2013, Salvador, Bahia. Uma disputa entre dois times juvenis sacudia a manhã daquele domingo. A comunidade torcia e vibrava. No campo empoeirado, Daniel, o Dandan, craque de uma das equipes, sofreu um penalti. Ao cobrar, jogou pra fora. Na saída, de bola, a equipe adversária, em um rápido ataque, finalizou para o gol da vitória, sacramentando a classificação para a grande final, marcado pelo artilheiro daquele torneio, Vitor, o Vitinho.
Finda a partida, Dandan e Vitinho se cumprimentaram e conversaram rapidamente.
- Parabens, cara. Tem fome de gol você.
- E você joga muito. Pena que ficou pelo caminho.
- É da vida. Desejo sucesso nessa final.
- Porra, não vou participar. Tô indo embora essa semana. Vou morar com meus pais em Manaus.
- Caralho! Vai pra longe. Chegou até a final e não vai nem poder erguer a taça de campeão.
- É da vida! Vou lá, cara. Prazer falar contigo.
- Igualmente. Boa sorte por lá.
Dandan e Vitinho não eram amigos. Residiam no mesmo bairro, mas não tinham aproximação. Jogavam no mesmo campo, mas com turmas diferentes. Vitinho jogava com vizinhos próximos, enquanto Dandan jogava no baba dos mais velhos, mais duro e mais disputado. Também não estudavam na mesma escola. Vitinho era mais dedicado, já Dandan bem mais relapso nos estudos.
2017, mesma cidade. Jane estava feliz da vida, passara no ENEM. Na companhia de sua amiga Rosana, a Nana, estavam marcando um barzinho à noite, pra comemorar o tão suado lugar na faculdade. Só tinha um detalhe que Nana ficou sabendo naquele instante.
- O que?! você marcou com um carinha logo hoje??
- O que é que tem?? não vou namorar ele não! Vamos apenas nos divertir com uns gatinhos, melhor do que conhecer por lá.
- Mas quem disse que a gente ia sair pra arrumar paquera??! A gente ia se divertir, comemorarmos juntas seu feito, poxa!
- Ah, Nana, deixa de ser quadrada! Esse garoto saiu com uma colega minha e ela falou maravilhas dele. Encontrei ele no Badoo, deu match, e ele vai com um amigo dele. Só pra gente variar, sua boba!
- Sei... eu não tô afim de ficar com conversinha mole com nenhum chato não!
- Qualquer coisa, a gente dá no pé. Vai ser animado, não esquenta.
Jane e Nana foram vizinhas na infância e mantiveram contato porque suas mães continuaram se falando. Jane sempre foi mais despojada, reflexo dos seus pais meio ripongas, tinham experiências conjugais além do convencional. Mantinham uma casa de veraneio em Arembepe, e viviam na Aldeia Hippie. Jane, inclusive, tinha esse nome porque o avô dela conheceu Janis Joplin, que passou uma temporada por lá. Já Nana, era meio indecisa, “maria-vai-com-as-outras”, e acabava embarcando em programas mesmo que não estivesse afim. Jane também era um tanto confusa, no entanto, mais impulsiva.
Chegou a noite e elas encontraram os rapazes.
- Olha lá, Nana! Chegaram. Vou acenar pra eles.
- Ei, peraê... Eu conheço aquele cara, estudamos no mesmo colégio no ensino médio.
- Hummmm, que interessante. E ele é um gato! Olha aí... você pode se dar melhor do que eu!
Se apresentaram. O rapaz que marcou com Jane estava mais radiante, enquanto seu amigo estava sacando melhor o ambiente. Inclusive, Jane também. Nos cumprimentos, ele também lembrou de Nana
- Ei, eu já vi você antes...
- Estudamos no Alceu... você só jogava bola, até pegou uma colega minha de sala...era bem famosinho por causa do futebol.
- Ahahahahahaha... é, sempre joguei bem, é o que dizem.
- Só não lembro seu nome, ou melhor, apelido. Chamavam você de xandão, vadão...
- Dandan! Eu mesmo
- Ah, isso mesmo, ahahahahaha...
Os quatro arrumaram uma mesa e começou o rolê. No inicio, Jane e o carinha e Dandan com Nana, relembrando algumas coisas que vivenciaram na escola. Mas aí a coisa virou e quando se levantaram pra dançar, Dandan e Jane começaram a flertar mais diretamente. O outro carinha ficou meio deslocado e passou a conversar com Nana. O match ficou pelo caminho.
A noite passava e Dandan e Jane cada vez mais próximos. O amigo dele que marcou tudo, ficou desambientado e tentava algo com Nana, mas essa relutava. Até que Jane deu a ideia de sairem dali. Nana queria ir pra casa, mas Jane a convenceu a ficar. Vendo que um novo casalzinho podia surgir dali, ela resolveu ajudar a amiga.
