No Capítulo anterior:
— Vem, Rodolfo, come essa boceta, que ela te ama!
Eu travei, lembrei da declaração de amor da Bruna. Meu tesão desapareceu, meu pênis murchou, fiquei sem ereção de forma humilhante!
Pedi desculpas, disse que não estava bem e fomos embora.
Custei para dormir. Pensei muito no que aconteceu; por um lado, eu não tinha certeza sobre meus sentimentos por Bruna, mas, por outro, estava deixando essa incerteza me consumir. Eu precisava ser mais pragmático.
Normalmente sou muito racional; eu sabia que só o tempo esclareceria meus sentimentos. Ruminar o que Bruna me falou não fazia sentido; o melhor era esperar ela resolver seus problemas e, depois, junto com ela, decidir nosso futuro. Nesse meio tempo, eu já teria clareza sobre meus sentimentos.
Alguns dias depois, Débora me telefonou, estava na cidade e queria retribuir o jantar. Não pensei duas vezes, aceitei.
Continuando:
Sai de casa mal-intencionado; queria comer minha ex-cunhada, mas não ia forçar a barra, ela era minha amiguinha.
Quando entrou no carro, percebi que não era só eu o mal-intencionado; ela saiu vestida para matar. Com um vestido solto, maleável, sem sutiã e com uma calcinha minúscula, seu corpo ficava visível em todos os detalhes. Saltos muito altos, maquiagem discreta e o cabelo preso, mostrando o pescoço. Quando dei os beijinhos protocolares, não resisti; sempre fui muito franco com ela.
— Uau! Débora, não sei o que vamos jantar, mas tenho certeza que sei o que quero de sobremesa.
— Chefinho, o que é isso? Está me paquerando?
— Larga de onda, Débora. Te conheço; hoje, você saiu querendo dar.
— E você, chefinho, saiu querendo comer?
Parei o carro e a beijei. Foi muito bom; ela estava pronta para o abate, mas segui o roteiro. Fomos ao restaurante, comemos uma massa deliciosa, conversamos bastante, trocamos beijos e dançamos, roçando nossos corpos.
Quando o tesão estava insuportável, fomos para o seu hotel. Descobri que Débora na cama era muito diferente da profissional assertiva que eu conhecia. Ela era de uma delicadeza extrema, seus gestos eram contidos e absolutamente femininos. Sua performance era uma luta entre sua timidez e um desejo avassalador. Ela não gritava, gemia baixinho, quase ronronando; seus mamilos pareciam pedras de tão duros, sua pele permaneceu arrepiada durante todo o tempo que estivemos juntos. Sua boceta escorria, literalmente.
Quando ela gozava e ela gozou muito, tremia, quase uma convulsão, mas o ronronar não mudava. Só gritou uma vez, quando lambi seu cu; depois, fiquei sabendo que fui o primeiro a beijar aquele anel rosa.
Ela quase não falava durante o sexo, também não pedia nada e se satisfazia com o que recebia. Houve duas exceções: quando chupava seus seios, ela me pediu para morder, e, quando ela estava de quatro, dei uns tapas na sua bunda; ela me pediu para bater com mais força.
Seu boquete foi espetacular; ela adorava chupar e lamber. Chupou minha rola, lambeu minhas bolas e continuou. Ganhei um banho de gato; ela lambeu meu corpo todo, não aqueles beijinhos que muitas mulheres gostam de espalhar no peitoral. Ela me lambeu o corpo todo, como uma gata lambe seus filhotes. Gozei três vezes: duas na buceta e uma na sua boca; ela perdeu a conta de quantas vezes gozou. A única coisa que ela me negou foi o cu, disse que, como fez anal poucas vezes na vida, não estava preparada. Mas me prometeu que, na próxima vez, ela tomaria no cu.
Sai do seu quarto de hotel com o sol raiando. Combinamos de jantar na minha casa no dia seguinte.
Voltei para casa eufórico. Todo homem sabe que a primeira foda depois de uma broxada é fundamental para recuperar a autoestima.
No dia do jantar em minha casa, Débora me ligou pedindo para remarcar para o próximo dia. Surgiu um imprevisto: ela precisava ir a um cartório em Jacareí buscar uma certidão que ficou pendente para retificar o inventário da mãe.
Remarquei sem problemas. No entanto, o telefonema de Débora me lembrou a nossa conversa no dia em que nos reencontramos na livraria. Algo que ela falou me incomodou; podia ser besteira, provavelmente era, mas resolvi esclarecer o assunto.
Liguei para meu contador e pedi algumas planilhas antigas, no que fui atendido imediatamente. Meia hora depois de ler as planilhas, liguei novamente e conversamos por um bom tempo. Minhas suspeitas tinham fundamentos; Débora não gostaria do que eu tinha para falar.
Quando Débora chegou, pensei em não tocar no assunto; isso estragaria a noite, e ela estava linda. Mas não era justo. Ela tinha o direito de saber. Achei melhor deixar a conversa para depois do jantar.
