[AVISO AOS LEITORES: Este capítulo não tem cenas de sexo, apenas trata as consequências do capítulo anterior.]
Bom dia/tarde/noite, leitores. Eu me chamo Carlos. Sou um professor universitário cinquentão, meio barrigudinho e calvo com dignidade. Nesta minha série de contos, narro as minhas aventuras tentando comer algumas vizinhas e, quem sabe, conquistar o coração de alguma(s) dela(s) para formar um harém com várias esposas (um objetivo de vida bem fácil, eu sei...). Quem puder ler os primeiros capítulos, só procurar a série.
No mesmo em que este capítulo se passa, eu e a Odete estamos dando entrada no nosso processo de divórcio amigável. Mas isso não quer dizer que estou sozinho. Tenho um pequeníssimo harém de duas mulheres.
A Eliana é minha “namorada”. 30 anos, engenheira. Inteligente, sorridente, decidida quando quer, embora ainda mantenha uma coleira emocional presa ao marido, Leandro. Eles ainda são oficialmente casados. E eu? Sou o “reserva”. O cara que ela ama secretamente, mas não assume publicamente. A Eliana não me impede de me envolver com outras mulheres, porque ela própria também está com dois homens ao mesmo tempo. O corpo dela parece ter sido desenhado com precisão de escultor grego e malícia de deusa pagã. Seios fartos, pesados, redondos, quase exagerados de tão bonitos. Cintura fina, barriga definida, quadril largo, coxas torneadas de academia. O bumbum é grande, firme, empinado. A pele bronzeada, os olhos verdes.
Já a Rebecca é a minha “amiga colorida”. Ela tem 29 anos, é advogada e ainda profundamente religiosa. Casada com Maurício, mas cada vez mais distante dele. A Rebecca é aquele tipo de mulher que parece viver um conflito eterno entre o que sente e o que acha que deveria sentir. Doce, reservada, inteligente. Tem um senso de certo e errado que beira a rigidez, mas aos poucos vai se permitindo viver outras possibilidades. O nosso arranjo é simples, pelo menos em teoria: somos amigos, desses que se contam tudo. E que, de vez em quando, se permitem uma transa carregada de carinho, tensão e um pouco de culpa. Ela quer se divorciar, mas ainda teme o julgamento da família, da igreja, da sociedade. Eu a escuto, a respeito e, quando ela quer, a beijo. E transo com ela com o cuidado de quem segura algo precioso e frágil ao mesmo tempo. Por trás da aparência comportada, ela tem um corpo que desafia todos os estereótipos da mulher recatada. Seios pequenos e firmes. Uma bundinha empinada, arredondada e hipnotizante, que se move com graça involuntária. Pernas bem desenhadas, olhos castanhos que às vezes brilham com uma malícia inesperada.
No conto passado, eu e a Eliana fomos encontrar minha ex-amante Creuza e seu namorado-noivo, Everton. As coisas saíram do controle e rolou uma troca de casais.
Era domingo de tarde. O meu apartamento ficou silencioso por alguns segundos depois que a Eliana terminou de contar tudo que rolou na noite anterior pra Rebecca. O ar parecia pesado, e eu podia sentir meu estômago se revirando enquanto olhava para Rebecca, a expressão de pura frustração. Eu sabia que a tempestade estava prestes a vir, e que nós dois merecíamos cada palavra que ela fosse disparar.
Sua postura estava rígida, como se ela estivesse tentando se segurar antes de desmoronar, e então finalmente explodiu:
— Eu não acredito que vocês fizeram isso! Só tinha UM acordo, UM, e vocês conseguiram quebrar na primeira oportunidade? Carlos, Eliana, como vocês puderam? — Sua voz tremia de raiva.
— Rebecca, não foi algo planejado. A gente se empolgou, aconteceu, e...
— “Aconteceu”?! — Ela me interrompeu, quase gritando. — Não, Carlos! Isso não é uma desculpa. Eu confiei em vocês dois, eu... — A voz dela falhou por um instante. — Eu me sinto traída.
A Eliana endireitou a postura, o rosto vermelho. Ela respirou fundo antes de responder:
— Rebecca, você vive passando na nossa cara que é “só uma amiga colorida”, que não é um trisal de verdade. Agora quer falar de traição?
Rebecca a encarou, furiosa.
— Isso não muda o fato de que existia um acordo! Eu posso não ser namorada dele, Eliana, mas eu confiava em vocês. E você, Carlos, devia saber melhor do que ninguém que eu me sentiria assim!
Eu engoli em seco. Ela tinha razão. Eu devia ter pensado antes. Mas não pensei. A situação tinha se desenrolado rápido demais, e meu desejo falou mais alto que minha razão.
— Eu errei, Rebecca. A gente errou. — Minha voz saiu mais baixa do que eu queria, quase uma confissão. — Não tenho desculpa.
A Eliana não parecia disposta a ceder. Em teoria, as duas tinham concordado com a morena ser a namorada principal e a evangélica ser uma reserva que poderia participar apenas se e quando quisesse.
— Sabe por que você está assim, Rebecca? Porque tá com ciúmes. Porque você gosta do Carlos! — falou com firmeza.
A Rebecca ficou em silêncio por alguns segundos. Quando respondeu, sua voz era baixa:
— Também... — Admitir aquilo parecia doer nela.
Meu coração se apertou. Eu sabia desse sentimento, mas ouvi-la dizer foi algo totalmente diferente.
A Eliana não parou por aí.
— Você só tá esperando o divórcio sair pra se entregar de vez a essa relação. Nós duas sabemos disso!
— E se for verdade? Isso não justifica o que vocês fizeram ontem!
— Quando esse divórcio sair, você vai querer que o namoro de vocês dois seja público. Você e eu já conversamos sobre isso, Rebecca. Eu te dei a minha bênção! Mas isso vai me deixar na posição de “outra”. A oculta.
A Rebecca vacilou, mordendo o lábio inferior.
— Você concordou com isso. Você não quer assumir o Carlos. Eu quero.
— Acha que eu gosto de ser a oculta? Acha mesmo? — rebateu Eliana, a voz carregada de dor e raiva.
