IKARO 8
Acordei antes dos dois. Stella está agarrada no Luan com a cabeça em seu peito, me sinto estranho vendo os dois assim, tão próximos e íntimos dormindo, é como se eu fosse um intruso na cama com eles, não é onde eu deveria estar. Se tem uma coisa que aprendi muito cedo na vida é que quando se está sobrando você mesmo deve se retirar e é o que eu faço. Saio da cama tomando cuidado para não acordá-los, junto minhas coisas e vou para sala.
Depois de me vestir pego minha mochila e a chave da moto e saio fazendo o mínimo de barulho possível. As lembranças da noite insana que tive não param de passar na minha mente, não podia acreditar que tinha trocado uma mão amiga com o ficante da minha amiga, já tive clientes que pagariam cara só para testemunhar algo assim e nunca aceitei, nem ter outro cara na cama era uma possibilidade que eu aceitasse, então Stella — talvez até de caso pensado — deu um jeito de me fazer ir para cama com ela e o amor da vida dela, isso foi um erro, um erro colossal e olha que já fiz coisas que julguei questionáveis na minha antiga profissão!
O sol incomoda meus olhos assim que ponho os pés na rua. ainda nem são sete horas da manhã, esse horário normalmente estou dormindo, mas estranhamente, depois de tudo que rolou dormir é a última coisa que quero fazer, em um dia normal estaria procurando pela Stella para contar sobre a noite mais maluca da minha vida, só que claro ela não era a pessoal mais indicada para ouvir meu desabafo nessa questão, então o melhor era fazer o que já estava acostumado a fazer.
— Guarda para você, parça, ninguém tem nada haver com seus problemas! — Digo a mim mesmo, coloco meu capacete e saio desse apartamento rumo a minha casa, que era o que deveria ter feito ontem a noite depois que deixei o casal aqui.
Não demorei muito para chegar em casa. Adriano está na cozinha cantarolando uma canção e assando alguma coisa no forno, não sei o que é, mas o cheiro é bom, lembra um pouco o cheiro de casa — é nostálgico até — vou até lá para cumprimentá-lo e também tomar um pouco de água, a ressaca de ontem está me deixando com a boca seca.
— Bom dia! — Ele diz assim que me ver.
— Bom dia — não consigo responder com o mesmo entusiasmo.
— Você está péssimo — ele diz meio que sem pensar, então se apressa a tentar corrigir — quer dizer, com todo respeito, você não está feio nem nada, até porque nem tem como você ficar feio né.
— Tudo bem, eu sei, foi uma noite cansativa — escolho cada palavra com cuidado, mas isso desperta um olhar curioso no meu amigo de apartamento, para despistar tento jogar o rumo do pára pra ele — você acordou cedo.
— Nem dormi na verdade, eu queria dormir, na real eu preciso — ele começa a rir com se lembrasse uma piada — desculpa.
— Você está chapado, não estou julgando só perguntando mesmo? — Minha pergunta só o faz rir mais ainda.
— Não, quer dizer estou chapado de amor!
— Que bom para você.
— Eu sai com um cara ontem e hoje vamos sair de novo — ele continua mesmo sem que eu tenha perguntado, mas não vou ser rude, alguém pode ser feliz nessa casa pelo menos.
— Legal — ele ri novamente da minha resposta.
— O que foi? — Pergunto agora sendo o curioso da conversa.
— Nada, é só que você falou agora igualzinho ao Luan, ele é hetero nesse mesmo nível — ser comparado com o Luan me faz lembrar da minha mão socando uma punha no pau preto dele, não consigo decidir se gostei mais da mão dele no meu, ou se foi bater uma nele, isso é coisa de maluco — terra para Ykaro!
— Foi mau, só estou com sono mesmo, vou deitar, boa sorte no seu encontro — digo tentando soar um pouco mais entusiasmado agora.
— Valeu, bom descanso, vou deixar bolo para você quando acordar!
— Ah massa, obrigado!
O cansaço começa a me vencer, então só tiro minha roupa, fico só de cueca e desabo na minha cama, pensei que fosse mais difícil dormir, mas até que o sono veio fácil, o problema é que foi só começar a dormir para ter sonhos com a noite passada. No início estou na cama com Stella, ela está nua em cima de mim, mas então ele surge atrás dela, beijando seu pescoço. O sonho parece tão real. Nossos membros duros roçando um no outro enquanto a penetramos ao mesmo tempo em uma “DP” perfeita.
