— Rivel, pela última vez, eu não jogo videogames. — Respondi impacientemente o rapaz magro e de aparelho nos dentes que, pela quarta vez seguida, me questionava sobre alguma coisa relacionada a RPGs e revistas em quadrinhos. Ele parecia nervoso, suando mais do que deveria, cabelo preto liso grudado na testa e com óculos de lentes grossas embaçados enquanto desesperadamente tentava encontrar algum assunto em comum.
Eu não poderia culpá-lo pelo desconforto. Também não era a situação mais ideal a que me encontrava. Há menos de 1h, a aeronave tinha decolado e o injusto sorteio antes que adentrassemos o avião tinha determinado quem seriam nossos pares durante aquela longa e cansativa viagem que duraria a noite inteira.
A excursão escolar para Nova Zelândia era tão aleatória que me questionava se Eric sabia o motivo de nossos professores terem nos colocado naquela situação. Não tive tempo para conversar com meu amigo mais recente sobre isso, mas sabia que ele parecia um dos mais empolgados para tal evento. O rapaz passou a semana inteira planejando em seus cadernos quais locais visitar. Museus, bibliotecas e universidades eram suas opções mais frequentes.
Infelizmente, em sua agenda, nenhum restaurante ou local mais isolado em que pudessemos conversar a sós constava. Ele era tão alheio quanto inteligente. Pensei com impaciência. Depois dos meses em que mantivemos contato, pensava, até ele deveria fazer algum movimento se realmente tivesse algum interesse.
Não que eu quisesse ou estivesse pronta. Meus pensamentos sobre isso ainda não estavam completamente organizados, mas, precisava ser idiota para não reparar que algo já tinha evoluido ali, ao menos, na minha cabeça. Devo admitir de novo, ele era bem bonito. Não devia fazer meu tipo, mas quando vi Eric chegar no Aeroporto, atrasado de acordo com o professor Braga que agora se sentava em uma das poltronas da frente, mas exatamente no horário de embarque, meu coração palpitou um pouco. Nunca antes tinha visto aquele rapaz sem o uniforme escolar, usando roupas casuais que, embora simples, lhe caiam muito bem. Eric vestia uma camiseta preta, uma bermuda simples azul bebê e um par de tênis novos que nunca antes o vi calçar. Sua companhia, ali em uma das poltronas da frente, era Maria.
Ela era loira, corpo bem modelado, alta, magra e muito bonita. Maria era a garota mais bonita da escola inteira, diziam os garotos em seus comentários que ouvia pelos corredores. Insegurança? Claro que não! Se algo falasse dentro do crânio daquela garota, ecoaria tal qual em uma caverna de arenito. Eric não deveria ter interesse, na verdade, provavelmente a acharia tão insuportável quanto eu a considerava. Sua dupla era provavelmente tão difícil de se conversar quanto era para mim manter algum diálogo com o rapaz do meu lado. Olhei com o rabo de olho para Rivel. Ele ainda tremia de nervoso por estar tanto tempo em minha presença enquanto achava alguma brecha para olhar para meus peitos durante o longo silêncio que se estabeleceu entre nós.
Maria também não gostou de sua dupla. Ela era uma idiota. Quando o professor Braga sorteou os nomes dos alunos, uma comoção tomou conta do ambiente já na seção de embarque do aeroporto. Andressa queria ficar ao lado de Carol, Guilherme ao lado de Daniel, Maria ao lado de Marcos e eu ao lado de Eric, embora não tenha me pronunciado sobre quando o vi embarcar ao lado de Maria ao som de zombarias dos outros alunos que inundaram o local. O professor encerrou as reclamações e protestos, severo como sempre, Sr. Braga, como gostava de ser chamado, disse que ou entravamos no avião em silêncio com nossas duplas ou voltaríamos para a escola.
Eric não se alterou ao ouvir o resultado do sorteio, talvez fossem Daniel e ele os únicos que não ficaram insatisfeitos com aquilo. Pudera, Daniel claramente tinha uma queda por Carol que só ela não percebia. Já Eric, bem… Ele era diferente dos outros garotos. Isso para mim era óbvio a muito tempo. O estoico rapaz foi um dos primeiros a embarcar, já eu fui uma das últimas e, é claro, ouvi zombaria dos outros meninos direcionadas a Rivel e a mim quando o fiz. Para eles, Eric e aquele nerd eram sortudos. Os garotos são tão infantis.
