O Escolhido de Eldoria ☆ Capítulo 31

Um conto erótico de Tiago e Lucas
Categoria: Homossexual
Contém 1643 palavras
Data: 16/09/2025 07:47:53
Assuntos: Fantasia, Gay, Homossexual

✧ A Bússola do Coração ✧

(Lucas)

De joelhos sobre a pedra fria e implacável, eu era um rei coroado de pó em um reino de ruínas. O grito de Tiago, um espectro sonoro arrancado de uma visão cruel, ainda rasgava o silêncio da minha mente. Cada eco era uma nova facada. Contudo, em meio aos escombros do meu desespero, uma brasa de desafio teimava em não se apagar. Era o “Vínculo do Guardião”.

Fechei os olhos, rendendo-me às lágrimas quentes que traçavam caminhos sujos em meu rosto, e mergulhei naquela centelha. Não era uma memória desbotada; era uma presença viva. Um calor sutil na boca do estômago, uma pulsação rítmica, fraca mas insistente, como um coração distante batendo em um uníssono secreto com o meu. Ele estava vivo. A ilusão do labirinto, por mais perfeita e sádica, era uma mentira tecida com sombras e medo. A dor da visão não se dissipou, mas metamorfoseou-se. Agora, ela tinha um propósito: era o combustível gelado para uma fúria precisa, uma tempestade silenciosa que se formava em minha alma.

(Tiago)

No fundo daquele poço de esquecimento, meu grito nasceu e morreu na escuridão, devorado por um silêncio que pesava mais que a própria terra acima. Eu era um fiapo de alma, uma chama vacilante esperando o sopro que a extinguiria. O cheiro de terra úmida e decomposição enchia meus pulmões. Minha mão, trêmula e desobediente, moveu-se por conta própria, um gesto instintivo deslizando para o bolso da túnica em busca de um consolo que eu não sabia nomear. Meus dedos, frios e dormentes, se fecharam em torno do fragmento astral. E então, como se meu desespero absoluto fosse a chave que girava a fechadura, o item mágico respondeu. Aqueceu. Não com a fúria de uma forja, mas com a ternura de uma mão segurando a minha.

Uma luz pálida, leitosa, emanou da esfera, e a escuridão do poço não foi apenas banida, foi substituída. Uma imagem gravou-se em minha mente, tão vívida que me roubou o pouco ar que me restava. Era Lucas, seu rosto uma máscara de poeira e angústia, e então, eu, emergindo da escuridão ao seu encontro. Seus braços me envolveram num abraço que era mais um refúgio do que um simples gesto, e nossos lábios se encontraram. Não era o beijo febril da paixão, mas o da redescoberta, o sabor salgado de lágrimas compartilhadas se misturando à certeza inabalável de que pertencíamos um ao outro. Não era uma memória. Era uma promessa.

(Lucas)

Com a certeza da vida de Tiago ancorando minha sanidade como um peso de ouro, eu me pus de pé. O chão sob minhas botas não era mais um território inimigo. O labirinto deixou de ser um adversário invencível para se tornar o que realmente era: um quebra-cabeça complexo, um sistema com regras, padrões e artérias de energia.

Estendi minhas mãos, não em um gesto de combate, mas de escuta. Fechei os olhos novamente, e em vez de procurar pela luz, mergulhei na tessitura mágica do lugar. Havia a energia opressiva e bolorenta das paredes antigas; havia o resíduo pegajoso e enganoso das ilusões. Mas por baixo de tudo, pulsando como um nervo exposto, senti algo diferente. Uma corrente vibrante, um zumbido agudo que fez os pelos de minha nuca se arrepiarem, um ferrão elétrico correndo pelas entranhas de uma parede específica, a alguns corredores de distância. Era uma assinatura de poder inconfundível, limpa e crepitante como uma noite de tempestade. As Botas Relâmpago. Encontrar o artefato era o primeiro passo tático. Encontrar Tiago era o único passo que importava.

(Tiago)

A visão se desfez, devolvendo-me à escuridão, mas a esperança que ela acendeu era um sol engarrafado dentro de mim. Um poço não iria me deter. Não quando um futuro como aquele me esperava do lado de fora. Olhei para cima, para o círculo de luz distante, que antes zombava de mim e agora parecia um convite. Eu já havia tentado a força bruta da água, mas o labirinto, sedento, absorvia cada gota. Desta vez, a estratégia seria precisão sobre poder. Concentração. Reuni cada átomo de poder que me restava, não em uma onda ou um jato, mas focando-o em um único ponto: meus pés. Senti a umidade do ar se condensar, o suor em minha pele se agitar, a própria água em meu sangue responder ao chamado, tudo se concentrando sob as solas das minhas botas.

Com um grito que era ao mesmo tempo esforço, desafio e o nome de Lucas em meu coração, liberei tudo de uma vez. Não foi uma plataforma. Foi um gêiser. Um pilar de água pressurizada que me disparou para o alto como uma flecha de safira, um cometa azul riscando a escuridão. O impacto contra o chão do corredor foi brutal, um choque que ressoou em cada osso, mas foi o som mais doce que já ouvi: o som da liberdade.

