Nem acreditei quando entrei no meu quarto depois de tanto tempo e tantas coisas que aconteceram. Eu estava ali novamente, mas não era uma entrada triunfante; pelo contrário, entrei sentada em uma cadeira de rodas e com o corpo todo ferido. Mas pelo menos estava ali, e o mais importante, com meu amor ao meu lado.
Sabrina me ajudou a deitar na cama. Qualquer movimento que eu fazia doía bastante, e por causa da cirurgia, o médico pediu para eu ficar de repouso por alguns dias, até o corte cicatrizar. Isso deveria levar alguns dias; as fraturas iriam demorar muito mais. Justamente elas eram as que me causavam mais dor. O médico disse que, após o primeiro mês, as dores diminuíram um pouco, e eu estava torcendo por isso, embora ainda faltasse muito para completar um mês.
Eu ainda não tinha visto meu rosto. Não deixaram que eu visse. O médico me garantiu que não havia nada de errado, além do inchaço e dos hematomas, mas minha mãe e Sabrina disseram que não havia necessidade de eu olhar, pelo jeito estava bem feio para elas me impedirem. No entanto, o inchaço tinha diminuído bastante; eu conseguia sentir isso ao passar as mãos, comparando os dois lados. Sabrina prometeu que, na hora do banho, eu poderia olhar, que só tinha alguns hematomas agora. É até meio estranho, mas estava com saudades de me ver no espelho.
Minha mãe ficou com a gente pelo resto da semana. Sabrina queria contratar uma enfermeira, mas tiramos essa ideia da cabeça dela. As duas davam conta de cuidar de mim; na verdade, só uma delas daria conta, mas não reclamei de ter as duas mulheres da minha vida me paparicando. E foi mais ou menos assim que seguiu minha primeira semana ali. As duas foram uns amores em todos os sentidos. Sabrina dormia comigo todas as noites, mas colocava dois travesseiros entre nós para não me acertar sem querer durante a noite. Só de saber que ela queria dormir ao meu lado, me deixava extremamente feliz. Meu rosto já estava quase normal, mas ainda tinha uma mancha roxa, quase preta, abaixo do olho atingido.
Minha mãe cozinhou para nós duas a semana toda e tomou conta da casa. Sabrina me dava banho, administrava meus remédios e trocava o curativo da cirurgia. Eu tentei falar com ela sobre nossa situação, mas ela disse que depois a gente conversaria. Eu queria resolver isso logo; tinha medo de que, após minha recuperação, ela me pedisse para sair dali. Porém, esses pensamentos foram perdendo força conforme os dias passavam. Sempre que podia, ela me roubava alguns beijos, estava sempre com um sorriso lindo nos lábios e me enchia de carinho sempre que estava perto de mim.
No final de semana, Sabrina foi para a boate só na sexta e no sábado à noite. Diego ficou responsável por resolver as outras coisas e, quando precisava, ligava para Sabrina, que resolvia por telefone mesmo. Minha mãe ficou comigo durante as noites, mas no domingo ela iria voltar para casa; infelizmente, tinha que voltar ao trabalho. Eu recebi visitas a semana toda; todos os meus amigos vieram me ver, mas foi na noite de sábado que recebi uma visita que realmente não esperava.
Estava deitada vendo TV e minha mãe na cozinha lavando as louças do jantar. Ouvi alguém batendo na porta e, logo depois, o barulho das chaves abrindo-a. Não demorou e minha mãe entrou no meu quarto com uma cara nada boa. Atrás dela, vi meu sogro entrando. Não entendi a expressão da minha mãe até ver que, atrás do meu sogro, surgiu alguém que eu realmente não esperava ver ali. Dona Solange apareceu com o rosto baixo e uma postura totalmente diferente da que sempre teve. Ela sempre teve aquele olhar que parece olhar as pessoas por cima, sempre com uma postura firme e o corpo ereto. Mas a mulher que surgiu pela porta estava com o olhar baixo, os ombros caídos e parecia um pouco mais magra. Quando levantou o olhar e me olhou nos olhos, percebi que havia uma tristeza no seu olhar que chegou a me dar pena.
Meu sogro se aproximou e pediu desculpas por trazer Solange sem me avisar, mas ela insistiu em vir falar comigo, e ele achou que não seria uma má ideia. Eu disse que não havia problema algum e olhei para minha sogra, dando-lhe boa noite enquanto levantava a mão para pegar a dela. Ela se aproximou rápido, segurou minha mão e me deu boa noite também. Pedi para ela se sentar, e ela olhou ao redor. Sorri e disse que poderia se sentar na beirada da cama. Minha mãe falou que ia à cozinha terminar de lavar as louças, e meu sogro disse que ia deixar a gente conversar à vontade. Minha sogra, ainda com a cabeça baixa, começou a falar.
Solange— Fernanda, eu sei que provavelmente não deveria estar aqui, sei que não sou bem-vinda nesta casa e fiz mais do que o suficiente para merecer isso. Mas eu precisava me desculpar. Eu sei que não mereço suas desculpas, mas realmente precisava. Te agradeço muito por me receber bem e me ouvir.