Eu assistia a troca como se estivesse vendo um copo cair em câmera lenta, incapaz de evitar a queda. Eu amava as duas, de formas diferentes, e vê-las se ferindo assim me despedaçava. A Eliana respirou fundo, tentando se acalmar, e então falou mais devagar:
— O que eu mais gostei ontem foi poder dizer em público que era a namorada do Carlos. Agir como a namorada dele. Por algumas horas, esquecer essa situação absurda de você ser casada com outro homem, que... você sabe. Eu me empolguei demais naquele papel... e fiz coisas que talvez não faria em outra situação.
Meu peito se aqueceu com aquelas palavras. Foi a primeira vez que ela se declarou de forma tão aberta.
— Essa é a primeira vez que você realmente se declara pra mim, Eliana... — Senti meu rosto esquentar, meu coração disparar, e percebi que estava sorrindo sem perceber, a respiração acelerada diante daquela confissão inesperada.
Rebecca fungou.
— E eu fico aqui, no meio disso tudo, tentando lidar com meus sentimentos e com o fato de que ainda sou casada com o Maurício. Eu também não quero ser a outra e muito menos a enganada.
Eu estendi a mão, tocando a dela suavemente.
— A gente sabe, Rebecca. Mas precisamos resolver isso juntos. Sem segredos.
Eliana assentiu, mas ainda parecia tensa. A Rebecca respirou fundo e encarou a Eliana com firmeza.
— Se vamos acabar com os segredos, então fala pra ele, Eliana. Diz pra ele o que você contou quando só pra mim e pra Odete em segredo.
O ar ficou mais pesado ainda. A Eliana imediatamente fechou a cara e balançou a cabeça.
— Não.
— Eliana... — falei, minha voz num sussurro, confuso e ansioso.
— Eu não vou falar. Algumas coisas ainda precisam ficar entre nós duas, Rebecca.
A Rebecca se virou pra mim, frustrada.
— E como é que vamos ter uma relação sem segredos se você guarda isso? E como vamos confiar no outro se todos quebram acordos?
A Eliana me olhou, a expressão suavizando um pouco.
— Eu vou contar pro Carlos. Vou contar quando for a hora. Mas hoje não. Não assim.
A Rebecca suspirou, derrotada, e se sentou no sofá, enterrando o rosto nas mãos.
— Então como a gente fica? — perguntei.
— Eu sou só uma amiga — reagiu Rebecca, virando o rosto com ciúmes nítidos. — Vocês que são namorados abertos e liberais
Na segunda de manhãzinha, a Eliana entrou no elevador ajeitando a alça da bolsa no ombro. Estava impecavelmente vestida: saia-lápis cinza-escura que delineava sua silhueta, uma blusa branca de tecido leve, salto alto preto que lhe dava elegância e postura. O cabelo escuro, liso e brilhante, estava solto, caindo em ondas suaves sobre os ombros. Mantinha uma expressão serena, como de costume, ainda que por dentro pensasse nas tarefas do dia e nas reuniões que teria.
Quando a porta abriu, andares abaixo, ela deu de cara com Jonas. Ele tinha um corpo levemente acima do peso e semblante sempre expressivo. Ajeitava os óculos enquanto lhe oferecia um sorriso educado.
— Bom dia, Eliana — disse ele, polido.
— Bom dia, Jonas — correspondeu, sem muita empolgação.
Enquanto o elevador descia, ele permaneceu em silêncio, e ela aproveitou para organizar mentalmente a lista de pendências da manhã. No andar seguinte, a porta se abriu e Antônio entrou. Ele tinha uma energia jovial e um sorriso sempre presente. Estava vestido de maneira casual: bermuda de moletom cinza, que deixava suas coxas musculosas à mostra, e uma camiseta preta ajustada ao corpo, evidenciando os ombros largos e os braços fortes. Sua presença enchia o ambiente de uma vitalidade quase despretensiosa.
— Fala, professor, beleza? — ele cumprimentou Jonas, animado.
— Tudo certo, Antônio. E você?
— Na paz. Bom dia, Eliana — disse, com um sorriso simpático e um leve brilho de interesse no olhar.
A Eliana percebeu o tom, mas respondeu com a mesma cordialidade que costumava oferecer a todos.
— Bom dia, Antônio.
Enquanto o elevador seguia seu percurso, a Eliana notou o jeito como Antônio parecia observá-la, embora tentasse disfarçar. Era algo que ela já havia percebido antes, mas preferia não dar atenção. Sabia que ele era atraente e soube pela Letícia o quanto ele era pausudo, mas isso não despertava nada nela além de uma ligeira sensação de incômodo. A postura dele, relaxada e confiante, contrastava com o comportamento discreto de Jonas, que permanecia em silêncio, atrás deles.
Ela manteve os olhos fixos no painel do elevador, decidida a não encorajar qualquer conversa desnecessária. O ambiente ficou silencioso, apenas o som mecânico do elevador preenchendo o espaço.
Quando chegaram ao estacionamento, as portas se abriram e Eliana sorriu levemente, despedindo-se com cordialidade.
— Bom dia pra vocês.
— Valeu, bom dia! — respondeu Antônio, entusiasmado.
— Tenham um ótimo dia — completou Jonas, com seu tom educado e neutro.
Ela caminhou em direção ao seu carro, pensando na agenda do dia, ignorando aqueles dois homens.
Na segunda de noite, apertei a campainha do apartamento da Rebecca. Meu coração estava acelerado. Quando a porta se abriu, a Rebecca estava com roupas bem caseiras: uma camiseta larga e antiga, quase transparente pelo uso, possível de ver o contorno dos seios pequenos e firmes, e um shortinho de algodão claro que cobria a curva deliciosa da bunda empinada, mas deixava as coxas à mostra. O rosto sem maquiagem realçava sua beleza natural. Era incrível como, mesmo assim, ela conseguia me tirar o fôlego.
Ela hesitou por um momento, os olhos castanhos claros cheios de desconfiança, mas acabou se afastando para que eu entrasse. Ela fechou a porta e cruzou os braços, defensiva.
— O Maurício saiu com o Leandro — disse, num tom neutro, mas o nome do marido me fez sentir um incômodo no peito. — Você escolheu bem a hora.
O Maurício e o Leandro andavam saindo juntos com bastante frequência desde que o evangélico voltara de Roma. Sempre voltavam quase tarde da noite.
