GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ [74] ~ O DIARIO DO CARLOS PARTE II

Um conto erótico de CARLOS
Categoria: Gay
Contém 4495 palavras
Data: 09/10/2025 05:53:48
Assuntos: conto, Gay, Historias, Romance

[Por Carlos]

E então uma tempestade chamada Raul apareceu.

Lembro como se fosse hoje. Tinha saído para a balada com Lucas e os amigos da faculdade dele. Já conhecia todos de nome — Lucas sempre falava deles nas nossas conversas —, mas nesse dia fui apresentado formalmente ao Matias e ao Raul.

E quando conheci Raul... sabe quando algo mexe profundamente com você? Um fogo, um arder, algo completamente inexplicável que você não controla nem compreende? Eu amava Lucas, e sempre vou amar. Mas Raul foi diferente — foi uma paixão avassaladora, um desejo físico tão grande que me assustou.

Uma vez li em algum lugar que existem dois tipos de amor no universo gay, e acredito que isso se aplique a todas as orientações sexuais, mas talvez seja mais explícito e menos julgado na nossa comunidade. Há o amor genuíno e doce — aquele amor que te conforta, que te faz querer construir uma vida junto, que te traz paz. Era o que eu sentia por Lucas. E há o amor mais carnal e avassalador — aquela atração física tão intensa que parece ignorar completamente a razão, que te consome como fogo. Foi o que senti instantaneamente por Raul.

Essas duas formas de amor não são excludentes, mas são fundamentalmente diferentes em sua natureza. O amor doce é como uma lareira em dia frio — aquece, acolhe, te faz sentir em casa. O amor carnal é como um incêndio florestal — destrói tudo no seu caminho, te deixa sem ar, mas é excitante de forma viciante.

Na comunidade gay, especialmente para homens, há uma complexidade adicional. Crescemos numa sociedade que nos ensinou a reprimir nossos desejos, que nos fez sentir vergonha do que somos. Então quando finalmente nos permitimos sentir atração, quando encontramos espaços seguros para expressar nossa sexualidade, às vezes essa repressão acumulada explode de formas intensas e nem sempre saudáveis.

Raul representava tudo que eu havia reprimido por anos. Aquela masculinidade explícita, aquele corpo tatuado e musculoso, aquele olhar que prometia perigo e prazer em doses iguais. Era como se toda o tesão que eu havia guardado encontrasse um canal de vazão, e eu não conseguia — não queria — resistir.

Eu deveria ter resistido. Deveria ter protegido o que tinha com Lucas. Mas a verdade é que, naquele momento, eu não quis. E isso me transforma no vilão dessa história mais uma vez.

Estava ali na parede da balada, admirando Raul abertamente. Aquele corpo moreno perfeitamente definido, tatuagens que contornavam seus músculos como arte viva, aquele sorriso confiante de quem sabe exatamente o efeito que causa. Ele havia me seguido enquanto eu estava no banheiro, e logo ele puxou uma conversa que rapidamente se transformou em algo carregado de tensão sexual.

"Você é muito bonito", ele disse, sua voz grave e rouca, colocando a mão na parede ao lado da minha cabeça.

Eu deveria ter me afastado. Deveria ter lembrado que Lucas — meu namorado, meu melhor amigo, o amor da minha vida — estava a poucos metros dali. Mas não fiz nada disso.

"Você também", respondi, meu coração acelerando enquanto ele se aproximava ainda mais.

"O Lucas tem sorte", Raul murmurou, seus olhos fixos nos meus lábios.

"Ou talvez eu tenha sorte", retruquei, mas minha voz saiu fraca, sem convicção.

Raul se inclinou mais perto, e eu podia sentir seu hálito quente contra meu rosto. Estávamos prestes a nos beijar ali mesmo, a trair Lucas da forma mais cruel possível, quando ouvi sua voz:

"Atrapalho?"

Meu sangue gelou por um segundo, mas a quantidade de álcool no meu sistema rapidamente transformou o medo em algo mais próximo de excitação. Olhei para Lucas com aquele olhar meio torto que a bebida causa, e percebi que estava diante de uma bifurcação: podia mentir, fingir que nada estava acontecendo, ou podia ser honesto de uma forma que mudaria tudo entre nós.

Escolhi a honestidade — ou pelo menos minha versão distorcida dela.

