Bem, agora que já sabem o motivo de eu e minha prima não nos falarmos há dois anos — de eu odiá-la e não perdoá-la — podemos continuar.
Aquela quarta-feira foi longa. Torturante. Me fez lembrar de todas as coisas boas e ruins que havia passado com a Nathi.
Obviamente, por mais que lá no fundo — bem no fundo — ainda restasse um resto de amor de prima, eu não cogitava perdoá-la. Mesmo que fosse o que meu coração, em sussurros, quisesse. Meu orgulho. Meu amor-próprio. Eles não me deixavam ceder.
Ao chegar em casa, depois da academia, tomei um banho e fui direto para o quarto. Não quis jantar, por mais que o cheiro da comida atravessasse a porta — e minha barriga implorasse por ela.
Deitei. Celular ao lado. Fechei os olhos.
E, mesmo sem querer, fiquei pensando em tudo que envolvia eu e minha prima. Era como se cada lembrança fosse um fio puxando meu peito — ora apertando, ora queimando. E agora, só de imaginar que teria que aguentar a presença dela por uma semana, sem poder fazer nada para impedir... me dava ainda mais raiva. Uma raiva quente, que apertava o peito.
No impulso, peguei o celular. Abri o WhatsApp. Desbloqueei o contato dela. Estava pronta para arrumar uma briga — qualquer coisa que a fizesse desistir de vir pra cá.
Mas não pude.
Ela havia me bloqueado também. Desde aquela época.
Pensei em pedir o celular dos meus pais. Mas isso me traria encrenca. E eu já tinha drama demais.
Sem opções, fiquei deitada. Até o sono chegar.
De madrugada, acordei no susto.
Coração disparado.
Camiseta encharcada de suor — mesmo estando no começo do inverno.
Tive um sonho intenso. Na verdade, classifico como pesadelo.
Sonhei com a briga que tive com minha prima. Mas no final... eu a perdoei. Saímos juntas, rindo de tudo, dizendo que nada nos separaria. Nos olhávamos. Nos abraçávamos — de um jeito tão bom, tão quente, tão certo — que, ao acordar, por um instante fiquei triste. Triste por saber que era só sonho.
Mas logo retomei a consciência.
E lembrei.
De todo mal que ela me fez.
Não nego: mesmo sem falar com ela, esporadicamente eu sonhava com Nathália. Afinal, por mais que nossa amizade e confiança tenham acabado... o coração não esquece tudo o que a gente pede pra ele apagar.
Mas dessa vez... foi mais intenso.
Talvez porque eu saiba — lá no fundo, no osso, na pele — que ela logo estará aqui.
E dessa vez... não vai ter quem nos separe.
Nem mesmo nós mesmas.
Meu sono bagunçou depois disso.
Quando finalmente peguei no sono, lá estava o despertador novamente — como no dia anterior — me arrancando de volta pra realidade.
Não consegui fazer nada direito: estudar, ir à academia, comer, pensar… nada.
Não era como se a chegada dela fosse importante.
Era trágica. Inconveniente.
Eu não queria passar por aquilo. Reviver cacos que já não podem ser colados — e mesmo que pudessem, jamais ficariam como antes.
Na quinta à noite, antes de dormir, meus pais vieram até mim pra conversar:
— Filha, amanhã eu e sua mãe saímos pro serviço e de lá vamos direto pra casa do seu tio. Depois, partimos pro resort.
Minha mãe completou:
— Sua prima vem pra cá à noite. Vai ficar no nosso quarto. Vamos deixar as chaves com ela, caso você já esteja dormindo quando ela chegar.
Tentei parecer o mais tranquila possível.
Apenas me despedi. Desejei boa viagem. Disse que, se precisassem de algo, era só mandar mensagem ou ligar.
E, pra deixá-los mais tranquilos, garanti:
— Tudo vai ocorrer bem enquanto vocês estiverem fora. Inclusive… eu e minha prima.
Eles me deram um beijo de boa noite.
