Entre a ganância e o amor

Um conto erótico de Anjo cigano
Categoria: Heterossexual
Contém 5359 palavras
Data: 17/10/2025 15:02:23
Última revisão: 17/10/2025 16:41:32

Gemma Fabbri era uma moleca quando conheceu o novo motorista da família. O carro preto parou diante da casa, e dela desceu um homem alto, de pele clara e olhos verdes que pareciam enxergar fundo em quem cruzasse o olhar. Tinha um jeito um pouco carrancudo, o tipo de homem que raramente sorria, mas havia algo de calmo, quase protetor, na forma como falava.

Gemma ficou parada na porta, os dedos enroscados no tecido do vestido, observando aquele desconhecido com uma curiosidade silenciosa. Ele se abaixou um pouco, tentando nivelar o olhar com o dela, e perguntou, num tom grave, porém suave:

— Qual é o seu nome, pequena?

Ela piscou, meio tímida, meio encantada, e

respondeu:

— Gemma… Gemma Fabbri. E o seu?

O homem deu um meio sorriso — um que parecia custar sair — e disse:

— Antônio. Mas você pode me chamar de Tonho.

Gemma repetiu o nome baixinho, como se testasse o som dele na boca, e então sorriu. Não sabia explicar o motivo, mas sentiu que aquele homem — com seus olhos verdes e voz firme — ia mudar alguma coisa na rotina da casa.

A mansão dos Fabbri era um monumento ao excesso — mármores frios, lustres de cristal, tapetes persas e um silêncio constante que cheirava a perfume caro e hipocrisia. Suzete Fabbri, a dona da casa, reinava ali como se fosse uma espécie de nobre decadente. Era o tipo de mulher que só se sentia viva quando alguém a invejava. Alta, loira de salão, com os traços endurecidos pelo botox e o olhar sempre avaliando — pessoas, roupas, sotaques, tudo. Falava com um ar de quem nunca erra e olhava qualquer um que ganhasse menos do que ela como se fosse um inseto.

Suzete tinha preconceitos de todos os tipos — de classe, de cor, de sotaque, de origem. Achava que o mundo existia pra servi-la e que qualquer pessoa simples era uma ameaça à “elegância” do seu sobrenome. Chamava as empregadas de “essas criaturas”, falava mal das amigas quando viravam as costas e tratava o marido como um idiota útil, o que, de certa forma, ele era.

Adhemar Fabbri — o “senhor da casa” — era um homem de voz mole e ideias piores ainda. Passava os dias entre o clube e reuniões em que fingia entender de finanças, enquanto o dinheiro herdado ia escorrendo pelo ralo. Se achava um gênio dos negócios, mas qualquer um com meio neurônio via que era um desastre ambulante. Quando Suzete reclamava, ele apenas suspirava e mudava de assunto, covarde demais pra enfrentar a própria mulher.

No meio daquela família de aparências, estava Gemma. A garotinha de oito anos que nada tinha a ver com aquele mundo de ouro e falsidade. Era filha de Aurora — a irmã mais nova de Adhemar, morta aos quinze anos durante o parto. Aurora fora uma menina doce e inocente, que se deixou enfeitiçar por um italiano elegante, amigo do cunhado, que prometeu o céu e fugiu de volta à Itália assim que soube da gravidez.

Gemma herdou tudo da mãe: os cabelos escuros e cacheados, a pele alva, os olhos grandes e negros que pareciam guardar segredos demais pra uma criança. E era justamente por isso que Suzete a odiava. Via nela a lembrança viva do escândalo que quase manchou o sobrenome Fabbri. Para a socialite, a menina era uma mancha moral, uma lembrança inconveniente do “erro” de uma adolescente que morrera cedo demais.

— Essa menina tem o mesmo olhar insolente da mãe — dizia Suzete, toda vez que Gemma passava pela sala. — Tomara que ao menos aprenda a se comportar.

Gemma ouvia em silêncio, mas os olhos — os mesmos olhos de Aurora — ficavam marejados, sem chorar de verdade. Sabia que Suzete a suportava apenas por obrigação, porque Adhemar insistia em “dar abrigo à sobrinha”, mesmo que fosse mais por culpa do que por afeto.

E foi nesse ambiente gelado, entre jantares formais e conversas falsas, que Gemma conheceu Antônio — o novo motorista. O único olhar naquele casarão que não a via como um fardo.

