O avião particular ainda tremia levemente sobre a pista, mas dentro dele, o mundo parecia suspenso no tempo. Eu segurava a bolsa de dinheiro com força, tentando me convencer de que aquele era o fim de tudo que me atormentava, e ao mesmo tempo, o começo de algo que eu ainda não entendia direito. Meu coração acelerava, mas não era só o medo que eu sentia — havia também uma expectativa quase impossível de controlar. E então, quando ele se levantou e se virou para mim, eu vi seus olhos. E eram olhos que conheciam a minha alma como ninguém jamais conhecera: era Kadu. Durante todo esse tempo, eu nem percebera que ele estava ali, que observava, que ajudava, que sabia de tudo.
Kadu deu um passo à frente, e o peso do que ele estava dizendo tomou conta do espaço entre nós, um silêncio carregado de verdades não ditas e de amor que nunca fora negado. — Yago... — começou, a voz firme mas carregada de emoção — Eu sempre soube que você me amava. Desde o começo. E eu também sempre te amei. Mas meu pai... ele era o maior problema. Tudo que aconteceu, toda essa loucura... eu estava lá, escondido, ajudando você, garantindo que você conseguisse o que precisava para colocar um fim nisso tudo. Cada passo que você deu, cada plano que você traçou, eu estive cuidando para que você tivesse uma chance de viver.
Meu corpo estremeceu. Não sabia se chorava de alívio, de medo ou de felicidade. Kadu continuou, aproximando-se, mas mantendo a distância respeitosa, como se ainda medisse cada palavra: — Yago... tudo tinha que ter sido do jeito que foi. Se meu pai ainda estivesse vivo, nunca conseguiríamos ficar juntos. Ele sempre seria uma sombra sobre nós, um obstáculo que nos impediria de sermos felizes. Mas agora... agora acabou.
O silêncio se quebrou apenas pelo som de nossas respirações, pesadas e emocionadas. Eu não sabia por onde começar. Tudo o que passamos, cada medo, cada lágrima, cada momento em que eu me senti sozinho, estava ali, suspenso no ar entre nós, mas pela primeira vez eu podia sentir que não estava mais sozinho. Que alguém, finalmente, entendia a profundidade de tudo que eu sentia.
— Kadu... — minha voz saiu trêmula, carregada de tudo que eu não conseguia expressar — Eu... eu não sei nem como agradecer. Eu pensei que teria que carregar isso para sempre, que teria que lutar sozinho. Mas você esteve aqui... todo esse tempo...
Ele se aproximou mais, e então segurou meu rosto com delicadeza, olhando profundamente nos meus olhos, como se tentasse gravar cada fragmento do meu ser em sua memória. — Yago... você nunca mais vai lutar sozinho. Eu estou aqui. Sempre estive. Sempre estarei. Nada, nenhum fantasma do passado, nenhum medo ou dor... nada vai nos separar agora.
O coração disparou dentro do meu peito. Eu podia sentir cada batida dele, cada pulsar do sangue quente, cada lembrança de dor se misturando com a sensação de alívio e amor absoluto. — Eu te amo, Kadu... — murmurei, quase em silêncio, mas ele ouviu. Ele sempre ouviu.
Ele sorriu, e aquele sorriso, tão familiar, tão cheio de amor contido, me derrubou por dentro. — E eu te amo, Yago. — disse ele, e suas palavras pareciam iluminar o avião inteiro. — E agora, finalmente, podemos começar de verdade.
Nos aproximamos, e pela primeira vez, o toque não trouxe medo, não trouxe lembranças dolorosas, não trouxe o peso do passado. Era só nós, apenas nós, a sensação de que tínhamos sobrevivido a tudo e que podíamos finalmente ser felizes. Eu senti suas mãos em meus braços, seu corpo se encostando no meu, e não havia nada além de nós, nada além do que sempre quisemos.
— Tudo que aconteceu... tudo que você passou... — ele continuou, acariciando meu rosto — foi necessário para chegarmos aqui. Eu estive cuidando de você sem que você soubesse. Cada passo, cada movimento, cada plano... eu estava lá, garantindo que você tivesse a chance de ser livre. Agora, estamos juntos. E ninguém, nada, jamais vai nos separar.
Senti minhas lágrimas caírem, finalmente liberando toda a dor que eu carregava por anos. Eu estava exausto, quebrado, mas ao mesmo tempo completo. Cada pedaço de medo e sofrimento se dissolvia na presença de Kadu, na certeza de que ele sempre soube, que ele sempre cuidou de mim, que ele sempre me amou.
O avião decolou, e olhando pela janela, vi a cidade ficando para trás, um mundo que ainda guardava memórias do que passou, mas que agora não podia mais nos prender. E no meu coração, havia paz. Não era perfeita, não era completa, mas era real. E com Kadu ao meu lado, eu podia finalmente acreditar que tudo aquilo pelo qual eu lutei, tudo aquilo que sofri... finalmente tinha valido a pena.
— Vamos sair daqui, Yago — disse Kadu, segurando minha mão com força — e nunca mais vamos olhar para trás. O futuro é nosso. E eu prometo que vou estar com você em cada passo, em cada decisão, em cada instante.
— Eu não quero mais perder você... — sussurrei, e nossas testas se tocaram, nossos olhares se encontrando em silêncio absoluto.
— Nunca mais — ele respondeu. — Estamos juntos. Sempre.