Fechei a porta do quarto.
Essa era a última vez que eu os veria por uma semana.
Talvez um pouco mais.
Não saberia descrever o que senti naquela noite.
Nem definir algo que chegasse perto.
Só tentei não pensar em nada.
Relaxar. Respirar.
Talvez eu estivesse fazendo tempestade em copo d’água — e, na vida real, não fosse ser tão ruim assim. Afinal, só passaria mais tempo com ela no sábado e no domingo. Durante a semana, eu teria meus compromissos. Ela, provavelmente, também.
Seria… menos doloroso.
Sexta-feira começou com um ar diferente.
Até a chuva resolveu aparecer. Forte. Intensa.
Como o sonho que tive — de novo — com minha prima.
Dessa vez, estávamos aqui em casa. Sentadas no sofá, vendo filme. Como fazíamos quando éramos pequenas.
Uma acariciando o cabelo da outra. O rosto. O ombro.
Tudo parecia tão real…
Mas não era.
Só restou a tristeza — aquela que gruda na garganta — depois que acordei.
Ao ir até a cozinha tomar meu café da manhã, encontrei um bilhete dos meus pais.
Com um chocolate em cima.
“Te amamos, filha. Se cuidem.”
Dei um leve sorriso.
Foi como um afago no meio do turbilhão de problemas que haviam se abatido sobre mim.
Estressada. Ansiosa. Com medo.
E com aquela chuva caindo sem parar — como se o céu também soubesse o que estava por vir — resolvi me dar um descanso.
Sem curso. Sem faculdade. Sem academia.
Um dia só pra tentar relaxar.
E preparar a cabeça — e o corpo — pro que estaria chegando.
Passei a manhã arrumando a casa. Limpando. Tirando o lixo pra fora.
Não que estivesse um caos — só queria me distrair.
E talvez, sem perceber, causar uma boa impressão.
Parei só pra almoçar. Sem muita fome.
Comi um pedaço de pizza que meus pais, aparentemente, haviam comprado na noite anterior.
Depois, já com a chuva quase parando, fui para meu quarto.
Abri a janela pra entrar um ar.
Troquei o lençol. A fronha.
Não que precisasse — eu já tinha trocado na noite anterior.
Mas eu só… quis.
Por último, fui até o quarto dos meus pais com uma vassoura na mão.
Eles já tinham deixado a cama arrumada. O quarto, em ordem — como se tivessem preparado tudo pra quando ela chegasse.
Parei na porta. Observei por uns instantes. Saí.
Dei três passos.
Parei.
E voltei.
Entrei. Abri a janela. Comecei a varrer — só por garantia.
Voltei pro meu quarto. Peguei um lençol que estava guardado — rosa, com desenhos de corações — e levei até lá. Troquei.
Ainda não satisfeita, voltei de novo.
Dessa vez, peguei a fronha que combinava com o lençol.
E meu perfume.
Arrumei tudo.
Borrifei o perfume no lençol. Leve. Quase imperceptível.
Depois, no travesseiro.
E por último… pelo quarto.
Pronto.
Minha parte estava feita.
Por mais que eu a odiasse… ela não poderia dizer que não foi bem recebida.
Apesar de tudo, meus pais me deram educação.
E só por isso… fiz tudo aquilo.
Eu acho.
Quando me dei conta, já passava das seis horas — e começava a anoitecer.
Sentei no sofá pra descansar um pouco.
E acabei cochilando.
Acordei no susto.
Meu celular vibrava — era minha mãe ligando.
— Oi, filha. A Nathália já chegou? Ela disse que chegaria por volta das sete.
— Não, mãe. Ainda não — respondi, enquanto me levantava do sofá.
Nos despedimos.
Larguei o celular no sofá e fui correndo pro meu quarto.
Peguei minha calcinha preta — pequena, mas eu gosto.
Meu pijama cor de rosa.
Minha toalha.
E fui pro banheiro.
Sim. Sem sutiã.
