Capítulo 2: A Mãe
O cheiro de café recém-passado invadia o andar de cima. Desci devagar, quase na ponta dos pés, enquanto minha mente fervilhava. "Ela não podia ter visto aquilo... não ela...", pensava, sentindo o estômago revirar. A imagem da minha mãe, tão digna, tão correta, amplificava o nojo de mim mesmo. Como ela, tão impecável, reagiria a algo tão... grotesco?
Ao chegar na cozinha, ela estava lá. Marta. Minha mãe. De costas, preparando algo no balcão. Cabelo impecável, aquele corte que ela jurava ser prático. Usava um vestido leve, de tecido fino, que delineava com perfeição seu corpo esbelto. Ela era a personificação da elegância.
Quando ela se virou, por um segundo — juro —, achei que fosse me fuzilar com o olhar. Mas não. Sorriu. Aberto, genuíno. E antes que eu tivesse qualquer reação, veio até mim e me puxou pra um abraço apertado.
— Bom dia, meu amor. E feliz aniversário, meu filho! Vinte aninhos hoje, hein? Que você tenha muita saúde, sucesso e... amor. — Ela sorriu, apertando meu braço com carinho.
O choque me travou. Meu corpo inteiro enrijeceu, e não foi só de vergonha.
— Hã... é... bom dia... — sorri meio sem graça — Amor... aí é que tá o problema, né?
Ela riu leve, balançando a cabeça.
— Ah, Miguel... logo, logo você encontra a pessoa certa, você vai ver.
Suspirei, mais como um desabafo do que como otimismo.
— É... seria bom... — respondi, quase sem esperança, e completei, meio sem graça, como um mea-culpa disfarçado de piada: — Pra senhora não precisar mais me flagrar naquela situação, né?
Ela segurou meu rosto entre as mãos, me olhando como se lesse cada pensamento sujo e desconexo que passava pela minha cabeça.
— Está tudo bem, Miguel. Acontece — disse, com um tom surpreendentemente leve, quase divertido.
Sentei. Ela colocou uma xícara de café à minha frente, junto com pão, queijo e bolo. E então se sentou também, cruzando as pernas — algo que não precisei me esforçar muito pra perceber, porque o vestido subiu mais do que deveria.
O silêncio entre nós era denso. Mas, estranhamente, não era desconfortável. Era... carregado. De quê exatamente, eu não sabia. Ou talvez só fingisse não saber. Marta então respirou fundo, ajeitou o cabelo atrás da orelha e, com um meio sorriso, quebrou o gelo:
— Mas olha... — disse, cruzando novamente as pernas, como se quisesse deliberadamente testar meus limites — você bem que podia ter trancado aquela porta, não acha?
Engasguei com o café.
— E você podia ter batido antes de entrar! — retruquei, com as bochechas queimando.
Ela arqueou uma sobrancelha, segurando o riso.
— Tem razão... — admitiu, cruzando os braços. — Eu deveria. Mas, ainda assim, Miguel, toma mais cuidado. — A voz dela desceu meio tom, ficando mais grave, mais íntima. — Lembra que você tem uma irmã morando aqui. E certas coisas... bom... não seria bom que ela flagrasse também, né?
Ela fez uma pausa, me olhando nos olhos.
— Achei que você nem... fizesse mais isso. — Sua expressão suavizou, quase carinhosa.
Me ajeitei na cadeira, sem saber onde enfiar a cara.
— Mãe... é que... — passei a mão na nuca, constrangido — eu ainda sou virgem, né? Então... — dei de ombros, meio sem jeito — às vezes... é o que me resta.
O olhar dela mudou. Deixou o tom de repreensão e passou pra algo mais doce, acolhedor. Quase... cúmplice.
— Ah, meu amor... — suspirou, passando a mão no meu rosto com carinho. — Eu entendo. Juro que entendo...
Minha mãe me olhou nos olhos, e por trás da preocupação materna havia algo a mais. Algo que ela não dizia, mas que pulsava no ar, tão denso quanto aquele silêncio inicial.
— Sabe, filho... — Ela começou, mexendo o café sem me encarar diretamente. — Eu entendo sua ansiedade. Essa coisa de... perder a virgindade... — A palavra pareceu mais pesada na boca dela do que na minha mente. — É um marco, eu sei. Mas, apesar disso, você precisa ter calma, Miguel. As coisas vão acontecer naturalmente.
