A Vida Imitando a Arte. Um Conto de Fadas Moderno. Parte 2.

Um conto erótico de Ménage Literário.
Categoria: Heterossexual
Contém 6881 palavras
Data: 27/09/2025 13:38:16

As conversas ao redor recomeçaram, os convidados voltaram à dança, mas para ele nada fazia sentido. Só havia aquela pergunta martelando em sua cabeça: “quem era ela?”.

Deu alguns passos na direção da saída, ainda em transe, quando algo brilhou no chão polido. Abaixou-se e encontrou um cordão fino, com uma pequena aliança presa a ele. Simples, gasto pelo tempo, mas carregado de significado.

Fernando segurou a peça com cuidado, como se fosse frágil demais para ser tocada.

— É dela … — Murmurou para si mesmo.

Não tinha dúvidas. Aquela mulher misteriosa deixara para trás não apenas um encanto, mas também uma lembrança concreta, uma pista de quem era.

Guardou o cordão no bolso interno do gibão, apertando-o contra o peito. O olhar azul se ergueu novamente para a entrada, agora vazia.

— Nós vamos nos encontrar novamente. — Disse em voz baixa, como um voto silencioso. — Eu prometo.

E, enquanto o baile continuava em cores, música e máscaras, Fernando sabia que sua vida havia mudado para sempre.

Continuando:

Parte 2: Vitória Amarga, Derrota Doce.

A música voltou a ganhar força no salão, vibrante como os corações mascarados que dançavam sem saber da pequena história que acabara de começar no meio da festa. Mas Fernando continuava parado no mesmo lugar, como se ainda esperasse vê-la surgir, de novo, entre os foliões, como num passe de mágica.

— Cara … quem era aquela mulher? — Perguntou Eduardo, um dos amigos mais antigos de Fernando, se aproximando com um copo de uísque e os olhos arregalados de espanto.

Fernando demorou um instante para responder. O olhar azul estava perdido na porta por onde ela havia desaparecido poucos minutos antes.

— Eu … não sei. — Respondeu, quase sem voz.

Eduardo riu, achando que era uma provocação.

— Tá de brincadeira? Dançou com a mulher como se tivesse ensaiado por meses! E agora tá aí, com cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança. Sério, quem é ela?

Fernando abriu a mão e mostrou o que segurava: o delicado cordão com uma aliança pendurada. Era antigo, gasto, mas de algum modo, precioso.

— Isso aqui foi tudo o que ela deixou pra trás.

Eduardo olhou o objeto, depois voltou a encarar o amigo.

— Que isso? Um colar? Uma aliança?

— Aparentemente os dois. — Disse Fernando, com um leve sorriso. — Talvez seja o único jeito de encontrá-la de novo.

— Você acha que ela era o quê? Modelo? Alguma filha de diretor? Não parecia ser do nosso meio.

Fernando balançou a cabeça.

— Também achei isso. A fantasia era perfeita, a postura, os olhos, mas quando eu falei da roupa, ela se retraiu. Eu … cometi uma dessas gafes de rico idiota. Disse que a fantasia era “boa demais pra uma funcionária qualquer”. Acho que estraguei tudo.

Eduardo deu um leve tapa no ombro dele, em tom de brincadeira:

— Você ... sempre com jeito com as mulheres, hein?

Fernando soltou um riso fraco, ainda com os olhos fixos no cordão.

— Não sei o nome dela. Não sei de onde veio, nem como entrou. Só sei que … — Ele olhou a aliança mais uma vez — ... eu preciso vê-la de novo.

Ainda pensativo, Fernando virou-se ao ouvir a voz do pai.

— Quem era aquela moça, filho? — Perguntou Thomas, com um sorriso satisfeito e uma taça de vinho na mão. — Faz tempo que não vejo você se interessar por alguém assim. Não dessa forma.

Fernando hesitou. Seu olhar caiu sobre o cordão outra vez, como se procurasse nele uma resposta que não sabia dar.

— Eu … ainda não sei.

Próxima a eles, Nazaré observava a conversa com os olhos semicerrados e um sorriso contido. A beleza da moça misteriosa, a forma como todos os olhares se voltaram para ela e, principalmente, o encanto evidente de Fernando … tudo aquilo a deixava em alerta.

Com um leve aceno, se afastando, ela chamou um dos funcionários encarregados da segurança do evento.

— Preciso de uma informação. — Disse em tom baixo, mas firme. — Quem era a mulher que dançava com Fernando? Aquela com vestido azul e máscara prateada. Quero tudo que conseguir descobrir. E rápido.

O homem assentiu e sumiu entre os corredores do salão. Nazaré cruzou os braços e olhou para Getúlio, que se aproximava discretamente.

— Isso não estava nos nossos planos. Se ela não for uma qualquer … e o garoto se apaixonar … — Ela deixou a frase no ar, mas o veneno era evidente.

— Vamos descobrir quem é, e cortar o mal pela raiz. — Murmurou Getúlio, ajustando o relógio.

Minutos depois, o funcionário retornou com o semblante confuso.

— Senhora Nazaré … segundo o sistema, ela passou pela entrada de funcionários. Fez o reconhecimento biométrico como todos os outros.

— E o nome? — Ela rosnou.

— Monalisa da Silva. Faxineira.

Nazaré empalideceu, depois apertou os olhos como se o nome queimasse. Getúlio se aproximou mais, o rosto tenso.

— Isso pode complicar tudo. Se Fernando resolver bancar o romântico com uma garota do chão de fábrica, o velho Thomas pode se derreter e jogar fora o testamento inteiro.