É assim que sempre durmo.
No chuveiro, eu estava claramente tensa.
Sabia que ela podia chegar a qualquer momento.
O som da água caindo.
O barulho da chuva batendo no telhado — de novo.
Tudo isso me apavorava.
Porque, se ela chegasse… eu não ouviria.
Mas, aos poucos, a água quente foi me acalmando.
Ensaboei o corpo todo. Lavei o cabelo.
E, por rotina — só por rotina — peguei meu aparelho e comecei, lentamente, a me depilar.
Cuidadosamente.
Minha tensão era tanta que, quando um trovão soou lá fora, levei um susto — e me cortei.
Nada grave.
Só um pequeno corte.
Na parte interna da coxa.
Perto da virilha.
Terminei o banho rápido.
Sequei o corpo.
Fui até a gaveta, peguei um curativo pequeno e colei no corte.
Depois, ainda no banheiro, sequei o cabelo.
Joguei a roupa que estava usando no cesto de sujos.
E voltei pro meu quarto.
Sozinha.
Molhada.
Tremendo.
No meu quarto, parei em frente ao espelho.
Fiquei me observando — como quem se autoadmira… ou como quem procura algo errado.
Inconscientemente, eu parecia me preparar.
Ou me preocupar.
Com alguma coisa.
Era como se fizesse tudo aquilo sem perceber que fazia.
Fui olhar as horas no celular.
E foi nesse momento que congelei.
Esqueci meu celular no sofá. Antes do banho.
Saí do quarto. Caminhei em direção à sala.
E então —
Ouvi.
O barulho da porta de entrada batendo.
Era ela.
Minha prima.
Depois de dois anos… estávamos perto.
Na mesma casa.
Sob o mesmo teto.
Só algumas paredes nos separavam.
Travei.
Fiquei parada. Alguns segundos.
Um frio na barriga.
Pernas levemente bambas.
Voltei pro quarto.
Fechei a porta — devagar, como se o barulho pudesse me entregar.
Deitei na cama.
E fiquei ali.
Esperando.
Como quem não quer ser responsável… por nada do que acontecer dali em diante.
Estava eu, agora deitada, só com a luz do abajur ao lado da cama acesa.
O barulho forte da chuva na rua.
E uma tensão disfarçada de silêncio dentro de casa.
Alguns minutos depois, ouvi passos.
E consegui ver uma sombra passando pelo corredor — por baixo da porta.
Era ela.
Provavelmente indo até o quarto dos meus pais.
Minutos depois, ela voltou.
Dessa vez, em direção à sala. Ou à cozinha.
Saber que ela estava ali me trazia emoções fortes — boas e ruins.
Mas, por causa do meu orgulho, eu só pensava nas coisas ruins que ela havia me feito.
Pra não correr o risco… de ter uma recaída.
E perdoá-la.
Continuei ali, na cama. Deitada. Sem muito o que fazer.
Foi então que ouvi passos de novo.
E dessa vez — vi sua sombra parada.
Do lado de fora.
Em frente à porta do meu quarto.
Ela hesitou. Alguns segundos.
Como quem pensa se deve mesmo fazer aquilo.
E então — bateu. Leve.
Como quem me chama.
Meu coração disparou.
Gelei.
Mas não respondi.
Ela insistiu.
Dessa vez, bateu de novo — e chamou pelo meu nome:
— Camille, você está aí? Toma seu celular. A tia tá ligando.
Depois de tanto tempo… eu ouvi sua voz.
Doce. Aconchegante. Calma.
E, notavelmente… cheia de medo. E insegurança.
Seu perfume — mesmo ela estando do outro lado da porta — já começava a pairar no ar.
Leve. Quase imperceptível.
Mas inconfundível.
Criei coragem.
Levantei da cama.
Caminhei até a porta.
Coloquei a mão na maçaneta.
Mas não consegui abrir.
De um lado — eu.
Do outro — minha prima.
Aquela que tanto amei.