A casa dos Fabbri funcionava como um pequeno reino — com seus reis de fachada no andar de cima e os verdadeiros sustentáculos da rotina nos fundos, na ala dos empregados. Era ali que a vida de verdade pulsava, entre o cheiro de café, as panelas batendo e risadas abafadas.

Vera, a cozinheira, era o coração silencioso daquele lugar. Mulher de meia-idade, pele escura e mãos grandes, marcadas por anos de trabalho, fazia da cozinha o seu território sagrado. Cozinhava com alma — e talvez fosse a única pessoa naquela casa que sabia o que era ter uma. Conhecia cada gosto, cada mania dos patrões, e os atendia com resignação, mas sem jamais baixar o olhar além do necessário. Suzete detestava a familiaridade com que Vera às vezes tratava a pequena Gemma, como se a menina fosse dela também.

Vera tinha uma filha: Luciana, ou Lu, como Gemma a chamava. As duas meninas tinham a mesma idade, mas temperamentos opostos. Gemma era delicada, sonhadora, meio perdida no próprio silêncio; Lu, por outro lado, era fogo puro — falava alto, ria de tudo e não levava desaforo pra casa, fosse de quem fosse. Tinha os olhos vivos da mãe, a coragem do pai e uma língua afiada que Suzete odiava com todas as forças.

“Essa negrinha atrevida não devia andar com minha sobrinha”, dizia Suzete, franzindo o nariz toda vez que via as duas correndo pelo jardim. Mas Gemma ignorava. Amava estar com Lu — com ela, podia ser só uma criança, sem títulos, sem heranças, sem o peso do sobrenome que carregava.

Mauro, o pai de Luciana, era o segurança da casa — um homem grande, de ombros largos e olhar sereno. Tinha vindo do interior, anos atrás, junto com Antônio, quando ambos ainda trabalhavam para os tios de Suzete. Os dois eram inseparáveis desde então: companheiros de estrada, de confidências e de lealdade. Antônio era padrinho de Luciana, e Mauro o tratava como um irmão.

Enquanto Suzete exalava veneno e Adhemar fingia autoridade, eram esses três — Vera, Mauro e Antônio — que mantinham o equilíbrio silencioso da casa. Trabalhavam sob o mesmo teto dos Fabbri, mas pertenciam a outro mundo: o mundo dos que sabiam amar, rir e proteger, mesmo quando o resto vivia afogado em arrogância.

E era entre eles, entre o cheiro de tempero e as conversas sussurradas na cozinha, que Gemma e Lu cresceram — uma loirinha de vestido rendado e uma negrinha de sorriso largo — inseparáveis, unidas por algo mais forte do que sangue: a verdade que só quem é puro consegue enxergar.

GEMMA E LU A AMIZADE PURA

As duas estavam sentadas no chão do quarto de Gemma, cercadas por papéis de carta coloridos, canetinhas e fitas adesivas. O sol da tarde entrava pela janela e deixava o quarto dourado, cheio de risadas e segredos de meninas de oito anos.

Gemma alisava um papel cor-de-rosa com flores enquanto falava baixo, como quem confessa um crime:

— Lu… o motorista novo chegou hoje.

Luciana nem levantou o olhar. — O Tonho? Eu sei. Mamãe disse que ele é o melhor amigo do papai.

Gemma sorriu de canto, envergonhada. — Ele é tão bonito, Lu. Tem uns olhos verdes que… sei lá… dá vontade de olhar pra sempre.

Luciana soltou uma risada alta. — Ai, Gemma! Bonito? Ele é velho! — caiu na gargalhada, balançando o papel que ia escrever. — Ele é meu padrinho, credo!

Gemma ficou vermelha. — Não é velho, não! — disse, tentando parecer firme. — Ele fala bonito… e quando ele me olhou, parecia que sabia o que eu tava pensando.

Luciana se jogou pra trás de tanto rir. — Ah, Gemma, você é muito boba! Vai casar com ele agora, é?

— Para, Lu! — Gemma tentou segurar o riso. — Eu só disse que achei ele lindo… não precisa zombar!

— Tá bom, tá bom — respondeu Lu, ainda rindo. — Mas se o Tonho souber disso, ele vai morrer de rir.

Gemma arregalou os olhos, desesperada. — Nem pensa em contar! Promete, Lu!