— Eu sei que talvez você não queira me ouvir — comecei, escolhendo cada palavra com cuidado. — Mas eu precisava vir aqui para pedir desculpas. Eu errei com você, Rebecca. E eu sei que nosso relacionamento sempre foi complicado. Não foi algo planejado, nem esperado.
— Você e Eliana me traíram, Carlos — ela disse, a voz embargada. — Não porque eu sou sua namorada, porque eu não sou... mas porque eu confiei em vocês. Eu deixei meu coração se abrir, mesmo que um pouquinho, e vocês foram lá e...
— Eu sei — interrompi, a voz firme mas carregada de arrependimento. — Não vou tentar justificar, nem fingir que foi só um deslize qualquer. Foi uma escolha ruim, e eu assumo a culpa. Você não merecia isso.
Ela desviou o olhar.
— Nem eu sei o que eu sinto por você, Carlos. Eu não sei se é amor, não sei se algum dia vai ser... Mas eu me sinto bem perto de você. Segura. Eu nunca tive isso com o Maurício, nunca senti essa mistura de carinho, calor e confiança. E, de repente, parece que eu sou só mais uma.
Aquilo me atingiu como um soco no estômago. Eu me aproximei devagar e segurei as mãos dela.
— Você nunca foi só mais uma, Rebecca. Nunca. Desde aquele dia, você se tornou alguém especial pra mim. Eu nunca vou cobrar nada de você, nunca vou exigir mais do que você quiser dar. Mas eu preciso que você saiba que eu sempre vou estar aqui. Como amigo, como parceiro... e, se você quiser, como amante.
Ela respirou fundo, os ombros tremendo.
— Eu queria te odiar, Carlos. Queria mesmo. Mas eu não consigo.
Eu sorri triste.
— Eu prefiro que você me perdoe. Mas se precisar me odiar um pouco antes, eu aguento.
Ela riu fraquinho, um riso que quebrou a tensão por um instante.
— Você é um idiota, sabia?
— Sei. — Eu ri também.
Ela me olhou demoradamente, os olhos cheios de emoção, e eu senti que estava finalmente alcançando o coração dela de novo.
— Eu não quero perder o que a gente tem, Carlos. Mesmo que seja errado, mesmo que ainda eu seja casada por enquanto.
— A gente não precisa perder — respondi, firme. — A gente pode manter do jeito que está. Sem pressa, sem cobranças. Quando você quiser algo a mais, eu vou estar aqui. E, até lá, a gente continua sendo amigos. Só amigos, com intimidade.
Ela sorriu com ternura, e naquele instante, eu soube que ela tinha me perdoado. Nos abraçamos forte, e eu senti o corpo dela colado ao meu, o cheiro do cabelo, o calor da pele. Ficamos assim por longos segundos, até que ela ergueu o rosto para me encarar. Nossos olhos se encontraram, e o mundo pareceu parar.
Eu não resisti. Beijei-a com tudo o que eu sentia: culpa, desejo, carinho, amor. Foi um beijo profundo, apaixonado, daqueles que tiram o ar. Ela correspondeu com a mesma intensidade, as mãos se agarrando na minha camisa.
Quando finalmente nos afastamos, ofegantes, ela corou e desviou o olhar.
— Você precisa ir agora, Carlos. — A voz dela tremia, misturando desejo e vergonha. — Eu ainda sou casada. Precisamos esperar.
Assenti, entendendo perfeitamente.
— Eu sei — falei suavemente, acariciando a bochecha dela. — Eu vou esperar o tempo que for preciso.
Me afastei devagar e fechei a porta, certo de que meu erro estava começando a ser remediado.
Na terça perto das 22h, o apartamento do Rogério estava animado, pois era noite de Libertadores. Estávamos os três no sofá: eu, Rogério e Érico. Os dois últimos vestindo a camisa do time (que eu não torcia) que estava jogando. O Rogério gesticulava e gritava com a televisão como se os jogadores pudessem ouvi-lo dali. O Érico estava com os olhos cravados na tela, as mãos entrelaçadas, como se estivesse rezando por cada jogada.
A minha surpresa naquela noite era a presença da Sarah. Sentada no tapete bem à frente da TV, usando a mesma camisa do time, que ficava larga nela, combinando com um shortinho pequeno e folgado. Toda vez que ela se levantava para reclamar de alguma jogada ou comemorar um lance, eu não conseguia evitar notar como seus seios balançavam, mesmo sob o sutiã. Era hipnotizante. Eu não sabia que ela gostava tanto de futebol assim, talvez até mais do que o marido. Em certo momento, ela deu um salto para frente, gritando:
— Isso foi falta, seu cego! Marca essa falta, pelo amor de Deus!
O contraste entre a figura doce e fofa que ela sempre passava e aquela torcedora furiosa era quase surreal. Me peguei pensando que havia muito sobre Sarah e Érico que eu ainda não sabia.
Enquanto isso, na cozinha, a Jéssica estava sentada à mesa de jantar, totalmente alheia à comoção da sala. Kindle nas mãos, ela lia calmamente, como se estivesse em um mundo paralelo. Eu sabia que ela não gostava nem um pouco de futebol e, normalmente, nessas noites, se trancava no quarto para maratonar alguma série na Netflix. O fato de ela estar ali, tão visível, me deu a sensação de que ela estava esperando alguém.
— Puta merda, Rogério! — gritou Érico, se levantando abruptamente. — Você viu esse impedimento? Isso não existe!
— Esse juiz é um filho da mãe, cara! — berrou Rogério.
A Sarah se levantou, furiosa, correndo pra tv como se fosse bater no juiz.
— Ele tava É MUITO atrás da linha, juiz burro!
A campainha tocou. A Jéssica suspirou e foi até a porta, e logo escutamos sua voz animada:
— Lorena! Que bom que você veio!
Eu me inclinei um pouco para ver a Lorena. Ela estava com roupas normais de casa: um shortinho preto e uma camiseta simples. Natural e bonita, como sempre. Ela entrou sorrindo, cumprimentou a todos com um aceno animado e um beijo no rosto do Rogério.
— E aí, gente! — disse ela, indo direto para a cozinha com Jéssica.
As duas se sentaram à mesa, conversando em voz baixa.
De volta ao jogo, Rogério e Érico estavam em pé, vibrando com um lance perigoso.