"Oi, amor", disse, puxando-o para um selinho que tentou mascarar minha culpa com afeto. "Tava aqui conversando com Raul. O que você acha de irmos embora? Nós três?"

Vi a confusão imediata no rosto de Lucas. "Como assim, nós três?"

E então soltei a bomba, vestindo minha proposta de honestidade e transparência, quando na verdade era apenas uma forma de legitimar meu desejo por Raul sem perder Lucas no processo.

"Você entendeu, Lucas. Não será nossa primeira vez fazendo isso. Mas olha pro Raul — eu estou sendo sincero com você, eu quero ficar com ele, estou com tesão. Mas não quero fazer isso pelas suas costas. A gente namora, e já fizemos isso com outras pessoas, inclusive com a Chanel, que era muito seu amigo."

Vi a dor nos olhos dele, mas ignorei. Estava tão consumido pelo desejo que não me importei.

"Carlos, sinceramente acho que não estou afim."

Sua resposta foi como um obstáculo inconveniente que eu precisava remover. Raul, inteligentemente, se afastou dizendo que iria pegar outra bebida, nos deixando sozinhos para "resolver" nossa situação.

"Lucas, por favor, o que tem de mais a gente se divertir? Vai ser legal, nunca mais fizemos algo do tipo, o que custa?", insisti, usando aquele olhar de menino pidão que eu sabia que funcionava com ele.

"Carlos, não sei se com Raul é boa ideia."

"Por que não? Ele é bonito, gostoso, eu quero ficar com ele", falei, olhando-o profundamente nos olhos, sendo brutalmente honesto de uma forma que sabia que machucaria.

"Você prefere ele do que a mim?", Lucas perguntou, e a vulnerabilidade na voz dele quase — quase — me fez recuar.

"Eu prefiro você, sempre vou preferir você. Mas hoje eu quero você e Raul, e não estou vendo problema nisso."

Era verdade? Naquele momento, embriagado de álcool e desejo, eu acreditava que sim. Acreditava que podíamos ter os dois — o amor estável com Lucas e a excitação nova com Raul. Não percebi — ou não quis perceber — que estava prestes a destruir tudo.

"Mas eu estou vendo problema, não quero ter que dividir você com ninguém", Lucas disse firmemente.

Mas eu não aceitei não como resposta. "Lucas, por favor, deixa de ser careta. Essa não é a primeira vez que a gente vai dormir com outra pessoa. Qual o problema? Quando acabar, Raul vai embora e a gente volta pro nosso mundo. Não tem problema algum nisso."

Chamei ele de careta. Manipulei. Pressionei até ele ceder.

"Tá, tá, tá Carlos, você venceu. Não quero discutir."

Mas mesmo com a vitória, eu quis garantir meu controle total da situação. Segurei seu braço com força e o pressionei contra a parede.

"Lucas, eu não quero que você faça nada forçado. Se você não quiser, tudo bem, eu vou embora sozinho com Raul. Mas eu queria você de corpo e alma comigo nesse fim de festa. O recado está dado."

Beijei-o e me afastei, sabendo que ele viria atrás. E ele veio.

No Uber, nós três no banco de trás, Raul estrategicamente no meio, a tensão era palpável. Minhas mãos já exploravam ambos — tocava a coxa de Lucas enquanto minha outra mão roçava "acidentalmente" no braço de Raul.

A noite foi exatamente como eu imaginara — intensa, prazerosa, uma experiência que alimentou meu ego e minha luxúria. Mas quando adormecemos, os três emaranhados naquela cama, algo em mim não conseguiu simplesmente descansar satisfeito.

Acordei algumas horas depois, a luz da manhã ainda tímida. Lucas dormia profundamente ao meu lado, completamente exausto. Olhei para ele — meu namorado, meu amor — e então olhei para Raul do outro lado.

Raul também estava acordado, me observando em silêncio. Trocamos um olhar carregado de significado, e sem dizer uma palavra, entendemos um ao outro perfeitamente.

Fiz um sinal com a cabeça em direção ao banheiro. Raul hesitou por um segundo, olhando para Lucas ainda dormindo, mas então concordou silenciosamente.

Saímos da cama com cuidado extremo, como ladrões na própria casa, cada movimento calculado para não despertar Lucas. Meu coração batia acelerado — não de nervosismo, mas de excitação pela transgressão que estava prestes a cometer.