As coisas vão esquentando, quando ela se curva para me beijar, posso ver o Luan segurando seus cabelos. ele mete com força isso a faz gemer loucamente. A sensação que tenho é idêntica a de quando estava mesmo transando com eles, mas o que acontece na minha mente é diferente, mais fluido, quase como se meu subconsciente tivesse dando voz a tudo que eu queria ter feito na hora, mas que não tive coragem.
O sexo no meu sonho é tão bom quanto o que aconteceu ontem. No fim quando estou prestes a gozar Stella se ajoelha enquanto fico de pé com Luan do meu lado, ambos gozamos em seu rosto, banhando ela de porra, ai do nada Stella passa a mão no rosto levando nossa porra até a boca, meu olhos miram o pau do Luan que ainda com com sua porra escorrendo e faço o inpensado, com a ponta dos dedos passo na cabeça marrom da sua pica e levo a boca, mas o não consigo destinguir o gosto e também não tenho tempo para pensar muito sobre pois meu despertador me trás de volta.
— Você está enlouquecendo Ykaro! — Estou falando muito sozinho ultimamente.
Meu pau está duro e minha cueca completamente melada, mas me recuso a bater uma pensando nisso, na verdade vou esquecer dessa experiência. Ao invés de me masturbar vou pro banho. O problema é que essa experiência e o sonho que eu tive me deixaram com muita pressão, as gotas de água mesmo frias quando tocam minha pele me transportam de volta para a pegação que fizemos no banheiro. Só podia estar perdendo a cabeça, nunca antes um ménage tinha mexido tanto comigo.
Resistir a vontade de me masturbar com a imagem do Luan pelado socando fundo na Stella, ao invés disso foquei na imagem deles agarrados na cama, era nisso que tinha que me concentrar, sabia que isso poderia acontecer quando o incentivei a procurá-la, era minha deixa para sair fora desse triângulo — só queria não ter ido tão longe antes de ser preciso me afastar.
Adriano deixou bolo e até almoço para mim — no meu caso tá mais para janta por conta do horário — ele disse que chegaria tarde hoje então provavelmente só o veja amanhã, tenho que sair para o trabalho daqui a pouco. Dormi um pouco de mais, o despertador não me acordou de primeira, mas só me dei conta disso depois que sai do banho, visto logo minha calça e calço o sapato para só depois disso ir comer alguma coisa. A comida está boa, porém nem consigo sentir o gosto direito por ter praticamente engolido, então resolvo pelo menos aproveitar melhor o bolo de sorvete de chocolate que o Adriano deixou para mim.
Antes que possa começar a comer a campainha toca, deve ser pro Adriano, pois ninguém que eu conheça sabe que moro aqui — aliás só a Stella, mas ela não teria motivos para aparecer, ainda mais sem avisar — vou até a portão e tamanho é minha surpresa quando vejo Luan parado em frente ao portão com sua cara de cabaço bobão.
— Opa e ai! — Sabia que depois de fazer uma brotheragem com ele nossa amizade deixaria de existir antes mesmo de começar, mas tenho que admitir que ficou muito mais desconfortável para os dois.
— O Adriano não está — é a primeira coisa que me vem à cabeça — ele disse que tinha um encontro depois do trabalho.
— Eu sei! — Ele responde de forma desajeitada, com um pouco mais entonação do que deveria, depois bate a vergonha e ele continua em um tom mais baixo, porém sem me encarar diretamente — é que eu marquei com ele para encontrá-lo aqui.
— Tranquilo, entra aí então — entro e deixando o portão aberto para que ele passe.
Não tenho nada contra o cara, mas também não tenho nada a favor, só espero que ele não vacile com Stella, sei quando não tenho chance e agora que ele finalmente se decidiu — pelo menos é o que imagino que tenha acontecido — vou tirar meu time de campo, acabar com o sexo casual, já foi minha cota de amante por uma vida. Luan me acompanha até a cozinha, eu ainda posso ler seus pensamentos como antes, ele quer conversar sobre algo, mas está tão desconfortável quanto eu e ainda sendo sincero não quero mais pensar ou lembrar do que aconteceu naquele quarto com a Stella e principalmente sem ela.
— E aí, você saiu cedo — seus olhos varrem cada canto da cozinha, ele só não olha para mim enquanto fala.
— É, precisava resolver uma coisa — minto — quer bolo?
— Pode ser! — Ele está tão nervoso que isso está se refletindo na sua forma de falar, então mesmo não querendo falar sobre isso, acho melhor tranquilizá-lo.
— Olha Luan, o que rolou — seus olhos só faltam saltar para fora do susto — nunca aconteceu beleza!
— Tranquilo, era — ele tenta falar, mas sua frase morre no meio — Ykaro, você tem alguma coisa com a Stella?