— GOOOOOOOL! — Érico e Sarah gritaram em uníssono, abraçando-se e pulando. O Rogério também gritou, pulando e quase derrubando a cerveja do Érico.
Eu ri.
— Assim, vocês vão destruir a sala do Rogério.
— Vai tomar no cu, Carlos! — respondeu Sarah, rindo, ainda eufórica. — Se o teu time não tá na Libertadores, você não tem opinião aqui!
A campainha tocou novamente. Dessa vez, a Lorena se levantou para atender. Ouvi sua voz alegre na entrada.
— Eliana! Vem, entra!
Meu coração bateu um pouco mais forte. Quando a Eliana entrou, senti o ar mudar. Ela estava linda, mesmo vestindo roupas simples: uma calça jeans e uma blusa clara de algodão, o cabelo solto caindo em ondas suaves sobre os ombros. Não havia nada ostensivo na sua aparência, mas, para mim, ela sempre se destacava.
— Oi, pessoal — disse ela, sorrindo calorosamente. Cumprimentou a todos, mas ficou na mesa de jantar, sentando-se com Jéssica e Lorena. As três trocaram olhares sérios e, por um momento, percebi que todas olharam discretamente na direção da Sarah, que continuava na sala, totalmente absorvida pelo jogo.
— Puta que pariu, juiz desgraçado! — gritou Sarah. — Você não viu esse pênalti?!
Rogério bateu palmas, tentando animar.
— Calma, calma! Ainda dá tempo, Sarah.
Depois de alguns minutos de jogo intenso, o Rogério comentou sobre o grupo do WhatsApp dos futeboleiros. Sarah se virou para eles, estranhando.
— Grupo? Que grupo?
Érico riu, meio envergonhado.
— Ah, só um grupinho que eu, o Rogério e o Carlos temos pra falar de futebol.
Sarah cruzou os braços, fingindo estar ofendida.
— Ah, entendi. Clube do Bolinha, é isso? As mulheres não podem entrar no grupo, como se não pudéssemos gostar de futebol, né?
— Vocês também criaram um grupo só das mulheres na academia e me excluíram de participar — contra-argumentei.
— Não é a mesma coisa, Carlos — respondeu Sarah. — Aquele grupo é para conversas e fofocas femininas. Aposto que vocês ficam trocando pornografia entre si.
Não podia falar pelo Érico, que não conhecia tão bem, mas o Rogério era o homem mais certinho que eu conhecia. A única pornografia que ele deveria consumir eram os nudes enviados pela própria esposa.
Érico, rindo, pegou o celular e a adicionou no grupo.
— Problema resolvido. Sarah, você está oficialmente no grupo do futebol. Vai ver que a gente só fala de futebol mesmo.
Sarah sorriu vitoriosa, pegando seu celular.
— Obrigada, amor. — Os dois deram um selinho na boca. — Depois, eu coloco outras amigas no grupo.
Com certeza, não seriam Eliana, Jéssica ou Lorena.
As três continuava na mesa, falando baixo e trocando olhares na direção da Sarah.
Enquanto isso, na mesa, eu soube o tema apenas muito tempo depois. As três olhavam pra Sarah e Érico.
— Eles são um casal perfeito — definiu Lorena, para estranhamento de Eliana e Jéssica. — Note como a comunicação deles é clara e objetiva. Quando um dos dois está insatisfeito com algo, diz imediatamente pro parceiro. O parceiro sempre compreende e busca uma solução.
— Todo casal é assim — pigarreou Jéssica.
— Conheço tanto casal que um dos dois vive guardando segredo ou guardando aqueles pequenos rancores — respondeu Lorena. — O negócio poderia ser resolvido com uma simples conversa, mas um deles ou os dois empurram com a barriga até virar a bola de neve virar uma avalanche. Por medo, por orgulho... O Érico e a Sarah são diferentes nisso. Parecem completamente desapegados de orgulho quando se trata do outro.
Eliana e Jéssica desviaram o olhar, sentindo-se como se tivessem certa culpa no cartório, mas não quisessem admitir. A Jéssica logo pigarreou de novo e voltou ao assunto sério que precisavam tratar: duas horas antes, Sarah havia descoberto por meio da Anacleta que a Marieta estava planejando instituir um código de roupas extremamente rígido para as áreas comuns do condomínio. Era uma bomba prestes a explodir.
— Então, quem mais vem hoje? — perguntou Eliana.
Jéssica balançou a cabeça, demonstrando um leve cansaço.
— A Letícia não vai poder vir, está atolada com o TCC. E a Andréia e a Carolina estão incomunicáveis hoje, sei lá o motivo. — Ela fez uma pausa e, com um olhar atravessado, apontou discretamente em direção à sala, onde Sarah vibrava com o jogo. — E perdemos a Sarah pro futebol.
— Ah, deixa ela — defendeu Lorena. — Graças a ela, temos uma espiã do lado inimigo.
A Eliana sorriu levemente.
— Eu vou mandar mensagem pra Natália. Tenho certeza de que ela não apareceu ainda porque tem vergonha, sabe? Ela ainda não tem tanta intimidade com você, Jéssica.
Enquanto digitava no celular, a Eliana perguntou:
— Aliás, por que a Sarah fez aquele grupo novo no WhatsApp sem a Rebecca? Achei bem estranho.
Jéssica e Lorena trocaram um olhar significativo. Foi a Jéssica quem respondeu, a voz baixa e cautelosa.
— A gente gosta muito da Rebecca, de verdade. Mas você sabe que ela é bem ligada à religião... Colocar ela no grupo seria como ter um cavalo de troia. Ela poderia contar tudo pra Marieta.
Aquelas palavras fizeram o coração da Eliana apertar. Ela se endireitou na cadeira, sentindo a necessidade de defender a amiga.
— Vocês não conhecem a Rebecca como eu conheço — disse com firmeza. — Ela nunca faria isso com a gente. Ela é uma de nós desde o começo. Excluir ela só porque ela tem uma religião diferente é ser tão preconceituosa quanto a própria Marieta é com todos.
Lorena reagiu pensativa. Mas a Jéssica não pareceu convencida.
— Eu entendo, Eliana, mas ainda assim... No fim do dia, a Rebecca é conservadora. E esse código de roupas é algo que ela poderia, no fundo, concordar.