— Não podemos deixar rastros. — Disse Nazaré, já se virando. — A biometria. O registro de entrada. Apague tudo. Descubra mais sobre ela. Onde mora, o que come, até o absorvente que usa …

— Eu mesmo cuido disso. — Respondeu Getúlio, já retirando o celular do bolso e caminhando com passos longos e discretos rumo ao setor de segurança da festa.

Fernando continuava tentando convencer o pai de que não sabia quem era a moça misteriosa, enquanto seus olhos ainda procuravam entre os convidados alguma sombra do “vestido azul”. Ao mesmo tempo, Nazaré desaparecia do salão e, com ela, as primeiras pistas que poderiam levar Fernando até Monalisa.

Fernando continuava a se esquivar da curiosidade incômoda do pai justo quando Nazaré retornava ao salão minutos depois, com um novo brilho nos olhos. E uma nova carta na manga.

Ao seu lado, caminhava Valentina, sua nova “afilhada”. Uma jovem de beleza refinada, pele clara, traços elegantes e postura treinada nos melhores colégios e salões da alta sociedade. Vestia uma fantasia inspirada em uma marquesa veneziana, com detalhes dourados e uma máscara cravejada de pedras, cintilando sob a luz dos lustres.

— Fernando, querido — Disse Nazaré, em tom meloso. — Olha quem está aqui. Você deve se lembrar dela … filha do Álvaro, um dos amigos mais antigos do seu pai. A Valentina.

Thomas se animou ao ouvir o nome.

— A filha do Álvaro? Ora, claro que ele lembra! Cresceram juntos. Uma moça excelente. Família tradicional, discreta, preparada … — Disse ele, com orgulho. — Tem tudo a ver com você, filho.

Nazaré sorriu satisfeita e, com a elegância de uma anfitriã treinada, puxou Thomas pelo braço.

— Vamos, querido, deixe os dois conversarem em paz. Tenho certeza de que eles têm muito o que conversar.

Fernando forçou um sorriso educado, voltando os olhos para Valentina.

— Olá, Tina. Quanto tempo, hein?

— Bom te ver, Nando. Muito tempo mesmo. Passei os dois últimos anos na Europa, concluindo meu MBA. — Disse ela, com um sorriso perfeito.

Enquanto ela falava sobre o baile, os convidados, a sofisticação da decoração, Fernando ouvia com atenção cortês, balançava a cabeça, fazia perguntas. Mas, por dentro, sua mente girava em torno de outro rosto, outra voz, outro sorriso tímido e sincero, escondido por uma máscara prateada e um vestido azul que ainda parecia brilhar nos cantos da sua memória.

{…}

O carro de cor laranja metálico, quase um tom de abóbora sob a luz dos postes da madrugada, deslizou pelas vielas estreitas da comunidade até parar diante do portão lateral do barracão. O motorista sequer precisou buzinar. Uma das mulheres já o aguardava na entrada, aflita, como se esperasse a volta de uma filha no primeiro dia fora de casa.

— Ela voltou! — Anunciou, abrindo o portão.

Monalisa desceu do carro às pressas, ainda com os olhos cheios da luz do salão, os pés cansados, mas o coração leve, como se carregasse uma brisa dentro do peito.

— Graças a Deus! — Exclamou Maria do Socorro, correndo até ela com uma sacola de pano nas mãos. — Anda, menina, vamos tirar isso antes que alguém veja!

Outras duas mulheres se aproximaram com risinhos abafados, ansiosas para saber tudo. Monalisa entrou no barracão cercada por mãos ágeis que começaram a soltar a fantasia com cuidado quase cirúrgico. Uma delas ajeitando a saia, outra desamarrando as sandálias prateadas, enquanto ela, retirava a máscara com dedos suaves.

— E aí, como foi? — Perguntou Maria do Socorro, com os olhos brilhando de expectativa. — A roupa serviu bem? Aproveitou a noite?

Monalisa suspirou, sem saber por onde começar. Olhou para as mãos que ainda seguravam sua máscara e respondeu com um meio sorriso.

— Eu dancei com ele.

— Com ele … quem? — Perguntou uma das mulheres, curiosa.

— Com … o filho do dono da empresa. O Fernando. — Disse, com a voz baixa, quase como quem teme dar nome à fantasia.

Maria do Socorro levou a mão ao peito, boquiaberta.

— Cruz credo, menina! Tu dançou com o príncipe?

As outras mulheres riram, encantadas, como se o romance tivesse saído de um enredo de escola de samba direto para a realidade.

— Eu nem sei como aconteceu. — Continuou Monalisa, ainda sonhadora. — Foi tudo muito rápido. Ele apareceu quando eu estava me afastando um pouco … e a gente dançou. Conversamos. Mas …

— Mas o quê? — Insistiu Socorro.

— Mas isso não tem futuro. Ele é de outro mundo, madrinha. E eu … eu sou só a faxineira. E tem o Vinícius … se ele sonhar que eu estive naquele baile, que dancei com outro homem, eu …

O ar ficou pesado. O nome de Vinícius cortava o clima como uma navalha.

— Você não é “só” nada, menina. E às vezes, o destino arma umas peças que nem os homens com poder conseguem desmontar. — Disse Socorro, tentando suavizar o momento, mas já pegando a roupa comum de Monalisa para ajudá-la a se trocar.

— Mesmo se fosse o destino … — Murmurou Monalisa, com um sorriso triste — … ele ia ter que esperar a próxima vida.

As mulheres continuaram o processo silenciosamente. Monalisa trocou de roupa, tirou com cuidado o vestido azul que agora parecia ainda mais valioso do que antes. Vestiu sua calça jeans surrada, a blusinha básica que havia deixado ali. Só então, ao passar a mão pelo pescoço, sentiu o vazio.