— Somos só amigos — só agora percebo que queria que isso não fosse verdade, mas é.
— Você estava saindo com ela também quando me mandou tomar uma atitude — ele está claramente confuso.
— Cara, escuta, não surta, tá bom, a gente tinha um lance mas acabou, o que aconteceu ontem foi um erro e não vai se repetir!
— Eu gosto dela — Luan diz agora finalmente me encarando — podemos só esquecer o que rolou, e tipo você pode não ficar mais com ela?
— Não vou, não sou amante de ninguém — pelos seus olhos eu vejo que ele acreditou em mim — e você não vai mais surtar?
— Macho eu estou surtando na verdade, nunca tinha feito nada nem parecido com você sabe.
— Um ménage — seu corpo se retrai inteiro só com a palavra.
— Pois é.
— O que vai fazer, vai sumir de novo por um tempo? — Pergunto, não querendo julga-lo, pela primeira vez só quero entender o que ele pretende.
— Não, dessa vez não — Luan faz uma cara engraçada, ele é tão cabaço que não consigo mesmo entender o que ela viu nele para se apaixonar — não vou recuar dessa vez!
— Ótimo, eu te falei, ela gosta de você então não vacila.
Deixo o resto do bolo para ele e vou pro meu quarto, vestir uma camisa e pegar minha mochila, ele é amigo do Adriano então acredito que não tem problema de deixá-lo esperando pelo meu colega de casa aqui — em casa — só aviso que estou saindo para trabalhar e saio, parte de ficar desconfortavel perto dele é que as lembranças ainda estão vividas, no meu sonho eu provei sua porra e isso me deixou muito mais curioso do que gostaria.
Chego no trabalho um pouco mais cedo, Stella chegou um pouco depois, o sorriso no seu rosto é uma certeza de que eles tiveram mais um pouco de diversão depois que sai. Não vai ser fácil superar uma mulher como ela, porém eu sabia que esse dia chegaria. Stella me viu na cozinha cortando limões e veio falar comigo, ainda não abrimos então ela aproveita esse tempo.
— Você não me acordou!
— Não queria incomodar — mantenho minha atenção nos limões.
— Olha a noite de ontem foi — eu a interrompi.
— Legal, fico feliz por você ter se entendido com o cara lá.
— Sim, eu pensei que ele fosse surtar muito, tipo muito mesmo!
— Pois é — não quero ser uma babaca com ela, mas agora que estou começando a entender o tanto que ela é importante para mim é foda saber que não vai rolar entre a gente.
— Mas ele ficou de boas, quer dizer, na medida do possível.
— Que bom, você merece um cara legal.
— Ykaro — tudo que menos preciso agora é levar um fora ouvindo o quão incrivel eu sou, pois sei que sou o melhor sexo da vida dela, o melhor amigo, o mais companheiro e gato e tudo mais, só que não sou eu no final do dia que ela quer abarçar e dormi.
— Stella, eu sei — ela me encara com uma expressão difícil de ler — nós dois sabíamos.
— Não quero perder sua amizade Ykaro!
— Não vai, mas não vou ser seu amante Stella — digo sendo o mais sincero que consigo — agora eu tenho que trabalhar foi mau, tenho que deixar tudo no ponto, já vamos abrir.
Ela me encara por mais uns segundos, então volta para o salão para trabalhar. Pensei um milhão de vezes no dia em que não ficaria mais com ela, só que em nenhuma dessas situações encenadas na minha mente pensei que ficaria mal por terminar com ela. O trabalho é estressante e hoje em particular parece que as horas resolveram não passar, só vejo Stella nas vezes em que ela vem buscar algum pedido, estou me esforçando para manter nossa amizade, mas vou precisar de um tempo até ficar normal.
Stella foi a primeira mulher com quem me envolvi depois de toda a confusão que a minha ex me arrumou, me apeguei a ela mais do que deveria e agora estou pagando o preço. Três horas da manhã finalmente. Estou com meu setor limpo e abastecido, mas meu corpo está completamente exausto, mentalmente mais do que fisicamente. Nos armários onde guardo minhas coisas dou de cara com Stella me esperando.
— Eu estou faminta — temos nossa rotina, de comer algo antes de deixá-la em casa.
— Beleza — até penso em inventar algo, mas não quero perder a sua amizade, também preciso deixar de ser tão emocionado.