Tudo correu maravilhosamente bem. A comida, fetucine ao molho branco com filé ao vinho do Porto, ficou deliciosa (modéstia à parte!). A conversa foi leve, com muitas risadas de "causos" que contávamos. Em um determinado momento, eu antecipei que tinha que conversar algo relativo aos negócios; ela não se opôs, mas estabeleceu que só depois da sobremesa.
Como caprichei no jantar, não fiz sobremesa; preferi comprar um sorvete artesanal de pistache. Ela adorou.
Finalizado o jantar, fomos para sala. Eu estava tenso com o que tinha que falar e fui protelando. Conversávamos sobre assuntos diversos e começamos a trocar carícias e beijos. Preocupado com o rumo das coisas, preparei-me para lançar a bomba.
— Débora, preciso ter uma conversa séria com você sobre negócios pendentes. Se continuarmos a nos esfregar, não haverá nenhuma conversa... Vamos conversar e depois continuamos a nos pegar.
— Tudo bem, chefinho. Primeiro o dever, depois o prazer, mas primeiro eu vou ao banheiro. Está tudo bem?
— Claro! Vá lá, você conhece o caminho.
Esperei por alguns minutos; quando já estava ficando impaciente, ouvi ela me chamar.
— Rodolfo, venha me ajudar.
Levantei-me e saí correndo. Imaginei que algo tivesse acontecido. Ela não estava no banheiro social; olho em direção ao meu quarto e vejo claridade projetada pela porta aberta. Quando entro no quarto, tenho uma surpresa: Débora na cama, de quatro e nua. Ao seu lado, camisinhas e um tubo de KY.
— Chefinho, fiquei te devendo meu cuzinho. Não acho certo falar de negócios com quem estou em dívida. Coma meu cu; depois, falamos de negócios.
Hoje não vejo lógica no argumento de Débora, mas, na hora, ao ver aquela raba maravilhosa, o argumento me pareceu totalmente pertinente! Fui em direção à cama me despindo; quando encostei em seu corpo, já estava nu, como ela.
Senti sua pele arrepiar ao tocar sua bunda. Rapidamente, me abaixei e comecei a beijar e lamber cada milímetro daquela raba monumental. Quando cheguei ao rego, optei por seguir para o sul, chupei seu lindo cuzinho, massageando com a língua cada preguinha. Continuei rumo ao sul, lambi seu períneo enquanto introduzia um dedo no cu e outro na boceta. Ela rebolava, pedia vara, mas eu queria deixá-la louca de tesão. Cai de boca na buceta, lambia os grandes lábios com intensidade; já nos pequenos lábios e no clitóris, eu era mais delicado. Ela escorria deliciosamente em minha cara. Quando percebia que o orgasmo se aproximava, eu parava. Queria ela com tesão, sem o alívio do gozo.
Virei seu corpo e me deitei sobre ela, procurando sua boca; eu queria beijá-la. Enquanto isso, meu pau esfregava sua vulva e minhas mãos imobilizavam seus braços acima da cabeça.
Depois de um longo beijo, soltei seus braços e comecei a deslizar pelo seu corpo. Lambi suas axilas, carícia que ela adorava, seu colo e ataquei seus seios com um toque de brutalidade. Redesenhei seus seios com carinho e mordi seus mamilos como um bebê esfomeado.
Continuei descendo, passei rapidamente pela barriga e cheguei novamente naquela deliciosa boceta.
O jogo foi o mesmo, chupava até ela quase gozar e parava. Fiz isso umas quatro vezes; ela implorava para ser penetrada, olhava para mim com lágrimas nos olhos e dizia:
— Não faça isso comigo, me coma, mete logo; eu não aguento mais, preciso gozar.
Virei de lado, peguei o lubrificante e comecei a explorar seu cuzinho. Com uma mão, estimulava sua boceta; com a outra, ia alargando seu buraquinho pouco visitado.
Quando já conseguia colocar dois dedos inteiros, parti para a finalização. Eu queria muito comer aquele cuzinho, mas desejava que fosse prazeroso para nós dois.
Voltei a chupar sua boceta, caprichando no seu ponto mais sensível, completamente intumescido nesta altura do campeonato.
Quando o orgasmo estava muito próximo, coloquei a cabeça do meu pênis na entrada da vagina e comecei a introduzi-la. O trem do gozo estava chegando à estação e estava desgovernado!
Quando seu canal vaginal começou as fantásticas contratações, eu enfiei tudo e, maldosamente, tirei.
Posicionei minha rola na entrada do seu cuzinho e comecei a forçar a entrada enquanto estimulava o clitóris com os dedos.
Quando ela começou a gozar, eu enfiei tudo até o talo.
Débora, como já descrevi, gozava sem escândalos, gritaria ou gemidos pornográficos. Mas, desta vez, foi diferente. Ela intercalava gritos e gemidos com um vocabulário de puta no período fértil.