Fernanda— Tudo bem. Eu jamais vou tratar alguém mal sem que essa pessoa faça o mesmo. Então pode ficar tranquila que sempre vou te tratar com educação, desde que eu seja tratada da mesma forma.
Solange— É muito justo. Mais uma vez, obrigada. Olha, como eu estava dizendo, eu queria me desculpar com você por ter colocado aquele monstro no caminho de vocês. Eu juro que não sabia que ele era esse tipo de pessoa quando o conheci e não acreditei na minha filha quando ela me avisou que ele não era quem eu pensava. Por meu erro, coloquei a vida de vocês duas em risco. Fiquei muito mal quando Sérgio me contou o que tinha acontecido com você; eu sabia que a culpa era minha e que meu erro poderia ter tirado a vida de uma pessoa. Sei que agora é tarde, porque não há como voltar atrás, mas eu juro que, se pudesse, voltaria e não deixaria nada disso acontecer. Eu realmente sinto muito por tudo que você passou e estou disposta a fazer qualquer coisa para me redimir pelos meus erros. Perdão, Fernanda, perdão por ter te causado tanto mal.
Fernanda— Olha, eu realmente não a culpo pelo que houve comigo, então não tenho o que te perdoar. Mas o que aconteceu com a Sabrina é bem diferente; a senhora teve uma grande parcela de culpa e, sinceramente, fiquei muito magoada. Mas já passou; como a senhora disse, não há como voltar atrás, então vamos tentar seguir em frente sem ficar remoendo isso. Da minha parte, pode ficar tranquila; não tenho nenhum tipo de sentimento ruim pela senhora. Pode erguer a cabeça e conversar comigo sem sentir vergonha ou culpa pelo que passou. Nós duas amamos pessoas em comum e tenho certeza de que a senhora, assim como eu, quer ver todos felizes, então acho que devíamos pensar nisso e deixar para trás qualquer sentimento ruim que possa ter existido entre a gente algum dia.
Solange— Você realmente é uma pessoa de um coração enorme, assim como o Sérgio disse. Bom, eu espero que você se recupere o mais rápido possível e, se precisar de algo que eu possa ajudar, é só falar. Eu vou agora; não quero tomar seu tempo e já disse o que tinha para dizer. Que Deus te abençoe e obrigada pelas sábias palavras; concordo com cada uma delas. Obrigada, Fernanda, fica com Deus.
Fernanda— Por nada, e obrigada por vir. E vai com ele também.
Ela se levantou e seguiu para a porta de saída. Antes de sair, olhou para trás e vi um pequeno sorriso no seu rosto; seu olhar não era mais de tristeza, talvez o brilho que tinha agora fosse de esperança. Ela fez um sinal positivo com a cabeça, deu tchau e saiu. Fiquei ali pensando na nossa conversa e, depois, pensando em qual seria a reação da Sabrina quando soubesse que a mãe dela estava ali no apartamento. Sinceramente, acho que ela não iria achar ruim, embora houvesse sim um risco disso acontecer.
Meu sogro veio se despedir de mim e, mais uma vez, se desculpou por ter trazido a esposa sem avisar. Eu disse que não precisava se desculpar; na verdade, tivemos uma boa conversa, apesar de rápida, e foi muito significativa. Ele sorriu e disse que esperava que aquele tivesse sido um início para a família se unir totalmente. Eu disse que sinceramente também esperava por isso. Ele se despediu e logo minha mãe veio perguntar se eu estava bem. Eu disse que sim, que Solange só veio se desculpar e foi muito educada comigo.
Não demorei a dormir naquela noite; acho que os remédios para dor ajudavam-me a dormir cedo. Nunca dormi tanto na minha vida; mesmo com as dores, conseguia dormir bastante. Acordei no dia seguinte e Sabrina dormia ao meu lado. Já conseguia me mover sozinha e levantei com cuidado para não acordá-la. Fiz minha higiene matinal e fui tomar café com minha mãe. Passamos a parte da manhã conversando na cozinha; fazia tempo que não conversávamos tanto. Minha mãe fez o almoço e almoçou comigo. Depois, arrumou suas coisas e se despediu para ir para casa. Ela prometeu que viria me ver sempre que pudesse e que era para eu ligar a qualquer momento, caso precisasse dela.
Sabrina acordou já quase uma da tarde, estava com a cara mais inchada que a minha quando apareceu na sala. Perguntou se minha mãe já tinha saído e eu confirmei. Ela foi até a cozinha, pegou uma xícara de café e se sentou ao meu lado.
Sabrina— Por que você está fora da cama?
Fernanda— Vim me despedir da minha mãe e acabei esquecendo do tempo sentada aqui.
Sabrina— No que estava pensando?
Fernanda— Em um monte de coisas: na minha situação, em nós, na visita da sua mãe.
Sabrina— Como assim? Minha mãe esteve aqui?
Fernanda— Sim, apareceu ontem à noite, conversamos rapidinho e se foi.
Sabrina— O que vocês conversaram?