Entramos no banheiro e fechei a porta devagar, girando a chave na fechadura sem fazer barulho. Por um momento ficamos ali, parados, apenas nos olhando. Raul encostado na pia, eu a poucos centímetros dele.

"Isso é errado", Raul sussurrou, mas seus olhos diziam o contrário.

"Eu sei", respondi, já me aproximando dele, minhas mãos encontrando sua cintura.

"Lucas está dormindo ali do lado..."

"Ele tem sono pesado", menti parcialmente — Lucas dormia bem, mas não tanto assim.

"Carlos, a gente não deveria—"

Mas não deixei ele terminar a frase. Beijei-o com urgência, com uma fome que não tinha sido completamente saciada na noite anterior. E Raul retribuiu com a mesma intensidade, qualquer hesitação moral rapidamente dissolvida pelo desejo.

Abri o chuveiro para disfarçar qualquer som que pudéssemos fazer. A água caiu sobre nós enquanto nos beijávamos, nossas mãos explorando corpos que deveriam estar proibidos naquele momento.

"Você é incrível", Raul gemeu enquanto eu beijava seu pescoço, mordiscando levemente.

"Você também... puta que pariu, que corpo, que pau", respondi, completamente perdido naquele momento de luxúria egoísta.

Transamos ali debaixo do chuveiro, cada gemido abafado pela água, cada toque uma traição multiplicada. Não pensei em Lucas. Não pensei nas consequências. Só pensei no prazer imediato, na adrenalina de fazer algo proibido, na sensação de poder que vinha de ter dois homens querendo me ter.

Quando terminamos, ficamos ali por alguns minutos, apenas respirando pesadamente, a água lavando nossos corpos mas não nossa culpa.

"Precisamos voltar antes que ele acorde", Raul disse, finalmente voltando à realidade.

"É... vai primeiro, eu vou já."

Raul saiu do banheiro com cuidado. Fiquei ali mais alguns minutos, deixando a água fria cair sobre mim, tentando processar o que havia feito. Mas não senti remorso — senti satisfação. E isso, percebi depois, era ainda pior.

Quando voltei para o quarto, Lucas ainda estava na mesma posição, aparentemente dormindo. Me aproximei da cama, observando seu rosto tranquilo, e algo dentro de mim se contorceu — culpa, talvez? Mas rapidamente a suprimi.

Raul estava se vestindo silenciosamente. Trocamos olhares e sussurros:

"Eu te disse que Lucas tem sono pesado", murmurei com um sorriso satisfeito.

"Espero que ele não fique com raiva", Raul respondeu, se aproximando para me dar um beijo.

"Você é muito gostoso, Raul... puta que pariu, que corpo, que pau! Estou maluco por você", confessei, e era verdade — estava completamente obcecado.

"Você também é um gato", ele retribuiu, e nos beijamos novamente ao lado da cama onde meu namorado dormia.

"Calma, senão Lucas acorda", disse, mas havia mais excitação do que preocupação real na minha voz.

"Mais gostoso assim, não? Fazer isso enquanto seu namorado está dormindo ao lado", Raul provocou com um sorriso malicioso.

"Você é um safado... gosto assim", admiti, e continuamos nos beijando como dois adolescentes escondidos.

"Preciso ir, já está tarde", Raul finalmente anunciou.

Panic mode. Não estava pronto para deixá-lo ir ainda. "Anota meu telefone, vamos combinar algo depois."

"Sem Lucas?"

A pausa que dei foi reveladora. "Com Lucas... e sem Lucas. Curti muito você, quero ficar com calma, somente eu e você."

Falei tão baixo que quase não dava para ouvir, mas Raul ouviu perfeitamente. E pelo olhar que trocamos, ele entendeu exatamente o que eu estava propondo.

Saímos do quarto juntos, deixando Lucas ainda dormindo — ou pensando que estava dormindo. Fomos até a escada de incêndio do prédio, aquele lugar escondido onde moradores iam fumar escondido.

Ali, sem pressa, nos beijamos novamente. Mas dessa vez foi diferente — não tinha a urgência frenética do banheiro, tinha algo mais próximo de intimidade.

"O que a gente está fazendo, Carlos?", Raul perguntou entre beijos.

"Não sei", respondi honestamente. "Mas não quero parar."

"E Lucas?"