Gozou muito, intensamente, rebolou na minha rola e gozou novamente, sem estímulo clitoriano. Eu fui virando seu corpo e me posicionei de joelhos entre suas pernas; com ela de quatro, passei a ter maior controle sobre as estocadas e aumentei a pressão. No seu terceiro gozo, seu ânus contraiu-se absurdamente; não aguentei, gozei junto com ela, um gozo diferente, dolorido. A contração foi tanta que parte da minha ejaculação ficou presa dentro do pênis; quando consegui tirar de dentro dela, já meia bomba, doendo bastante, eu mijava porra, nunca tinha passado por algo semelhante.
Ficamos mais de uma hora deitados, sem falar, descansando e processando o que aconteceu.
Finalmente, levantamo-nos e fomos para a banheira relaxar; lá, conversamos sobre nossa trepada.
Débora disse que nunca gozou tanto e com tanta intensidade, e que, pela primeira vez, não sentiu dor ao dar o cu. Morri de rir quando ela pediu desculpas pelas putarias que falou.
Eu, por minha vez, contei sobre a ejaculação interrompida, que, apesar de ter doido, foi incrível, o orgasmo mais surreal da minha vida.
Saímos da banheira, tomamos uma ducha, abrimos um vinho e ficamos nus, sentados no sofá para conversar. Por um bom tempo, o assunto foi nossa performance, mas, em um momento, ela se lembrou do meu pedido durante o jantar.
— Agora que já paguei minha dívida, juros e correção monetária, podemos falar de negócios. O que te incomoda? Conheço você e sei que não gosta de misturar vida pessoal e negócios. Se insistiu em falar hoje, o assunto deve ser sério.
— Pois é, você me conhece bem... O assunto é sério e desagradável. Vamos deixar para amanhã; não vai mudar nada, e não quero quebrar o momento fantástico que estamos vivendo.
— Estou curiosa, mas, se você diz que não muda nada falar hoje ou amanhã, prefiro deixar para amanhã. Estou cansada, morrendo de sono; não seria uma boa conselheira hoje.
— Ótimo, amanhã eu te falo. Não quero que você volte ao hotel; durma comigo.
Apagamos rapidamente; estávamos esgotados.
Acordei por volta das nove horas; Débora ainda dormia profundamente. Não querendo acordá-la, fui para a suíte de hóspedes tomar banho, pois precisava de um banho quente. Acordei, como sempre, com uma ereção matinal, mas, desta vez, algo estava estranho: minha rola doía bastante, e eu tinha dificuldades para urinar. Com certeza, era reflexo do que chamei de "gozo interno", na falta de nome melhor. Tomei um anti-inflamatório e fui para o chuveiro.
Quarenta minutos de água quente e o remédio fizeram milagre. A dor passou, urinei como um menino.
Bem-humorado pela boa mijada (meu vô dizia que, com a idade, uma boa mijada é mais prazerosa que uma boa trepada; nesse dia, concordei com ele!), vesti-me e fui preparar o café da manhã.
Caprichei. Café, leite, suco de laranja, torradas, pães de queijo, requeijão, geleias e uma bonita e deliciosa salada de frutas. Com a mesa pronta, fui acordar Débora.
Entrei no quarto e a cama estava vazia. Ouvi o barulho do chuveiro e fui em direção ao banheiro. Já tinha a mão na maçaneta quando tive uma ideia. Corri até o escritório, abri meu laptop e escrevi:
"A digníssima dama está convidada para o café da manhã em homenagem a sua magnífica bunda. Estou esperando, a senhora e a homenageada."
Imprimi, corri de volta para o quarto e deixei o convite sobre a cama. Fui para sala de jantar, sentei-me e esperei.
Minutos depois, ela vem vestindo apenas uma camisa social minha, com dois ou três botões fechados, o bilhete na mão e um sorriso lindo no rosto.
— Obrigada pelo convite, nobre cavalheiro. Eu e minha bunda estamos honradas.
Fez uma mesura, virou-se de costas e levantou a camisa, mostrando sua linda bunda, marcada pelos meus tapas. Virou de volta, me olhou com uma expressão séria, e caiu na risada. Ou melhor, caímos na risada.
O café foi ótimo; estávamos felizes e empolgados com a noite passada. Contei o meu probleminha matinal; ela ficou preocupada e me fez prometer procurar um médico.
Enrolei o quanto pude, mas, em determinado momento, ela puxou o assunto.
— Eu adoraria passar o dia contigo, mas tenho compromissos à tarde. Se você quiser meus conselhos, é melhor falar logo.
— Débora, estou procrastinando este assunto porque sei que você não vai gostar, mas é seu direito saber.
— O assunto tem a ver comigo? Agora estou assustada. Fale logo, homem.
— Tudo bem, mas deixe-me falar tudo; depois, você faz suas perguntas.
— Ok, sou uma boa ouvinte.
— Quando jantamos pela primeira vez, você me contou sobre as dificuldades para efetuar o pagamento do tratamento da sua mãe, realizado em sua totalidade no Sírio-Libanês, um hospital de excelência, mas muito caro. Lembro que você me disse que todo o patrimônio herdado foi desfeito para honrar esse débito. Venderam os imóveis, usaram as reservas financeiras e, mesmo assim, tiveram que colocar dinheiro do bolso.