Luciana ergueu as mãos, fingindo jurar. — Prometo. Mas vou cobrar caro pelo segredo… me dá aquele papel de carta com os coraçõezinhos.

Gemma suspirou, derrotada, e empurrou o papel pra amiga. — Pronto. Mas nem sonha em contar pra ninguém.

Luciana pegou o papel, ainda rindo. — Relaxa, Gemminha. Seu segredinho tá guardado. Mas olha… — ela fez uma pausa, olhando a amiga com um sorriso de quem sabe mais do que diz — se você continuar olhando pro Tonho desse jeito, até ele vai perceber.

Gemma baixou o rosto, rindo baixinho. Lá fora, o motor do carro de Antônio ronronava, e o som parecia fazer o coração da menina bater um pouco mais depressa.

O quarto de Gemma parecia um jardim de cores — pilhas e mais pilhas de papéis de carta espalhadas sobre o tapete, cheirando a perfume e infância. Suzete e Adhemar compravam tudo o que a sobrinha apontava, desde que a menina ficasse quieta, longe da sala e das visitas importantes. Era a forma deles de comprar silêncio — e Gemma, sem entender direito, apenas se distraía com o que tinha.

Luciana estava deitada de bruços no chão, revirando uma caixa cheia de envelopes com brilhos e laços. — Gemma, tua tia é doida, viu? Olha isso aqui! — disse, tirando um pacote inteiro ainda lacrado. — Dá pra escrever carta até pro Papa.

Gemma riu, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Eles compram pra eu ficar aqui, quietinha… mamãe Suzete não gosta quando eu fico muito na sala.

— “Mamãe Suzete”, nada — resmungou Lu. — Aquela mulher tem cara de quem morde.

Gemma fez uma careta, pedindo silêncio, mas riu. — Não fala assim, Lu… se ela ouvir, manda meu tio te mandar embora.

— E eu volto! — respondeu Luciana, debochada. — Papai e mamãe trabalham aqui há mais tempo do que ela manda nessa casa.

Enquanto falava, foi remexendo mais fundo na caixa. De repente, tirou algo diferente: uma fotografia antiga, meio amarelada, dobrada no canto. — Ué… o que é isso?

Gemma se aproximou, curiosa. — Deixa eu ver.

Luciana virou a foto e arregalou os olhos. Era uma mulher muito jovem — pele branca, cabelos escuros e cacheados caindo nos ombros, e um olhar doce, sereno, igualzinho ao da amiga. Usava um vestido simples, sorrindo timidamente pra câmera.

— Lu… — sussurrou Gemma, a voz embargando — é a minha mãe. É a Aurora.

Luciana ficou um instante em silêncio, observando a foto com respeito. — Caramba, Gemma… ela era linda. Igualzinha a você.

Gemma sorriu triste. — Tia Suzete não gosta quando falo dela. Diz que é falta de respeito com o tio.

— Falta de respeito é esconder uma mulher bonita dessas — respondeu Lu, indignada, passando o dedo sobre o rosto da foto. — Se eu fosse você, deixava num porta-retrato bem grandão.

Gemma riu de leve, segurando a foto com carinho. — Queria lembrar dela, mas nasci no mesmo dia que ela morreu.

Luciana encostou o queixo no braço e a olhou com ternura. — Então ela te deixou de presente pra esse mundo, Gemminha. E olha, se ela era assim, tão bonita e doce, aposto que ia te encher de papel de carta também.

Gemma sorriu, os olhos brilhando. — Eu ia dividir tudo com você, igual faço agora.

— Eu sei — disse Lu, abrindo um sorrisão. — Por isso te adoro, Gemminha. Você é rica de tudo que importa.

E ali, entre papéis de carta perfumados e um retrato esquecido, as duas meninas selaram aquele momento simples — uma lembrança de afeto puro no meio de uma casa fria, sustentada por ouro e mentira.

Naquela tarde chuvosa, o som das gotas batendo nas janelas era o fundo perfeito pro riso abafado das duas meninas no quarto de Gemma. A mansão, enorme e silenciosa, parecia outra quando elas estavam juntas — o luxo virava cenário de brincadeira, e a frieza da casa se dissolvia um pouco com o calor da amizade delas.

Gemma esperou Luciana terminar de colorir uma folha, fingindo distração. Tinha escondido o presente debaixo da cama, envolto em papel de seda azul. Quando Lu levantou pra buscar mais canetinhas, Gemma puxou o embrulho e colocou à frente dela, sorrindo.