— O cordão … — Sussurrou. — ... o cordão da minha mãe … sumiu.

Ela levou a mão ao peito com desespero contido, os olhos se arregalando.

— A aliança estava ali … é tudo que me restava dela!

Maria do Socorro se aproximou de imediato, tocando seu braço.

— Tem certeza de que estava com você até o baile?

— Tenho! Eu não tiro nunca … só pode ter caído lá.

Monalisa afundou no banco de madeira, cobrindo o rosto com as mãos, o corpo tenso como se carregasse o peso do mundo outra vez. Estava desolada quando chegou em casa.

Com Vinícius ainda em viagem, Monalisa teve um final de semana tranquilo, sem cobranças ou pressão.

Na segunda-feira seguinte, o calor da manhã já fazia o uniforme grudar nas costas de Monalisa quando ela atravessou o saguão principal da sede administrativa. Os saltos prateados haviam sido trocados por tênis velhos e confortáveis e o vestido azul, por uma calça de tecido grosso e blusa branca com o logotipo da empresa bordado no peito. Nos cabelos, presos num coque apressado, apenas a touca que completava o uniforme. Nenhuma maquiagem, nenhum brilho, apenas a pressa de cumprir mais uma jornada invisível.

Subiu com o carrinho de limpeza até o terceiro andar, onde ficavam os escritórios da diretoria. Era dia de faxina nos escritórios com pisos encerados e vidros imensos, e Monalisa havia sido escalada, justo ela, que mal dormira, que ainda revivia cada passo da dança como se seus pés ainda seguissem o compasso do samba lento.

No corredor silencioso, o som da cera sendo espalhada ecoava como um sussurro. Foi então que, ao virar a esquina, ela o viu. Fernando vinha em sua direção, terno impecável, expressão fechada, passos firmes, com uma pasta sob o braço e o olhar perdido.

Monalisa abaixou imediatamente os olhos, virou levemente o rosto, como se quisesse desaparecer na parede. Seu coração bateu tão alto que quase teve certeza de que ele o ouviria. Mas Fernando não parou. Passou por ela sem uma palavra, sem um gesto de reconhecimento. Absorto com alguma coisa que só ele sabia o que era. Talvez não a tivesse notado ... ou, talvez, notado até demais.

Ele, por um segundo, um mísero segundo, inspirou fundo, sentindo um perfume familiar. Aquele cheiro era nostálgico, quase inebriante, mas, estressado, ele apenas seguiu seu caminho, andando com o maxilar tenso, os ombros rígidos, e a respiração voltando a ficar pesada.

Logo atrás, Getúlio, em sua eterna postura de conselheiro, o acompanhava como uma sombra.

— Você precisa parar de agir como um garoto mimado, Fernando. — Disse ele em tom baixo, mas audível. — A empresa tem mais do que bailes e caprichos do seu pai. Você tem responsabilidades agora.

— Eu não pedi nada disso. — Retrucou Fernando, tentando manter a voz controlada, mas a irritação escapava nas entrelinhas.

— E mesmo assim, cá estamos. Porque é o nome da sua família que está na fachada do prédio, e todo mundo olha pra você esperando alguma coisa. Um deslize, um erro … e a imprensa devora. O mercado “sente” a hesitação e seu pai adoece mais rápido.

Fernando respirou fundo, parou diante de uma das portas e apertou os olhos, cansado.

— Você acha que eu não sei disso, Getúlio?

— Acho que você esquece quando lhe convém. — Respondeu o VP, com a frieza de quem sabe que cada palavra era uma alfinetada disfarçada de lição. — E quanto mais tempo você gasta fantasiando sobre mulheres mascaradas, mais os concorrentes se aproximam.

Fernando lançou um olhar cortante, mas não respondeu. Abriu a porta do escritório e entrou, deixando Getúlio no corredor.

Monalisa, agora mais distante, havia parado ao lado do elevador de serviço, o pano de chão ainda molhado nas mãos. Ela não ousou olhar para trás. Mas seu peito queimava. Ali estavam eles dois, no mesmo prédio, no mesmo andar, mas separados por vidas, por verdades que nenhum dos dois sabia como lidar.

E nenhuma fantasia, por mais deslumbrante que fosse, poderia relevar aquilo. Monalisa se pegou sonhando com Fernando durante todo aquele dia.

{…}

O ar dentro da casa estava pesado e imóvel naquela noite de segunda-feira, carregado com o aroma residual de produtos de limpeza, ácidos que pareciam ter se impregnado na própria pele de Monalisa. Cada músculo do seu corpo cantava uma cansativa cantiga de esforço, um resquício de mais um dia interminável esfregando pisos e limpando vidros. Ela estava de costas para a porta da cozinha, focada em espalhar uma camada de requeijão em um pão francês amanhecido, quando a fechadura girou.

Não houve anúncio, nem um chamado amigável. Apenas o som decisivo da chave, o baque da porta se abrindo e fechando com força, e então os passos pesados que ecoaram no corredor estreito. Monalisa não precisou se virar para saber quem era. A energia no ambiente mudou instantaneamente, ficou tensa, opressiva. O cansaço em seus ossos solidificou-se em uma vibração de alerta.

Vinícius apareceu na entrada da cozinha, uma figura alta e imponente que parecia preencher todo o espaço. Ele largou uma bolsa de viagem no chão, seu olhar percorrendo-a da nuca aos calcanhares, como um fazendeiro avaliando uma cria de valor. Seus olhos não encontraram os dela. Eles possuíam seu corpo, revisando uma propriedade.