(Lucas)

Segui a corrente elétrica com uma velocidade que nascia não dos músculos, mas da certeza. O mundo se tornou um túnel de pedra e sombra, minha percepção afiada como uma adaga.

As ilusões menores do labirinto tentaram se interpor — sussurros de vozes familiares, sombras que se contorciam em formas monstruosas — mas se desfaziam diante da minha determinação, incapazes de encontrar brechas em uma mente selada por um único objetivo. E então, a câmara. Era uma cavidade na rocha, e no centro, sobre um pedestal de obsidiana polida, estava um par das Botas Relâmpago. Ela não repousava, elas vibrava, estalando com energia contida. Arcos de eletricidade azul-cobalto dançavam sobre o couro escuro, cada um deles uma promessa de velocidade e poder.

Eu a peguei. A magia explodiu por mim, um choque que não feria, mas despertava, um gosto de ozônio na língua. Não havia tempo para admiração. O labirinto nos queria separados, quebrados, perdidos. Eu usaria seu próprio tesouro para desvendar seus segredos e rasgar o caminho de volta para ele.

(Tiago)

Caído no chão do corredor, eu era um poço de exaustão. Cada músculo gritava, minha magia, um deserto. A manobra me custara quase tudo. Minha respiração era um farrapo. Mais uma vez, minha mão buscou e encontrou o fragmento astral. Desta vez, conscientemente, eu o segurei como uma prece. Derramei minha própria energia nele, oferecendo o que restava da minha essência, um sacrifício silencioso. O item mágico brilhou, não com a luz pálida de antes, mas com um fulgor ofuscante e, como se reconhecesse a oferta, devolveu a energia multiplicada por dez. Uma onda de calor e vitalidade percorreu minhas veias, um rio caudaloso apagando a dor, selando arranhões, acalmando a latejante agonia e, o mais importante, reabastecendo o manancial da minha magia. Eu estava inteiro novamente. Não. Eu estava mais forte.

Com a magia renovada, conjurei uma solução para um chão que já me havia traído. Uma esfera de água translúcida materializou-se ao meu redor, uma cúpula protetora que me ergueu a alguns centímetros do solo. Impulsionando-a com minha vontade, comecei a navegar pelos corredores, um espectro silencioso e veloz deslizando sobre armadilhas ocultas. A cúpula distorcia a luz das tochas, transformando o labirinto em um borrão surreal de fogo e pedra, enquanto eu me focava apenas em uma coisa: sentir a direção de onde vinha o calor do Vínculo, o farol constante que me guiava até Lucas.

O corredor terminou abruptamente em uma parede sólida. Um beco sem saída. A frustração ferveu dentro de mim, quente e violenta. Depois de tudo — o poço, o desespero, a promessa, a esperança reencontrada — ser parado por uma parede de pedra era um insulto cósmico. A raiva tomou conta, não a raiva cega do desespero, mas a fúria focada e cortante de quem se recusa a ser derrotado.

“Não!”, eu gritei, a palavra ecoando como uma martelada. Concentrei um vórtice de poder bruto na minha frente, a água da minha cúpula girando em um trado de poder líquido, e o disparei. A explosão foi ensurdecedora. O ar se estilhaçou. Pedras voaram como projéteis, e a parede se desfez em uma cascata de poeira e entulho, revelando o que havia do outro lado.

(Lucas)

Eu examinava um entroncamento, tentando decifrar o fluxo de energia para decidir qual caminho seguir, quando o chão tremeu violentamente. Um rugido visceral explodiu de um corredor adjacente, e a parede à minha esquerda começou a rachar como casca de ovo.

Instintivamente, posicionei-me para o ataque, a Bota Relâmpago zumbindo em meus pé direito, esperando que uma fera do labirinto ou um golem de pedra surgisse da destruição. Mas através da poeira que baixava como uma cortina lenta e da água que escorria pelas frestas, eu vi uma silhueta. Uma silhueta envolta em uma luz cerúlea, parada no epicentro da devastação que ela mesma criara. Nossos olhares se cruzaram através da brecha recém-aberta, e o mundo, o labirinto, o tempo, tudo parou de girar.

“Tiago…”, sussurrei, a voz embargada, mal reconhecendo o som que saiu da minha própria garganta.

(Tiago)

Através da poeira e da névoa, eu vi seu rosto. A visão. Era real. Dei um passo trôpego através dos destroços, e a cúpula de água que me protegia se desfez em uma chuva suave, uma bênção silenciosa ao meu redor.

Ele não andou, ele se lançou em minha direção. Não houve palavras. Não havia necessidade delas. Seus braços me envolveram, me segurando com uma força que não feria, mas que prometia nunca mais soltar, e eu me agarrei a ele como um homem que se afogava se agarra à única boia em um oceano infinito. Então, ele me beijou. E ali, em meio às ruínas de uma parede quebrada e ao coração de um labirinto traiçoeiro, a promessa se cumpriu. O gosto era de poeira, de lágrimas, de ozônio e de um alívio tão profundo e avassalador que parecia ter reescrito a própria realidade. Estávamos juntos. E agora, nada mais poderia nos separar. Juntos, éramos inquebráveis.

Continua…

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