— O que é isso, Gemminha? — perguntou Lu, desconfiada, o olhar brilhando de curiosidade.

— Abre — respondeu Gemma, tentando segurar o riso. — É uma surpresa.

Luciana rasgou o papel com cuidado e, quando viu o que era, ficou sem fala. Era uma pasta de papel de carta — linda, cheia de desenhos delicados de flores, pássaros e borboletas, com folhas de todos os tipos dentro: coloridas, perfumadas, algumas até com brilhos.

— Gemma… você tá brincando comigo? — sussurrou, os olhos marejados. — Isso aqui é pra mim mesmo?

Gemma assentiu, tímida. — É. Eu vi quando você ficou olhando na papelaria, lembra? Você disse que era bonita demais pra gastar dinheiro com isso.

Luciana olhou pra amiga, sem saber o que dizer. — Mas, Gemma… isso deve ter custado caro. Tua tia vai brigar!

Gemma deu de ombros. — Ela nem vai perceber. Compra tanta coisa que nem olha. E eu quis te dar. Você gosta tanto quanto eu.

Luciana respirou fundo, abraçando a pasta contra o peito. — Eu nunca ganhei nada assim… ninguém nunca me deu nada bonito só porque quis.

Gemma sorriu, os olhos cheios de doçura. — Então agora ganhou. E não precisa agradecer, tá? Só escreve pra mim com essas folhas quando quiser.

Lu riu, enxugando os olhos com as costas da mão. — Você é maluca, Gemminha. Maluca e boa.

Gemma deu um risinho tímido. — Minha mãe também gostava de dar presente pros outros. Dizem que ela era assim.

Luciana olhou pra fotografia de Aurora que estava sobre a escrivaninha — o mesmo retrato que tinham achado dias antes. A mulher sorria na imagem, com aquele ar sereno e encantador.

— A tua mãe parecia uma princesa, sabia? — disse Lu, baixinho, quase como se fosse um segredo. — Uma princesa de verdade, dessas que nem precisa de coroa.

Gemma olhou pra foto e sorriu com ternura. — Acho que ela ia gostar de você, Lu.

— Ia nada — respondeu Luciana, rindo e abraçando a amiga. — Ia me adotar junto!

E ficaram ali, abraçadas e rindo, enquanto a chuva caía lá fora. Duas meninas de mundos diferentes, unidas pela generosidade de uma e a lealdade da outra — a amizade mais pura que existia naquela casa onde quase tudo o mais era falso.

UM PERIGO CHAMADO LIA

Lia Fabbri era o espelho distorcido da mãe — Suzete enxergava nela a própria juventude, e talvez por isso a detestasse tanto quanto dizia amar. Tinham o mesmo tipo de beleza fria, impecável, feita de salão, de perfumes caros e de sorrisos ensaiados. Lia aprendera desde cedo a ser o que o sobrenome exigia: elegante, calculada, e doce quando isso abria portas.

Era uma mulher de quarenta e poucos anos que vivia cercada de gente, mas profundamente sozinha. Filha única de um casamento mantido por conveniência e aparência, crescera ouvindo da mãe que “a mulher Fabbri tem que saber encantar e sobreviver”, o que, no idioma venenoso de Suzete, significava “usar e descartar com graça”.

Não tinha filhos — e esse fato, mais que tudo, era o espinho que Suzete adorava cutucar.

— Uma mulher que não dá herdeiros é uma inútil, Lia — repetia a mãe, em tom de quem dá conselhos, mas envenenando cada sílaba.

Lia sorria, fingia leveza, e depois chorava sozinha no banheiro, com o rímel borrando.

O que ninguém imaginava — ninguém além de Mauro, o velho segurança leal — era que Lia escondia um segredo que a acompanhava desde a adolescência: Antônio.

Os dois se conheciam desde sempre. Cresceram sob o mesmo teto — ele, filho de empregados; ela, filha dos patrões. Quando Lia ainda usava uniforme de colégio e Antônio já trabalhava como ajudante de motorista, algo entre eles se acendeu. Não foi plano nem curiosidade: foi inevitável.

Lia perdera a virgindade com ele, escondida num canto do jardim, numa noite quente de verão. Antônio, já um rapaz feito, tentou resistir, mas ela o puxou com aquela ousadia que fingia inocência. Foi um amor clandestino, cheio de medo e desejo, como só os proibidos sabem ser.