— Pensei que você só chegaria amanhã. — Ela disse, a voz mais baixa do que pretendia, voltando a atenção para o pão, fingindo uma calma que não sentia.

Ele ignorou completamente a observação, aproximando-se. Seu perfume amadeirado e o cheiro de suor envolvendo-a.

— Estou aqui agora. Vira pra mim.

Não era um pedido. Era uma instrução clara, um comando esperado. Monalisa colocou a faca na pia e se virou lentamente, apoiando-se na bancada de fórmica e metal gelado. Seu coração batia em ritmo acelerado contra suas costelas, uma mistura de ansiedade e uma resignação profunda e familiar. A dívida que a prendia a ele era uma algema invisível, mais forte que qualquer corrente.

Seus olhos escuros percorreram seu rosto cansado, seu cabelo preso de qualquer jeito, a velha camiseta manchada. Um sorriso breve e possessivo cruzou seus lábios.

— Mesmo desleixada, você ainda é a coisa mais bonita desta merda de lugar. — O elogio era cortante, mesmo parecendo um insulto.

A mão dele se ergueu e ela, involuntariamente, se contraiu, esperando … algo. Mas ele apenas pegou um fio solto do seu cabelo, enrolou no dedo e puxou, não com dor, mas com uma posse dominadora que fez o estômago dela se apertar.

Ele não a beijou. Não a cumprimentou. Em vez disso, suas mãos foram diretas para a cintura dela, girando-a com uma força brusca até que ela ficou de frente para a pia, suas mãos pressionadas contra a bancada gelada. O pão caiu no chão com um baque surdo.

— Não, Vinícius … espera … — A palavra saiu como um suspiro, um reflexo automático, um vestígio de uma vontade que ela sabia ser inútil.

A resposta dele foi um rosnado baixo perto do seu ouvido.

— Não?

A mão dele pressionou a parte inferior das suas costas, curvando-a para baixo, forçando-a a se inclinar sobre a pia. A outra mão agarrou o elástico do seu short de algodão e da calcinha, puxando os dois de uma vez só, até os joelhos. O ar frio da cozinha atingiu sua pele nua, e ela estremeceu.

— Você não diz “não” para mim. Você nunca diz “não” para mim. — Ele sussurrou, sua voz áspera, com desejo e autoridade.

Ele desabotoou sua própria calça com movimentos rápidos e eficientes. Ela ouviu o som do zíper, o farfalhar do tecido, e então sentiu a cabeça dura e insistente do pau pressionando contra os lábios da xoxota.

Monalisa prendeu a respiração, seus dedos se agarrando à borda metálica da pia até os nós dos dedos ficarem brancos. Ela fechou os olhos, tentando se afastar mentalmente, tentando pensar na lista de compras, na conta de luz, em qualquer coisa que não fosse aquilo. Mas era impossível. A realidade era o peso dele contra suas costas, o som da sua respiração ofegante, a promessa de invasão.

E então, sem mais cerimônia, ele a possuiu.

Uma estocada única, profunda, que a preencheu completamente de uma vez, arrancando um gemido gutural de ambos. Para ele, de puro prazer. Para ela, de súbito e intenso impacto. Não havia delicadeza, apenas a afirmação crua de seu domínio. Ele não a fodeu. Ele marcou seu território.

Monalisa gritou, o som abafado contra a superfície fria da pia. A dor inicial, uma ardência de ser pega sem preparação, deu lugar a uma sensação de plenitude esmagadora. Cada fibra do seu ser estava concentrada naquele ponto de conexão, onde seus corpos se encontravam com uma força primitiva.

Ele começou a estocar dentro dela, num ritmo duro e implacável que a empurrava contra a borda da pia a cada investida. Suas coxas batiam contra as dela com um som de pele contra pele que ecoava na cozinha. A respiração dele era um rugido em seu ouvido. A dela, uma série de suspiros ofegantes e cortados.

— É isso, minha putinha. — Ele rosnava, suas mãos agarrando os quadris dela com tanta força que ela sabia que ficariam marcados. — É assim que você me pertence. É assim é que eu gosto.

O cansaço do dia dissolveu-se sob uma tempestade de sensações físicas contraditórias. O desconforto da posição, a pressão da bancada contra seu quadril, a ardência da fricção … e, incontrolavelmente, um calor começou a crescer dentro dela, traiçoeiro, não solicitado. Seu próprio corpo, um traidor, começou a responder. A umidade que não era apenas dele começou a escorrer por suas coxas, facilitando seus movimentos, transformando a dor inicial em uma fricção profunda que acendeu um fogo baixo em seu ventre.

Ela tentou lutar contra, tentou se manter distante, mas cada bombada, cada palavra possessiva sussurrada em seu pescoço, puxava-a mais para o turbilhão. Seus gemidos mudaram de tom, tornaram-se menos de surpresa e mais de … algo além. Um som mais profundo, mais visceral, saiu de sua garganta. Se não podia resistir, era melhor tirar proveito.

Percebendo a mudança, Vinícius soltou um som de puro triunfo. Uma de suas mãos deixou seu quadril e se enredou em seu cabelo, puxando a cabeça para trás, arqueando suas costas ainda mais.

— Isso, putinha. Gosta, não é? Gosta de ser usada assim.

As palavras deveriam degradá-la, mas no turbilhão de sensações, elas apenas a alimentaram. Seu corpo começou a se mover com o dele, uma pequena contração involuntária de seus quadris buscando mais daquela fricção profunda e impiedosa. A sensação de ele estar em todo lugar, preenchendo-a, dominando-a, quebrando-a e remontando-a, era avassaladora. O prazer não desejado, mas inegável, começou a se acumular como uma maré dentro dela, uma tensão excitante em seu abdômen.