Ou… ainda amo.
Um caminhão de saudade.
Um oceano de ódio.
Tudo misturado.
Tão perto.
Devagar, fui girando a maçaneta.
Abrindo a porta — só um pouquinho.
O suficiente pra caber meu braço. Minha mão.
Estiquei o braço pra fora — esperando que ela colocasse o celular na palma da minha mão.
Ela não fez nada.
Continuou parada.
Como se esperasse… algo mais.
Levemente, inclinei a cabeça — pra olhar pela fresta.
E então — inevitavelmente — depois de anos…
Meu olhar cruzou com o dela.
Foram frações de segundo.
Mas pareceram uma eternidade.
Tanta coisa… que podíamos ler. E sentir. Uma na outra.
Naquele único olhar.
— Me dá logo — disse, fixando meus olhos nos dela.
Como quem está sem paciência.
Como quem não quer papo.
Com o coração acelerado e a garganta seca.
Ela não precisou falar nada.
Nem uma palavra.
Só sorriu.
Enquanto me olhava nos olhos.
Um sorriso genuíno.
Daqueles que escapam — porque o coração não aguenta guardar.
Seus olhos brilharam.
Aquilo me desmontou.
Senti tontura — rápida, quente, como um golpe de ar.
Sua presença. Sua voz. Seu perfume. Seu sorriso…
Tudo junto. Tudo agora.
Quando me recuperei — se é que me recuperei — apenas peguei o celular da mão dela. Rápido.
E fechei a porta.
Meu coração parecia querer sair pela boca.
Virei de costas.
Escorei na porta — como se precisasse dela pra me segurar.
Fiquei ali.
Assimilando.
Tremendo.
E senti — senti — que ela ainda estava do outro lado.
Parada.
Respirando.
Talvez sorrindo de novo.
Então — ouvi sua voz.
Baixa. Quase um sussurro.
Enquanto ela se afastava:
— De nada, então.
Eu fiquei sozinha ali, lutando contra meus pensamentos, minhas vontades, sofrendo calada.
Ela parecia não carregar nada. Nenhum peso. Nenhuma culpa.
Enquanto eu ainda sentia o gosto de sangue na boca — daquele dia na praça —, ela sorria como se tivesse acabado de ganhar um doce.
Talvez tenha sido fácil pra ela.
Talvez ainda seja.
Agora, já sentada no chão, com as costas escoradas na porta, fiquei ali remoendo e assimilando tudo.
O celular vibrou no chão — tão perto que quase encostava na minha coxa.
Congelei.
Não era meus pais. Eu saberia. Eles mandam áudio. Ela... ela manda mensagem curta. Seis letras, no máximo.
Mas eu olhei mesmo assim.
E me odiei por isso.
“Feliz que você me desbloqueou. Eu tava com saudade de ver sua foto, seu rosto.”
Uma pausa. Depois, a segunda mensagem:
“Não que eu não veja todo dia — tem uma colada no espelho do meu armário. Mas você sabe... não é a mesma coisa.”
Abri o WhatsApp. Ela ainda estava online — provavelmente lendo minha reação em tempo real.
Visualizei. Bloqueei. Joguei o celular longe.
Cinco segundos depois, peguei de volta. Desbloqueei. Comecei a digitar.
Antes que eu terminasse, ela mandou:
“kk”
Um riso. Só isso.
Meus dedos travaram. Meu estômago encolheu. Como se ela tivesse me dado um tapa — de novo.
Mas dessa vez, sem levantar a mão.
Terminei minha mensagem — e enviei sem reler:
“Você acha que eu não lembro?
Lembra do gosto de sangue na minha boca? Do seu joelho no meu pulso? Do seu sorriso depois?
Você não tem o direito de fingir que nada aconteceu.
E eu não tenho obrigação de fingir que esqueci.
Nathália não me respondia mais depois disso. Permanecia online, provavelmente na sala, com o celular na mão — e eu ali, no chão do meu quarto, encostada na porta, tentando não ouvir o som da minha própria respiração.