Depois vieram os anos, o peso do sobrenome, a voz da mãe sussurrando veneno:

— Você acha que vai casar com um motorista, Lia? Tenha dó. Fabbri não se mistura.

E ela obedeceu. Casou-se com Patrick Lefèvre, um industrial francês que via o Brasil como um campo de investimento — e a elite paulistana como um zoológico exótico onde valia a pena ser exibido. Patrick não era burro. Sabia que os Fabbri já não tinham o dinheiro de antes, mas ainda tinham o nome, e um nome em São Paulo pode valer mais que uma fortuna.

Assim, ele bancava o luxo, as festas, os jantares e os caprichos da esposa — em troca, ganhava acesso à nata dos quatrocentões e o título social que o dinheiro sozinho não compra.

E Lia, por sua vez, ganhava joias, viagens, vestidos, mas nenhuma centelha de paixão. Patrick a tratava com cortesia, mas sem desejo; a tocava como quem cumpre um protocolo.

Antônio, porém, era outra história. Continuava sendo o mesmo homem — agora maduro, bonito, com aquele jeito sereno e um olhar que a desmontava.

Quando se viam, os dois voltavam a ser os mesmos de antes, presos entre o que o mundo esperava e o que o corpo pedia. Lia o amava, mas o desprezo social que herdara da mãe ainda a envenenava. Tinha vergonha da origem dele, da simplicidade, do uniforme.

Às vezes, deitada ao lado do marido francês, lembrava de Antônio e do cheiro de terra e gasolina que grudava na pele dele. E chorava baixinho, porque sabia — e Mauro também sabia — que aquele amor era o único verdadeiro que tivera na vida.

E assim Lia Fabbri seguia: rica, bonita, desejada e vazia.

Um segredo queimando sob a pele, uma vergonha que ela mesma alimentava.

E Antônio — sempre ali, preso entre o amor e a dignidade — continuava calado, leal, fiel até mesmo à dor que ela lhe deixara.

ENTRE A PUREZA E A LUXÚRIA

O trânsito na avenida fervia, e o calor da manhã fazia o ar tremer sobre o asfalto. Antônio dirigia o carro preto dos Fabbri, Gemma no banco de trás com e Lia no assento ao lado, distraída, mexendo no celular.

Quando o sinal fechou, o som de um grito cortou o ar — uma mulher tentando se desvencilhar de um homem na calçada.

Antônio viu. O corpo dele reagiu antes da cabeça pensar. Parou o carro no meio-fio, abriu a porta e foi. Rápido, firme, com aquele olhar verde fechado que não anunciava nada bom.

Gemma se inclinou pra ver pela janela, assustada. Lia, sem entender direito, ficou muda — até perceber o que estava acontecendo.

O homem gritava, empurrava a mulher, e Antônio chegou no meio da confusão como uma parede. Disse alguma coisa num tom baixo, mas o olhar dele bastava pra impor medo. O sujeito não recuou e Antônio acertou um soco seco no maxilar do homem que caiu no meio fio enquanto a mulher agradecia , atônita e o silêncio que ficou foi pesado, tenso, cheio de raiva contida.

Antônio ficou ali, o peito subindo e descendo rápido, o maxilar travado. Pegou a mulher pelo braço com cuidado, perguntou se estava bem, e esperou que ela se afastasse em segurança. Depois voltou pro carro, o corpo ainda em alerta, mas o olhar já mais calmo.

Gemma o olhava como se tivesse acabado de ver um herói de verdade.

— Tonho… você salvou ela? — perguntou, com os olhos brilhando.

Ele deu um meio sorriso cansado. — Fiz o que qualquer homem decente faria, Gemminha.

Lia observava em silêncio. Tentava esconder, mas a respiração dela estava diferente. Aquele gesto bruto, direto, aquela coragem que nenhum homem do círculo dela jamais teria… aquilo acendeu algo que ela não queria admitir nem pra si mesma, ou melhor admitia bem, o tesão que tinha no amante secreto. A boceta piscou, a calcinha molhou.

Ao lado, Gemma sentia diferente, o coração disparava, Tonho era seu herói!

Antônio exalava aquele tipo de força que não vinha de grana nem de status — vinha da alma, da carne, do instinto de proteger.

Gemma ainda olhava pra ele, encantada.

— Você é meu herói, Tonho.