Um gemido rouco escapou dos lábios de Monalisa, um som que era, tanto de desespero, quanto de prazer traidor. A resistência que ela tentou montar era fraca, um muro de areia contra a maré implacável do seu corpo. Mas uma centelha teimosa de dignidade, ou talvez apenas o cansaço absoluto de sua própria submissão, fez com que ela tentasse se empurrar para longe da pia, seus braços trêmulos cedendo sob o peso do seu próprio corpo.

Foi um movimento fraco, quase imperceptível, mas Vinícius sentiu. Seus olhos escuros, antes focados no ponto onde seus corpos se uniam, arregalaram-se por uma fração de segundo e depois estreitaram em fendas perigosas. Um rosnado baixo reverberou em seu peito, vibrando através de Monalisa como um terremoto.

— Não … — Ela tentou resistir. Mais um arquejo do que uma palavra. — Por favor … não assim.

A súplica, em vez de amolecê-lo, pareceu alimentar a chama negra dentro dele. Com um movimento brutalmente eficiente, ele removeu completamente o peso do corpo dela, permitindo que ela sentisse por um segundo a fria liberdade do ar contra sua pele aquecida, antes de usar suas próprias pernas musculosas para forçar a abertura das dela, uma perna envolvendo a sua para mantê-la imóvel.

Seu torso poderoso curvou-se sobre as costas dela, esmagando-a contra a pia fria, e um braço envolveu sua cintura como uma barra de ferro, puxando-a para trás e para cima, contra ele, com uma força que tirou o pouco ar que lhe restava nos pulmões.

Ela estava completamente presa. Enjaulada. O peso esmagador dele, o cheiro de seu suor e de seu perfume amadeirado, a implacável invasão do seu corpo no dela … tudo aquilo formou uma prisão da qual não havia fuga física. Seus músculos, exaustos e superados, desistiram. Um tremor percorreu todo o seu corpo, uma capitulação física total.

E foi nesse momento de rendição absoluta que a psique dela também se quebrou. A luta não era apenas inútil. Era dolorosa. A resistência apenas tornava a invasão mais brutal, o atrito mais cru. Seu cérebro, condicionado pela dívida e pela sobrevivência, encontrou a única saída possível em um beco sem saída. Se não podia vencer o prazer, se não podia negar a sensação, então … tinha que torná-lo seu. Era a única forma de reclamar um fragmento de si mesma no meio daquela escravidão.

Um suspiro profundo e trêmulo saiu dela, carregando consigo os últimos vestígios de luta. Seu corpo, antes tenso como um arco, afundou contra o dele, uma curva plácida e submissa. Ela entregou o peso total a ele. A cabeça baixou, a xoxota comichou e ela se entregou ao prazer.

Vinícius sentiu o momento: a armadura dela ruíra, novamente. Ele soltou um som vitorioso e animal, seus quadris recomeçando num ritmo mais lento, mais profundo, mais intencional. Cada estocada se transformando em conquista, uma celebração da rendição de Monalisa.

— Isso mesmo … — Ele sussurrou, sua voz, um roçar áspero contra a concha do seu ouvido. — Agora você entende. É mais fácil assim, não é? É melhor sentir.

“É. Meu Deus … como é”. — Monalisa concordou em pensamento.

Com a resistência abandonada, cada sensação se amplificou em cem vezes. A dor aguda da pressão contra a pia se transformou num foco nítido que a ancorava, no momento. A dor-surpresa da entrada violenta diluiu-se numa sensação de plenitude avassaladora, uma extensão brutal do seu próprio ser. Cada movimento dele criava um atrito preciso, torturante, contra um ponto dentro dela que começou a pulsar com vida própria, um coração secundário batendo em um ritmo selvagem e crescente.

“Esse desgraçado sabe como foder uma mulher. Tenho que admitir”. — Seus pensamentos já eram cúmplices de seu algoz.

Ela não pensou mais. Ela sentiu. Seus quadris, agora sob seu próprio comando, moveram-se para encontrar os dele, um pequeno e instintivo círculo quando ele se aprofundava, buscando o ângulo que fazia com que suas pernas quase cedessem. Um gemido longo e contínuo saiu de sua garganta, um som que ela não reconheceu como seu.

— Ahhhh … bem aí … não para …

A mão de Vinícius que estava em sua cintura deslizou para baixo, pelos seus quadris, pelos lados de suas coxas, antes de encontrar o núcleo pulsante de onde todo aquele prazer ressoava. Seus dedos, ásperos e hábeis, encontraram o clitóris inchado e hipersensível.

— Ahhhh … filho da puta … — Monalisa gritou. O choque da sensação foi tão intenso que suas unhas arranharam as coxas dele. — Não para …

Ele ignorou-a completamente, seu toque tão dominante e implacável quanto o resto dele. Seus dedos circularam o grelo com uma pressão insistente, um contraponto perfeito e cruel às suas estocadas profundas. A mão em seu cabelo puxou com mais força, expondo ainda mais seu pescoço para suas mordidas e beijos roucos.

O orgasmo não foi uma onda que se formou. Foi um raio. Foi uma explosão silenciosa e total que partiu dela, um clarão branco de pura sensação que apagou o mundo. Seu corpo arqueou-se violentamente contra o dele, cada músculo contraindo-se de uma vez, seu interior pulsando e apertando o membro de Vinícius com uma força que era ao mesmo tempo de expulsão e de imploração por mais.

— Assim que eu gosto, minha putinha. — O rugido de puro triunfo escapou de Vinícius.