"Eu amo Lucas", disse, e era verdade. "Mas isso... isso é diferente."

"Isso vai acabar mal."

"Provavelmente", concordei. "Mas por enquanto... vamos só aproveitar?"

E ali, naquela escada de incêndio enquanto meu namorado dormia alguns andares acima, selamos nosso pacto silencioso. Raul e eu nos tornamos amantes. Não apenas amantes de uma noite, mas amantes de verdade — com números trocados, planos futuros, uma conexão que ia além do sexo casual que havíamos tentado disfarçar na noite anterior.

Quando Raul finalmente foi embora, fiquei ali na escada por mais alguns minutos, fumando um cigarro que peguei do bolso dele. Olhei para a cidade, para os carros que passavam e os prédios, e por um momento me permiti sentir a magnitude do que havia feito.

Traí Lucas. Não apenas fisicamente — isso a gente tinha "combinado" na noite anterior —, mas emocionalmente. Porque o que senti por Raul naquelas últimas horas ia além de atração física. E o pior: planejava continuar fazendo isso.

Mas em vez de voltar correndo, de terminar tudo com Raul antes que se tornasse algo maior, de ser honesto com Lucas... eu voltei para o quarto, me deitei ao lado dele, e fingi que nada tinha acontecido.

E esse foi meu erro fatal. Porque a partir daquele momento, eu não era mais apenas o Carlos que amava Lucas e tinha uma fraqueza momentânea. Eu me tornei o Carlos que escolheu ativamente trair, que escolheu construir algo paralelo, que escolheu viver uma mentira. Lucas estava prestes a descobrir exatamente quem eu realmente era.

Talvez um dia Lucas leia tudo isso que estou escrevendo. Na verdade, esse é o objetivo desse diário — fazer Lucas ler, ou simplesmente destruí-lo e seguir em frente. Eu poderia mentir, poderia escrever uma versão mais suave dos fatos querendo o perdão de Lucas, mas preciso ser sincero comigo mesmo e, principalmente, ser sincero com ele.

Eu errei feio e assumo. Sei que o que fiz foi sujo, foi cruel, foi covarde. Mas como dizem, "chumbo trocado não dói", certo? Errado. Eu não queria me vingar de Lucas por ele ter me trocado por Luke inúmeras vezes no passado. Nunca fui disso, nunca fui de vingança calculada. A verdade é que meu desejo e meus sentimentos por Raul simplesmente começaram e eu não soube — não quis — controlar.

Logo depois que voltei da escada com o Raul, fui passear com o Thanos, e na volta me deitei com o Lucas que ainda dormia profundamente, e então acabei adormecendo também, e logo depois acordei Lucas com beijos, tentando ser o namorado perfeito que sempre fui.

"Acorda, amor, já são quase meio-dia", disse, beijando seu pescoço.

Ele desviou ligeiramente o rosto, fingindo ainda estar sonolento, mas eu percebi algo diferente ali — uma tensão que não existia antes.

"O Raul já foi?"

"Já, sim. Acabou de ir embora. Aproveitei e fui passear com o Thanos", respondi com a naturalidade de quem não tinha nada a esconder — ou de quem havia se convencido de que não fez nada de errado.

"Sorte a minha ter você para cuidar do Thanos quando está aqui", Lucas murmurou, e então houve um silêncio carregado antes de ele soltar a pergunta que eu deveria ter antecipado: "Você e o Raul ficaram agora de manhã?"

Não demonstrei constrangimento porque, honestamente, não sentia. Naquele momento, eu havia racionalizado tudo na minha cabeça de forma tão conveniente que acreditava genuinamente não estar fazendo nada de errado.

"Sim, a gente acordou com aquele tesão matinal. Te chamei, mas você dormia profundamente, então ficamos um pouco. Algum problema?"

Vi a dor passar pelos olhos dele, mas escolhi ignorar.

"Enquanto eu dormia?", ele insistiu, e sua voz traía uma vulnerabilidade que deveria ter me despertado para o que estava fazendo.

Suspirei, como se ele estivesse sendo dramático desnecessariamente. Sentei-me na cama e o olhei com aquela expressão que eu usava quando achava que alguém estava sendo irracional.