Depois do jantar, não sei por que motivo, fiquei pensando nisso; algo me incomodava.
Logo depois, uma amiga precisou da minha ajuda no seu divórcio. Foi um caso complicado; ela precisou ser defendida por um escritório de advocacia especializado em proteger mulheres de homens que não aceitam o divórcio e tentam intimidá-las, até fisicamente. Nesse processo, conversando com as advogadas, lembrei da dor de um divórcio. Muitas coisas do meu divórcio com a Ruth, que eu fiz questão de esquecer, especialmente as reuniões com os advogados, voltaram à tona. Foi aí que a ficha caiu. Um detalhe do acordo não condizia com as informações que você me passou.
Entrei em contato com meu contador, que, após fazer uma pesquisa e falar com meu advogado, me deu o retorno.
Serei breve e direto. Ficou estabelecido no meu divórcio que eu continuaria pagando o plano de saúde da Ruth nos mesmos moldes, sem qualquer alteração, por cinco anos. O plano era o mais completo do mercado, cobria todo e qualquer tratamento pelo tempo que fosse necessário, em uma rede enorme de hospitais de ponta, incluindo o Sírio-Libanês.
O plano que estava no meu nome foi desmembrado. Passei a pagar um plano para mim e outro para Ruth. Como sua mãe era dependente do meu plano, com o divórcio, para manter tudo como era, ela se tornou dependente de Ruth.
Verifiquei as planilhas e todo tratamento da sua mãe foi coberto pelo plano; o hospital não cobrou nem um centavo de vocês.
Sua irmã mentiu.
Débora estava muda. Pálida e com a boca aberta, tentava processar as informações.
Até que explodiu.
— Filha da puta! Vadia do caralho! Eu vou acabar com aquela mentirosa.
E desatou a chorar. Chorava compulsivamente, intercalando lágrimas, ofensas à irmã e ameaças.
Como ela estava muito nervosa, sugeri um calmante leve. Ela não queria, mas acabou aceitando. Aos poucos, foi se acalmando e ficando sonolenta. Fomos para o quarto e ela adormeceu rapidamente.
Como eu imaginava, e não poderia ser de outra forma, as informações que passei para Débora causaram dor. Eu me sentia culpado por estragar um momento em que ela estava bem, tanto na sua vida pessoal quanto na profissional, mas não seria justo omitir a verdade; ela precisava saber e tentar recuperar o que lhe fora tirado.
Aproveitei seu sono para ligar para meu advogado. Fui atendido rapidamente e, depois de expor resumidamente o caso, ele me passou para um jovem advogado que, apesar de ter apenas 32 anos, era doutor em direito sucessório e autor de um livro sobre fraudes na sucessão.
Conversamos por quase duas horas; contei tudo, desde a tentativa de Ruth subtrair meu patrimônio, passando pelo divórcio e concluindo com o golpe na irmã.
O advogado gostou do caso e disse que existiam chances reais de reaver o patrimônio de Débora, mas, sempre há um "mas", dependia das provas que conseguimos produzir.
Passou por WhatsApp tudo o que ele julgava interessante para subsidiar o processo judicial. Combinamos que Débora marcaria uma reunião com ele quando tivesse conseguido tudo, ou boa parte, do que ele sugeriu. Pedi para incluir seus honorários na minha conta no escritório.
Desliguei pensativo. Depois do meu divórcio, procurei deletar Ruth dos meus pensamentos, mas não consegui. Acabei fazendo um acordo comigo mesmo: recordava os nossos bons momentos sem culpa, como um viúvo que olha velhas fotografias, mas não me permitia pensar na Ruth após o divórcio. Afastei-me dos amigos comuns, deletei todos os meus perfis em redes sociais e evitei tudo e todos que pudessem trazer informações sobre ela.
Débora é um bom exemplo; por anos, deixei de ter contato com ela e sabia que era inevitável que algo sobre sua irmã viesse à tona em alguma conversa casual. Foi exatamente o que aconteceu.
Não me arrependo; os momentos com Débora foram ótimos, e ela sempre foi uma grande amiga.
Sou sistemático; me intrigava ter aberto a guarda exatamente neste momento. Pensei na broxada; talvez a vontade de superar o vergonhoso falo flácido tenha me tornado descuidado no compromisso que fiz comigo mesmo. Mas não foi isso. Não saí com Débora mal-intencionado; o tesão veio durante o encontro. Eu rodava atrás do rabo, sem encontrar uma explicação; ou melhor, eu não queria aceitar a única explicação plausível: tornei-me indiferente a Ruth. Tinha algo mais importante com que me preocupar. Relaxei; nos últimos meses, ela não mobilizava mais meus sentimentos e atenção; não sentia ódio nem amor.
Bruna tornou-se o foco dos meus pensamentos, ocupando o espaço que um dia foi de Ruth.
Teimoso, eu não queria admitir, mas eu estava apaixonado.