Ele enterrou o rosto em seu pescoço, seus próprios movimentos ficando descontrolados, brutais, enquanto ele era puxado para o próprio abismo por suas contrações interiores.

— Toma … toma tudo … sua vadia … você é toda minha …

Ele a inundou. Um jato quente que parecia não ter fim, preenchendo cada parte dela que já estava super estimulada. Cada gota era um selo da sua possessão. Ele continuou a se mover através dos espasmos dela, prolongando ambos os orgasmos em um êxtase agonizante até que, finalmente, seu corpo poderoso estremeceu por completo e ele desabou pesadamente sobre suas costas, esmagando-a ainda mais contra a pia, os dois cobertos de suor e ofegantes.

O silêncio que se seguiu foi pesado, quebrado apenas pelo som áspero da respiração deles. O mundo lentamente voltou a existir: o frio do aço sob o seu corpo, o peso esmagador do homem em cima dela. A realidade, nua e crua.

Vinícius moveu-se primeiro, lentamente, se retirando dela. O súbito vazio foi chocante. Uma sensação de perda e alívio ao mesmo tempo. Ele se endireitou, arrumando a roupa com uma naturalidade que falava de incontáveis atos semelhantes. Seus olhos percorreram o corpo dela, ainda curvado sobre a pia, marcado com os vestígios vermelhos da sua posse, com uma satisfação obscena.

Ele deu um leve tapa na nádega exposta, o som ecoando na cozinha silenciosa.

— Vai limpar essa bagunça. — Ele ordenou, sua voz já distante, o momento de intimidade brutal já sepultado sob a rotina do domínio. — E me traz uma cerveja. Está calor.

Ele se virou, saindo da cozinha sem olhar para trás, deixando-a ali, trêmula, exposta e preenchida com a lembrança vívida de uma rendição que tinha sabor de vitória amarga e de derrota doce.

O som da água corrente na pia da cozinha era o único som que preenchia o silêncio pesado. Monalisa se movia mecanicamente, as pernas ainda trêmulas, as coxas úmidas e doloridas, limpando o balcão de metal onde, momentos antes, seu mundo tinha sido reduzido a uma sucessão de sensações brutais e de prazer traiçoeiro. A cerveja gelada que ele pedira estava sobre a mesa, condensando um pequeno círculo de água. Ela a pegou, sentindo o frio contra a quente palma de sua mão, e se dirigiu para a sala.

Vinícius estava largado no sofá, os olhos fechados, mas ela sabia que ele não dormia. A sua presença preenchia o ambiente, mesmo em repouso. Ela colocou a garrafa na mesa à sua frente, o som do vidro batendo na madeira sendo mais alto do que ela pretendia.

Ele abriu os olhos. Aqueles olhos escuros que pareciam ver tudo, saber tudo, possuir tudo. Eles a percorreram, dos pés descalços até o rosto cansado, parando nas marcas vermelhas que seus dedos tinham deixado nos quadris dela. Um sorriso lento, de posse satisfeita, curvou seus lábios.

— Você está um caos, Monalisa. — Ele disse, a voz um roçar grave que fez algo dentro dela se contrair. Ele não a chamava de Monalisa. Era sempre ‘Lisa’. Uma abreviação que ressoava a propriedade.

Ela não respondeu. Olhou para o chão, para os próprios pés sujos no piso limpo. A vergonha e uma raiva surda lutavam com a exaustão absoluta.

Ele se levantou do sofá num movimento fluido e poderoso, fechando a distância entre eles em dois passos. Seus dedos envolveram seu queixo, forçando-a a olhar para cima. O contato foi eletrizante, uma lembrança vívida do controle dele.

— Vem! — Ele ordenou outra vez, mas a palavra soou quase suave.

Sem mais explicações, ele a guiou pelo corredor, não em direção ao quarto, mas ao banheiro. A fria luz fluorescente, iluminou os azulejos brancos. Ele abriu a torneira do chuveiro, ajustando a temperatura com uma virada experiente do pulso. O vapor começou a preencher o ambiente, embaçando o espelho.

— Tira essa roupa. — Ele disse, seus olhos fixos nela enquanto ele mesmo começava a despir a camisa, os músculos de suas costas ondulando sob a pele.

Monalisa hesitou. Este não era o Vinícius que a empurrava contra a pia. Este era um ritual diferente, e a imprevisibilidade era mais assustadora. Seus dedos, pesados e desajeitados, obedeceram. O tecido suado e impregnado do cheiro de sexo deslizou para o chão, seguido por sua roupa íntima. Ela ficou parada, os braços cruzados sobre o peito, sentindo-se mais exposta do que antes, sob a luz crua e o vapor.

Ele se virou, completamente nu, sua ereção já pronunciada e soberana. Ele a observou, um estudo intenso e calculista.

— Você é linda … — Ele sussurrou, mas a palavra soava como um veredito, não um elogio.

Ele a tomou pelo braço, sem aspereza, mas com uma firmeza que não admitia debate, e a guiou para debaixo da água quente. Monalisa estremeceu quando o jato atingiu suas costas, lavando a sujeira, o suor, os vestígios secos do corpo dela. Era … bom. Demasiado bom. Seus músculos tensos começaram a ceder um pouco, traindo-a novamente.

Vinícius pegou uma esponja e sabonete líquido. Ele verteu o conteúdo perfumado na esponja, criando uma espuma espessa e branca.

— Fecha os olhos. — Ele pediu com gentileza, e ela obedeceu, sua resistência um farrapo molhado aos seus pés.