Quando entrei ao lado de Rivel no avião, lembranças me foram despertadas. Era a segunda vez em toda a minha vida que viajava daquela forma, sendo que a primeira foi quando deixei meu povo para morar na cidade grande. Vi Eric sentado ao lado de Maria, lendo um livro enquanto a loira fazia cara feia e mexia em seu celular. Ele sequer olhou para mim e notei que, embora calmo, Eric parecia agitado com algo. Ou a leitura estava muito boa, ou os garotos eram mesmo todos iguais, se portando daquela forma sempre que perto de uma moça bonita. Cerrei os punhos ao ver aquela cena.
Não. Eric não era como Rivel, embora na escola, levianamente, as pessoas comparassem os dois por sua estranheza. Pensei enquanto olhava pela janela onde, felizmente, estava sentada perto. As nuvens desenhando rastros efémeros no céu alaranjado pelo pôr do sol me distraíam do fato de que Rivel não parava de olhar para mim. Estava com um pouco de sono, mas não via como opção viável dormir ao lado daquele cara. Assim, quando pensei que o silêncio faria parte de todo o trajeto para aquele outro continente distante, ouvi uma comoção ali na frente da aeronave.
Era Maria e ela parecia bastante indignada. A voz de taquara rachada vociferava insultos enquanto todos tentavam espiar o que ocorrera ali na frente. Antes que pudesse averiguar por conta própria, ouvi sussurros mencionando Eric vindos de outras poltronas do avião. Em instantes, ele apareceu diante de Rivel e eu.
— Ei Rivel, quer trocar de lugar comigo? — Perguntou Eric, expressão calma no rosto como sempre e portando apenas uma sacola pequena onde guardava seu livro e mais alguns ítens. Me assustei com sua presença repentina.
O sorriso metálico no rosto daquele garoto que compunha minha dupla foi suficiente para que decifrasse sua resposta. Isso e o fato dele desafivelar o próprio cinto e levantar-se tão rapidamente. Em instantes, Rivel coletou suas coisas, alguns salgadinhos e um videogame portátil, e correu para a parte frontal da aeronave.
Algumas pessoas ainda olhavam, ainda mais quando Eric se sentou ao meu lado, momento em que corei por ouvir algumas risadas. Ainda assim, mesmo levemente constrangida, achei fofo o que Eric tinha acabado de fazer.
— Bom saber que se adaptou bem a sua dupla. — Disse com ironia para ele que, afinal, não pareceu ter aguentado nem 2h ao lado de Maria. Eric deixou escapar um meio sorriso.
— Ela não gostou de ter que viajar comigo, mas também ficou insatisfeita por eu sair. Não entendo. — Comentou curioso.
Era óbvio que Maria, na verdade, tinha se ofendido por Eric decidir trocar de lugar. Pudera, a garota se achava o centro do mundo apenas por receber todo tipo de atenção masculina por onde passava. Encontrar um rapaz diferente como Eric, que tem mais interesse por substância do que aparência, deve ter mexido com seu orgulho frágil. Às vezes me perguntava se Eric era tão alheio a esse tipo de nuance quanto aparentava ou se ele apenas se fazia de sonso pois gostava de confundir as pessoas.
— Ela é uma idiota. Se não gostou da sua companhia, imagino o que vai achar de ficar ao lado de Rivel a viagem inteira. — Disse. Perto dele, não sentia necessidade de disfarçar o quão feliz estava por aquela mudança. — A propósito, tem certeza de que o Sr. Braga vai aceitar isso? Ele foi bem claro sobre sortear as duplas lá no aeroporto. — Perguntei aflita.
