O Sabor De Uma Doce Vingança! Cap.18 Segunda Temporada

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 2302 palavras
Data: 02/08/2025 14:21:11
Assuntos: Gay

O sol ainda era só uma promessa no horizonte quando saímos de casa. O céu tinha aquele tom azul desbotado de antes do amanhecer, e o ar cortava a pele como uma lâmina fria. O som dos nossos passos era o único que ecoava pela trilha de terra batida que serpenteava entre as árvores.

Arthur corria ao meu lado. O ritmo dele era estável, firme. Ombros largos, braços bem marcados, e aquele corpo que parecia ter sido esculpido com raiva. O suor já começava a brotar da testa dele, molhando a gola da camiseta justa que desenhava cada músculo do peito.

Por alguns minutos, corremos em silêncio. Eu tentava manter o ritmo, mas ele era mais rápido. Aos poucos, começou a se afastar. Quando ele me ultrapassou de vez, tive a visão completa da traseira da bermuda que eu havia lhe emprestado subindo e descendo no compasso da corrida.

E eu encarei. Sem pudor. Sem culpa. Aquela bunda... redonda, firme, deliciosa até no jeito que se movia. Tão suculenta que eu murmurei, meio ofegante, entre um suspiro e outro:

— Eu ainda vou querer experimentar isso aí... ah, se vou...

Sorri sozinho, mesmo sem ele escutar. Era loucura. Eu sabia. Mas com Arthur, tudo era sempre entre a loucura e o desejo. Entre o proibido e o inevitável.

Seguimos até o riacho. A água corria preguiçosa entre as pedras, refletindo o laranja pálido que começava a nascer no céu. Arthur parou na beira, curvou-se, jogou água no rosto e depois se endireitou. A respiração dele era pesada, os músculos do peito subindo e descendo.

Me aproximei devagar, ainda ofegante. Ele olhou pra mim, o olhar meio cansado, meio perdido, e fez um gesto inesperado: puxou minha cabeça com uma das mãos e encostou no peito dele.

Fiquei ali.

A princípio, sem saber o que fazer. Mas depois... me entreguei. Senti o cheiro do suor — não aquele suor ruim, mas aquele cheiro de corpo quente, vivo, viril. Os batimentos do coração dele martelavam contra minha orelha, e algo naquele som me acalmava. Era como se eu tivesse encostado a cabeça num tambor de guerra que, pela primeira vez, tocava uma música de paz.

Mas ao mesmo tempo, minha mente virou um redemoinho.

Porque aquilo não era só físico. Não era só desejo. Era medo. Era entrega. Era um tipo de carinho que a gente não sabia se merecia.

Ali, com a cabeça no peito gigantesco de Arthur, entre o suor e a confusão, eu senti algo que há muito tempo não sentia: pertencimento.

Mas também senti pânico.

Porque quando a gente encontra paz em algo tão instável, tão perigoso, tão carregado de não-ditos... a gente começa a se perguntar se está mesmo se apaixonando ou se só está cansado demais da guerra.

Arthur passou a mão devagar pelas minhas costas, como quem não tinha pressa pra soltar. E eu fiquei ali.

Em silêncio.

Tentando entender se aquilo era o começo de algo... ou só mais uma pausa antes do próximo caos.

— Pedro... você tá me deixando maluco, sabia? — falou baixo, como se fosse um segredo.

— Maluco bom ou maluco ruim? — brinquei, com a voz meio trêmula.

— Não faço ideia! — respondeu, e me beijou.

Um beijo calmo, cheio de carinho, como se ele quisesse me dizer com os lábios tudo aquilo que nunca conseguia com palavras. Fiquei sem chão.

— Agora bora, antes que eu te jogue dentro desse riacho — ele disse, rindo.

— Você que não aguenta, Arthur.

— É… talvez mesmo não.

Voltamos a correr, um empurrando o outro, rindo como dois meninos que tinham acabado de descobrir o amor.

Quando chegamos em casa, os dois suados e ofegantes, largamos os tênis na entrada. Eu me encostei na parede e olhei pra ele, que já estava tirando a camisa.

— Vai tomar banho comigo? — perguntei.

Arthur levantou a sobrancelha.

— Você me convida como se eu fosse recusar.

Entramos juntos no banheiro. A água quente batia nas costas enquanto nossos corpos se procuravam de novo. Os toques eram urgentes no começo, mas logo viraram carinho, cumplicidade, desejo que não precisava se esconder.

Fizemos amor ali, no calor do chuveiro, como se o mundo não existisse do lado de fora. E por um tempo, ele realmente não existiu.

Depois, enquanto Arthur se vestia no quarto, eu fui até a cozinha preparar o café. Cortei o pão, passei a manteiga com calma e enchi a caneca azul preferida dele. Quando ele apareceu, já de farda, parado na porta, fiquei um tempo só admirando.

— Que foi? — ele perguntou, sorrindo.

— Nada não. É que você tá bonito demais com essa farda aí.

— Você fala como se eu não ficasse bonito sempre.

— Modesto, né?

— Só realista.