O que me restava fazer?
Bruna não podia voltar; eu tinha que esperar. Enquanto isso, o lógico era apoiar Débora contra sua irmã, não por vingança, ela era carta fora do meu baralho, mas por solidariedade a uma amiga querida.
O que eu ainda não tinha ideia era do quanto isso seria doloroso.
Débora acordou mais calma. Tomou banho, vestiu-se e ouviu atentamente um resumo detalhado da minha conversa com o advogado. Leu a lista de documentos necessários para subsidiar o processo e afirmou que conseguiria quase todos. Pedi que ela me apontasse os que ela não tinha como conseguir. Fiquei confuso; os documentos que faltavam eu conseguiria facilmente com meu advogado e contador, ela sabia disso. Percebendo que algo estava estranho, questionei-a. Não gostei da resposta.
— Tente entender Rodolfo. Quando te vi na livraria, demorei para falar contigo; eu estava receosa, sabia que você não queria contato com pessoas que lembrassem seu passado com Ruth. Sou irmã daquela vagabunda e fiquei com medo de te causar dor. Você sempre foi um amigo querido; não queria estragar sua noite com más recordações. Entretanto, a conversa foi ótima; percebi que você conseguiu superar. Fiquei feliz por recuperar meu amigo, mais feliz ao me sentir desejada e desejando. Adorei transar contigo; nunca me entreguei ao sexo da maneira que fizemos. Não entenda errado; não estou apaixonada. Não sou do tipo romântica, mas quero continuar a ser sua amiga e, quando possível, me acabar no seu cacete. Tenho medo que, apesar de ter sido você quem abriu meus olhos sobre o golpe da minha irmã e de ter conseguido um advogado que, nem em sonho, eu teria condições de pagar, que um maior envolvimento nesse mar de lama possa te trazer muita dor. Vou ter que falar coisas sobre minha irmã que nunca falei; não sei até onde você sabe o quanto ela foi filha da puta, mesmo antes da doença da minha mãe. Não quero que você fique envolvido nisso.
Ouvi os argumentos de Débora e fiquei feliz. Apenas uma amiga verdadeira renuncia a algo que pode lhe trazer benefícios para proteger o amigo. Mas não concordei com suas preocupações; provavelmente, ela estava se referindo às traições de Ruth durante o casamento, mas não eram traições, pois tínhamos um relacionamento aberto. Não achei necessário contar esse acordo que tinha com sua irmã; pensei em outra estratégia.
— Tudo bem, eu entendo seu ponto de vista e fico feliz com sua preocupação. Não acompanharei o processo; você pode dizer o que acha que deve. Entretanto, os documentos solicitados pelo advogado podem ser fornecidos pelo meu advogado e contador, sem que eu precise me envolver. Posso pedir que eles providenciem?
— Bom, se é assim, tudo bem. Fico devendo mais uma a você.
— Nada que um boquete não pague.
— Safado! Faço isso na hora que você quiser! Mas hoje não, minha cabeça está em outro lugar. Vou voltar para Piracicaba e começar a preparar os documentos.
— Eu sei, estava brincando. Na batalha entre desejo e preocupação, o desejo perde por 7 a 1.
Ela se vestiu, me beijou e foi embora. Liguei para meu advogado e para o contador, marcando uma reunião no dia seguinte.
A reunião foi rápida; em menos de uma hora, eles já sabiam do caso e dos documentos a serem produzidos e enviados ao advogado responsável. Mantive minha palavra com Débora e informei a eles que não queria me envolver, pois meu papel se encerrava no envio dos documentos.
Mas meu dia não tinha acabado...
No final da tarde, recebi um telefonema de Bruna. Chorando e muito assustada, ela falou que Chicão descobriu onde ela estava, tentou entrar no prédio e foi contido pelos seguranças. Naquele momento, ela estava sendo levada para outro lugar e pediu para usar o celular do segurança para me ligar e contar que recebeu uma proposta para ser professora visitante em uma universidade alemã por um ano. Como conhece o chefe do departamento que a convidou, explicou o drama em que está vivendo e condicionou sua ida a uma restrição formal do seu quase ex-marido, pisar em território alemão. O professor alemão prometeu fazer tudo que fosse possível para conseguir a restrição.
Com dor no coração, ouvi dizer que, se ele conseguisse, ela iria para Alemanha no mesmo dia. Não aguentava mais viver como uma presidiária.
Falar o quê? Ela estava certa. Concordei e, sem pensar, antes de ela desligar, soltei um "te amo". Acho que ela não ouviu ou preferiu não ouvir.
Cheguei em casa e fui afogar as mágoas. Álcool? Não, muito melhor: um pote de sorvete, bolo e uma garrafa de Coca-Cola.
Bruna foi para Alemanha. Quase todos os dias, conversávamos por telefone. Nossa amizade e intimidade foram aumentando, mesmo estando longe.