— O que ele pode fazer a respeito? Mandar o avião voltar para o Brasil? — Ele disse de imediato, lógica irrefutável que até parecia se misturar com rebeldia. Meu coração palpitou um pouco. Eric estava mesmo disposto a desafiar nosso professor daquele jeito só para ficar ao meu lado? O que isso deveria significar? Eu esperava que não ocorresse, que o Sr. Braga não reclamasse e assim, exatamente como queria, ele pareceu autorizar a mudança sem qualquer menção. Eu devia esperar por aquilo. Eric era o seu melhor aluno, afinal. Comumente, alguns professores faziam vista grossa para muitas das coisas que ele fazia, especialmente Braga, provavelmente por causa de seu alto desempenho acadêmico.
— Não estamos mais no Brasil? — Mudei de assunto.
— Se minha estimativa está correta, estamos sobrevoando o Chile agora. — Eric respondeu. Ao contrário que de costume, não parecia tão calmo. Ele olhava para os lados constantemente, analisando cada parte da aeronave com atenção.
— O que há com você? — O questionei diante do comportamento atípico.
— Está com fome? — Perguntou subitamente e apanhou o cardápio.
— Eric, estamos em um avião. Tudo aqui custa 10x mais do que deveria. — O lembrei.
— Não importa. Eu pago. — Ele falou de imediato e fez sinal para uma comissária de bordo. Aquilo me assustou. Era a primeira vez que teríamos uma refeição juntos. Se essa era a forma estranha que Eric tinha de me convidar para jantar com ele, aceitaria então. Ao menos, ele parecia saber ser cavalheiro, se oferecendo para arcar com os custos daquilo.
Por educação, quando a aeromoça chegou, apontei para uma das refeições mais baratas do cardápio, um risoto de cogumelos que custava 90 reais. Eric, por outro lado, pediu um filet de carne bovina de quase 300. Ele ainda me questionou se tinha certeza de minha decisão, sugerindo que pedisse o salmão, bastante mais caro, uma vez que ele sabia que eu gostava de frutos do mar. Me mantive firme em minha escolha e recusei onerá-lo tanto.
Não imaginei que Eric fosse uma pessoa abastada. Ao menos, ele não se vestia como tal. Portanto, supus que ele estivesse apenas tentando me impressionar com aquilo. Embora não fosse de seu feitio fazer algo assim, até que gostei de ver alguma iniciativa minimamente semelhante a de um garoto normal.
— Me traga uma garrafa do seu melhor vinho também, a propósito. — Ele disse para a moça uniformizada que arregalou os olhos ao ouvir tal sentença. Eu já não estava entendendo nada. Pelo que me lembrava do cardápio, Eric pretendia gastar mais que um salário mínimo naquela refeição.
— Senhor, infelizmente não podemos vender bebidas alcoólicas para estudantes. — Disse a espantada comissária de bordo.
— Há algum drink não alcoólico então? — Eric perguntou.
— Hoje estamos fazendo a versão sem álcool do n° 7, senhor. Nele, vai água gaseificada, suco de laranja, abacaxi, hortelã e um pouco de gengibre. — Ela explicou com um sorriso. Me pareceu apenas um suco excessivamente caro, mas Eric aceitou a alternativa e pediu duas taças, bem como, também ordenou que trouxessem duas garrafas de água mineral para nós.
Pensei em questioná-lo sobre tudo aquilo, mas não me atrevi. Ele certamente era um rapaz bastante estranho, mas se esse era seu jeito de demonstrar interesse de alguma forma, aceitaria suas particularidades. Era bom finalmente ver algum esforço nesse sentido.
Quando todas aquelas coisas chegaram, dizer que chamou a atenção seria um eufemismo. Nossos colegas observaram atentamente e fizeram comentários sarcásticos bastante indiscretos enquanto o carrinho desfilava no corredor da aeronave, refeições cobertas por cúpulas de prata. Que se dane eles. O cheiro daquele risoto estava espetacular.
Quando a aeromoça se afastou, deixando-nos a sós com nosso jantar, percebi como Eric segurava os talheres de forma atenta, examinando cada detalhe.
— Ótimo. Ao menos a faca é de aço. — Disse ele segurando o objeto. Era um utensílio que parecia próprio para cortar carne, tal qual o steak no prato de porcelana à sua frente. Ao contrário dos meus talheres bem mais frágeis, o que eric tinha em mãos tinha ponta e fio, não apenas serrilhado delicado. — O copo é de acrílico. — Ele resmungou, após bater de leve sua faca na superfície do recipiente de seu drink, parecendo decepcionado. O que ele esperava afinal? Estávamos em um avião. É claro que, por razões de segurança, não receberíamos taças de vidro.
