Um segredo que queima
Não vou mentir sobre quem sou, mas também não vou dar todas as pistas. Meu nome é Nádia, 19 anos, loira, trabalho numa loja de roupas alternativas no coração de Porto Alegre. O cheiro de incenso e patchouli da loja me abraça todo dia, mas não é disso que vim falar. Uma amiga me mostrou o mundo dos contos eróticos, e aqui estou, despejando um desabafo que queima a pele. É sobre ele. O moço do ônibus. Aquele que, por seis meses, foi meu vício secreto. Ele sumiu, e eu estou desesperada, com um vazio que não explica.
A linha de ônibus? Não conto. Só digo que é uma dessas lotadas, que range e sacode como um bicho velho. E eu amava isso. Cada freada brusca, cada buraco na rua, era uma desculpa pro meu corpo encontrar o dele. Não tenho namorado, e talvez por isso ele tenha virado uma obsessão. Quando eu tentava me perder nos braços de alguém, num beijo quente ou num amasso mais ousado, era ele que vinha na cabeça. Fechava os olhos e sentia o calor do corpo dele contra o meu, o volume firme roçando minha lombar. Uma vez, num churrasco de família, me peguei esfregando a coxa num primo, imaginando o ônibus freando. O rubor subiu, mas o desejo era mais forte que a vergonha.
O corpo que fala
Sou loira, cabelo liso caindo até os ombros, barriga reta que me custa suor na academia. Alguns me chamam de gordinha, mas eu sei que é inveja. Minha bunda é alta, arredondada, do tipo que não precisa de esforço pra chamar atenção. É natural, e eu amo como ela se encaixa nas calças justas. Meus seios são cheios, com um formato de gota que transborda nas laterais, auréolas grandes e escuras, quase desafiadoras. Minha boca é carnuda, rosada, assim como o resto de mim — e, sim, já ouvi perguntas curiosas de amigos. Minha resposta é sempre a mesma: “Só quem provar vai saber.”
A dança sem nome
Tudo começou naquele ônibus. Não me orgulho, mas julgo pela aparência. Num mar de rostos mal-encarados, fedor de suor e roupas amassadas, ele era um farol. Sempre impecável: calça de sarja — bege ou verde militar —, camisa de botão bem passada, sapato social brilhando. Cabelo castanho escuro, barba rala desenhando o queixo, olhos da mesma cor que pareciam guardar um segredo. O corpo dele? Moldado, com ombros que esticavam o tecido da camisa e coxas que a calça slim abraçava com firmeza. Eu me aproximava como quem não quer nada, colando meu corpo ao dele no meio da multidão.
O ônibus era um palco. O motorista, um bruto, freava como se quisesse nos jogar no chão. Buracos e solavancos faziam nossos corpos dançarem sem permissão. No início, ele se desculpava. “Perdão, foi sem querer,” dizia, com uma voz grave que deslizava pela minha nuca. Eu murmurava, “Tranquilo,” mas de tranquilo não tinha nada. Cada esbarrão era uma faísca. Meu corpo reagia antes da minha cabeça: um calor subia do baixo-ventre, um pulsar entre as pernas, como se eu estivesse prendendo o xixi, mas era outra coisa. Era desejo, puro, cru, me deixando molhada sob a calcinha.
O fogo que não apaga
Com o tempo, as desculpas dele rarearam. Ele sentia. Eu sentia. O volume na calça dele não mentia. No começo, era só um peso morno contra a curva da minha bunda, bem no rego. Mas, aos poucos, ficou firme, duro, um pau pulsante que se encaixava na base da minha coluna. Ele era mais alto, e aquele volume parecia feito pra mim. Eu não recuava — empinava, só um pouco, como se o ônibus me forçasse. Mas a gente sabia. Era de propósito. O balanço do ônibus era o ritmo, e a gente, os dançarinos. O ar cheirava a suor misturado com o perfume limpo dele, de sabonete masculino, e eu me perdia.