— Concordar talvez, mas ela nunca impôs nada a nós. Ela nunca disse um “a” sobre nossos biquínis na piscina. O máximo que ela faz é usar aquele maiô super discreto que ela gosta. E só. Ela respeita o nosso espaço.
— Eu e o Rogério almoçamos com ela três vezes por semana, e ela nunca tentou evangelizar a gente — emendou Lorena. — Só perguntou uma vez, a gente disse que não queria falar sobre religião, e ela nunca mais tocou no assunto.
— Eu entendo o que vocês estão dizendo — suspirou Jéssica. — E eu gosto dela, gosto mesmo. Mas eu tenho medo. A Marieta está ficando cada vez mais agressiva, e eu não quero que a gente se quebre por dentro antes de começar a lutar.
Eliana respirou fundo. Excluir a Rebecca era injusto, mas talvez não fosse a hora de insistir demais.
— Ok, vamos voltar ao assunto principal — disse. — Mesmo desfalcadas, precisamos pensar em um plano de ação pra enfrentar a Marieta e esse exército que ela está juntando. Quanto mais demorarmos, pior vai ficar.
— Sabe o que me preocupa ainda mais? — lembrou Lorena. — Este ano tem eleição pra síndico. E sejamos sinceras: nem sei como o seu Alberto foi eleito e reeleito tantas vezes sendo tão... apagado. E se a Marieta resolver se candidatar ou, pior, colocar um testa de ferro pra concorrer?
A Eliana arregalou os olhos. Essa ideia nunca havia lhe passado pela cabeça, mas fazia um terrível sentido. A Jéssica bateu a palma da mão na mesa, exasperada.
— Ah, não! Isso eu não aceito. Se ela colocar as mãos na administração do condomínio, adeus liberdade. Aí sim ela vai ter poder de verdade pra impor essas regras.
A Eliana sentiu um arrepio na espinha, imaginando um futuro em que a Marieta controlasse cada aspecto da vida no condomínio. As três ainda não sabiam que a única mulher no condomínio capaz de derrotar a Marieta estava no apartamento, mais interessada no jogo.
— Então a gente tem que agir rápido. Não é só sobre biquínis ou roupas na área comum. É sobre manter nosso direito de escolha. A gente precisa de um candidato forte, ou pelo menos garantir que ela não consiga apoio suficiente.
— Vai ser uma guerra — concordou Lorena. — E, pra vencer, a gente precisa de unidade.
Eu, Rogério, Érico e Sarah continuávamos entretidos com a partida quando a campainha tocou e a Lorena se apressou para abrir a porta. Entrava na casa a Natália.
Ela usava roupas normais de casa: uma calça jeans justa, camiseta branca simples e um coque meio desarrumado que dava um charme natural. Nada chamativo, mas nela qualquer simplicidade se transformava em algo irresistível.
Ela entrou um sorrisão aberto.
— Boa noite, pessoal! — disse ela, animada, antes de se voltar primeiro para mim e para o Érico. — Carlos, Érico, que bom ver vocês!
Cumprimentou-nos com um beijo no rosto. Quando seus olhos caíram sobre Rogério, ela abriu outro sorriso.
— Você deve ser o famoso Rogério! Já conheço a sua fama... A Jéssica fala tanto de você pras amigas que parece que eu já te conhecia.
O Rogério riu, meio sem jeito.
— Espero que seja uma fama boa, hein?
— Das melhores! — respondeu ela, sem ver que a Jéssica revirava os olhos.
Quando viu a Sarah, a Natália foi até ela e lhe deu um abraço caloroso, como se Sarah fosse a mulher mais maravilhosa do mundo. A Sarah, porém, permaneceu meio travada, com os braços em posição incerta.
— Sarah! É tão bom te ver! — disse Natália com entusiasmo. — Você é tão incrível, mulher! Sou muito tua fã!
Sarah apenas murmurou algo parecido com um “oi”.
Notei que a Natália parecia mais interessada na televisão do que em qualquer conversa na mesa. Seus olhos brilhavam, atentos ao jogo. Não demorou para ela perguntar:
— Quanto está o placar?
— Um a um — respondi.
A ruiva se aproximou mais do sofá. Sorri internamente com a cena. Desde a graduação dela, eu sabia que Natália tinha essa energia contagiante quando se tratava de futebol e outros esportes. De tanto que ela ficou em pé assistindo, a Eliana se aproximou e, nada delicada, a puxou pelo braço.
As duas seguiram em direção à mesa, onde Jéssica e Lorena já estavam sentadas. E a Sarah permanecia conosco, claramente desconectada do que rolava na cozinha.
— Cara, esse juiz tá de sacanagem — reclamou Sarah quando um lance foi marcado contra o time dele.
Do nada, a Natália se levantou da mesa e veio até a Sarah e disse:
— Vem comigo.
Sem dar espaço para protestos, a ruiva pegou a mão de Sarah e a puxou para a mesa da cozinha. Agora eram cinco mulheres, e Sarah explicava algo pras outras, com pressa pra voltar pro jogo. Parecia explicar algo importante, enquanto as outras escutavam atentamente. Jéssica e Lorena trocavam olhares, Eliana franzia a testa e Natália apenas ouvia. Pareciam estar formulando um plano secreto.
Foi quando o time da casa fez um gol. Rogério e Érico explodiram em comemoração.
— GOOOOOL! — gritou Rogério, levantando-se do sofá com os braços erguidos.
— Boraaaa! — vibrou Érico, derrubando a almofada no chão.
A Sarah voltou correndo, pra ver o replay, comemorava mais empolgada que o próprio Érico, pulando e abraçando o marido.
— Eu sabia! Eu sabia que ia sair esse gol! — ela disse, rindo e gritando ao mesmo tempo. — Juiz filho da puta! Era pra estar 3 a 1!
A Natália também voltou, mas sua expressão era apenas de curiosidade. Não era o time dela, mas queria ver o gol no replay.
Enquanto isso, na mesa, Jéssica, Lorena e Eliana observavam a cena com uma mistura de resignação e tédio. Lorena suspirou alto. Depois da comemoração, a Natália voltou a pegar a Sarah pelo braço e a arrastou de volta para a mesa.
A noite da quarta foi uma das mais estranhas da semana. Estava no shopping, cercado por três mulheres que praticamente me guiavam sem muita escolha da minha parte.