Os dias se tornaram semanas e as semanas, meses. Ansioso, esperava que o divórcio fosse concluído para visitá-la na Alemanha. A luta foi cruel; descobrimos que Chicão resistia ao divórcio por não querer dividir seu patrimônio, construído durante o casamento com dinheiro herdado por Bruna de seu pai. Mas suas amizades no meio jurídico não foram suficientes; as advogadas conseguiram provar que o patrimônio foi construído a partir da herança, Bruna ficou com setenta por cento do patrimônio do casal.
Era hora de ir para Alemanha.
Com a pandemia dando trégua, embarquei em Cumbica dois dias depois da expedição do averbamento do divórcio. Com muita saudade, pensei em passar alguns meses com ela, mas não foi o que aconteceu.
Fui recebido com muito carinho, mas, quando contei meus planos, ela se esquivou. Alegou que não era um bom momento para iniciar uma relação; o processo de separação ainda era recente e as feridas emocionais ainda estavam abertas.
Apesar do gosto amargo por meus planos serem frustrados, contive-me. Não era hora de pensar nos meus sentimentos; eu conhecia a dor de uma separação, mas não conseguia imaginar a dor que ela sentiu ao saber que o marido, o homem que deveria protegê-la, a envenenou para interromper sua gravidez. Ela tinha razão: o melhor era superar o luto e depois decidir o futuro.
Conversamos bastante e não deixamos que o desconforto inicial com minha frustração atrapalhasse nosso reencontro. Qualquer pessoa na rua nos apontaria como um casal de namorados apaixonados. Em cada passeio e em cada jantar, nossos olhos brilhavam ao se encontrarem (tudo bem, eu sei que é piegas, mas é a verdade!).
Foi uma semana maravilhosa. Quando, no aeroporto, ela se despediu com um beijo no rosto, eu perdi a compostura. Beijei seus lábios com paixão, sendo correspondido. Depois de abandonar seus lábios, não resisti e soltei, novamente, o "eu te amo". Falei bem alto, quase gritando, para que ela não tivesse como dizer que não ouviu. Virei-me e fui para o embarque.
Na sala de espera, meu celular apita. Automaticamente olho, pelo som sei que chegou uma notificação.
Bruna - "Você me deixou muito feliz".
Novo apito, outra notificação:
Bruna - "Tenha paciência comigo".
Novo apito, mais uma notificação.
Bruna - " Apesar de saber que estou segura, ainda tenho medo. Pesadelos horrorosos. Não estou pronta para você."
Novo apito: a melhor notificação ficou para o final.
Bruna - " Eu também te amo".
Após ler a mensagem, minha vontade era voltar para o saguão, dizer a Bruna que não voltaria ao Brasil e que queria viver com ela na Alemanha. Mas eu não podia fazer isso. Como ela, eu também passei por uma separação dolorosa e sabia que ela precisava de um tempo de luto para digerir tudo pelo qual passou. O maior gesto de amor naquele momento era respeitar seu tempo. Antes de entrar no avião, respondi à sua mensagem.
Rodolfo – “Vou esperar o tempo que você precisar. Quando estiver pronta, vamos conversar e decidir nosso futuro. Fique em paz. Te amo.”
Voltei ao Brasil com o espírito leve. As chances de construirmos um relacionamento eram grandes; afinal, além da afinidade, tínhamos sintonia sexual e nos amávamos.
Todo dia conversávamos, falávamos sobre nossa rotina, fazíamos planos e praticávamos sexo virtual, lembrando das nossas trepadas. Dois meses após voltar da Alemanha, em uma vídeo chamada, percebi Bruna inquieta. Perguntei o que tinha acontecido; ela tentou evitar responder, mas, com a minha insistência, acabou falando:
— Esse tempo sozinha tem sido muito bom; tenho pensado bastante sobre minha vida. Com a ajuda da minha analista, estou conseguindo entender que o abuso já vinha de antes da separação, que a suposta preocupação do meu ex-marido ao sugerir roupas mais conservadoras, evitar certos ambientes e amigas nada mais era que uma tentativa doentia de me controlar. Sua agressividade e insatisfação começaram quando percebeu que eu nunca seria a mulher submissa que ele desejava. Drogar-me para abortar foi apenas mais uma de suas estratégias para controlar minha vida. A dor que senti ao perceber que fui abusada psicologicamente e fisicamente durante a todo o relacionamento foi tão intensa que jurei nunca mais abrir mão de minha independência.
— Não deve ter sido fácil trabalhar essas questões, mas sei que é necessário. Um lado meu queria estar aí para te apoiar, mas sei que, no momento certo, você me chamará.
— Eu também gostaria que você estivesse aqui, especialmente hoje. Mas é bom que você esteja longe; quero te perguntar algo e não sei se teria coragem de falar pessoalmente. Você pode não gostar...
— Fiquei curioso! Fale logo, mulher.
— Lembra-se de quando Ruth fez um testemunho na Praça da República?
— Claro que lembro; foi um choque.
— Mas ela não mentiu, não é? Vocês realmente tinham um relacionamento aberto.