Coloquei o café na frente dele e sentei junto.

— Aqui, café forte, do jeito que você gosta.

Ele pegou a xícara e deu um gole.

— Melhor do que o da delegacia, com certeza. Obrigado, Pedro.

— Por quê?

— Por isso aqui... por você. Por tudo. Eu me sinto em casa aqui.

— Que bom. Porque é isso mesmo que eu quero que você sinta.

Ele se levantou e pegou o capacete da moto.

— Pronto pra ser meu motoboy particular?

— Só porque é você.

Saímos juntos e eu o deixei na frente da delegacia. Ele desceu da moto, mas antes de entrar, virou e me surpreendeu com um selinho rápido, um gesto simples que me deixou com o coração batendo mais alto do que no começo da corrida.

— Te vejo mais tarde, Pedro.

E entrou, deixando o cheiro do café e o calor do beijo preso em mimPassou um mês. Um mês intenso. De acertos, erros, ajustes no cardápio, organização da equipe e principalmente de silêncio. Silêncio entre mim e Arthur.

Depois daquelas semanas em que... enfim, nos aproximamos demais, tudo esfriou como um sorvete de limão no congelador. Não sei se ele se afastou por medo, se por escolha... ou se foi só mais uma armadilha da vida. Mas uma coisa eu sabia: hoje não era dia pra pensar em Arthur. Hoje era dia da reinauguração da minha sorveteria. E nada podia dar errado.

Cheguei cedo. O céu ainda tava meio acinzentado, mas a brisa trazia aquele cheirinho bom de coisa nova. As placas brilhando, os bancos pintados, e até um toldo novo colorido que o Flávio sugeriu e eu acabei aceitando, mesmo achando meio chamativo demais.

— É hoje, hein! — gritou Flávio do lado de dentro, já ajeitando as mesinhas com uma energia contagiante!

— Hoje a cidade vai ver o que é sorvete de verdade.— disse Camila, nossa funcionária guerreira que passou a última semana testando receitas comigo.

Sophia entrou sorrindo, com uma caixa de fitas nas mãos.

— Vamos colocar isso na entrada? Colorido assim chama atenção.

— Você combinou com o toldo, tá bem animadinha hoje. — brinquei.

— Pedro, para de ser ranzinza. Hoje você precisa sorrir, fingir que não odeia abraços e fingir que ama gente. Vai dar certo.

Respirei fundo. Estava nervoso, claro. Mas também grato. Eu tinha ali pessoas incríveis ao meu lado. E, além disso, o cardápio estava irresistível. Sorvete de banana com doce de leite. Açaí na tigela com granola crocante. Paletas artesanais. Copos triplos. Os milkshakes com cobertura de chantilly que a cidade tanto amava. E os novos combos com café e pão doce. Tudo testado. Tudo aprovado.

Camila abriu as portas com um grito dramático:

— ABERTOOOOO!

Logo os primeiros clientes chegaram,o movimento começou devagar, mas foi crescendo. Crianças rindo com o rosto lambuzado, adolescentes postando stories, mães pedindo mais guardanapo. E no meio disso tudo, um novo rosto: Michael.

— Tá indo bem, Michael?

— Tô sim, Pedro. Mas onde você colocou a granola?

— Em cima do freezer de baixo, perto dos toppings. E relaxa, hoje ninguém vai te julgar se errar. Só não deixa cair milkshake no colo de ninguém.

Michael sorriu sem jeito, ajeitando a touca. Era novo, mas tinha jeito com gente. E uma calma que me dava uma paz estranha.

Sophia sentou ao meu lado num intervalo e tomou um gole do café gelado dela.

— Sabe o que eu percebi?

— Que esse café é forte demais?

— Não. Que você ficou mais... leve. Não no corpo. Na alma.

— Sério? Eu me sinto um liquidificador no último grau de velocidade.

Flávio apareceu logo depois, com as mãos cheias de papéis e a camisa suada.

— Isso aqui tá bombando, viu. Mas você vai ter que contratar mais um, se continuar assim.

— Mais um funcionário? Tá querendo botar o Michael pra fora já?— brinquei.

— Claro que não, Michael é top. Mas você não pode ficar preso só aqui no caixa. Vai precisar liderar, e isso não se faz contando moeda.

Eu ia responder quando senti um arrepio na espinha. Uma presença. Virei o rosto devagar.

Arthur.

Ali. Parado na entrada. De farda. Barba por fazer. E com aquele olhar indecifrável que eu já devia ter aprendido a não tentar entender.

Ele veio caminhando até mim, ignorando os olhares curiosos.

— Pedro.

— Arthur.

— Só passei pra desejar boa sorte.— disse, e me puxou pra um abraço que durou pouco, mas pareceu uma eternidade.

No calor do abraço, meu coração acelerou. O perfume dele. A textura do uniforme. E o vazio de não saber o que aquele gesto significava.

Antes que eu pudesse falar algo, Flávio se aproximou, seco.

— Arthur. Delegacia vazia hoje?- Arthur soltou o abraço e olhou pra ele, tentando manter o sorriso.