Revirei os olhos, respirando fundo.
— Mãe... eu já tive calma demais. Já tenho 20 anos...
Ela riu baixo, balançando a cabeça.
— Pois é... quando eu tinha 20, já tinha você e sua irmã. — Disse, ajeitando o cabelo atrás da orelha. — E não me interpreta mal, viu? Eu amo vocês, você e a Manuela, mais do que tudo. — Fez uma pausa, respirando fundo, antes de continuar. — Mas olha... sinceramente, não sei se é tão bom assim ser tão apressado na vida...
Ela fez uma pausa mais longa dessa vez. O olhar ficou perdido por um instante, como se repassasse mentalmente imagens de um passado que preferia não revisitar. Os dedos dela tamborilaram de leve na lateral da xícara, e por um segundo a expressão dela oscilou entre a ternura e algo que parecia... arrependimento.
— Na minha família... as coisas nunca foram exatamente convencionais. — Fez uma pausa, me lançando aquele olhar que misturava cuidado e confissão. — Sua avó sempre foi... digamos... aberta. Muito aberta. Incentivava eu e sua tia a... experimentar. Muito cedo, até.
Senti meu estômago dar um nó.
— Tipo... cedo quanto? — perguntei, mais por impulso do que por coragem.
Ela desviou o olhar, mordeu o lábio inferior. Suspirou.
— Sua tia... — Ela ajeitou o cabelo, claramente desconfortável, mas decidida. — Bom... ela perdeu a virgindade bem novinha com um tio. — Disse isso com um tom tão natural que meu cérebro travou por alguns segundos.
— Sério?! — Arregalei os olhos.
— Sim. E, pra ser honesta, eu sempre me perguntei se isso foi algo bom pra ela... — Balançou a cabeça, como se tentasse afastar fantasmas antigos. — Por isso, filho, te peço uma coisa: tenha calma. Não precisa se desesperar por isso. Tudo acontece na hora certa.
Fiquei em silêncio. Fingindo mexer no pão, quando na verdade minha mente estava em colapso, tentando digerir aquelas palavras... até que a pergunta escapou antes que eu pudesse filtrar.
— E... você, mãe? Como foi sua primeira vez? — Olhei pra ela, meio sem acreditar que estava mesmo perguntando isso. — Foi com... com o meu pai?
Minha mãe apertou os lábios, desviando o olhar. A resposta demorou alguns segundos, que pareceram uma eternidade.
— Não... — disse, quase num sussurro, traçando círculos com o dedo na borda da xícara. — Não foi com seu pai. Foi com... um primo.
Arregalei os olhos, não de choque — porque, convenhamos, depois do que ela contou da tia Márcia, nada mais parecia tão absurdo —, mas de surpresa curiosa.
— E... foi bom? — Perguntei num tom que oscilava entre provocação e genuíno interesse.
Ela sorriu de canto, um sorriso que parecia trazer lembranças enterradas.
— Foi, sim. Ele foi muito... gentil comigo. Cuidadoso. — A voz dela saiu mais suave, quase nostálgica.
A resposta me arrancou um sorriso torto.
— Ué... então por que não ficou com ele? Preferiu casar com o traste do meu pai? — Soltei, meio rindo, meio provocando. — Ficou com medo de ter filhos com problema de saúde?
O sorriso dela morreu na mesma hora.
Sumiu. Evaporou.
O olhar dela mudou. Ficou opaco, pesado. Algo entre dor e rancor atravessou seu rosto, e imediatamente percebi que tinha tocado numa ferida aberta — daquelas que nunca cicatrizam de verdade.
— Miguel... — a voz dela desceu, rouca, mais grave. — Por favor. Vamos mudar de assunto.
Engoli em seco. O silêncio ficou desconfortável dessa vez. E, enquanto fingia me concentrar na xícara de café, uma parte da minha mente começou a viajar. Pensando em tudo aquilo. Na história da minha mãe, da minha tia... da minha família.
E, de repente, a lembrança de Renatinha — minha prima — invadiu meus pensamentos. Com aquele histórico familiar... talvez... talvez... não fosse tão errado assim quanto eu imaginava.
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