O final de semana havia chegado, e com ele o tão aguardado encontro da minha turma do ensino médio na casa do Luke. Não iriam todos, apenas alguns amigos próximos tanto de mim quanto do Luke. Seria um encontro descontraído, um churrasco para conversar e relaxar. Afinal, desde que todos havíamos começado a faculdade, tínhamos perdido um pouco o contato, e esse encontro seria perfeito para reunir a turma e colocar o papo em dia.
Confesso que fiquei um pouco apreensivo. Seria novamente um evento com Carlos como meu namorado na casa do Luke, que era meu ex-namorado. Tentei não pensar nisso — afinal, o assunto Luke já era um caso meio que encerrado para mim. Eu estava feliz com Carlos, estava vivendo algo que nunca havia vivido antes, principalmente no que se referia à fidelidade que sentia por ele.
Estava me arrumando quando me olhei no espelho. Bermuda de linho verde, camisa polo preta, sandália e alguns acessórios. Me senti bonito e abri um sorriso para mim mesmo. Foi então que meu telefone tocou — era Carlos, dizendo que estava chegando e pedindo para eu descer. Passei o perfume rapidamente e desci.
Quando entrei no carro, dei um beijo rápido em Carlos e seguimos para a casa do Luke. Durante o trajeto, ele mantinha a mão na minha coxa sempre que não precisava trocar a marcha, e me puxava para beijos toda vez que parávamos em algum semáforo. Foi então que começamos uma conversa que eu sabia que teria que acontecer mais cedo ou mais tarde.
— Animado para voltar à casa do Luke? — perguntei de forma irônica, testando o terreno.
— Por que eu estaria animado? — questionou Carlos, franzindo a testa.
— A gente nunca conversou sobre o seu caso com o Luke.
— A gente não namorava na época, nem ficávamos, se você não se lembra — respondeu ele, com um tom ligeiramente defensivo.
— Claro que eu me lembro. Mas acontece que o Luke é meu ex, você era meu ex, e meus dois ex estavam juntos. Você não acha que isso é, no mínimo, estranho?
Carlos suspirou fundo antes de responder:
— E você estava com o irmão do Luke na mesma época, e nem por isso eu questionei você. O que aconteceu no passado fica no passado.
— Carlos, não estou querendo brigar — disse rapidamente, percebendo a tensão no ar. — Só queria entender por que duas pessoas que nunca se gostaram, do nada, estavam juntos.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, claramente pensando em como responder. Quando falou, sua voz estava mais baixa, mais sincera:
— Bom, eu não vejo problema em admitir... o Luke é gostoso, é bonito, e simplesmente aconteceu. Confesso que, no fundo, parte de mim queria te provocar, sabe? Mas sei lá, foi algo que simplesmente rolou. Só que não fomos para frente porque o Luke é complicado demais... — ele fez uma pausa e me olhou de soslaio
— E, bem, eu sempre fui afim de você. Sempre quis você, essa é a verdade.
Senti meu peito apertar um pouco, mas de uma forma boa.
— Tudo bem — respondi, tentando soar casual.
— Devo me preocupar com o Luke? Ou com alguma coisa? — perguntou Carlos, agora com um tom mais sério, vulnerável até.
Segurei firme na mão dele que estava na minha coxa e o olhei nos olhos:
— Óbvio que não, né? Eu não sinto mais nada pelo Luke. Eu só tenho olhos para você, Carlos. É com você que eu estou, e é com você que eu quero estar.
Ele me puxou para um selinho mais demorado, só parando quando o semáforo ficou verde.
— Bom saber — sussurrou contra meus lábios. — Sabe, dessa vez eu sinto que realmente tudo é diferente entre eu e você. Sei lá, você está muito na minha cabeça pela primeira vez, e isso é bom. Fora que também confio 100% em você.
Essas palavras fizeram meu coração acelerar. Era a primeira vez que Carlos se abria tanto comigo, que mostrava essa vulnerabilidade.
A conversa seguiu nesse tom mais íntimo até chegarmos na casa do Luke. Quando chegamos, já havia alguns amigos na área de lazer do Luke. Cumprimentei Luke normalmente, trocamos um abraço educado, e tudo certo — sem grandes "sentimentos", eu diria. Logo fui encontrar meus amigos: Taty, Yan, Isaac. Ficamos conversando em nossa roda habitual.
