Renato está pelos 25 anos, é quieto, acho que tímido, mas um rapaz muito bonito. É meu orientando de mestrado em Filosofia, na UFSCar. Inteligente, perspicaz e disposto. Dá gosto orientar alguém assim. Nos últimos meses de elaboração da dissertação, logo após a qualificação, ofereci minha biblioteca particular para ele garimpar obras que pudessem fazê-lo concluir a contento a pesquisa.
Apareceu no meu apartamento – moro sozinho, com meus livros – e muito sem jeito adentrou ao recinto já pedindo licença e desculpas pelo incômodo. Fi-lo ver que ele precisaria ousar ficar à vontade, porque eu não o iria pajear: vasculhasse a biblioteca, folheasse os livros que achasse interessante, usasse o computador para anotações ou mesmo complementar seu texto. Só não deixasse bagunçado, ao final da consulta.
Seus olhinhos brilhavam diante das estantes apinhadas de livros; deixei-o à vontade. Tomei uma ducha para me refrescar do verão longo, morno e abafado de São Carlos, joguei uma regata cavada e um pequeno short de renda preta, sem cueca, acentuando o contraste com minha pele branca e deixando minha bunda praticamente exposta, embaixo do fino tecido. Não tinha intenções de sensualizar, até porque nunca vira Renato com olhos de sexo – era somente para ficar o mais próximo possível da minha costumeira nudez de quando estou sozinho.
Fui para a sala, esticar-me no confortável sofá e concluir a leitura da “Biblioteca da Meia-Noite”, de Matt Haig, recém adquirido, que me cativara e me prendera muito a atenção, nos últimos dias. Embebi-me de Nora Seed em sua busca incessante pelo sentido da vida, e em pouco tempo já não mais estava no meu apartamento, mas mergulhado nas delícias da leitura.
Numa das pausas para refletir/digerir o que lera, percebi Renato parado, na porta da biblioteca, olhando para mim, querendo falar, mas sem jeito de me interromper a viagem literária. Fiz sinal interrogativo e ele aproveitando minha disponibilidade, perguntou, quase como a medo, se poderia tomar água.
Ri-me por dentro de seu acanhamento e lhe disse que ficasse à vontade: a geladeira ou o bebedouro estavam na cozinha, caso ele quisesse água gelada ou natural; os copos, no armário ao lado. Que ele se servisse sem cerimônia. Meio titubeante, ele assim o fez, voltando em seguida à pesquisa, e eu à leitura.
Em pouco tempo (não sei quanto, porque a leitura nos sequestra a noção temporal), voltou e novamente dirigiu-se à cozinha, para mais água. No retorno à biblioteca, disse que queria me fazer uma pergunta, mas depois que concluísse o trabalho. “Tudo bem”, falei, retornando a Haig.
Na terceira vez, parou, com o copo na mão, nitidamente inseguro sobre se falava ou não. Fechei o livro (meio a contragosto, confesso) e voltei o rosto para ele, sem mudar de posição, que estava demais confortável; fiz-me ouvinte a sua consulta:
– Desculpe... Queria fazer uma pergunta ao senhor... a você... mas se não quiser responder, fique tranquilo...
– Relaxe! Pode fazer qualquer pergunta.
Eu praticamente pude perceber o torvelinho que se passava dentro dele, denunciado pelo olhar angustiado e fugidio, o rosto avermelhado, os trejeitos nervosos nos lábios. Ele tomou coragem, e soltou de vez:
– O senhor... quer dizer... você curte homem?
Senti um baque no coração. Não esperava aquela pergunta. Só então me dei conta de o quanto eu deveria estar provocante com aquelas roupas sumárias e minha posição largada. Por segundos aquilatei a situação, sabendo que não poderia demonstrar qualquer sentimento que não fosse de naturalidade, senão... nada feito! E agora eu estava imensamente mais a fim daquele rapaz que do livro que lia ou de qualquer outra coisa no mundo. Então, como se tivesse ouvido a mais corriqueira pergunta do mundo, respondi, imperturbável:
– Sim, curto. E você?