Vamos pro Habib 's comer esfirras como de costume. Ela envia algumas mensagens antes de guardar o celular e subir na moto — deve está trocando mensagens com seu namorado, me pergunto se vão dormir juntos de novo, mas isso não é da minha conta, então tento pensar em outra coisa — chegamos, sentamos na mesa de costume, peço nossas bibsfihas de carne, frango e mussarela, enquanto ela manda mensagens.
— Vai querer levar umas pro seu namorado? — Pergunto tentando ser casual.
— Não, ele vem comer com a gente — meu primeiro impulso é levantar e sair, mas preciso ser maduro.
— Você disse que está comigo?
— Ele sabe — isso me pareceu mais um não, só que não quero enfrentá-la agora sobre essa amizade, mas em algum momento ela vai ter que ficar ciente que seu ex esquema e seu atual namorado não tem muito em comum para serem amigos.
— Pensei que ele fosse fazer algo com Adriano hoje.
— Pois é, o Adriano parece que está namorando e desmarcou o que eles tinham agendado, não sei direito, ele me perguntou se eu queria fazer alguma coisa depois do trabalho então falei que vinha para cá, ele já está cegando — ela aproveita para pedir mais bibsfihas para o seu namorado também.
Não estou nem um pouco satisfeito em segurar vela para eles e muito menos de me tornar amigo dele, é foda ela ser minha única amiga com quem converso sobre essas coisas, porque agora preciso conversar sobre isso que está acontecendo, mas não posso falar com ela, Stella percebe que estou divagando e me puxa de volta para realidade.
— Uma esfiha pelos seus pensamentos?
— Nada, só que — não sei como falar isso sem parecer grosso ou chato.
— Não quer segurar vela? Olha Ykaro não vou me comer com ele aqui na sua frente eu prometo.
— Tanto faz, só não vou ser amigo dele, beleza — não vou ter um momento bom para dizer isso, então solto de uma vez.
— Tudo bem, mas se você der uma chance vai ver que ele é legal — Stella não parece ter notado o quanto me apeguei a ela e o quanto é complicado para mim ver ela com outro cara, culpa minha por nunca ter falado abertamente com ela, mas em minha defesa também só me dei conta disso quando vi Luan chegando juntos com mais segurança. Agora precisava encontrar uma forma de superar isso.
Ele chegou depois de uns cinco minutos, assim que me viu tive a certeza de que não, ele não sabia que eu estaria aqui, mas disfarçou do jeito que conseguiu. Ela o beijou com um selinho rápido, e o chamou para sentar com a gente, ainda era desconfortável, porém estranhamente menos na presença dela, do que quando estávamos sozinhos mais cedo lá em casa, difícil de entender o que está se passando na minha cabeça.
— Luan eu pedi duas de espinafre que você gosta — ela diz quando ele senta do lado dela.
— Obrigado.
— Conseguiu falar com o Adriano? — Pergunto por falta de coisa melhor para falar.
— O que? — Ele diz perdido.
— O Adriano, você não foi lá em casa para falar com ele?
— Sim, claro, falei, mas é que ele ia ficar até mais tarde com o cara que ele tá conhecendo e não queria arriscar dele levá-lo para casa.
— Sei como é — digo, pois entendo bem o sentimento de sobrar quando se sai com um casal.
— Relaxa baby, você pode dormir na minha casa hoje de novo — nunca tinha visto Stella tão feliz, isso me deixa um pouco com o ego ferido, pois não fui capaz de fazê-la feliz dessa forma.
— Certo — ele está estranho, mas não sei o por que.
Stella aproveita para me explicar que o Luan não pode voltar para casa de madrugada, quando ele vai dormir fora avisa a mãe dele que está em um retiro ou celular da igreja congregando madrugada a dentro — me pergunto se ela realmente acredita nisso, ou só quer se fazer de tonta mesmo, enfim não vou julgar.
Nosso pedido chega e comemos, Stella é quem mais fala. Hoje não quero correr o risco disso ser um novo plano dela para me puxar para o seu apartamento então invento que preciso fazer uma coisa antes de ir para casa e Luan parecendo ter tido a mesma sacada que eu se adianta pedindo um Uber para eles, no fim de despeço dela um um abraço e dele com um aperto de mão — o que não é uma boa ideia, nosso toque mesmo que breve faz percorrer um choque familiar pelo meu corpo e posso jurar pelos seus olhos que causei o mesmo efeito nele, ou pelo menos um parecido.
Eles pegam o Uber deles e eu vou para casa, tenho que tirar essa maldita noite da cabeça e também lembrar da cena dela nos braços dele na cama, ela fez sua escolha e eu preciso seguir em frente, pela primeira vez em meses sinto falta de quando era só sobre dinheiro e não sentimento.