A esponja tocou sua nuca primeiro, um contato surpreendentemente gentil. Ele a moveu em círculos lentos, massageando a tensão que ela carregava há horas. A espessa espuma de lavanda acariciou sua pele, o cheiro suave encheu suas narinas, um aroma calmante que conflitava violentamente com a situação de poucos minutos atrás.

As mãos dele, tão capazes de violência, agora trabalhavam com uma precisão quase reverente. A esponja desceu por suas costas, lavando cada centímetro, passando sobre as marcas vermelhas que os dedos tinham deixado, e ela sentiu um arrepio percorrer sua coluna.

A esponja deslizou por seus braços, por seu estômago. Ele se ajoelhou na frente dela, e Monalisa sentiu um novo tipo de tensão, aguda e expectante. A esponja espumou suas pernas, lavando a poeira da fábrica, subindo por suas panturrilhas, suas coxas. Ele era meticuloso, a lavando por completo. Sua respiração ficou mais rápida. Ele não estava apenas limpando; ele estava reafirmando o controle. Cada toque, por mais suave que fosse, era um lembrete. “Eu conheço este território. Isto é meu”. Monalisa tinha certeza de que aquele era o pensamento dele.

Ele parou, sua cara nivelada com a junção de suas coxas. Ela podia sentir o calor de sua respiração através do vapor, um sopro quente contra sua pele sensível. A esponja foi posta de lado. Suas mãos, agora nuas e quentes da água, envolveram suas nádegas, massageando a carne macia com os polegares, e um gemido baixo, totalmente involuntário, escapou dos lábios dela.

— Hummm …

Vinícius olhou para cima, seus olhos escuros brilhando com triunfo sob a água.

— Bem assim. — Ele murmurou, quase um deboche. — Eu sabia que o seu corpo me conhecia. Mesmo quando a sua teimosa tenta negar. E se levantou.

Uma de suas mãos deslizou para a frente, seus dedos encontrando o núcleo sensível dela que já latejava, com uma combinação perigosa de memória e antecipação. Ela tentou cerrar as pernas, um último e fútil ato de rebelião, mas seus joelhos cederam quando seus dedos circularam o clitóris, não com força, mas com uma pressão requintada e experiente que a fez arquear as costas contra o azulejo frio.

— Não … — Ela ofegou, mas soou como um suspiro, uma súplica.

— Sim. — Ele contra-atacou, suave e implacável.

Seu dedo médio deslizou para dentro dela, e ela estava tão inacreditavelmente molhada, sua umidade uma traição física à sua angústia mental. O corpo dela não mentia. Respondia. Queria. A vergonha queimou seu rosto, mas era inundada por uma onda de puro prazer físico quando um segundo dedo se juntou ao primeiro, preenchendo-a, esticando-a levemente na esteira da invasão anterior dele.

Ele a beijou. Sua boca conquistando a dela com uma fúria contida que faltava no seu toque. Era um beijo de posse, de fome, sua língua invadindo a boca de Monalisa com o mesmo ritmo que seus dedos se mexiam dentro dela. Monalisa se rendeu, seus próprios lábios se abrindo, sua língua encontrando a dele num duelo que ela não sabia que era capaz. O gosto dele, misturado com a água e o sabão, era intoxicante.

Ele quebrou o beijo, sua respiração ofegante.

— Agora, vira. — Ele ordenou, sua voz grossa de desejo.

Com mãos que tremiam não mais de medo, mas de uma excitação avassaladora, Monalisa se virou e se curvou para a frente, apoiando as mãos na parede de azulejos frios. A água do chuveiro cascateava sobre suas costas, escorrendo pelo vale da sua coluna. Ele se posicionou atrás dela, suas mãos agarrando seus quadris, e ela sentiu a cabeça da pica pressionar contra sua entrada.

Ele não a empurrou. Não a forçou. Ele apenas ficou lá, a ponta repousando naquele limiar de tortura, deixando a antecipação se transformar em angústia, até ela sentir que ia enlouquecer. Seus próprios músculos internos se contraíam em torno do nada, desejando ser preenchida.

— Por favor … — A palavra saiu de sua boca antes que ela pudesse detê-la, um sussurro rouco que se perdeu no som da água.

Foi a admissão que ele esperava. Com um gemido gutural de pura loucura, Vinícius enterrou-se nela num único movimento profundo e certeiro, preenchendo o vazio agonizante, esticando-a de um modo que fazia a possessão na cozinha parecer uma preliminar. Monalisa gritou, um som rouco de alívio e êxtase, seus dedos escorregando nos azulejos molhados.

— Desgraçado … eu te odeio …

Ele começou a se mover, e este ritmo era diferente. Não era a fúria devastadora de antes. Era mais lento, mais profundo, mais … íntimo. Cada investida era calculada para atingir o ponto mais profundo dela, para esfregar contra aquele ponto interno que fazia as pernas dela ameaçarem colapsar.

Suas mãos deixaram seus quadris e subiram por seu torso, uma agarrando seu seio, beliscando e rodando o mamilo já endurecido, enquanto a outra desceu, seus dedos encontrando o clitóris dela, novamente inchado, criando uma pressão circular e delirante.

Ela estava sendo amada, usada e fodida ao mesmo tempo, e sua mente, tão exausta de lutar, simplesmente se desligou. Já não havia fábrica, não havia dívida, não havia medo. Só havia a água quente caindo sobre sua pele, as mãos habilidosas dele no seu corpo, e a sensação avassaladora dele dentro dela, movendo-se com uma cadência que ela não sabia que seu corpo ansiava. Seus gemidos se tornaram mais altos, incontidos, ecoando no box, uma melodia de rendição que ela cantava para ele.