No carro do carinha - que era o motorista da rodada - começaram a curtir a noite com som alto pipocando e Dandan e Jane, finalmente, aos beijos. Foi então que Nana perguntou onde iriam. Jane gritou.
- AREMBEPEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
Nana arregalou os olhos. Seria mais ou menos uma hora e meia até o local proposto. O cara sentou o pé e a viagem durou pouco mais de uma hora. Noite, transito livre, tudo ajudou.
Lá chegando, Jane e Dandan foram pro quarto e o carinha começou a querer puxar papo com Nana, mas essa tava com cara de poucos amigos. O rapaz até tentava agradar, mas com uma conversinha mole, chatissima. Até que se sentindo totalmente deslocado e vendo que não tinha sucesso. Falou que ia cair fora. E foi. Nana até queria pedir uma carona a ele, mas aí já seria demais. Dar um gelo no sujeito e ainda queixar carona? E o sujeito poderia “cobrar” alguma coisa. Melhor ficar por lá mesmo, conhecia bem a casa e estava acostumada.
Não conseguindo dormir, ficou no celular vendo besteira, enquanto ouvia de vez em quando alguma coisa no quarto, geralmente risadinhas de Jane. Puta da vida, conseguiu pegar no sono, aos trancos e barrancos. Acordou um pouco depois e já havia silencio no ar.
Foi a cozinha comer alguma coisa. Estava lá distraída quando Dandan apareceu. Peladão. Um ficou olhando pro outro, meios sem graça
- Desculpe... Eu achei que você tinha ido embora, tava no quarto, sei lá...
- Não, eu... não esquenta, tô de boa aqui.
- Vou lá dentro vestir algo.
Foi e retornou, começaram a conversar.
- Cadê meu brother? Não rolou nada?
- Não, não... não tava afim de onda hoje não. Jane marcou com ele e o coitado acabou vendo o amigo com a crush dele...
- Olha, não foi por mal. Aconteceu. Inclusive, já fiquei na mesma situação dele. Ele não vai ligar pra isso, pode acontecer de tudo quando a gente tá pra jogo.
- Sim, sim, tudo bem. Ninguem tá namorando, apesar de terem marcado pra sair, entendo que as coisas podem tomar outro rumo.
- Vi uma mesa de sinuca lá fora. Tô sem sono, vamos jogar um pouco até o sono chegar. Tô vendo que você também tá na mesma.
- Ahahah... é, na verdade passei a noite toda entediada. Na verdade, consegui relaxar pouca coisa.
Jogando uma sinuquinha, começaram a jogar conversa fora. Dandan era meio gaiato, e Nana começou a rir de algumas piadinhas. O clima entre eles foi evoluindo, mais uma vez lembraram do colégio e de algumas pegações. Dandan disse que já tinha ficado de olho nela.
- Sério? Puxa, eu... eu nem sei o que dizer.
- Você tem um jeitinho tímida, misteriosa... muito bom estar trocando idéia com você
- Jane tá lá dormindo e você aqui dando em cima de mim...
- Ah, não esquenta. Estou falando que admirava você. E vendo você aqui agora, fico mais admirado.
Curiosamente, Nana curtia aquela azaração. Ao mesmo tempo que chamava atenção que a amiga que ele tinha comido poucas horas atrás estava no terceiro sono, ela dava corda pra ver onde ia. Parecia que ela curtia o melhor momento daquela noite sem graça.
De repente, ele se aproxima, tenta enconstar nela. Ela recua, meio sem esperar que ele de fato tentasse algo. Sentiu-se encurralada, mas não fez menção de brecá-lo, ou sair correndo dali. Decidido, ele conseguiu envolvê-la.
- Não vou deixar de aproveitar um tempinho com uma garota de sorriso tão doce que nunca pude me aproximar. Agora é momento. Não acha?
- Dandan, eu... é...
Olhou fixo pra ele. E os dois se atracaram. Desde que se encontraram na cozinha, numa situação constrangedora pra ambos, tudo foi desenrolando pra uma curtiçãozinha básica. A amiga dorminhoca era apenas uma pessoa na casa que não estava ali.
Deitaram-se na mesa de sinuca, beijos estalados, corpos excitados, mãos passeando. Dandan começa a explorar Nana pelo pescoço, seios, barriga, até chegar na virilha, com muitos beijos... e cair de boca na bucetinha molhada. Sua lingua percorria, numa dança oral pelo genital da moça. Nana se contorcia, pegava nos cabelos fartos dele, gemia, se deliciava. Não demorou muito pra gozar na boca do ef|êmero amante.