Passamos a tarde bebendo, comendo e colocando o papo em dia. Carlos também estava na nossa roda de conversa, assim como Luke, mas todo o ambiente era leve, sem aquela tensão que eu tanto temia. Sem troca de farpas, sem olhares carregados, sem nada do tipo.
Confesso que me preocupei à toa. Quando tudo saiu perfeitamente bem assim, percebi como estava diferente — como eu estava diferente. Era bom rever e conversar com todos os meus amigos, mas o melhor de tudo era saber que, dessa vez, eu estava ali completamente presente, sem fantasmas do passado me assombrando.
Alguns dias passaram e durante esse tempo nada demais aconteceu. Na faculdade, o Matias e o Raul agiam normalmente comigo, mas o Raul estava um pouco distante, evitando ficar sozinho comigo. Eu contava tudo para o Matias, que havia se tornado meu novo melhor amigo, e muitas vezes o Raul tinha algumas atitudes suspeitas ou estranhas, que a gente questionava quando estava somente eu e o Matias.
Por exemplo, o Raul nunca deixava ninguém levá-lo em casa, às vezes ele sumia, demorava a responder mensagens e algumas vezes mentia sobre coisas bestas. Eu e o Matias trocávamos olhares, mas não questionávamos ele diretamente, afinal ele era nosso amigo, e éramos um trio inseparável.
Naquela semana tive uma surpresa. O Carlos me ligou quando eu estava saindo da minha última aula da sexta-feira:
— Oi amor, temos uma mudança de planos para hoje à noite — disse o Carlos.
— Ué, não vamos mais ao cinema?
— Não, meus pais querem jantar com a gente.
— Seus pais? Que jantar é esse? Alguma comemoração específica?
— Sim, nosso namoro!
— Carlos? Como assim?
— Ah Lucas, eles já sabem sobre a gente. Apesar daquela briga com meu pai e da surra que ele me deu quando acabamos aquela vez, agora é diferente. Eles estão notando que eu estou mais feliz, mais vivo, e eu abri o jogo sobre o nosso namoro. Minha mãe mandou te chamar pra jantar.
— Carlos, não acredito nisso, tô morto de vergonha.
— Vergonha por quê? Você já jantou comigo e meus pais mil vezes. A diferença é que você deixou de ser meu melhor amigo para ser meu namorado.
— E seu pai? Aceitou tudo isso numa boa?
— Meu pai sabe, Lucas, e você sabe muito bem disso. Só que agora não preciso mentir, e nem quero mentir. Como eu disse, eles me aceitam e aceitam nosso namoro. É um passo que estamos dando, e meu pai é muito amigo do seu pai, logo seu pai também vai aceitar nosso namoro, e assim vamos viver felizes para sempre.
— Ai Carlos, não viaja, por favor. Juro, estou com vergonha, nunca tive um jantar assim e não esperava por isso.
— Então se arrume, vamos pro Manary, aquele restaurante na orla. Se vista bem, que eu te pego às 20h.
— Tudo bem, tudo bem! Não vou fugir.
— Por isso que te amo, sabia?
— Também te amo.
E então desligamos. Confesso que me deu um frio na barriga e um filme passou pela minha cabeça diante de tudo que havia acontecido, principalmente comigo e o tio Augusto. Mas como o Carlos disse, tudo era diferente agora. Eu também pensei na fala do Carlos: "você sabe muito bem que o meu pai sabe sobre a gente". Será que o Carlos sabia que eu e o tio Augusto havíamos transado? Era algo que pensei em perguntar, mas não queria adentrar nesse assunto.
Fui para casa, tomei um banho e me arrumei. Estava um pouco tenso, mas decidi relevar. Afinal, o Carlos tinha razão, eu já havia estado com seus pais mil vezes, só que agora era diferente. Eu não era o melhor amigo, eu era o namorado. E bom, isso seria bom, pelo menos era o que eu esperava.
Pontualmente às 20h o Carlos chegou. Entrei no carro, ele estava lindo. Trocamos um beijo e fomos para o restaurante. Quando chegamos, tia Aline e tio Augusto já estavam lá, ambos lindos como sempre.
Tia Aline me deu um abraço e um beijo no rosto:
— Lucas, querido! Como você está? Que bom te ver aqui conosco dessa forma.
— Oi tia Aline, estou bem, obrigado. Um pouco nervoso, confesso — respondi com um sorriso tímido.
