a Libélula, não era.
No outro dia de manhã, vi que alguém pediu para seguir meu perfil. Eu não tinha nada de interessante nele; era só a foto de algumas paisagens, e a última foto que postei foi do gato que a Milene achou perdido na rua e trouxe para casa. Mesmo assim, meu perfil era privado, até porque não tinha nada para mostrar. Só tinha 10 seguidoras, todas ex-ficantes com quem eu nem falava mais. Criei o perfil só para seguir essa página da casa cultural. Porém, por curiosidade, fui ver quem era. A dona da conta era uma loira linda, sinceramente achei que era fake. Porém ao olhar seu perfil, percebi que era público e tinha várias fotos dela, algumas sozinhas e outras com amigas ou namoradas. Outra coisa que me chamou a atenção era que ela tinha várias fotos de quadros e esculturas no seu perfil. Então imaginei que ela tinha me encontrado no perfil da casa da cultura; provavelmente foi ela que curtiu meu comentário.
Depois de olhar várias fotos dela, concluí que ela não era fake, então resolvi aceitar seu pedido para me seguir. Apesar de que no meu perfil não tinha nada de interessante para ela ver. Por educação, comecei a segui-la e percebi que ela tinha milhares de seguidores. Logo depois, saí e esqueci daquilo totalmente. Só me lembrei à noite, quando recebi uma mensagem da tal loira. Entrei para ler e ela estava agradecendo por eu ter aceitado seu pedido. Pensei em não responder, mas como não estava fazendo nada, resolvi responder. Ela já mandou outra em seguida, se apresentando e perguntando de onde eu era. Só aí percebi que nem o lugar onde morava tinha no meu perfil. Respondi, e ela continuou fazendo perguntas. Eu estava respondendo meio no automático, mas algo me fez prestar atenção naquela conversa. Até voltei no início e li tudo de novo com atenção.
Ela se chamava Donna, era de São Paulo, tinha 38 anos, era solteira e curadora da galeria de arte que expunha novas obras da Libélula. Foi exatamente isso que me chamou a atenção. Não acredito muito em destino, mas aquela informação me deu a sensação de que poderia ser o destino sorrindo para mim. Dali em diante, a conversa fluiu. Claro, eu ajudei a fazer o assunto render. Por fim, trocamos números de telefone, e ela disse que me ligaria no outro dia para conversarmos mais. Ainda disse que tinha gostado de mim e mandou um emoji de uma carinha piscando. Ali percebi um certo flerte, e não liguei, já que ela era linda. Se ela me queria, eu não via problema em deixar isso acontecer.
No outro dia, ela realmente me ligou à noite. Já tinha até achado que ela não se lembrava mais de mim, mas me enganei. Ela tinha uma voz suave e dava para perceber que era bastante inteligente. A conversa era interessante, já que eu amava o assunto. Donna era formada em história da arte e fez estágio na galeria, acabando por ser contratada como curadora. Porém, sua especialidade não eram pinturas, e sim esculturas. Isso me deixou um pouco decepcionada, mas tudo bem. Ela confirmou que me encontrou por causa do comentário que fiz e perguntou se eu era pintora profissional. Eu disse que não, que só pintava por passatempo, mas que gostava muito. Ela pediu para ver um quadro meu, e eu disse que depois mostraria, já que eles ficavam no sótão da casa.
Nossa conversa foi seguindo, e eu não falei nada muito pessoal, apenas o básico. Sou meio cautelosa em dar informações pessoais para pessoas que não conheço bem. Inclusive, foi algo que minha mãe sempre pediu para eu evitar, principalmente falar sobre nossos bens. Ela não está errada; tem muitas pessoas más no mundo, e eu não conhecia quase nada sobre a Donna. Ela poderia estar inventando uma história, mas decidi dar o benefício da dúvida e continuamos conversando por um bom tempo.
Depois da primeira ligação, ela nunca mais parou. Sempre à noite, ela me ligava e nós conversávamos. Mostrei a foto de um dos meus quadros para ela, um bem simples, e mesmo assim ela me elogiou e disse que eu tinha talento. Com o tempo, percebi que ela estava mais interessada em mim do que nos meus quadros. Ela sempre me elogiava e dava indiretas que eu fingia não entender muito bem, mas também não cortava ela, até porque era realmente uma mulher muito interessante. Então deixei rolar para ver até onde ia.
As ligações, com o tempo, viraram vídeo chamadas, e ela sempre me ligava da cama, vestida para dormir. Cada vez mais, as roupas iam diminuindo de tamanho, e eu gostava do que via. Outro ponto é que, com a vídeo chamada, passei a confiar mais nela. Primeiro porque, com certeza, ela não era fake e morava provavelmente em um lugar luxuoso, só pelo quarto dava para perceber. Então, comecei a ficar mais à vontade com ela e a conversa foi ficando mais íntima. Mas as coisas se desenrolaram de vez quando ela me perguntou em uma noite se eu já tinha ficado com alguma mulher. Eu não menti, disse que sim e que, depois da minha primeira vez, só fiquei com mulheres. Nesse dia, ela abriu um sorriso lindo; algo me disse que ela gostou da informação.
Dali para frente, ela começou a me provocar mais. Às vezes, me ligava semi nua, e ela realmente era muito linda. Mas em uma noite, ela me ligou e, quando atendi, notei que o celular estava em algum lugar fixo, e não em suas mãos. Ela estava vestindo uma camisola transparente linda e logo vi que começou a dançar de forma sensual para mim. Fez um strip tease quase total, mas quando estava apenas com a calcinha da lingerie, parou, se aproximou mais da tela e disse que, se quisesse ver tudo, teria que ser pessoalmente.
O pior é que eu queria, não só ver, mas tocar cada pedaço daquele corpo lindo que ela tinha. Não pensei muito, só disse que era só ela dizer quando que eu iria vê-la pessoalmente.
Naquela decisão impulsiva, eu tinha acabado de tomar uma decisão que mudaria de vez minha vida tranquila. Eu não imaginava o que me esperava em São Paulo, e se fosse hoje, sabendo o que sei, com certeza eu nunca teria ido.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper
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