Sem cerimônias, começamos a comer. Estava bom. A comida era bem temperada, mas certamente não valia o preço que Eric pagaria em tudo aquilo. O drink não-alcoólico também possuía qualidade regular e aquela porção de nossa noite se deu de forma natural e, devo dizer, bastante prazerosa.
— Beba sua água. — Eric disse de forma direta em meio ao assunto. Ele já estava na metade daquela garrafa de 600mL. Quando questionei o porquê, mudou de assunto e voltou a falar sobre a comida.
Aquilo não era normal, mas o obedeci. Eric olhava muito para os lados e eu sabia que, vindo dele, aquele comportamento não podia ser timidez ou algo do tipo.
De repente, ele tirou um espelho do bolso. Era pequeno, de moldura rosa-choque e redondo, cabendo na palma de sua mão. Também achei estranho vê-lo verificando o próprio reflexo naquela coisa. Eric, pelo que sabia, não era um rapaz vaidoso e preocupado com a própria imagem.
— O espelho é falso… — Ele resmungou novamente. Pudera, não entraria em um avião com um pedaço de vidro. Só não sabia o porquê daquele fato ser relevante para ele.
— Onde arrumou isso? — Perguntei após rir.
— Roubei de Maria. — Ele respondeu sem titubear. Quase engasguei com a água ao ouvir sua confissão, mas achei engraçado. Ela bem que merecia algo assim.
Todavia, sabia bem, Eric não faria algo assim sem uma boa razão. O que, na superfície, soava como uma vingança besta, é claro, para ele, tinha de ter um motivo. Tudo relacionado a aquele garoto tinha.
— O que deu em você, afinal? Por que está agindo assim? — Finalmente o confrontei.
Eric me encarou com um frio. Seu rosto oscilava entre meu rosto e o reflexo no espelho em sua mão direita.
— Me escute Taywan. Nosso avião será sequestrado. — Respondeu, objetivo e sério como jamais o vi.
Eu olhei para o espelho e para onde Eric o apontava todo esse tempo. Ali no reflexo, vi a última fileira da aeronave. Dois homens de casacos escuros discutiam discretamente entre si. No início, admito, não quis acreditar no que Eric disse, lhe pedi explicações e até cheguei a supor aquilo ser apenas uma paranoia de sua cabeça.
Até que, exatamente como ele me disse, tudo aconteceu.
***
Sentado ao lado do corredor e em um local tão fundo do avião, Eric tinha uma vista panorâmica de tudo o que ocorria ali na frente durante o sequestro. Ele me relatava cada detalhe do que acontecia enquanto, em pânico sussurrava para ele de volta o que sentia. De acordo com ele, que sequer parecia esboçar muitas emoções diante da situação tão terrível, se falassemos bem baixinho, os dois homens de feições mal-humoradas não conseguiriam nos ouvir em decorrência dos gritos e choro de desespero de nossos demais colegas.
Eu tentei me acalmar. Fechei os olhos por um momento e recitei em minha cabeça ritos e cantigas que aprendi com meu povo. Eric parecia manter um controle emocional que nunca pensei ser possível, o que me fez me questionar brevemente o que aquele garoto já tinha visto nesta vida para torná-lo daquele jeito. Independente do que fosse, eu também não poderia ser considerada uma moça normal. Sentia medo, mas não chegava sequer perto de me descontrolar como as outras garotas de nossa sala, muitas chorando feito donzelas assustadas enquanto recebiam ordens daqueles dois caras que sacudiam suas armas e ameaçavam a todos.
— Seu celular está carregado? — Eric perguntou bem baixinho. Tirei o aparelho do bolso e o entreguei. Eric o ligou. A bateria estava em 82%, bem mais carga que a de seu telefone. — Sem sinal também. — Ele resmungou enquanto oscilava o rosto entre a tela e janela.
