O sol já brilhava alto no céu, aquecendo a chácara com sua intensidade de meio de dia. Júnior permanecia prostrado no assoalho frio da sala, o rosto ainda marcado, o corpo exausto. A mente, porém, estava totalmente focada em Gabriel, absorvendo as dez novas regras impostas. Cada mandamento era um novo elo em sua corrente de devoção, e uma profunda sensação de propósito preenchia seu ser.
Gabriel observava-o, os olhos cintilando com um prazer quase indescritível. Aquele era o auge de seu poder. Ele havia quebrado Júnior, moldado-o, e agora estava ajustando os últimos detalhes de sua nova propriedade. O silêncio na sala era denso, preenchido apenas pela respiração ofegante do contador. Gabriel aproximou-se de Júnior e, com um gesto calculado, apoiou o pé descalço sobre a cabeça do escravo, empurrando-a suavemente para baixo.
— Muito bem, cadela. — Gabriel finalmente quebrou o silêncio, a voz carregada de satisfação. — Vejo que você é um bom aluno. Aprende rápido.
Júnior não levantou a cabeça, apenas assentiu com um movimento quase imperceptível.
— Agora, levante-se. — ordenou Gabriel, retirando o pé da cabeça de Júnior. — O show acabou. Por enquanto.
Júnior obedeceu, sentindo os joelhos estalarem ao se erguer. O corpo inteiro doía, mas a adrenalina da presença de Gabriel ainda o mantinha de pé. Ele permaneceu imóvel, os olhos fixos nos pés descalços do Mestre, aguardando a próxima instrução.
Gabriel caminhou lentamente pela sala, observando a chácara de Júnior com um ar de posse. Ele parou em frente à janela, olhando para a piscina e o gramado, onde, no dia anterior, tantas humilhações haviam se desenrolado.
— Sabe, cadela, gostei do seu lugar. É... conveniente. — Gabriel virou-se para Júnior. — Mas é hora de eu ir. Tenho meus compromissos. Minha vida de verdade.
Júnior sentiu uma pontada de desapontamento. Apesar de toda a dor e humilhação, a presença de Gabriel era a única coisa que dava sentido à sua existência agora.
— Mas não pense que vou me esquecer de você. Longe disso. — Gabriel sorriu, um sorriso que não alcançava os olhos, frio e calculante. — A partir de agora, minha cadela, você tem uma nova rotina. E não é a de um contador chato.
Gabriel pegou o celular e abriu o aplicativo do banco, mostrando a tela para Júnior.
— Está vendo isso? É a minha conta. E ela precisa de alimento diário. Você me transferirá quatrocentos reais por dia. Todos os dias. Sem falhas. Até o próximo sábado. Isso é a sua mensalidade. A mensalidade para continuar sendo a minha cadela.
Júnior sentiu o baque. Quatrocentos reais por dia. Isso era um valor considerável para sua rotina, mas Gabriel não pedia, exigia. Sua mente, exausta, tentou calcular. Seis dias... Dois mil e quatrocentos reais. Era um valor que exigiria malabarismos, mas a ordem era clara.
— Sim, Mestre. — Júnior murmurou, a voz quase inaudível. — Quatrocentos por dia. Entendido.
— E quero um comprovante no meu WhatsApp, com sua mensagem de gratidão, claro. Todo dia. Às oito da manhã, pontualmente. Nem um minuto a mais, nem um a menos. Entendeu a nova regra do dinheiro, cadela?
— Sim, Mestre. Oito da manhã. Sem falhas.
Gabriel guardou o celular, a satisfação evidente em seu rosto.
— Ótimo. Agora, sobre o próximo sábado. — Gabriel caminhou até a porta, sinalizando que era hora de Júnior o acompanhar. — Meus amigos se divertiram muito ontem. E eu também. Por isso, decidi que repetiremos a dose.
Júnior sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Aquele terror. A vergonha. Tudo de novo. O corpo de Júnior enrijeceu, e uma expressão de pânico misturada com hesitação surgiu em seu rosto marcado. Ele não conseguiu disfarçar o temor de reviver as humilhações na frente dos amigos de Gabriel.
Gabriel percebeu a hesitação, o mínimo sinal de relutância. A voz do Mestre endureceu, cortante como um chicote, e, num movimento rápido e preciso, desferiu um tapa seco e forte no rosto de Júnior. O som estalou no silêncio da sala, fazendo a cabeça do contador virar com o impacto.
— O que foi, cadela? Algum problema? — a voz de Gabriel era baixa, mas carregada de uma frieza cortante. — Você não está feliz em me servir? Em servir meus amigos?
Júnior sentiu a bochecha arder. As lágrimas brotaram, mas ele se recusou a deixá-las cair. A dor física se somava à vergonha por ter demonstrado fraqueza. Ele sacudiu a cabeça freneticamente, jogando-se novamente ao chão, prostrando-se aos pés de Gabriel.
— N-não, Mestre! Mil perdões! É uma honra! — Júnior murmurou, a voz embargada pela dor e pelo choque, o rosto virado para o chão. — Eu... eu serei o melhor anfitrião que o senhor e seus amigos já tiveram! É... é um privilégio servir ao senhor!
Gabriel sorriu, a expressão satisfeita restaurada. Ele estendeu o pé e apoiou-o suavemente na cabeça de Júnior.
— Bom. Assim que se fala. Prepare a chácara. Deixe-a impecável. E prepare-se. Quero um espetáculo ainda melhor na próxima semana.
Gabriel retirou o pé da cabeça de Júnior, num gesto final de dominação antes de partir.
— Leve-me ao carro, cadela.
Júnior se ergueu, mancando, e seguiu Gabriel até a BMW estacionada na garagem. Abriu a porta do motorista com reverência, e Gabriel entrou no veículo com a naturalidade de um rei em sua carruagem.
— Lembre-se, Júnior. — Gabriel disse, antes de ligar o motor, a voz baixa e carregada de aviso. — Sua vida agora me pertence. Cada centavo, cada minuto. E a sua honra... bem, a sua honra é o que eu quiser que ela seja.
Ele ligou o motor, o ronco suave preenchendo a garagem. Júnior fechou a porta com cuidado, e Gabriel acelerou, saindo da chácara, deixando Júnior para trás, sozinho.
O contador ficou ali, parado, observando a BMW desaparecer na estrada de terra. O cheiro de pneu queimado e o pó levantado pelo carro pairavam no ar. As novas regras. As transferências diárias. O próximo sábado. Tudo se misturava em sua mente. O corpo doía, a fome o castigava, a humilhação doía mais. Mas, em algum lugar profundo, uma pequena e perversa faísca de satisfação se acendia. Ele era dele. Totalmente dele. E, para Júnior, essa era a sua mais pura libertação.