— Só vim como cidadão mesmo. Aplaudir a reinauguração.

Flávio cruzou os braços e ficou ali. Olhando. O clima ficou denso, carregado.

— Então tá. Aplaudiu, pode ir.— disse Flávio, firme, com um meio sorriso sem graça.

Arthur me olhou nos olhos. Eu quis dizer algo. Qualquer coisa. Mas nada saiu.

E então ele apenas virou e saiu andando devagar, como se deixasse um rastro de tensão atrás de si.

Fiquei ali. Com os braços ainda meio no ar. O peito apertado. E o gosto do sorvete de maracujá na boca. Agridoce.

Flávio não disse mais nada. Nem eu.

A festa seguiu. Mas aquele momento ficou preso no ar.

E eu sabia: aquilo ainda não tinha acabado. Não mesmoA noite já havia chegado, embora a sorveteria ainda estivesse com um ou outro cliente finalizando o último milkshake, minha cabeça já tinha ido embora dali fazia tempo.

Desde que Arthur apareceu, algo em mim não sossegou. O jeito que ele me olhou. O abraço rápido. A tensão no ar. Não foi só saudade, ou confusão de sentimentos. Foi alerta.

Arthur ainda tá me investigando, tenho quase certeza, mesmo que meu caso agora esteja sendo investigando por outra delegacia, ainda sinto que Arthur tá me vigiando e tentando descobrir coisas!

Pode ser ter tudo encenação. Aproximação calculada. Beijos planejados. Proximidade emocional pra colher informações. Deus, como fui burro. Um policial. Um maldito policial. Que eu já deveria ter me vingado, mas sou fraco demais pra isso!

Meu advogado,tava quase acampando no escritório, segundo ele mesmo disse.

"Pedro, se tiver mais uma ligação estranha no seu nome, eu vou precisar de um clone pra cuidar só do seu caso."

Foi o que ele mandou no último áudio, com aquele humor que só disfarçava o desespero.

E aí vem Arthur, do nada, no meio da reinauguração, com aquele uniforme brilhando, com aquele abraço que parecia mais uma marcação de território do que apoio real.

Fui pro depósito pra respirar, longe dos olhares, longe dos freezers e das perguntas.

— Pedro.

Me virei de súbito. Flávio.

Ele entrou e fechou a porta atrás de si, me olhando como se eu tivesse matado alguém.

— O que foi? — perguntei, tentando manter a voz firme.

— Você tá ficando com esse policial de merda? — ele cuspiu as palavras, seco.

Fiquei em choque. O tom dele... nunca. Nunca tinha ouvido Flávio falar comigo daquele jeito. Ele sempre foi meu amigo, meu parceiro, meu ponto de apoio nos piores dias. Mas ali, naquele momento, parecia outra pessoa. Furioso.

— Você tá maluco? Por que tá falando assim comigo?

— Porque eu tô cansado de fingir que não tô vendo o que tá acontecendo! Ele vem aqui, te abraça na frente de todo mundo, e você fica todo mexido, como se fosse normal! Ele é policial, Pedro! E não é qualquer um. É alguém que tá com o nome na sua vida! E você sabe o que isso significa!

Senti o estômago revirar.

— Eu sou livre, Flávio. Pra ficar com quem eu quiser. — falei, sentindo o sangue pulsar nas têmporas. — Não devo satisfação da minha vida pessoal a ninguém. Nem a você.

Ele deu um passo mais perto. O depósito pequeno pareceu encolher ainda mais.

— Você gosta dele? É isso? Você se apaixonou por esse cara que pode muito bem estar ferrando sua vida pelas costas?

Fechei os olhos por um segundo. Respirei. Quando abri, falei com calma, mas firme.

— Eu gosto de você, Flávio. Gosto de verdade. Você é meu amigo... as vezes meu amante na cama...meu chão às vezes. Mas você não tem direito de me tratar assim. Nem de me encurralar. Minha vida não é pra estar sendo vasculhada por ninguém além do meu advogado. E, sinceramente, você precisa se acalmar. Porque esse ciúme disfarçado de preocupação não combina com você.

Ele ficou quieto. Os olhos marejando raiva... ou talvez tristeza. Não sei.

Por um segundo, achei que ele fosse chorar. Ou gritar. Mas ele apenas virou de costas, abriu a porta devagar e saiu.

Fiquei ali. Sozinho. Rodeado por potes de ingredientes, caixas de guardanapos e um cheiro suave de baunilha que contrastava demais com o gosto amargo na minha boca.

Arthur podia estar me investigando.

Flávio estava com raiva de mim.

Meu advogado já tinha surtado duas vezes hoje.

E eu, no meio disso tudo, só queria respirar. Só queria existir sem ter que justificar cada passo que dou.

Mas parece que a vida resolveu me testar de novo. E, dessa vez, ninguém ia sair ileso.

Nem eu.

Continua...

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Comentários

Foto de perfil de Xandão Sá

meu deus, o que vem por aí? porque a tensão aponta na direção de nitroglicerina pura... ah, e eu não confio em Flavio, nunca confiei... aliás, sempre desconfiei dele.

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