Ele baixou a cabeça, olhos buscando os riscos do piso e encontrando minha bunda à mostra, sob a renda negra, e murmurou:
– Também curto.
– Você quer me comer, Renato? – quando me dei conta, a frase já deixara minha boca, atingindo-o em cheio. Ele estremeceu, jogou o restante de água na boca, deixou o copo sobre uma cadeira, e meio sem saber como fazer, sentou-se na beirinha do sofá, ao meu lado e falou, voz entrecortada:
– Quero... – E agora fixava o olhar em minhas nádegas. Ato contínuo, tocou de leve na minha coxa, mão gelada – talvez pela água que tomara, talvez pela ansiedade.
Fechei os olhos para melhor sentir aquele toque. Ele tomou coragem e subiu a mão, adentrando sob a perna folgada do short e alcançando minha bunda, escorregando o dedo para o entrenádegas. Gemi baixinho. Arqueei um pouco o corpo, chegando ao seu rosto e me aproximando dos lábios vermelhos com que eu já sonhara, em alguma punheta passada. Macios porque carnudos, gelados pela água, nossas línguas se tocaram e nos beijamos com uma ânsia de descobertas e paixão.
Levantei-me e o levei comigo, continuando a beijá-lo, sentindo agora todo o seu corpo colado ao meu, e a dureza de seu pau roçando em mim. Retirei sua camiseta e acariciei seu tronco liso, enquanto ele também retirava minha regata, acariciando minhas axilas depiladas e me arrepiando. Desci meus lábios até seus mamilos rígidos, sugando-os carinhosamente, e continuando, barriga abaixo, enquanto minhas mãos desciam sua bermuda e libertavam uma rola alva e dura, tomando-a entre os dedos e levando minha boca e língua em torno de sua glande arroxeada, engolindo todo o mastro. Ele se requebrava e gemia, discretamente.
Levantei-me devagar, voltei a beijá-lo, peguei-o pelo pau e o fui conduzindo até o quarto, deitando-me de bruços no meio da minha cama. Ele retirou cuidadosamente meu short, agachou-se e senti sua língua rodeando meu buraquinho até o penetrar, lubrificando bem.
Em seguida, senti-o apontar a pica e, com a mão, direcioná-la a minha caverna. A uma leve pressão, foi se afundando em mim, levando-me ao mais prazeroso dos mundos. Senti-me Sócrates recebendo Alcibíades. A delicadeza com que me socava, seu corpo roçando em minhas costas e suas palavras sensuais ao meu ouvido, entrecortadas por delicadas mordiscadas e beijos na minha nuca e pescoço, elevavam-me ao nirvana.
Eu sentia sua rola penetrando-me com a suavidade de um beija-flor catando o néctar de uma rosa. Eu estava todo entregue ao meu pupilo, pernas abertas, cu escancarado e já sentindo minha pica babando sob mim.
A sua explosão foi prenunciada por movimentos involuntários de sua pélvis sobre meu corpo; senti o percurso do sêmen dentro do seu pênis e a jactância molhada dentro de mim, enquanto eu próprio também gozava – os dois gemendo em descontrole.
Sem se retirar do meu cu, ele derreou o corpo sobre o meu e senti seu calor, seu suor e seu coração tamborilando. O meu fazia eco ao seu. Nossas respirações, ofegantes, foram aos poucos se normalizando.
Quando ele saiu de mim, e seu leite derramou-se por entre minhas pernas, lavando com cheiro de gozo minha pica também gozada, ficamos abraçados, estreitando-nos felizes. Ele fez menção de falar, mas coloquei meu dedo indicador sobre seus lábios, substituindo-o em seguida pelos meus próprios lábios, em um tranquilo beijo de quem estava de bem com a vida:
– Vá terminar seu trabalho, Renato, que a defesa está próxima...