Ele se curvou sobre suas costas, sua boca perto de sua orelha.

— Você é minha, Lisa. Para sempre. — Ele rosnou, sua voz vibrando contra a pele dela. — Se entrega. É só isso que você precisa fazer. Só se entregar.

Seus quadris aceleraram, e ela sentiu a tensão dentro dela se expandir, mais forte, mais brilhante, mais incontrolável do que na cozinha. Ela estava à beira, o mundo reduzido às sensações que ele provocava nela.

{…}

O relógio marcava quase dez da manhã quando Nazaré entrou com passos firmes em uma das salas da diretoria da Krüger Holdings. Getúlio já a esperava, sentado à mesa oval, folheando um relatório de finanças com uma expressão de tédio.

— Temos um sério problema. — Disse ela, trancando a porta com um giro seco de chave. — Fernando não para de falar daquela Cinderela do baile. Não sabe quem é, nunca mais viu, mas se apaixonou pelo mistério.

Getúlio ergueu os olhos.

— Você conseguiu tudo o que precisava?

Nazaré assentiu, lançando uma pasta sobre a mesa. Fotos impressas, fichas de funcionário e relatórios de vigilância interna deslizaram para fora.

— Nome completo: Monalisa da Silva. Vinte e três anos. Faxineira aqui da empresa. Órfã de mãe desde sempre e de pai há dois anos. O falecido deixou uma dívida enorme de jogo, que ela ainda é obrigada a pagar. Trabalha à noite no barracão da Escola de Samba como faz-tudo, e todo o dinheiro é revertido para pagar a dívida. Dorme poucas horas por noite, se tanto. Aquele vestido do baile era fantasia de carro alegórico, emprestado pela costureira de lá. Foi passista, mas nunca desfilou.

Getúlio folheou os papéis com mais atenção agora, franzindo a testa.

— Uma passista órfã com dívida de jogo do pai … é um clichê pronto pra novela das oito.

— Clichê ou não, ela dançou com o Fernando. Sozinhos. No centro do salão. Com todos olhando. — Disse Nazaré, afiada. — Se o Thomas descobre que o filhinho dele está caidinho por uma faxineira da comunidade, assina o testamento deixando tudo para o filho, com coraçãozinho em cima do nome do idiota.

— E ainda dizem que os velhos são racionais. — Resmungou Getúlio. — O que mais?

— Já mandei apagar o acesso dela do sistema da festa. A biometria, os registros … sumiram. Mas quero mais. Quero uma linha direta com a alma dessa garota. E para isso, a gente vai precisar sujar um pouco mais as mãos.

Nazaré apertou um botão no telefone da mesa.

— Manda chamar a Talita. Do setor de embalagem. Isso … agora.

Pouco depois, a porta se abriu e entrou uma jovem de cabelo cacheado preso num coque improvisado e uniforme azul da fábrica. Seus olhos curiosos se fixaram em Nazaré e, em seguida, em Getúlio, que se mantinha calado, apenas observando.

— A senhora me chamou? — Disse Talita, tensa.

— Sente-se, querida. — Disse Nazaré, com um sorriso tão doce quanto venenoso. — Só quero conversar.

Talita sentou-se na ponta da cadeira, o corpo tenso como uma corda prestes a arrebentar.

— Você conhece a Monalisa, não conhece?

— Conheço sim … a gente mora na mesma comunidade. Nós nos conhecemos desde criança.

Nazaré abriu a gaveta, retirou um envelope grosso e o colocou sobre a mesa, sem dizer nada por alguns segundos. Quando falou, foi com doçura.

— Estou disposta a pagar por sinceridade. Só isso. Eu só quero saber mais sobre a minha funcionária … essa que foi ao baile fantasiada de Cinderela, e aproveitou a oportunidade para tentar seduzir meu enteado.

Talita engoliu em seco.

— A Monalisa … então era ela?

— Era. — Confirmou Getúlio, seco. — A mesma.

— Meu Deus … — Murmurou Talita, ainda em choque. — Ninguém reconheceu ela … nem eu. Mas … como ... ela tem namorado. O Vinícius. Ele é perigoso.

— Vinícius? — Nazaré levantou uma sobrancelha, curiosa.

— O filho do Joca. O dono do morro. O bicheiro. — Completou Talita.

Getúlio se ajeitou na cadeira, com uma risadinha abafada.

— O próprio, Joca? Aquele que seduziu e levou a mulher de um deputado para Paris? Eu conheço a figura.

— O mesmo. — disse Talita, agora mais solta, quase gostando do momento. — A Monalisa vive com medo dele. Ele não a deixa sair de casa com roupa curta, maquiagem, nada. Ele tem um ciumento doentio.

— E os ciumentos costumam virar inimigos perigosos. — Murmurou Getúlio, pensativo.

Nazaré se levantou, pegando o envelope e entregando à jovem.

— Você não viu nada, não sabe de nada e, se perguntarem, a Monalisa passou a noite de sábado no barracão, esfregando o chão.

Talita assentiu, os olhos arregalados com o peso do dinheiro.

— Pode deixar, dona Nazaré.

Ao sair, a porta se fechou atrás dela com um clique abafado.

— Agora sim. — Disse Nazaré, cruzando os braços. — Temos uma faxineira oportunista, um herdeiro encantado e um bandido perigoso e ciumento no meio da história. Essa peça já começa a se escrever sozinha.

— O segredo é conduzir o roteiro. — Disse Getúlio, pegando novamente o celular. — Porque se o mocinho insistir em bancar o cavaleiro da plebeia, a gente transforma a mocinha no problema. E problema, você sabe … se elimina.

Continua …

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