A Eliana vinha ao meu lado direito. Usava um vestido justo, verde escuro, que se ajustava ao seu corpo escultural. O decote insinuava seus seios generosos, enquanto a saia terminava logo abaixo dos joelhos. Seu perfume adocicado me envolvia a cada passo. Ela era luz e calor, sempre com aquele sorriso aberto que parecia capaz de derreter qualquer resistência minha.
Do meu lado esquerdo, a Rebecca trazia um contraste quase hipnótico. Ela usava sua calça legging preta de academia, que delineava sua bunda empinada de um jeito quase cruel, e uma camiseta esportiva cinza clara, levemente larga, mas que ainda deixava transparecer os contornos de seus seios pequenos e firmes. Era óbvio que ela tinha saído como se tivesse ido pra academia e “desviado sem querer” pro shopping. Seu rosto, limpo de maquiagem, tinha uma beleza natural que me pegava desprevenido.
E então havia a Letícia. Ela era uma força jovem, crua e cheia de vida. Usava uma calça jeans bem folgada, que lembrava o meme da “calça de shopping” do Patolino. Em cima, uma blusa branca simples. O cabelo castanho caía em ondas suaves sobre os ombros, e seus lábios carnudos tinham aquele ar provocativo mesmo quando ela estava séria.
Enquanto atravessávamos os corredores, entrávamos em loja após loja. Eliana e Rebecca se divertiam escolhendo roupas para mim, e eu me sentia um manequim vivo.
— Só me explica o que exatamente tá acontecendo aqui — perguntou Letícia, enquanto me olhava segurar uma camiseta que eu jamais escolheria por conta própria.
Eliana lançou aquele sorriso maroto que sempre vinha acompanhado de uma explicação.
— A Rebecca e eu decidimos que o Carlos precisava mudar um pouco o visual — disse ela. — Ele só tem camisa social ou camisa de futebol. E descobrimos que ele não compra roupas novas há seis anos!
Eu tentei me defender.
— Eu não vi necessidade. Elas ainda estavam boas.
Letícia arregalou os olhos, indignada.
— SEIS anos, Carlos?! Pelo amor de Deus, até eu, que tô sempre quebrada, compro uma ou outra peça nova todo ano.
A Rebecca riu de leve, mas sua voz tinha aquele tom quase pedagógico.
— Isso é um sintoma, Letícia. Ele se acomodou, ficou preso na rotina, no conforto. Estamos aqui para mudar isso, nem que seja aos poucos.
— Mas por que me chamar, então? — perguntou Letícia. — Vocês duas podiam fazer isso sozinhas.
— Queríamos uma terceira mulher para ser o voto de minerva quando discordássemos — respondeu Rebecca. — E você era a melhor candidata porque sabe toda a verdade sobre nós quatro.
Vi a Letícia abrir um sorriso travesso. Aquele segredo entre nós criava uma cumplicidade perigosa. A Eliana aproveitou a deixa para completar:
— E, honestamente, Carlos e eu conversamos mais cedo e sentimos que você precisava de umas horinhas de folga pra desopilar. Você mesma disse que estava trancada em casa há dias, só saindo pra academia, tentando adiantar o TCC, e recusando ajuda. A gente quis te tirar desse ciclo por um tempinho.
Letícia bufou, mas havia um sorriso nos lábios dela.
— Ok, justo. Estava realmente bem... cansativa lá em casa. Mas juro que não esperava sair pra um “makeover” no Carlos.
— Ei! — protestei, mas elas nem me deram bola.
A Rebecca pegou uma camisa polo azul marinho e me entregou, com aquele olhar que me fazia obedecer sem pensar.
— Veste essa. Vai combinar com seu tom de pele e com esse cabelo grisalho charmoso.
Eu a encarei, derrotado, e fui para o provador. Quando saí, a Eliana abriu um sorriso largo.
— Aprovada!
A Letícia mordeu o lábio inferior, avaliando-me de cima a baixo.
— Admito... Você fica gato assim. Mas ainda acho que a calça tá meio careta. Ele devia experimentar uma mais ajustada.
A Rebecca concordou com um aceno contido.
— Concordo. Uma calça reta, talvez. Nada exagerado.
— Vocês têm ideia de como isso é estranho pra mim?
A Eliana segurou meu rosto entre as mãos, com aquele brilho divertido nos olhos.
— Amor, estranho é ficar preso no passado. Confia na gente, vai ser divertido.
Enquanto ela falava, percebi o quanto eu estava cercado de mulheres incríveis e que se importavam comigo. Decidi que era hora de parar de reclamar e seguir o fluxo. Confiar nelas.
Seguimos para outra loja, e dessa vez a Eliana liderou a busca, pegando camisetas modernas e jaquetas mais despojadas.
— Você tem que ter pelo menos uma peça que diga “sou um cara descolado” — disse Eliana, jogando uma camiseta com estampa minimalista na minha direção.
— Mas eu não sou descolado — murmurei.
— E é exatamente por isso que precisa parecer um — rebateu Letícia, sorrindo travessa.
Assim que saímos dessa loja, quase trombamos com alguém na esquina de um corredor e ouvimos uma voz conhecida.
— Carlos? — perguntou Jéssica, surpresa.
A Jéssica estava deslumbrante. Usava uma blusa de alcinha azul-clara que realçava sua pele amendoada, deixando à mostra seus ombros delicados e definidos. A calça skinny branca abraçava suas coxas torneadas e sua bundinha pequena, mas perfeita, de forma elegante.
— Oi, Jéssica — cumprimentei, tentando parecer natural.
Ela sorriu para mim, depois se voltou para Eliana e Rebecca.
— Eliana! Rebecca! Que coincidência encontrar vocês aqui — disse, abraçando as duas.
Quando chegou até a Letícia, cumprimentou-a com um beijo no rosto, mas estranhou algo.
— Hã... Letícia, o que é essa calça? — perguntou, confusa.
— Calça de shopping.
— Uma o quê? — Jéssica parecia mais perdida ainda.
— Calça de shopping. É uma calça que se usa no shopping como sinal de respeito — explicou Letícia, séria.
Eu e Eliana quase explodimos de rir, mas conseguimos disfarçar. A Rebecca e a Jéssica não pegaram a referência.
Eu aproveitei a deixa.