Ele riu, ligando o carro. — Herói nada. Só fiquei cansado de ver covarde mandando no mundo.

Lia desviou o olhar, fingindo ajeitar o cabelo, mas o coração batia rápido.

Naquele momento, no reflexo do espelho, Gemma via um protetor. Lia, um homem impossível.

E Antônio — apenas um homem tentando seguir em frente, mesmo quando o sangue pedia o contrário.

O carro preto deslizou pelos portões da mansão, e Patrick, sentado no banco da frente ao lado do motorista reserva, virou-se teatralmente para as meninas.

— Estudem bastante, viu, meninas? O futuro depende disso. — Disse com aquele sorriso falso de quem quer parecer virtuoso diante dos outros.

Luciana respondeu um “sim, senhor” educado, segurando os cadernos contra o peito. Patrick pegou os livros dela e folheou, fingindo interesse.

— Muito bem, muito bem… a filha da Vera é aplicada, hein? Isso é bonito de ver. Educação muda vidas.

Vera, da cozinha, olharia pra ele e saberia: puro teatro. Patrick gostava de parecer generoso, principalmente quando havia alguém pra ver.

Assim que o carro parou, as meninas desceram. Luciana correu pra pequena edícula onde morava com os pais — lá sempre tinha cheiro de comida boa e risada sincera. Gemma, porém, hesitou.

Olhou em volta.

A casa grande estava em silêncio. Lia e Suzete tinham ido ao shopping, Adhemar dormia no escritório.

Gemma respirou fundo e, em vez de subir a escada de mármore, virou à esquerda, rumo à edícula de Antônio.

O portãozinho estava entreaberto. Ela se aproximou devagar, o coração batendo rápido, como se estivesse prestes a fazer algo proibido.

Do lado de dentro, Antônio estava de pé, em frente ao espelho, terminando de fazer a barba.

Gemma parou. Ficou quietinha, só olhando.

Ele usava uma camiseta branca simples, as mangas dobradas, e o som da lâmina raspando contra o rosto enchia o pequeno banheiro. Movimentos firmes, calmos. O espelho embaçado, o rosto concentrado. Um homem.

Ela nunca tinha reparado nisso antes — o que era um homem de verdade.

Não como os meninos da escola, que corriam, riam alto, faziam graça o tempo todo.

Antônio era diferente. Tinha um jeito tranquilo, forte, seguro. Até o modo de passar a toalha no rosto parecia coisa de outro mundo pra ela.

Gemma sentiu o coraçãozinho disparar e encostou a mão no peito, assustada com a própria emoção.

“Ele é bonito até quando fica bravo”, pensou, lembrando do dia em que ele defendeu a mulher na rua.

Antônio desligou a torneira, passou as mãos molhadas no cabelo escuro e suspirou.

Gemma, sem querer, pisou num galhinho no chão — crec.

Ele se virou de repente, e ela congelou, os olhos arregalados.

— Gemma? — a voz dele soou firme, mas não dura. — O que você tá fazendo aqui, menina?

— Eu… eu só… — ela gaguejou, corando. — Queria ver se você tava bem.

Ele arqueou a sobrancelha, surpreso e, por dentro, meio enternecido.

— Eu tô bem, anjinha. Vai lá pra casa antes que tua tia veja você por aqui.

Gemma mordeu o lábio, sem vontade de ir, mas obedeceu.

Deu um passinho pra trás, acenou e correu, o coração batendo feito louco.

Antônio ficou olhando ela se afastar, balançando a cabeça com um sorriso leve.

Sabia que a menina o admirava — e, de alguma forma, aquilo o tocava.

Lá no portão, Gemma ainda olhou pra trás e o viu se secando com a toalha, a barba feita, o rosto limpo.

Pra ela, naquele momento, nenhum príncipe de livro era tão bonito quanto o motorista de olhos verdes cor de garrafa de guaraná.

LIA

Lia conheceu Antônio quando ainda era adolescente, quando ele trabalhava na casa dos tios dela — irmãos de Suzete, igualmente ricos e metidos a besta. Lia se apaixonou por Antônio, e ele por ela.

Perderam a virgindade juntos — quer dizer, Antônio já havia se perdido há muito tempo, nos braços de prostitutas bem mais velhas. Era um moleque criado na rua, bonito, de olhos verdes e cabelos escuros, filho de portugueses. O pai era taxista.