— Sim, você tem razão. Ruth e eu sempre tivemos um casamento aberto; eu ficava com quem queria, e ela também. Claro que tínhamos regras para não deixar nossas aventuras afetarem nosso relacionamento. Uma delas era de não contar para amigos; tudo era muito sigiloso. Por isso, eu menti quando seu ex-marido me perguntou.
— Estou curiosa. Me conte mais e explique como essas regras funcionavam.
Passei a contar detalhadamente como foi o meu casamento com Ruth. Bruna ouvia atentamente, pedindo para eu esclarecer um ponto ou outro. Depois de quase duas horas falando, eu encerrei as explicações. Bruna sorria.
— Eu tinha certeza, já tinha ouvido alguns boatos, mas vocês eram discretos; ninguém nunca conseguiu confirmar as suspeitas. Não entendo a Ruth; ela tinha o relacionamento perfeito, um homem maravilhoso que a amava e liberdade para brincar com quem quisesse.
— Pois é... Relacionamento perfeito? Você quer se aventurar no mundo liberal?
— Com certeza, Rodolfo. Apesar de ter tido o melhor sexo da minha vida com você, nunca mais quero me sentir presa; não renuncio à minha liberdade. Eu te amo; meu coração é seu, mas vou transar com quem eu quiser. Você topa?
— Claro que sim! Eu não acredito na felicidade conjugal monogâmica.
— Estou com muita saudade. Acordei lembrando da nossa última foda, passei o dia com muito tesão. Gostaria de transar com você, mas, como você não está aqui, estou pensando em iniciar nossa vida liberal. O que você acha?
— Por mim, tudo bem, mas tome cuidado e evite sair com um desconhecido. O ideal é ser alguém suficientemente próximo para te passar confiança, mas que não seja um amigo que possa confundir as coisas. Tem alguém em mente?
— Talvez, acho que sim. Fiz uma palestra para os alunos do doutorado na semana passada. Logo que acabou, um dos alunos, um holandês, me convidou para um café. Agradeci, mas recusei. Sempre que ele me vê, abre um sorriso. Ontem, ele foi ao meu gabinete me convidar para uma festa. Petulante, o moleque; claro que não aceitei, mesmo assim, ele deixou o convite e o número do celular, caso eu mudasse de ideia. O que você acha?
— Não sei. Você é quem deve saber, não é? Gostou do moleque?
— Ele é bonito, mas, com o tesão que estou hoje, podia ser feio que eu não ligava... Acho que vou dar para ele.
— Safada! Já estava armando... Estou com pena e inveja do moleque; ele não faz ideia do furacão que vai enfrentar! Divirta-se, Bruna. Te amo.
— Eu também te amo e estou com muita saudade. Queria você...
— Quando o moleque estiver te comendo, feche os olhos e pense em mim.
Desligamos com risadas e juras de amor.
Essa conversa tirou um peso das minhas costas. Eu estava apaixonado e até renunciaria à vida liberal para ficar com Bruna, mas, a longo prazo, não funcionaria; não sou monogâmico. Com Bruna disposta a viver um relacionamento liberal, tudo ficava mais fácil.
Fui dormir feliz.
Minha vida seguiu leve. Mesmo distantes fisicamente, Bruna e eu estávamos cada dia mais próximos. Ela recebeu um convite para trabalhar como professora titular, o que me agradou muito. A Alemanha foi um dos meus destinos favoritos; aprender alemão foi um grande desafio, e adorei morar em Berlim. Antes da pandemia interromper meu projeto de “turismo cultural” minha ideia era ir para Holanda, um novo país, uma nova cultura, mas próximo da Alemanha para eventuais visitas. Começar uma vida a dois em Berlim parecia uma excelente opção.
Mas eu ainda tinha alguns meses antes do final do ano sabático de Bruna.
Eu estava entediado e comecei a pensar em fazer uma viagem sem destino certo. Visitar países exóticos e aproveitar o tempo. Fiquei entusiasmado com a ideia de ser mochileiro com cartão de crédito ilimitado e me hospedar em hotéis cinco estrelas. Por que não? As finanças e a saúde estavam em ordem, e eu tinha tempo. Comecei a pesquisar; em dois dias, já tinha escolhido o destino: faria um tour pelas antigas repúblicas da União Soviética e seus países aliados, a “cortina de ferro “. O ponto de partida seria Moscou. Entrei em contato com meu agente de viagem e expliquei meus planos. Ele me prometeu apresentar um projeto de viagem em quatro dias; em dez, eu poderia embarcar.
Bruna gostou da ideia e me fez prometer que terminaria a viagem na Alemanha, nos seus braços.
Organizei minhas pendências. O contador e o advogado foram instruídos; passei os investimentos que estava tocando para minha corretora e arrumei as malas. Não tenho idade para mochila...
Só faltava uma coisa:, eu precisava saber como estava o caso de Débora contra sua irmã.