— A gente está comprando roupas novas pra mim — expliquei. — Pedi ajuda pra elas, porque sou um desastre escolhendo essas coisas.
Todo mundo ali sabia que a Jéssica era a minha melhor amiga. Então, essa justificativa tinha uma falha gritante.
— E por que não pediu minha ajuda, Carlos? — perguntou.
Senti um suor frio escorrer pela nuca.
— Ah, é que... você anda tão ocupada com o hospital... Eu não quis te incomodar. E... elas estavam disponíveis na hora — respondi, sorrindo nervoso.
O olhar dela me atravessou como uma lâmina.
— Engraçado — disse. Ela se virou pra as três mulheres. — Garotas, vocês sabiam do segredinho do Carlos? Ele está com uma namorada nova desde o divórcio. Por isso, recusou minhas tentativas de juntar ele com umas amigas do hospital. E é uma namorada secreta que ele não quer contar quem é. Isso me cheira a coisa errada. Vocês também não acham que tem coisa errada?
Meu estômago afundou. A Eliana arregalou os olhos, a Rebecca congelou por um segundo, e a Letícia apertou os lábios, segurando um riso nervoso. A Rebecca foi a primeira a reagir.
— Jéssica, às vezes as pessoas têm motivos pra manter algo privado. Não quer dizer que seja errado.
— É... talvez ele só não esteja pronto pra expor isso ainda — disse Eliana tom conciliador. — Cada um tem seu tempo, sabe?
— Ou talvez ele esteja mesmo tramando algo errado, quem sabe? — provocou Letícia, sorrindo, e logo completou: — Brincadeira, Jéssica. O Carlos é certinho demais pra isso.
Eu pigarreei.
— Jéssica, é algo ainda muito recente ainda. Eu prometi que ia te contar quando estivesse mais sério e...
— Como assim, ainda não está sério? — perguntaram Eliana e Rebecca ao mesmo tempo, indignadas.
A Jéssica sorriu triunfante.
— Está vendo. Elas concordam comigo que você tá aprontando.
Vendo que eu estava encurralado por culpa parcial dela, a Eliana interveio.
— Já que você está aqui, que tal nos ajudar a escolher roupas pro Carlos?
Jéssica suspirou, mas sorriu.
— Tudo bem. Pelo visto, ele vai precisar de toda a ajuda possível.
E assim, nós ficamos até 20h30 no shopping provando e comprando várias roupas. Eliana, Jéssica e Rebecca deram algumas de presente pra compra não ficar muito cara. Como todo mundo ia voltar pro mesmo canto, a Eliana deu carona pra Jéssica.
Era sábado de manhãzinha. O sol mal tinha dado as caras e a praça estava quase vazia. Eu tinha vindo pra correr, como no sábado anterior, mas a verdade é que estava pouco animado. Depois de me alongar, acabei me sentando em um banco tentando criar coragem pra começar.
Foi então que senti alguém sentar ao meu lado. Quando olhei, era a Eliana, olhando fixamente pra frente. Ela estava vestida com uma calça legging justa, preta, que realçava cada curva das pernas e do quadril, e um top esportivo vermelho que deixava seu colo suado e convidativo. O cabelo preso em um rabo de cavalo deixava seu pescoço exposto.
— Bom dia — tentei soar natural, mesmo que meu coração tivesse disparado.
— Bom dia, Carlos — respondeu, ainda sem me olhar, a voz baixa e carregada de algo que não consegui identificar.
— Tá tudo bem? Você parece, sei lá, diferente.
A Eliana soltou um suspiro longo e pesado.
— Eu preciso te contar uma coisa. Mas, por favor, não fala nada até eu terminar, tá?
Assenti, sentindo um frio na barriga. Ela continuou, a voz firme, mesmo que eu percebesse um tremor sutil.
— Durante a semana, eu procurei a Creuza e o Everton. Marquei um almoço com eles ontem.
Arregalei os olhos, mas antes que pudesse falar, ela ergueu a mão, pedindo silêncio.
— Espera, deixa eu terminar. Eu marquei esse encontro porque eu precisava contar tudo pra eles. Toda a verdade. Sobre eu ser casada com outro. Sobre a gente estar junto. Sobre você estar num trisal que, no fundo, você quer que seja uma versão melhorada e definitiva do antigo harém. Eu contei tudo, Carlos.
Aquilo me pegou de surpresa.
— Eles demoraram a entender, mas eu expliquei que precisava que tudo ficasse em pratos limpos. Contei como eu me senti naquela noite, quando pude ser sua “namorada” de verdade, mesmo que só por algumas horas. Sem esconder nada, sem ter que me preocupar com olhares ou segredos. O quão libertador foi.
Meu peito apertou.
— O Everton ficou confuso, acho que é a palavra. Mas você sabe que ele é um cara bom. Ele estava mais preocupado com a minha cabeça e se tinha sido um erro transar comigo do que com eu ter mentido pra eles. Já a Creuza riu de nervosa, fez umas piadas pra tentar aliviar, mas depois desejou felicidades pra gente e disse que você tinha mudado desde o antigo harém. Mas que ser monogâmico também era bom.
Mantive meu rosto impassível. Mas, por dentro, minha mente estava um turbilhão. A Eliana desviou o olhar, fixando os olhos no chão de pedra da praça. A voz dela ficou mais baixa, quase um sussurro.
— Tem mais uma coisa, aquela que eu contei pra Rebecca e pra Odete, mas nunca pra você. — Ela fez uma pausa longa, respirando fundo antes de continuar. — Faz meses que eu e o Leandro não transamos direito. Desde o aniversário da Jéssica, lá no sítio. Já estava rareando bastante antes disso. Eu não sei quem se afastou primeiro, se fui eu ou ele. A gente foi se afastando, se acostumando a viver assim... por inércia. Eu me sinto mal, como se ele tivesse começado a me ver como uma esposa-troféu, bonita de se mostrar, mas sem desejo de verdade. Ou talvez nós dois só tenhamos desistido um do outro sem perceber.
Meu coração se apertou de novo. Era uma confissão dolorosa, e eu me segurei pra não a abraçar naquele instante.