— Nervoso? Mas por quê, meu filho? Você é praticamente da família — ela disse, apertando minha mão carinhosamente.
O tio Augusto se aproximou e me cumprimentou com um aperto de mão firme, mas nossos olhos se encontraram por alguns segundos a mais do que seria normal:
— Lucas, que bom você estar aqui. Carlos não para de falar de você — disse ele, com aquele sorriso que eu conhecia tão bem.
— Obrigado, tio Augusto — respondi, tentando manter a compostura, mas sentindo meu coração acelerar ligeiramente.
Nos acomodamos à mesa. O Carlos ficou ao meu lado, e tia Aline e tio Augusto à nossa frente. O ambiente estava acolhedor, com velas na mesa e uma vista linda para o mar.
— Então, Lucas — começou tia Aline, sorrindo — o Carlos nos contou que vocês estão namorando há algumas semanas. Estamos muito felizes por vocês dois.
— Obrigado, tia Aline. Eu também estou muito feliz — respondi, sentindo o Carlos apertar minha mão por baixo da mesa.
— Vocês sempre foram tão próximos — continuou ela — que na verdade não foi uma grande surpresa para nós. Não é mesmo, Augusto?
Tio Augusto assentiu, mas percebi um leve tensionamento em sua expressão quando nossos olhos se cruzaram novamente:
— Sim, sempre foram inseparáveis. É natural que essa amizade tenha se transformado em algo mais profundo — disse ele, tomando um gole do vinho.
— Pai, você não imagina como o Lucas me faz feliz — disse Carlos, passando o braço por trás da minha cadeira — Ele me entende de um jeito que ninguém mais entende.
— Isso é o mais importante, filho — respondeu tio Augusto — Ser compreendido e aceito por quem amamos.
Havia algo na forma como ele falou essas palavras, olhando diretamente para mim, que fez meu estômago se revirar. Era como se ele estivesse falando sobre nós dois, não sobre mim e Carlos.
— E você, Lucas? — perguntou tia Aline — Como se sente em relação a essa nova fase com o Carlos?
— Eu me sinto... completo — respondi, olhando para Carlos — Ele sempre foi especial para mim, e agora poder demonstrar isso livremente é incrível.
Carlos sorriu e segurou minha mão sobre a mesa. Naquele momento, por um instante, esqueci de toda a tensão e me permiti ser feliz.
— Brindemos então — disse tio Augusto, erguendo sua taça — Ao amor verdadeiro e à coragem de vivê-lo.
Todos erguemos nossas taças. Quando brindarmos, os olhos do tio Augusto encontraram os meus mais uma vez, e dessa vez o olhar durou tempo suficiente para que eu sentisse aquela familiar onda de calor subir pelo meu corpo. Carlos estava tão concentrado no momento que não percebeu a troca intensa de olhares entre eu e seu pai.
— Augusto — disse tia Aline, tocando no braço do marido — você está bem? Parece meio distante hoje.
— Estou ótimo, amor — ele respondeu rapidamente, desviando o olhar de mim — Só pensativo. É um momento importante para nossa família.
O jantar continuou com conversas sobre faculdade, planos futuros e histórias engraçadas da infância de Carlos. De vez em quando, Carlos segurava minha mão ou passava a mão na minha perna por baixo da mesa, gestos carinhosos que seus pais viam com aprovação. Mas eu sentia o peso constante do olhar do tio Augusto sobre mim.
Quando ele se levantou para ir ao banheiro, nossos olhares se cruzaram mais uma vez. Desta vez, havia algo diferente em seus olhos - uma mistura de desejo reprimido e... culpa? Meu coração disparou, e eu tive que me concentrar na conversa para não demonstrar o que estava sentindo.
— Lucas, você mal tocou no seu prato — observou tia Aline — Está tudo bem?
— Ah, desculpa tia Aline, estou um pouco nervoso ainda. Mas está tudo delicioso — menti, tentando comer um pouco mais.
— Amor, relaxa — disse Carlos, apertando minha mão — São só meus pais. Eles te adoram.
Quando tio Augusto voltou, se sentou e imediatamente nossos olhos se encontraram. Desta vez, ele não desviou. Havia uma intensidade ali que me fez engasgar com o vinho. Carlos bateu nas minhas costas:
— Calma, Lucas. Está tudo bem?
— Sim, sim, desculpa — consegui dizer, limpando a boca com o guardanapo.