E naquele instante, eu finalmente entendi: depois de tudo, depois de cada lágrima, cada luta, cada momento de desespero... nós finalmente estávamos livres, juntos, e nada jamais poderia nos separar novamente. O passado existiria apenas como lembrança, uma lembrança que nos trouxe até ali, mas que não nos prenderia mais.
E ali, olhando para Kadu, senti que cada segundo de sofrimento, cada escolha difícil, cada sacrifício, finalmente havia valido a pena. Porque, no fim, ele estava ali. E eu sabia que finalmente estávamos em casa, um no outro, para sempre.
O avião particular ainda cortava o céu, mas dentro dele, o tempo parecia ter parado. Eu e Kadu estávamos sozinhos, finalmente, e a sensação de estar livre de tudo que me aprisionou durante anos me fazia tremer de emoção e alívio. Nossos olhares se encontraram, profundos e intensos, e pela primeira vez em muito tempo, eu senti que poderia finalmente me entregar sem medo. Ele se aproximou lentamente, segurando meu rosto com cuidado, e eu senti cada batida do meu coração acelerar ao mesmo tempo que ele tocava minha pele com a delicadeza de quem nunca quer machucar, mas também com a firmeza de quem não aceita ser ignorado.
Seus lábios encontraram os meus, e o beijo começou suave, exploratório, mas logo ganhou intensidade. As mãos de Kadu deslizavam pelo meu corpo, descobrindo cada ponto que parecia precisar apenas dele. E eu, mesmo ainda sentindo uma pontada de receio, me deixei levar, sentindo cada toque, cada arrepio, cada batida do coração dele refletindo no meu. Era um amor ardente, carregado de tudo que havíamos passado: medo, dor, saudade e finalmente, paixão. Nossos corpos se encaixavam de maneira perfeita, como se toda a tensão e sofrimento acumulados durante anos fossem dissolvidos naquele momento.
As mãos de Kadu passaram pelos meus cabelos, puxando-me para mais perto, e seu olhar nunca se desviava do meu. A sensação de ser totalmente visto e desejado ao mesmo tempo era intensa, quase assustadora, mas eu não queria escapar. Queria sentir cada pedaço dele, cada gesto, cada suspiro que ele soltava. E ele parecia tão vulnerável quanto eu, mas ao mesmo tempo firme, confiante, dono de cada centímetro daquele espaço.
Enquanto nos entregávamos a essa paixão, senti a familiar mistura de amor e possessividade que sempre me deixava em alerta. Cada toque, cada mordida suave no lábio, cada abraço apertado me lembrava de momentos que pensei ter deixado para trás — e, por uma fração de segundo, o fantasma de Marc passou diante de mim. Mas Kadu era diferente, certo? Eu queria acreditar que sim.
Nos acomodamos lado a lado, respirando juntos, corpos entrelaçados, e o calor que ele irradiava me fez esquecer tudo — menos o peso daquela sensação estranha que ainda persistia. Ele acariciava minhas costas, minhas mãos, meus braços, e eu me sentia seguro, mas também intensamente observado. Olhei para ele e disse, quase sussurrando: — Eu... eu não sabia que poderia sentir isso de novo.
Kadu sorriu, um sorriso lento, intenso, quase predador, mas que ainda carregava todo o amor que ele sentia por mim. Ele se inclinou para perto do meu ouvido e, com a voz baixa e firme, repetiu uma frase que ecoou dentro de mim, trazendo lembranças que eu não queria reviver, mas não conseguia afastar: — "Você é meu, e ninguém mais vai te tocar."
Meu coração disparou, e por um momento, senti aquele mesmo frio que Marc costumava provocar. Olhei nos olhos de Kadu, tentando encontrar apenas amor, mas havia algo mais ali — uma chama de possessividade, firme e intensa, como se ele não fosse apenas meu amante, mas também meu guardião, meu dono. Um pensamento atravessou minha mente, rápido e fugaz: Será que estou vendo isso porque quero? Ou será que é real?
Decidi não questionar. Decidi me entregar, esquecer essa ponta de medo e mergulhar naquele momento. Porque, afinal, mesmo com toda possessividade que eu sentia, com todo o peso do passado, eu estava com Kadu. Ele me queria, me amava, e apesar de tudo, isso parecia suficiente.
Mas aquela frase ficou ecoando na minha mente, como um lembrete silencioso de que o amor que sentimos não era simples, que o controle e o desejo se misturavam de maneira perigosa, e que talvez, no fundo, tanto Marc quanto Kadu tivessem algo em comum. Um sentimento possessivo que não poderia ser totalmente apagado, que fazia parte da intensidade do amor que eles sentiam. E, por mais que eu quisesse acreditar que Kadu era diferente, uma pequena voz dentro de mim sussurrava: Será que vou passar por tudo isso de novo? Será que sempre haverá esse mesmo perigo escondido atrás do amor?
E assim, nos abraçamos, apaixonados, intensos, corpos e almas colidindo em perfeita harmonia, mas com o passado ainda assombrando meu coração, deixando o final em aberto, deixando a sensação de que talvez, só talvez, a história não tivesse terminado — apenas começado de uma maneira diferente, com outro tipo de dor, outro tipo de desejo, mas ainda com a mesma intensidade que me consumia desde sempre.
Estávamos deitados, quase dormindo no avião particular, meus olhos já se fechavam, e antes de pegar no sono, só me lembro da imagem do Kadu acariciando meus cabelos e dizer uma frase que por coincidência eu já havia escutado antes.
– Eu realmente... te amei mais do que tudo – ele sussurrou, antes que meus olhos finalmente se fechassem.