Logo, Dandan penetrava mais uma xotinha naquela noite, com cadência, com jeito, com vigor. Seu corpo pesava sobre ela, muita agarração. Virando-a de lado, mais uma vez estocava com firmeza, Nana delirava, cerrava os olhos, pedia mais e mais.
De frente pro outro, com ela a se movimentar sobre os quadris dele, mais uma vez sessões de beijos ardentes, mordidas no pescoço, nos seios, susurros na madrugada. Até que uma voz entrecorta os uivos sexuais emitidos.
- Que porra é essa!!??
Os dois viram meio assustados pelo clima cortado, ao vislumbrarem Jane em pé a alguns metros deles. Estavam entretidos demais pra sacarem que haviam sido flagrados. Mas Dandan era determinado. Abriu um riso malicioso e chamou Jane pra se juntar a eles. Nana ficou parada, sem ter o que pensar, nem como agir.
- Vem cá vem! Não fica ai parada!
Jane estava com uma cara meio jocosa, não parecia ter ficado irritada com o flagrante dado. Foi ai que colocou a mão no rosto e soltou uma gargalhada.
- Gente do céu, que loucura é essa???!!
E foi até eles. Nana estava admirada. Jane parecia que aquela noite ela estava disposta a tudo. Foi até Dandan e lascou um beijaço nele. O abraçou por trás e falou no ouvido dele.
- Continue...
E aí, deitou Nana - que ainda estava meio atônita - e começou a bombar. Jane ligou o som e começou a tocar “Piece of my Heart”, de Janis Joplin. Daí, os três interagiram juntos naquela noite, mas sem as amigas se conectarem diretamente. Enquanto uma era socada, a outra beijava o garanhão, estimulando o rapaz a ir fundo. Jane estava mais entregue e aproveitou novamente o comilão da noite. Nana entrosava, mas mantendo alguns limites. Até Dandan dar uma senhora gozada nas costas de Jane, enquanto beijava Nana com paixão. Os três deitaram no felpudo carpete recuperando o fôlego.
O dia amanheceu sem Dandan naquela casa. Ele achou por bem dar o fora e deixar as duas amigas conversarem sobre o que rolou. No café, Nana resolveu tocar no assunto.
- Jane... o que foi aquilo ontem??
- Foi uma noite que a gente saiu pra se divertir e rolou de tudo.
- Não acha que fomos longe demais???
- Nana, foi um lance inesperado, tá? O mundo não vai acabar por conta disso.
- É que foi tudo muito esquisito. Eu tava conversando com ele lá fora e de repente pintou um clima e aí depois você chegou e... nossa, eu não sou daquele jeito!
- Nana, para de drama! Ninguem planejou nada, e vai ficar por isso mesmo. Ele foi embora, nem peguei contato dele, nem porra nenhuma, provavelmente nem vamos ver ele de novo!
- Mas... é isso mesmo, a gente mal conhecia o cara e... olha, tenho que processar o que rolou aqui. Não sou assim... tão permissiva...
- Mas tava curtindo ele um bocado quando cheguei, hein!ahahahahahah... olha, Nana, relaxe que o importante é que o cara conseguiu o que quis e já deu no pé. Não precisa ficar encucada com isso.
- Fale por você. Olha, já vou indo tá? Vou passar o fim de semana descansando, tô um caco aqui.
E assim, foi aquele encontro totalmente inesperado. Dias depois, voltaram a se falar, porém, Jane parecia que iria concordar com a amiga agora.
- Fiquei pensando aqui e realmente acho que exagerei. Não fiquei chocada em ver você com ele, juro, mas também podia ter ficado na minha e deixar você ter aproveitado. Desculpa.
- Jane, é... acabei me deixando envolver também, não esperava que fosse me entregar daquele jeito, também estou bolada com minha conduta. Eu preferia que nada daquilo tivesse acontecido, nada, nada!
- Vamos tentar passar uma borracha nesse episódio. Não somos comprometidas, acabamos indo além do normal, e só resta agora conviver com isso até tudo se dissipar.
- É, né? Fazer o que? Mas também não vou responsabilizar você por tudo. Eu, na verdade, dei mole de me envolver com um cara que você tinha transado.
- Somos livres, independentes, já disse, isso não terá futuro, não precisa ficar chateada porque deu pra um carinha que você conheceu no passado e ficou comigo momentos antes.
As duas resolveram passar uma borracha nisso tudo. No entanto, Jane - pra não entrar na vibe dos pais, que viviam um relacionamento liberal - acabou por conhecer uma turma de jovens católicos e começar a frequentar a igreja.
(continua...)