Ela tinha pedido para eu não me envolver, eu respeitei. Trocamos mensagens pelo WhatsApp, mas nunca tocamos no assunto. Cheguei a convidá-la para jantar, ela declinou com muita formalidade; senti que ela queria se distanciar. Entendi e respeitei, mas a situação mudou. Como ia viajar, seria melhor entrar em contato e contar meus planos; caso ela precisasse de algo, tinha de ser antes da viagem.
Enviei uma mensagem e esperei. Ela demorou um dia para responder e foi lacônica.
Débora – “Precisamos conversar antes da sua viagem. Estou em Piracicaba e vou para São Paulo amanhã. Chego no seu apartamento às 11h. Tudo bem?
Respondi na hora.
Rodolfo – “Sem problemas, estou esperando por você.
No dia seguinte, Débora chegou quase uma hora depois do horário combinado. Seu atraso já deixou claro que não seria uma conversa fácil. Débora nunca se atrasava e tinha orgulho disso. Quando entrou no apartamento, fiquei assustado; ela estava mais magra e com olheiras que a maquiagem pesada não conseguia esconder. Aparentava ter chorado muito.
Não queria comer, mas eu insisti. Enquanto almoçavamos peixe com batatas e salada, começamos a conversar. No início a conversa foi trivial: trabalho e vida cotidiana. Aos poucos, ela foi entrando no assunto que a atormentava: como recuperar o dinheiro que Ruth subtraíra.
Contou que ainda não tinham entrado com a ação judicial, o que me espantou. Explicou que já estava pronta e que o advogado só esperava seu OK para protocolar. Justificou a demora por conta da pesquisa exaustiva que ela e dois investigadores estavam fazendo.
— Rodolfo, eu sabia que Ruth não era flor que se cheire, mas eu não imaginava que levantaria tanta sujeira. Quando eu pedi para você não se envolver, foi para te poupar. Quando vocês se separaram, descobri que ela tinha te contado algumas mentiras desde a época do namoro. Não queria te trazer maiores dissabores; você estava bem, tinha superado o divórcio. Infelizmente, descobri que ela é uma cobra muito mais perigosa do que imaginava. O que ela fez comigo foi cruel, mas foi café pequeno perto do que fez com você. Ela te enganou desde o namoro e continuou durante todo o casamento.
— Calma, Débora, não é bem assim. Ruth e eu tínhamos um relacionamento aberto; tanto ela quanto eu tínhamos liberdade de transar fora do casamento, ninguém enganava ninguém.
— Meu amigo, você é um homem bom, mas ingênuo. Não estou falando da liberdade sexual que vocês combinaram; ela te enganou em um nível muito mais profundo. Para a sociedade, você era o marido dela, seu macho; para você, ela era a esposa perfeita, amorosa e companheira em tudo, até na visão liberal da sexualidade. Mas, na verdade, você era uma peça no jogo que ela e seu verdadeiro companheiro, o homem que ela amava e ainda ama, armaram. Ela te manipulou desde o início, usou você, planejava ficar com seu patrimônio, mas não conseguiu, por não imaginar que seus negócios tomariam um tamanho tal que inviabilizaria qualquer golpe, e por um acaso do destino: a doença e a morte do meu pai.
Eu ouvia, mas não entendia. “Verdadeiro companheiro”, “homem que ela amava e ainda ama”. Débora ficou louca? Tudo bem que nunca entendi o que levou Ruth a mudar tanto em poucos meses, mas o que eu ouvia cheirava a teoria da conspiração. Só faltou ela dizer que o “verdadeiro companheiro” era o ET Bilu. Respondi quase gritando.
— Débora, você pirou? O que você falou não faz sentido; não pode ser verdade. Tivemos anos ótimos, vivíamos bem, eu amava e me sentia amado. Você deve ter se enganado. Ruth mudou muito, mas ela era uma mulher carinhosa; não é possível que ela tenha me enganado por tanto tempo. Foram dez anos...
— Eu não queria te contar, sabia que sua reação não seria boa. Passei a noite chorando sem saber o que fazer, mas meu advogado foi categórico; como ele pode ter que jogar muita merda no ventilador, eu tinha que te contar antes para você estar preparado. Me desculpe, eu não queria te deixar infeliz, mas eu preciso tentar recuperar minhas economias; ela me tomou anos de poupança, não é justo. Tenho provas de tudo que te falei. Para ser bem franca, só te contei a ponta do iceberg; há muita lama nessa história. Vai doer, mas preciso te contar.
Eu não sabia o que pensar. Débora falava com convicção, mas a perspectiva de que o relacionamento mais sólido da minha vida até então fosse uma fraude doía muito. Eu amei Ruth visceralmente, fui feliz com ela; como acreditar que fui um marionete em suas mãos? Enquanto Débora ligava seu laptop, eu me levantei e servi uma dose dupla de whisky. Bebi com uma talagada. A bebida, produzida muitos anos antes do meu nascimento, desceu rasgando. Servi outra dose, acho que quádrupla. Voltei para mesa e, com cara de pouco amigo, despejei:
— Não se preocupe com a minha dor; conte toda a história.
E ela contou.
Continua.
PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DA “CASA DOS CONTOS ERÓTICOS" SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.