"Qual o problema, Lucas? Foi uma ficada. Eu continuo aqui te amando, continuo querendo te pedir em noivado em Paris, continuo querendo te levar para jantar. Ainda sou seu namorado. Foi sexo, beijos, uma ficada da qual você estava presente e aceitou. Apenas hoje de manhã você não acordou, e eu aproveitei um pouco com Raul. Não vejo problema algum nisso."

Fiz uma pausa, passei a mão pelo cabelo, e continuei com a manipulação que eu havia aperfeiçoado ao longo dos anos:

"Eu estou aqui querendo passar o domingo inteiro com você. Quero te beijar, te amar, te foder. Nada mudou — pelo menos não para mim. Será que você não entende que você é o grande amor da minha vida? Que eu sou completamente louco por você?"

E funcionou. Como sempre funcionava. Porque eu conhecia Lucas melhor do que ele conhecia a si mesmo.

"Carlos... não gostei, sei lá. Tenho medo de te perder", ele admitiu, e sua voz saiu fraca, vulnerável.

"Me perder?", ri baixinho, genuinamente achando a ideia absurda. "Lucas, eu te amo. Eu sou completamente apaixonado por você. Se eu falar que não gostei do Raul, vou estar mentindo, e tudo que eu menos quero nessa vida é mentir para você."

Aproximei-me mais, peguei seu rosto entre as mãos:

"Eu gostei dele, sim. Ele é gostoso, pauzudo, isso é óbvio. Mas eu não o amo. Eu não quero nada sério com ele. Eu estou namorando com você, estou com você, e não com Raul. Será que você não entende isso? Preciso desenhar?"

"Desculpa... só estou meio com dor de cabeça e confuso", Lucas mentiu, desviando o olhar.

"Eu tenho um remédio que sei que vai fazer você melhorar rapidinho dessa sua neurose", disse, sorrindo daquele jeito que eu sabia que o desarma completamente.

"O que, posso saber?"

"Isso", e tirei a camisa, revelando o corpo que eu sabia que ele não conseguia resistir, e o beijei com fome calculada.

"Carlos, para", ele falou, mas sua voz saiu como gemido, traindo completamente qualquer intenção de resistir.

"Tem certeza de que não quer isso?", perguntei, tirando meu short e o puxando para um beijo mais profundo, onde ele já sentia meu pau completamente duro.

"Carlos... para de ser tão gostoso", ele sussurrou, e eu soube que havia vencido.

E ali ele se rendeu completamente. Dizem que quando um homem está errado, ele consegue perdão enfiando o pau, e essa era a mais pura verdade. Fodi Lucas de todas as formas que ele gostava — de quatro, de lado, dei tapas, transei com ele lentamente, beijei, chupei. Era como se nada realmente tivesse mudado entre a gente. Tudo era igual.

Mas era diferente. Porque agora havia Raul.

Levei Lucas para almoçar com meus pais na praia. "Será meu primeiro evento familiar com meu namorado oficialmente", disse, e era verdade — era importante para mim apresentá-lo como meu namorado, validar nosso relacionamento perante minha família.

Mas enquanto dirigia, minha mente já estava em Raul. Quando poderia vê-lo novamente? Como seria nosso próximo encontro?

Dois meses se passaram. E durante esse tempo, me envolvi completamente com Raul. Trocávamos mensagens diretas todos os dias, tínhamos encontros escondidos várias vezes por semana. Eu amava Lucas, mas também estava amando transar com Raul.

É algo que não sei explicar completamente, mesmo agora escrevendo isso. Eu sei que errei, sei que deveria ter terminado com Lucas ou com Raul, mas a verdade era que queria o melhor dos dois mundos.

O mundo de Lucas era meu sonho de adolescência realizado — meu namorado perfeito que eu sempre quis, que finalmente havia se apaixonado por mim da forma que eu sempre desejei. Lucas começou a me amar de uma forma que ele nunca me amou antes, e eu gostava disso, me sentia completo, validado.

E o outro mundo era Raul — com seu corpo escultural, seu sexo intenso e selvagem, sua masculinidade crua que me fazia subir pelas paredes. Raul me fazia sentir vivo de uma forma diferente, me fazia ser o pior canalha do mundo, e de forma distorcida, havia prazer nisso também.

Me encontrava com Raul quase todos os dias. Muitas vezes deixava Lucas em casa, dizendo que tinha compromissos da faculdade ou do trabalho, e ia correndo atrás de Raul. Como disse, não me arrependo de ter vivido aquilo — mas talvez devesse me arrepender de como vivi.