O resto do jantar passou em uma névoa de tensão sexual não resolvida entre mim e tio Augusto, intercalada com momentos genuínos de felicidade ao lado do Carlos. Quando finalmente chegou a hora de ir embora, todos nos levantamos.
Tia Aline me deu um abraço apertado:
— Foi maravilhoso jantar com vocês assim. Espero que isso se torne uma tradição.
— Eu também espero, tia Aline. Obrigado por tudo — respondi, genuinamente tocado pela recepção calorosa.
Tio Augusto se aproximou para se despedir. Quando me abraçou, senti seu corpo tenso contra o meu, e ele sussurrou bem baixo no meu ouvido:
— Precisamos conversar.
Meu sangue gelou, mas consegui apenas acenar levemente. Carlos não percebeu nada, ocupado se despedindo da mãe.
No caminho para o motel, Carlos dirigia feliz, falando sobre como havia sido perfeito o jantar. Eu concordava e sorria, mas minha mente estava completamente focada nas palavras do tio Augusto. O que ele queria conversar? Será que Carlos realmente não sabia de nada sobre nós dois?
No motel, Carlos me beijou com uma paixão renovada:
— Você viu como meus pais aprovaram nossa relação? Agora podemos ser felizes de verdade — disse ele, me pressionando contra a parede.
E ali, nos braços do Carlos, tentei esquecer os olhares intensos de seu pai e me entregar completamente ao momento. Mas no fundo da minha mente, as palavras do tio Augusto ecoavam: "Precisamos conversar". E eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, essa conversa aconteceria.
A noite com o Carlos foi incrível como sempre. Nosso sexo sempre intenso, cheio de desejo e de fogo, com uma paixão que parecia nos consumir por completo. Ficamos acordados até quase 5h da manhã, explorando cada centímetro do corpo um do outro, sussurrando palavras de amor entre gemidos de prazer. Tiramos um cochilo rápido e depois fomos para minha casa.
O Carlos foi passear com o Thanos, e eu fiquei deitado na minha cama, ainda sentindo o cheiro dele no meu corpo, fiquei respondendo algumas mensagens. Tinha uma do Matias me chamando para sair à noite - ia ter uma festa de funk que adorávamos frequentar.
— Cara, vai ter aquela festa de funk no CN hoje. Bora? — havia escrito ele.
Topei na hora. Quando o Carlos voltou do passeio, suado e sorrindo, com o Thanos ofegante ao lado, chamei ele para a festa.
— Amor, que tal uma festa de funk hoje à noite? O Matias vai e tal.
— Claro! Faz tempo que não saio para dançar funk — respondeu ele, se aproximando para me dar um beijo — Vai ser legal conhecer seus amigos da faculdade melhor.
Passamos o resto do dia pela minha casa. Meu pai tinha viajado com meu irmão para visitar uns parentes no interior, então eu estava com a casa o final de semana todo só pra mim e pro Carlos. Ele fez uma massa incrível para o almoço, caprichando no molho como só ele sabia fazer. Assistimos filmes à tarde, deitados no sofá, eu com a cabeça no colo dele enquanto ele brincava com meus cabelos. Namoramos ali mesmo, beijos lentos e carícias suaves, sentei no seu pau que estava duro, e transamos de forma lenta, sem pressa, até ele gozar dentro de mim, depois fomos para o meu quarto e dormimos abraçados.
Quando acordamos, já era quase oito horas da noite. Tinha algumas mensagens no celular. Respondi o Matias e chamei ele para fazer um esquenta na minha casa, para a gente já chegar no grau na festa.
— Perfeito, cara! Vou me arrumar e vou aí — ele respondeu rapidamente — O Raul também vai tmb, beleza?
— Tranquilo, quanto mais melhor.
Seria o primeiro evento com meus amigos da faculdade junto com o Carlos, e eu estava feliz por finalmente integrar eles ao meu namorado. O Carlos também chamou dois amigos da sua sala que eram gays e iriam para a mesma festa - Samuel e Haroldo, dois meninos que eu já havia visto algumas vezes e que eram lindos de morrer.
Tomei um banho com o Carlos, onde trocamos beijos molhados e carícias que quase nos fizeram perder a noção do tempo, como o Carlos havia me comido de tarde, foi a minha vez de meter nele, mas não meti de forma lenta, fui bruto, pq sabia que ele adorava quando eu era bruto comendo ele. A água quente escorrendo pelos nossos corpos enquanto suas mãos exploravam cada curva da minha pele.