Sua resposta não veio pelo celular.
Veio pela voz.
— Você quer conversar sobre isso? — perguntou, do outro lado da porta. Mansa. Doce. Como quem oferece veneno em xícara de porcelana.
— Sai daqui — respondi, tentando segurar o choro. Não sabia se era de raiva. De tristeza. De medo.
— Não precisa ser assim, Mille. Você tá levando isso pra um patamar que não precisa.
Meu sangue ferveu. Minhas unhas cravaram na madeira da porta.
— Você sabe por que eu fiz, Mille. Sempre soube.
— E não me arrependo.
— Aliás... ele beijava mal. Você merecia alguém melhor.
Foi como se alguém tivesse jogado gasolina no fogo.
Abri a porta.
Chorando. Tremendo. Com os olhos cheios de ódio — e alguma coisa que eu não conseguia nomear.
Ela estava ali. Calma. Como se estivesse esperando. Como se soubesse que eu ia ceder.
— Você nem merece o ar que respira — disse, enquanto lhe empurrei com força.
— Eu odeio seu jeito de tentar resolver as coisas, idiota — ela respondeu, levantando a mão e vindo para o quarto, em minha direção — como se fosse me dar um tapa.
Antes que ela terminasse o movimento, eu agarrei seu pulso. Apertei. Com força.
— Você não vai me bater de novo. Eu não sou a mesma idiota de antes.
Empurrei-a contra a parede. O barulho foi abafado pela chuva — mas o olhar dela... não.
— Eu não quero te machucar de novo — disse ela, me encarando. Desafiadora. Quase... convidativa.
— Você nem conseguiria — respondi, com os dentes cerrados.
Ela sorriu. Um sorriso pequeno. Quase imperceptível.
E então — veio.
Lentamente. Um passo. Depois outro. Até que só um palmo separava nossos corpos.
Senti seu calor. Seu cheiro. Sua respiração batendo no meu pescoço.
— E aí — ela sussurrou —, qual é o próximo menino que eu vou ter que beijar pra você perceber que não serve pra você?
Perdi.
Totalmente.
Agarrei seu pescoço. Levei-a até a cama. Empurrei seus ombros — e ela caiu de costas, sem resistir. Como se estivesse esperando.
— Vadia! — gritei, me jogando em cima dela. Meu quadril pressionando o dela. Meus pulsos prendendo os dela. Meus olhos queimando nos dela.
— Eu vadia? — ela riu, alheia. — Não foi eu quem quis beijar o menino. Fui eu quem beijou... mas não fui eu quem quis.
Meu corpo estava em chamas. O dela também. Suor. Calor. Perfume misturado. Respiração ofegante.
Meus olhos desceram até seus seios — sem permissão.
E lá estavam.
Duros. Visíveis. Marcando o tecido da blusa como se quisessem sair.
Meu corpo reagiu antes da minha mente: um calor subiu da minha barriga tomando conta de todo o resto. Minha boca secou. Meu quadril pressionou o dela — sem querer...
— Saí daqui — murmurei, com uma lágrima escorrendo pelo meu rosto, caindo na blusa dela. — Não quero passar por tudo isso de novo.
Ela me encarou. Lábios entreabertos. Pele quente. Olhos brilhando — não de medo. De... alguma coisa pior.
Então — ela se moveu.
Jogou o quadril pra cima. Contra o meu. Uma vez. Depois outra.
— É sério — sussurrou, com a voz trêmula —, saí. Por favor.
Empurrei-me para o lado. Ela se levantou. Ajeitou a blusa. Não olhou pra mim.
E saiu.
A porta não fechou direito. Ficou entreaberta — como sempre.
E o cheiro dela... ficou.
Grudado na minha pele. Na minha cama. No meu ar.
Como se ela tivesse deixado um pedaço de si aqui — de propósito.
Ou por acidente.
Eu não sei.
E talvez... eu não queira saber.