Raul era como uma droga. Quanto mais eu o tinha, mais eu queria. Nossos encontros eram carregados de uma intensidade sexual que eu nunca havia experimentado antes. Era sujo, era errado, era proibido — e exatamente por isso era viciante.

Com Lucas era fazer amor — carinhoso, conectado, íntimo. Com Raul era foder — violento, possessivo, sem regras. E eu queria ambos. Precisava de ambos.

Comecei a mentir compulsivamente. Mentia sobre onde estava, com quem estava, o que estava fazendo. Criava histórias elaboradas sobre projetos da faculdade, encontros com amigos, compromissos familiares. E Lucas acreditava em tudo, porque ele confiava em mim cegamente.

Essa confiança deveria ter me feito parar. Deveria ter me feito olhar no espelho e reconhecer o monstro em que estava me transformando. Mas não fez. Eu estava tão absorvido na minha própria gratificação que não conseguia — não queria — ver o mal que estava causando.

Raul era complicado também. Ele sabia que eu namorava Lucas, mas também estava se envolvendo emocionalmente. Começamos a ter conversas mais profundas, a compartilhar mais do que apenas sexo. E isso tornava tudo ainda mais perigoso.

"Quando você vai terminar com ele?", Raul perguntou uma vez, deitados numa cama de motel depois de mais um encontro.

"Não sei se vou terminar", respondi honestamente.

"Então o que somos nós?"

"Somos... nós. Não precisa ter rótulo."

"Você está tendo um caso, Carlos. Está enganando ele e me usando."

"Não é assim. Eu gosto de você, Raul. Muito."

"Mas ama ele."

"Sim."

"Então escolhe."

Mas eu não queria escolher. E essa recusa em escolher foi minha maior falhaAté que chegou o dia inevitável — o dia em que tudo desmoronou.

Estávamos na casa de praia, apenas nós dois (eu e o Lucas), aproveitando um final de semana que prometia ser perfeito. Havíamos planejado tudo: muito amor, beijos, carícias, sexo. O paraíso estava ali, ao alcance das nossas mãos.

Até que minha própria arrogância me destruiu.

Saí para buscar comida e, como um completo idiota, deixei meu celular na cama. Não estava preocupado — afinal, Lucas nunca mexia nas minhas coisas. Confiança, lembra?

Quando voltei, carregando sacolas de comida e sorrindo como o namorado perfeito que fingia ser, encontrei Lucas segurando meu celular. E pelo olhar em seu rosto, soube imediatamente que estava tudo acabado.

"VOLTEI, AMOR!", gritei da sala, ainda alheio ao terremoto prestes a me atingir. "Pedi uma comidinha gostosa para a gente terminar nosso final de semana perfeito!"

Entrei no quarto sorrindo, e foi quando o inferno começou.

"QUE PORRA É ISSO AQUI, CARLOS?", Lucas explodiu, arremessando meu celular contra meu peito com força.

O aparelho ricocheteou e caiu no chão. Olhei para ele, para o celular, de volta para ele — e entendi.

"O que foi, amor?", perguntei, já sabendo a resposta, mas comprando tempo.

"AMOR O CARALHO! QUE MERDA É ESSA DE VOCÊ ESTAR TENDO UM CASO COM RAUL? SÉRIO MESMO, COM RAUL? MEU COLEGA DE CLASSE, MEU AMIGO?"

Seu rosto estava vermelho, lágrimas escorrendo, e pela primeira vez em muito tempo, senti medo genuíno. Não medo das consequências para mim — mas medo do que havia feito com ele.

"DESSA VEZ VOCÊ JOGOU MUITO SUJO, CARLOS! ESTOU COM NOJO DE VOCÊ!"

E então ele começou a me bater. Não eram socos fortes — eram golpes desesperados de quem acabara de ter o coração despedaçado. E eu deixei. Deixei ele me bater porque sabia que merecia cada golpe.

"Para! Assim você vai me machucar!", protestei fracamente, tentando segurar seus punhos.

"EXPLICAR O QUÊ, CARLOS? QUE VOCÊ É UM MENTIROSO? QUE VOCÊ ME FEZ DE IDIOTA ESSE TEMPO TODO?"

"Lucas, por favor, me escuta..."