O que ele está fazendo? Me questionei aflita com a possibilidade dos dois sequestradores verem o que acontecia ali atrás. Eric começou a digitar uma mensagem em seu celular, apenas uma tela preta com caracteres brancos apareciam no visor. O vi, ao mesmo tempo, acessar as configurações de meu aparelho. Quando ativou o Bluetooth, diversos pop ups brotaram na tela do meu celular, linhas de código que piscaram por alguns segundos até que ele desligou automaticamente.
Fiquei relativamente estabilizada, até que os dois terroristas começaram a matar. Primeiro, presumiu Eric, o piloto, depois, toda a equipe de bordo. Enquanto a carnificina ocorria, Eric permaneceu concentrado. Usava as chaves que tirou de seu bolso, inúmeras cópias de tamanhos e formatos diferentes para desmontar seu próprio celular e carregador portátil em cima da mesa. Unindo partes dos dispositivos ao meu telefone, montou uma geringonça repleta de fios, pedaços de metal e plástico. Quando nosso professor caiu também, admito, senti-me desamparada e lágrimas vieram aos meus olhos, mas sabia, tinha de ser forte. Eu era uma sobrevivente, afinal.
— Merda. Eles estão recolhendo tudo. — Eric disse com raiva, frustração e um pouco de desdém na voz em meio aos gritos de Maria ali em uma das primeiras poltronas do avião. Não tinha como deduzir o que diabos ele estava planejando. Parecia uma bomba, ou, talvez, apenas um rádio.
— O-oque? Como assim tudo? — O questionei assustada e com a fala quebradiça tal qual meu espírito.
Então, o vi, sem qualquer restrição, se livrar da própria camiseta. Ele embolou a peça de roupa sobre o dispositivo que construiu, ocultando-o. Eu corei na hora ao ver seu torso nú. Eric não era muito musculoso, mas, devo admitir, seu peitoral até que era bastante agradável à vista. Eu nunca antes o tinha visto sem camiseta. Ele não participava das aulas de educação física na escola ou praticava esportes com os outros garotos. Encarei sem conseguir desviar o olhar, totalmente atônita, até que o vi tirar seus tênis também.
— O que está fazendo? — Sussurrei sentindo meu rosto esquentar, totalmente em pânico.
— Eles estão passando de assento em assento recolhendo todos os pertences. — Ele disse-me após me lançar um olhar rápido, tirando suas meias brancas.
Fiquei paralizada enquanto o observava. Descalço e com o peito despido, Eric em seguida começou a esvaziar os próprios bolsos e juntar todos os pertences na pequena mesa que comportava a bagunça de pratos, talheres e copos em frente às nossas poltronas. Quando o vi desfazer o nó que ajustava a bermuda em sua cintura, desviei o olhar em um suspiro.
— As roupas também? — Gaguejei com medo.
— Sim. — Ele confirmou inexpressivo e, em poucos segundos, tirou a própria bermuda.
Eu tremia desesperada ao mesmo tempo em que não conseguia parar de olhar. Eu não podia fazer algo assim! Ficar de roupa íntima na frente de Eric, dos meus colegas de escola! Juntei meus braços ao redor do meu corpo, pressionando minhas roupas em volta de meu torso em um ato desesperado que me dava alguma sensação de controle. No entanto, a situação era ainda pior do que poderia prever, notei quando Eric encaixou os dedos no elástico de sua cueca boxer preta e a abaixou até os tornozelos.
Meu coração disparou, talvez como nunca antes. Eu estava vendo suas partes! Esfreguei os olhos incrédula, apenas para abrí-los novamente e ter mais um vislumbre de seu pênis ainda ali, exposto, como nunca pensei que veria. Eric não parecia sentir vergonha, não se cobria ou parecia se importar que eu visse tanto dele. Minha boca se abriu e se fechou, sem que conseguisse emitir qualquer som. Estava tão assustada, mas, ainda assim, notava, agora que o via pelado, realmente sentia atração física por aquele garoto.
Me atentei a cada detalhe do que havia no meio de suas pernas, bem como em cada centímetro de sua pele exposta, cada pinta e detalhe que evidenciava músculos. Se controle Taywan! Minha mente gritou enquanto meu rosto corava.