Lia perdeu sua pureza com ele e se apaixonou, mas a vergonha de amar aquele moleque que não ia passar de motorista acabava com ela. E assim, enquanto dormia com Antônio, namorava, noivava e acabava casando com Patrick — seu esposo bunda mole, mais interessado no nome da família dela do que nela.

O fato é que desde o acontecimento na rua, Lia não parava de pensar em Antonio queria porque queria sentir aquele pau dentro de si novamente, na verdade era apaixonada pelo motorista sabia que ele era o seu grande amor mas não podia admitir a ninguém não podia decepcionar sua mãe não podia sujar o nome da família. Mas não tinha como, era gritante a diferença entre o macho que já fizeram a mulher com Patrick, seu esposo sempre contido, preocupado com aparências que com certeza nunca dera um soco em ninguém na vida. Naquela noite aproveitou que Patrick voltaria à tarde de uma reunião no Jockey clube e foi nas pontas dos pés até edícula onde Antônio vivia. Robby de seda preto engomado, unhas em tom Nude assim como batom e o discreto perfume a madeira provavelmente importado mas o fogo há o fogo… Aquele que vinha queimando entre suas pernas desde que vira o seu macho bater no homem que estava agredindo a mulher esse era o mesmo de uma cadela no cio, e ela precisava pagar esse fogo.

A chuva batia fraca no telhado quando Lia apareceu. O vestido justo, o perfume caro brigando com o cheiro de sabão do lugar. Antônio estava de camiseta, suado, limpando as mãos com um pano. Assim que a viu na porta, parou.

— O que é que você tá fazendo aqui, dona Lia? — perguntou sem se mover.

Ela deu um passo pra dentro, fechou a porta devagar.

— Vim te ver.

— Me ver? — ele riu, sem humor. — Você só me procura quando a casa tá dormindo.

Lia suspirou, cruzando os braços.

— Não começa, Tonho.

Ele se aproximou, devagar, até ficar perto o bastante pra sentir o perfume dela.

— Não começa? — a voz dele saiu rouca, baixa. — Você vem aqui escondida, toda emperiquitada, me olha desse jeito e quer que eu finja o quê? Que sou teu motorista e pronto?

— Você é o motorista, — ela respondeu, mas a voz vacilou.

Antônio sorriu torto.

— Sou, né? Teu motorista, teu capacho, teu brinquedo.

Encostou o corpo no dela, o olhar queimando. — Minha quenga de luxo.

Lia fechou os olhos, como se aquela frase a atravessasse.

— Não fala assim comigo…

— Por quê? É mentira? — ele sussurrou, a boca encostando quase no ouvido dela. — Você gosta quando eu falo sujo. Finge que tem nojo, mas vem toda noite me procurar.

Ela respirava rápido, a pele arrepiada.

— Você é um bruto.

— Sou o homem que te ama desde moleque. — A voz dele veio carregada de raiva e ternura. — Desde quando eu lavava o carro dos teus tios e você passava de vestido branco, fingindo que nem me via.

Lia abriu os olhos, e por um instante o orgulho derreteu.

— Eu via, Tonho. Sempre vi.

O silêncio entre eles pesou. Ele passou a mão pelo rosto dela, devagar, o toque firme.

— Então olha direito agora.

Ela o olhou. E naquele olhar tinha tudo — desejo, vergonha, amor e o medo de ser pega sentindo por ele o que nunca deveria.

— Você me odeia? — ela sussurrou.

— Eu te amo, porra. — ele respondeu. — Mas às vezes dá na mesma.

Ela o segurou pelo colarinho, puxando pra perto. O ar ficou quente, o chão pareceu sumir.

O beijo quase veio — quase — mas Lia recuou um passo, o rosto em fogo.

— Ninguém pode saber, Tonho.

Ele deu um meio sorriso cansado.

— Ninguém precisa saber. Só não mente pra mim.

Lia o encarou mais um instante, depois saiu, o salto ecoando no corredor da edícula.

Antônio ficou ali, com o gosto dela ainda no ar, murmurando pra si mesmo, amargo e apaixonado:

— Minha quenga de luxo… e minha desgraça também.

Então o beijo veio cheio de fogo e fúria contida, Antonio amava aquela teste mas sabia que pra ela era apenas um capacho era apenas um corpo era apenas um pau que ela procurava sempre que queria meter.