— Com você é diferente, Carlos — ela continuou, finalmente virando o rosto pra me encarar. — Você me deseja. Sim, você quer me comer e quer me comer pra caralho, eu sei disso. — Um pequeno sorriso nervoso surgiu nos lábios dela. — Mas você também se importa em me satisfazer primeiro. Você se importa com meus sentimentos. Você não quer um troféu. Você aceitou ser o “reserva”, ser aquele que ninguém pode saber. Você se importa comigo de um jeito que eu não sinto há anos.
Eu senti um calor subir pelo meu corpo. Saber que ela me via dessa forma me enchia de orgulho e culpa ao mesmo tempo. Eu queria ser esse homem pra ela... Foi quando a Eliana do nada, fez um gesto com a mão, chamando alguém. Virei a cabeça e vi Rebecca se aproximando. Ela se sentou à minha esquerda, em silêncio.
A Rebecca estava com uma calça legging preta que parecia pintada em seu corpo, moldando cada curva de suas coxas e da bunda empinada. Usava um top esportivo vinho, justo, que deixava seus seios pequenos, mas firmes, perfeitamente delineados. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo, com alguns fios soltos que emolduravam seu rosto bonito. Ela estava suada, provavelmente já tinha dado umas voltas antes de chegar, e aquele brilho em sua pele só a deixava ainda mais irresistível.
— Bom dia, Carlos — disse ela, com a voz calma, mas carregada de uma firmeza que me fez endireitar a postura.
— Bom dia — respondi, tentando soar tranquilo, mas por dentro eu estava uma confusão só.
Rebecca fechou os olhos por um instante, os ombros tensos, a respiração acelerada e os punhos cerrados, como se estivesse tentando controlar uma tempestade interior. Seu maxilar se movia em pequenos espasmos, denunciando a força com que segurava as palavras.
— Nós conversamos bastante durante a semana, eu e a Eliana.
Meu estômago revirou, cheio de ansiedade e curiosidade.
— Não pude ir ao almoço ontem com vocês — continuou Rebecca. — Mas conversei bastante com a Creuza pelo WhatsApp. Ela me contou tudo do passado de você dois e do que rolou sábado.
— A gente acha que já passou da hora de todo mundo estar em pratos limpos, Carlos — assentiu Eliana. — Chega de escondermos coisas de você, chega de mentirmos pra nós mesmas.
Olhei de uma para outra, sem saber o que dizer.
— Nós duas somos suas namoradas — disse Rebecca, sem rodeios. — E aceitamos isso. Nós duas somos iguais, temos direitos iguais. Depois vamos pensar em como resolver tudo isso, mas por agora é assim.
— Vocês... estão falando sério? — perguntei, incrédulo. — Eu amo vocês duas, mas eu nunca quis que isso machucasse ninguém.
Rebecca me encarou com uma expressão séria.
— Não vai machucar, desde que você respeite os limites. Só que ainda tem algo que precisamos resolver.
— O quê?
— Você quebrou nosso acordo, Carlos — respondeu, a voz agora mais dura. — Eu fui tão generosa ao permitir quatro possíveis mulheres, e mesmo assim você foi fez sexo com uma desconhecida fora da lista. Por isso, você vai ficar duas semanas sem sexo.
Não queria transparecer, mas não achei uma punição muito grande. Eu e Rebecca só tínhamos transou uma vez e já fazia um mês. Eu tinha entendido e aceitado que só faríamos amor de novo depois que o divórcio fosse assinado. Foi quando a Eliana deu uma risadinha, entendendo o que eu estava pensando, e completo.
— Não, Carlos. Isso me inclui também. São duas semanas sem sexo com nós duas.
As duas sorriram levemente, e então se inclinaram ao mesmo tempo, me envolvendo em um abraço que me deixou tonto. O perfume de ambas se misturou, me cercando.
— Eu amo vocês duas, cada uma ao seu jeito — confessei, com a voz embargada.
— Ainda está cedo pra declarações de amor, Carlos — respondeu Rebecca.
— Na hora certa, a gente diz isso, tá? — respondeu Eliana.
— Eu sei, eu sei... — murmurei, sorrindo sem graça. — Mas eu precisava dizer.
Nos levantamos juntos, e eu as segui pra corrermos ao redor da praça. Elas pareciam animadas, conversando entre si enquanto alongavam as pernas.
— E se eu não aguentar o ritmo de vocês? — perguntei, meio rindo, meio preocupado.
A Rebecca me olhou por cima do ombro, com um sorriso divertido.
— A gente te espera. A gente baixa o ritmo. O importante é nós três corrermos juntos.
— Podem ser quatro? — disse Carolina, aparecendo vestida pra correr. — Se vai ter uma equipe eu quero participar também.
Enquanto começávamos a primeira volta, eu não conseguia evitar de pensar em como minha vida tinha mudado tanto.
Pois bem, leitor. Nos próximo capítulo, eu e a Rebecca vamos nos meter numa transa a quatro com uma troca de casais inesperada. Digamos que a Rebecca queria se vingar da minha traição e uma outra mulher queria se vingar de algo que seu amante fez...
Algumas questões que gostaria que os leitores respondessem nos comentários (mais sobre a narrativa):
1) O que vocês acharam das cenas em terceira pessoa com pensamentos da Eliana? Devem continuar e expandir pras demais coprotagonistas?
2) O que vocês acharam da “cena-crossover” no apartamento do Rogério, juntando os protagonistas das séries? Aproveitei pra avançar um pouco a trama geral da Marieta, mas a ideia principal era mais por uma interação dos protagonistas que não precisasse ser repetida em todas as séries.
NOTA DO AUTOR: Este capítulo se passa na mesma semana de “Eu e Minha Esposa Pulamos a Cerca... E o Caos Explodiu - Parte 07”, “Eu, minha esposa e nossos vizinhos – Parte 14”, “Minhas coleções de calcinhas, amantes e putinhas - Parte 07” e “Quem Vai Comer a Advogada Evangélica? – Capítulos 07 e 08”.
Não é preciso ler os outros capítulos pra entender ele, mas quem ler todos vai entender melhor certas reações de alguns personagens (o que Carolina, Andréia e Letícia estavam fazendo que estavam ocupadas pra reunião das mulheres, porque a Natália queria tanto adular a Sarah, como a Sarah soube as informações da Anacleta, o que a Jéssica escondia do Rogério, etc).
Coloquem nos comentários para o que vocês torcem que aconteçam nos próximos capítulos. Daqui a duas semanas, teremos a continuação.