Olhei para a poltrona ao lado dele. Mais dois estudantes se despiam também, sem, é claro, deixar eventualmente de olhar para nós, vendo Eric nú e eu assustada e totalmente congelada sem conseguir agir. Eu seria a próxima? Não! Eu não queria! Perto dele, naquele estado, rosto sério, bonito e focado, mesmo aterrorizada, ainda assim tinha borboletas no estômago. Não podia ficar nua na frente dele assim, especialmente na frente dele!
Ouvi os passos daqueles dois malditos terroristas se aproximando cada vez mais. Fechei meus olhos, cerrando os dentes com força. Uma lágrima escorreu por minha bochecha e, quando pensei ter me recomposto, comecei a me despir também.
Ele estava me vendo! Notei oscilando os olhos entre seu rosto inexpressivo e seu corpo nú. Minhas mãos cobriam tudo o que podiam. Em, o que pareceu apenas um segundo, vi Eric pegar nossas roupas com as mãos e entregar ao homem que passou rapidamente por nossas cadeiras.
Aquilo não era justo. Era uma noite perfeita, como um sonho, até que se tornou em um verdadeiro pesadelo. Eu devia ter suspeitado que algo estragaria minha felicidade daquela forma. Como fui tão idiota? Eric nunca me convidaria para um jantar romântico caro como aquele, se esforçando tanto por uma garota como eu. Tudo fazia sentido agora. Se ele suspeitou que o sequestro ocorreria, que morreríamos ali em breve, foi suficientemente esperto para fazer sua última refeição, despedir-se dos prazeres da terra enquanto tinha tempo. Ele não viveria para pagar por aquilo. Eu devia ter pedido o maldito salmão.
— Taywan, você está bem? — Ele me perguntou. Sua voz doce era um conforto em meio a confusão que estava minha mente. Acenei com a cabeça, embora fosse evidente que estava mentindo.
Eu sou patética. Achei que teria coragem tal qual Eric, mas estava nua, imóvel e totalmente impotente diante daquela situação. A vergonha e medo me colocavam a par de igualdade com todas aquelas garotas de cidade grande assustadas e inúteis no avião. Eric me encarou, olhos castanhos tão intensos que vasculhavam os confins de minha alma. Ele então disse as palavras que, até hoje, ecoavam em minha cabeça:
— Não se preocupe. Vamos sobreviver.
Como conseguia se manter tão calmo? Me perguntei atônita. Sua voz, no momento, soou tão doce e acolhedora que pareceu me tranquilizar instantaneamente, transmitindo a confiança que Eric sempre tinha anteriormente ao entrarmos naquele avião.
Eu confiava nele e soube na hora, o que quer que Eric estivesse pensando ia funcionar. Eu tinha de ser forte também. Sincero como ele costumava ser, suas palavras não deviam ser apenas da boca para fora, como uma mentira apenas inventada com o intuito de me tranquilizar. Se nada pudesse ser feito, ele, mais do que qualquer um, certamente não hesitaria em dizer que morreríamos, independente da reação que pudesse ter em decorrência daquilo. E, é claro, se tinha alguém capaz de pensar em algo para nos salvar e fazer dar certo, só podia ser ele.
Sorri antes que a forte turbulência atingisse nosso avião.
E então, o que vi Eric fazer, mais uma vez, confirmou tudo o que ele tinha me dito. Confirmou que ele era um sobrevivente de verdade.
Quando acordei sozinha naquela ilha, soube imediatamente que ele estava bem e que o reencontraria em breve.
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- Não se esqueça de comentar e avaliar o capítulo :D -
Olá leitores(as). Como prometido, seguimos com o ritmo normal de publicação da história. Ainda estou bastante ocupado, mas a escrita tem fluido bastante bem ultimamente também. Quem sabe em breve não temos dois capítulos lançados na mesma semana?
O que tem me motivado bastante são seus comentários. Da mesma forma que muitos de vocês me relatam que voltam aqui frequentemente para ver se já lancei partes novas da história, também faço isso para ver se há comentários novos. Deixo registrado então o incentivo aos comentaristas recorrentes (amo vocês!) e também para que os(as) leitores(as) fantasmas se pronunciem também. Eu não mordo (muito) haha.
Um abraço a todos(as)!