— Queria só ver a cara daquele engomadinho do teu marido vendo você aqui gemendo pra mim feito a cadela no cio que é…

Dizia Antonio enquanto há segurava pelo cabelo e já baixava seu rosto para que ficasse cara cara com seu pau que já estava duro e estourando dentro da calça.

— Mama, mostra o que sabe fazer com essa boca sua puta de luxo faz o teu macho enlouquecer .

Aquilo acendeu Lia inteira que logo estava de joelhos na frente de seu homem abaixando o zíper da calça jeans que ele ainda usava e libertando aquele pau enorme que um dia fez mulher, grosso, quente e explodindo , Bia começou dando um beijo na cabeça que já começava a babar mas Antonio, oscilando entre o tesão e a raiva que sentia dela logo fez a abocanhar toda sua rola e e começou a grunhir palavras que nenhuma dama da sociedade imaginaria que Lia Fabbri Angelot adorava ouvir.

Antônio delirava enquanto ela chupava, Lia mamava a cabeça com experiência depois enquanto massageava as bolas arroxeadas dele descia a língua até a base do pau e subia chupando fazendo cara de safada.

Antonio, como se quisesse humilhá-la ou castigá-la pela vergonha que ela sentia dele vez ou outra tirava rola da boca dela batia no seu rosto com o próprio pau sempre a chamando de minha puta, minha biscate.

O que veio a seguir foi uma total falta de vergonha da madame que gritava descontrolada, enquanto Antônio tampava sua boca para que ninguém ouvisse:

— me fode Tonho, mostra mostra pra mim quem é o meu homem.

— Não antes de gozar na tua cara, sempre foi assim não é Lia, uma dama na mesa e uma puta na cama…

Após ouvir isso de Antonio que gemia grunhia feito um animal Lia intensificou a mamada, sugando aos poucos a cabeça enquanto punhetava, Antonio, como se quisesse punir-la apertou sua nuca forçando sua boca contra o pau empurrando-o até a garganta de aonde gozou a fazenda engolir aquele líquido espesso e salgado que eles bem sabiam era o manjar favorita da Madame

Após gozar na boca de Lia Antônio e ela ficaram abraçados como se realmente aquele amor fosse permitido e abençoado. Lia, sabia do potencial do amante então não tirava a mão do pau dele o estimulando enquanto conversavam…

— sabe Tonho, às vezes eu fico imaginando como seria nossa vida se nós dois tivéssemos ficado juntos

Antônio riu amargo dividido entre o tesão de ter a rola estimulada pelas mãos de Lia e o coração apertado pois sabia que aquela mulher desde adolescência era o seu verdadeiro amor

— Para de graça, você jamais assumiria um motorista, por mim nós estaríamos juntos há muito tempo mas você preferiu o almofadinha do seu marido.

— conveniências, mas o único homem que eu amei foi você.

Antonio sentiu a dor de ouvir aquilo e se sentiu um trapo por amar aquela mulher e como tudo o que fazia na vida usou a cabeça quente e virou o corpo branco e aristocrático na cama, e sem aviso enterrou o pau de 19 cm na boceta que ele deflorara quando ainda era um moleque punheiteiro.

— Ahhh!

Lia gemeu…

— Se vai me usar usa direito sua piranha, vou meter até você esquecer o gosto do champanhe caro…

Disse Antônio, seco, estalando um tapa na bunda dela.

A foda era crua, intensa e o som molhado dos corpos se chocando preenchia a pequena edícula.

—Fala o que você é…

Mandou Antônio socando mais forte a pica naquela xota que podia ter os melhores caralhos da cidade, mas que só queria o dele, o motorista de olhos verdes…

—Tonho…

—Fala!

Ordenou ofegante fazendo as bolas arroxeadas contra a bunda dela.

—Eu sou a tua puta, Tonho! Tua quenga de luxo, agora cala a boca e me come caralho! Me faz gozar no teu pau…

E assim foi, com uma estocada forte Antônio gozou fundo na boceta de Lia se sentindo um animal, um saco de batatas por não saber dizer não e ela após alguns minutos vestiu o robe e voltou para a vida de madame.

Continua??

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Comentários

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Por favor continue, eu sou um fã dos seus contos, nunca entendi pq vc sumiu mas que bom que voltou!

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Que lindooooo continuo sim agora que virei autônoma tenho mais tempo! Muita coisa boa vira por aí!

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