Ninguém parecia notar. Ou quase. Uma vez, uma moça asiática, com olhos grandes e cabelo liso, me pegou no flagra. Eu estava com os olhos semicerrados, mordendo o lábio, sentindo ele encaixado atrás de mim. Quando a vi, ela me encarou com um brilho cúmplice, como se dissesse: “Eu sei, e não te culpo.” Colocou a mão na boca, escondendo um sorriso, e olhou pro chão. Aquele olhar me incendiou ainda mais. Era como se o mundo soubesse do meu segredo e me aprovasse.
O jogo vira
Teve dias em que eu não conseguia ficar na frente dele. Uma vez, fiquei atrás, e aí fui eu quem jogou. Pressionei meus seios contra as costas dele, os bicos duros roçando o tecido da camisa. Senti o calor da pele dele, mesmo através da roupa, e o leve tensionar do ombro. Ele sabia. Ficava quieto, mas a respiração mais pesada o entregava. Eu queria que ele virasse, que dissesse algo, qualquer coisa. Mas ele só se deixava levar, e eu, covarde, não passava de um “Tudo bem” sussurrado.
Na volta do trabalho, ele às vezes estava lá, sentado. Eu me postava ao lado, os seios na altura do rosto dele, balançando com o movimento do ônibus. Ele desviava o olhar, educado, mas eu via as olhadas de canto, a mão ajeitando a calça, tentando esconder o volume. Meu Deus, como eu queria tropeçar, cair no colo dele, sentir aquele pau duro contra minha coxa. Mas eu só ficava ali, imaginando, o calor subindo, a calcinha úmida traindo minha compostura.
Noites de confissão
Em casa, sozinha, eu me entregava. Deitava na cama, abria as pernas e deixava os dedos explorarem. Enfiava dois, às vezes três, imaginando ele. O mel escorria, quente, e eu levava os dedos à boca, provando meu sabor — doce, salgado, vivo. Era ele que eu via, a barba rala, o olhar que nunca trocamos de verdade. Prometia a mim mesma: amanhã vou falar, vou sorrir, vou puxar conversa. Mas no outro dia, nada. Só a dança, o silêncio, o desejo engolido. Ele descia antes de mim, e eu o seguia com os olhos pela janela, gravando cada passo, cada linha do corpo dele.
Foram seis meses de fogo. Seis meses de pele contra pele, de promessas mudas. Até que ele sumiu. No primeiro dia, achei que era um atraso. No segundo, um imprevisto. Mas as semanas viraram meses, e o vazio cresceu. Anotava na agenda, como um luto: “Dia 15 sem ele. Dia 30 sem ele.” Cinco meses depois, escrevo este conto, com lágrimas nos olhos e um calor que não explica.
Um vazio que pulsa
Choro enquanto escrevo, mas não é só tristeza. É raiva de mim mesma, por não ter falado. É raiva dele, por não ter tentado. Por que ficamos presos naquela dança sem fim? O calor que ele acendia virou um vazio, uma saudade de algo que nunca tive. Sinto falta do peso do corpo dele, da respiração na minha nuca, do pulsar que me fazia viva. Meus dedos ainda me levam a ele, noite após noite, mas não é o mesmo. É um eco do que poderia ter sido.
Se você, que lê isso, tem um segredo assim, um desejo que queima e não diz, não espere. Fale. Toque. Arrisque. Porque senão, pode acabar como eu, escrevendo com lágrimas e um vazio que pulsa. Mas, no fundo, ainda acredito. Talvez, num dia qualquer, eu entre naquele ônibus e ele esteja lá, com a mesma camisa impecável, o mesmo olhar que guarda segredos. E, se isso acontecer, juro: não vou deixar passar. Vou me virar, vou sorrir, vou dizer algo. E quem sabe onde essa dança, enfim, vai nos levar.