"NÃO! NÃO QUERO OUVIR SUAS MENTIRAS! VI TUDO! 'FOI MUITO BOM HOJE', 'SAUDADES DO SEU PAU'! VOCÊ ESTAVA TRANSANDO COM ELE ENQUANTO EU ACREDITAVA QUE ÉRAMOS FELIZES!"

Cada palavra dele era uma faca, mas não pela acusação — pela verdade nelas.

"Lucas, não é o que você está pensando...", tentei, sabendo que era inútil.

"NÃO É O QUÊ? ENTÃO ME EXPLICA! EXPLICA POR QUE VOCÊ ESTAVA MARCANDO ENCONTRO COM ELE HOJE! EXPLICA POR QUE DISSE QUE NÃO PARA DE PENSAR NELE!"

"Eu...", gaguejei, e pela primeira vez em muito tempo, não tinha palavras. Não tinha desculpas. Não tinha mentiras que funcionassem.

"FALA, CARLOS! FALA!"

"Não era para ser assim!", explodi finalmente. "Era só... era só diversão no começo!"

"DIVERSÃO? VOCÊ CHAMA DE DIVERSÃO ME ENGANAR, ME HUMILHAR?"

E foi nesse momento que algo dentro de mim quebrou. Não sei se foi cansaço de mentir, se foi raiva por ter sido descoberto, ou se foi apenas crueldade pura. Mas as palavras saíram:

"Sabe de uma coisa, Lucas? Talvez seja melhor você saber mesmo. Eu estou começando a gostar para valer do Raul. Com ele é... diferente. Mais intenso."

Vi a alma dele morrer naquele momento. Vi o exato segundo em que algo fundamental dentro de Lucas se quebrou irreparavelmente. E mesmo assim, não parei.

Ele correu para o guarda-roupa, começou a jogar suas coisas na mochila com desespero.

"O que você está fazendo?", perguntei, como se não fosse óbvio.

"VOCÊS DOIS MERECEM UM AO OUTRO! ESPERO QUE SEJAM MUITO FELIZES!"

"Lucas, não vai embora assim! Como você vai voltar?"

"NÃO É PROBLEMA SEU! VOCÊ QUE SE PREOCUPE COM SEU RAUL AGORA!"

"Lucas, por favor! Vamos conversar como adultos!"

Ele parou na porta e se virou para mim uma última vez. E o que disse me assombra até hoje:

"Sabe o que mais dói, Carlos? Não é nem você estar com ele. É você ter me feito acreditar que éramos especiais. Que o que tínhamos era único. Você me fez de idiota e ainda teve a cara de pau de dizer que ele é mais intenso."

"Lucas..."

"Tchau, Carlos. Espero nunca mais ver sua cara na minha frente."

E ele saiu, batendo a porta com tanta força que o eco reverberou não apenas pela casa, mas pela minha alma.

Fiquei ali, parado no meio daquele quarto que cheirava a nós dois, cercado pelas sacolas de comida que havia comprado para nosso "final de semana perfeito", e finalmente compreendi o que tinha feito.

Havia destruído o amor da minha vida por sexo. Havia trocado anos de amizade e história compartilhada por alguns meses de adrenalina e orgasmos intensos. Havia machucado a única pessoa que sempre esteve ao meu lado, que me amou mesmo quando eu não merecia, que me escolheu repetidamente mesmo quando poderia ter escolhido melhor.

E por quê? Por Raul? Nem mesmo era sobre Raul especificamente — era sobre minha incapacidade de estar satisfeito, minha necessidade constante de mais, minha ganância emocional.

Sentei na cama e, pela primeira vez em muito tempo, chorei. Chorei pela perda de Lucas, chorei pela pessoa horrível em que me transformei, chorei pelos anos de terapia que ainda precisaria para entender por que autossabotei a melhor coisa que já me aconteceu.

Peguei meu celular do chão — a tela rachada, assim como tudo mais em minha vida naquele momento. Abri a conversa com Raul e digitei: "Lucas descobriu. Acabou."

A resposta veio rápida: "E agora?"

"Não sei."

E realmente não sabia. Porque pela primeira vez, não tinha um plano, não tinha uma desculpa, não tinha uma saída fácil.

Havia apenas a devastação que eu mesmo criei, e a consciência dolorosa de que algumas coisas, uma vez quebradas, nunca podem ser completamente consertadas.

[Continua...]

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