Fernanda— Ela veio pedir perdão, estava se culpando pelo que aconteceu comigo. Eu a perdoei e ela foi embora. Você está chateada por ela ter vindo?
Sabrina— Não, na verdade estou surpresa, já que para mim ela só mandou um texto.
Fernanda— Acho que ela não aguentaria ouvir você dizendo que não a perdoava; estava muito recente.
Sabrina— Pode ser, mas que bom que ela veio se desculpar com você pessoalmente.
Fernanda— Foi legal da parte dela. Ela está muito mudada, inclusive visualmente; parece que aquela postura arrogante dela sumiu.
Sabrina— Meu pai me falou isso. Tomara que seja verdade, assim, quem sabe um dia a gente não volte a ser mãe e filha. Na verdade, sinto falta dela. Até senti um pouco de ciúmes dela ter vindo te ver e não ter vindo quando eu estava mal.
Fernanda— Sinto muito, Sabrina.
Sabrina— Não é mais amor?
Fernanda— Eu não sei. Você sempre adia a nossa conversa e eu não sei se ainda posso te chamar de amor.
Sabrina— Posso te fazer uma pergunta?
Fernanda— Claro.
Sabrina— O que você sentiu quando viu a Ingrid e o que sente por ela hoje?
Fernanda— Você sabe que era a Ingrid?
Sabrina— Sim, eu sei. Pode me responder?
Fernanda— Posso, mas depois quero saber como você sabia que era ela. Eu me assustei quando vi ela ali na minha frente, me assustei tanto que não sabia como agir. Quando ela me beijou, eu travei; meu cérebro começou a pensar um monte de coisas e eu simplesmente demorei demais a reagir. Sinceramente, não sei o que senti, nem o que sinto por ela. Mas se seu medo é que eu tenha gostado do beijo ou que tenha ficado confusa quando a vi em relação a nós duas, pode esquecer; isso nunca aconteceu e não tenho nenhum tipo de sentimento amoroso por ela. Só não parei para pensar no que sinto por ela hoje. Mas o que sinto por você eu tenho certeza, eu amo você e nunca deixei de amar. Meu erro foi não ter reagido rápido; sei que errei nesse sentido e peço desculpas. Mas foi meu único erro.
Sabrina— Eu acredito em você e te desculpo. Também quero te pedir desculpas pela forma como te tratei no escritório. Estava com muita raiva de você, mas mesmo assim não justifica a forma como agi, então, por favor, me perdoe. Quanto a me chamar de amor, eu gostaria muito que você continuasse me chamando assim, porque quero que nada mude entre a gente. Eu te amo muito também e te quero comigo como antes, se você ainda me quiser.
Fernanda— Claro que eu quero, amor. Obrigada por acreditar em mim! Ainda bem que você mudou de ideia.
Sabrina— Acho que não é bem a mim que você deve agradecer. Na verdade, talvez eu ainda estivesse com raiva e acreditando que você tinha me traído, se a Ingrid não tivesse conversado comigo.
Fernanda— O que? Como assim, amor? Ela te procurou?
Sabrina— Na verdade, a gente se encontrou no hospital e ela insistiu em falar comigo. Me contou que foi ela quem te beijou, que você realmente travou e não retribuiu. Que foi ela que forçou a situação e foi a única culpada de tudo o que houve. Depois, faltou implorar para que eu te desse uma chance e que queria muito ver você feliz.
Fernanda— Por essa eu não esperava. Sinceramente, não sei o que dizer.
Sabrina— Não precisa dizer nada não. O importante é que ela tentou consertar o seu erro e se desculpou pelo que fez. Agora vamos para a cama; não é bom você ficar nesse sofá.
Eu só concordei, na verdade, foi meio no automático. Fui muita coisa junta: Sabrina com ciúmes da mãe, nós duas nos acertando de vez, Ingrid conversando com Sabrina e ajudando na nossa reconciliação. Eu precisava de um tempo para processar aquilo tudo. Me deitei e Sabrina me deu um beijo, dizendo que me amava. Eu esqueci de tudo e sorri igual a uma boba. Ela disse que ia procurar algo para comer e já voltava. Eu disse que tudo bem e que a amava muito também.
Ela saiu para a cozinha e eu fiquei ali pensando em tudo que tinha acontecido. Na verdade, não sabia o que sentia a respeito de Ingrid; eu já amei, já a odiei, carreguei uma mágoa dela durante muito tempo, e nem notei quando isso acabou. Hoje, não sabia o que sentia por ela; talvez fosse nada, por isso não tinha essa resposta. Fiquei ali deitada pensando sobre isso e várias outras coisas. Sabrina sumiu, provavelmente estava almoçando. Depois de muito tempo, ouvi o barulho das chaves da porta do apartamento, depois vozes de mulheres, mas não identifiquei. Alguns segundos depois, vi a porta do quarto se abrir.
Sabrina— Amor, tem visitas para você.
Quando vi a pessoa que saiu de trás da Sabrina, eu quase não acreditei.
Fernanda— Você? 😳
Continua...
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper