Capítulo 7: A Geografia do Nosso Amor
Os três dias que se seguiram àquela noite foram de um silêncio ensurdecedor. Não o trocamos uma única mensagem. Minha casa, que antes era nosso refúgio, tornou-se uma cela de lembranças. O sofá cheirava a ela, o ar condicionado ainda guardava o eco de seus gemos, e o vazio que ela deixou era físico, doloroso. A ficha não caía. Como a mulher que eu amava, com quem eu compartilhava meus fetiches mais profundos, havia cruzado uma linha que nem eu mesmo sabia que existia? E pior: por que, no fundo, aquilo ainda me excitava, mesmo envolto em agonia?
No quarto dia, o celular vibrou. Era ela.
"Precisamos conversar. Posso ir aí?"
O coração acelerou. Medo, expectativa, saudade. Uma tempestade de sentimentos. "Pode," respondi, seco.
Ela chegou com o rosto lavado, sem maquiagem, vestindo uma simples camiseta e jeans. Parecia mais jovem, mais vulnerável. Mas seus olhos tinham uma determinação que eu nunca tinha visto antes.
Sentamos na varanda, aquele espaço que havia testemunhado tantos planos e risos. O silêncio era pesado.
"Esses três dias foram os mais longos da minha vida," ela começou, a voz um pouco trêmula, mas firme. "Não pela falta dele... isso foi como um sonho febril que já passou. Mas pela sua falta. Pela forma como você me olhou naquela noite, depois... de tudo."
Eu me mantive em silêncio, olhando para as mãos dela. Ela continuou.
"Eu fiz aquilo. Fui além de qualquer combinado, fui impulsiva e me perdi num momento de pura loucura. E carreguei o peso disso comigo todos esses dias. Mas preciso que você entenda o porquê."
Ela se inclinou para frente, seus olhos buscando os meus com uma intensidade quase dolorosa.
"Durante todo esse tempo, você plantou essa semente em mim. Você me mostrou um mundo onde o prazer podia ser explorado, onde a libertinagem não era suja, mas uma forma de nos conectarmos ainda mais. Quando você me deu aquela permissão, era o seu desejo que eu queria realizar. Era a nossa fantasia que eu estava vivendo. Em nenhum momento, dentro daquele carro, você deixou de ser o homem da minha vida. Pelo contrário: era você que estava ali comigo, era para você que a minha mente gritava."
Suas palavras começaram a dissolver a barreira de gelo que eu havia erguido.
"Sim, senti prazer. Foi intenso, foi selvagem. Mas o ápice... o ápice daquela noite não foi o orgasmo no carro. Foi ver o tesão nos seus olhos quando eu contava cada detalhe. Porque era para você. Sempre foi. Você é meu porto seguro, meu cúmplice, meu melhor amigo. O que sinto por você é uma coisa vasta e profunda. O que aconteceu com ele foi um furacão passageiro – intenso, mas que já se dissipou."
Ela se ajoelhou no chão da varanda, pegando minhas mãos inertes entre as suas.
"O que aconteceu me assustou também. Me mostrou que existem limites, que precisamos de novos combinados, de mais comunicação. Mas não mudou uma única verdade fundamental: eu te amo. Eu te escolho. Todos os dias. E se for preciso, enterro essa fantasia para sempre e fico apenas com você, porque o que nós temos é real. É sólido. É a coisa mais valiosa da minha vida."
Olhei para ela. Para seus olhos marejados, sua postura vulnerável, mas sua voz inabalável. A ficha finalmente caiu. Não a ficha da traição, mas a ficha do amor. Ela estava certa. Eu havia sido o arquiteto de tudo aquilo. E no meio do furacão que eu mesmo causei, ela era a única âncora real.
A raiva e a insegurança se dissiparam, substituídas por uma clareza avassaladora. Se nosso amor era forte o suficiente para sobreviver a um teste daqueles, era forte o suficiente para qualquer coisa.
Deixei a cadeira e desci ao chão com ela, envolvendo-a em meus braços. Pela primeira vez em dias, senti seu corpo relaxar contra o meu, sua respiração sintonizando com a minha.
"Eu sou um idiota," sussurrei no seu ouvido, enterrando o rosto em seu cabelo. "Um idiota sortudo. Você é a pessoa mais incrível que já conheci. E eu não quero enterrar nenhuma fantasia. Quero viver todas elas... ao seu lado. Com mais cuidado, com mais conversa. Mas ao seu lado."
E então, ainda ali no chão da varanda, peguei seu rosto entre minhas mãos.
"Fah, você já é minha em todos os sentidos que importam. Mas eu quero que seja para sempre, diante de tudo e de todos. Case comigo."
O choque, seguido por uma alegria tão radiante que pareceu iluminar a varanda inteira, foi a confirmação de que havíamos não apenas sobrevivido à tempestade, mas saído dela mais fortes e mais unidos. O beijo que se seguiu foi doce, profundo e cheio de promessas de um futuro onde a fantasia e o amor poderiam, finalmente, coexistir em harmonia. A fantasia nos levou ao limite, mas foi o amor puro, cru e verdadeiro que nos trouxe de volta – prontos para escrever, juntos, os próximos capítulos.