— Sou viciado nesse seu rabo, sabia? — sussurrei no ouvido dele.
— Queria passar a noite com você me enrabando. — ele respondeu, mordiscando meu pescoço.
— Não seria uma má ideia.
Mas conseguimos nos controlar. Quando deu 21:30, o Matias chegou com sua energia contagiante de sempre.
— Eaí, meu irmão! — ele disse, me abraçando forte — Cadê esse namorado famoso?
Conversamos, colocamos alguns clipes para passar na TV, e apresentei o Carlos ao Matias formalmente.
— Então você é o famoso Matias que o Lucas não para de falar — disse Carlos, estendendo a mão com um sorriso genuíno.
— E você é o Carlos que roubou o coração do nosso Lucas — respondeu Matias, apertando a mão dele — Cara, vocês combinam mesmo. Dá pra ver que vocês se amam só de olhar.
Logo chegaram os dois amigos do Carlos. Samuel era moreno, alto, com um sorriso que iluminava o ambiente, e Haroldo era mais baixo, loiro, com olhos azuis penetrantes. Ambos eram lindos, não deixei de olhar e admirar.
— Gente, que casa linda! — disse Samuel, olhando ao redor — E que cheiro gostoso. Vocês cozinharam?
— O Carlos que é o chef aqui — respondi, passando o braço pela cintura dele.
Por último chegou o Raul, que parecia meio estranho, mais quieto que o normal.
— Raul! — chamei ele — Vem cá, quero te apresentar pro Carlos e os meninos.
Fiz as apresentações, mas notei que o Raul ficou meio travado ao cumprimentar o Carlos. Vez ou outra notava o Raul olhando para o Carlos, e depois para mim, com uma expressão que eu não conseguia decifrar. Parecia... inveja? Desejo? Eu não sabia.
A gente bebia e dançava alguns funks da época. O FitDance era meio que a moda do momento, e todo mundo sabia pelo menos alguns passos básicos.
— Gente, vamos dançar! — gritou Samuel, aumentando o volume da música.
O Carlos dançava e rebolava de uma forma sensual que me deixava completamente hipnotizado. Cada movimento do quadril dele, cada gesto sensual, fazia meu coração acelerar. Eu observava e arriscava alguns passos também, mas claramente ele era muito melhor que eu.
— Vai, Lucas! Rebola essa bunda! — gritava Matias, rindo e dançando ao meu lado.
Haroldo se aproximou do Carlos e eles começaram a dançar juntos, fazendo uma coreografia improvisada que deixou todo mundo babando. Eu senti um leve ciúme, mas logo passou quando o Carlos veio até mim e me puxou para dançar colado nele.
— Só tenho olhos para você, amor — sussurrou no meu ouvido, fazendo meu corpo inteiro se arrepiar.
Bebemos até às 23:30, todo mundo já estava bem animado, e então fomos para a balada. Fomos em dois Ubers - eu, Carlos e Matias em um, e Raul, Samuel e Haroldo no outro.
— Cara, seus amigos são demais — disse Carlos no caminho — E o Matias é exatamente como você descreveu. Ele é muito divertido.
— E o Raul? — perguntei, querendo saber sua impressão.
— O Raul... ele parece meio estranho. Não sei, tem algo nele que não consigo entender.
Quando chegamos na festa, já estava lotado. O funk tomava conta de todo o ambiente, as luzes vermelhas piscavam no ritmo da música, e havia uma energia sexual no ar que era quase palpável. Encontramos alguns conhecidos, tanto do LEI quanto da faculdade. A pista estava fervendo de gente suada dançando grudado.
Eu e o Carlos estávamos bebendo bastante, já que nenhum de nós estava dirigindo. Aproveitamos para nos soltar completamente. Dançávamos colados, ele passava as mãos pelo meu corpo enquanto rebolava, e eu o segurava pela cintura, sentindo cada movimento dele contra mim.
— Você está me deixando louco — gritei no ouvido dele por causa da música alta.
— Essa é a intenção — ele respondeu, mordendo meu lóbulo da orelha.
Os meninos estavam todos se divertindo também. Samuel havia encontrado um cara e estava dançando com ele numa pegação intensa. Haroldo conversava com umas meninas no bar. Matias dançava no meio de um grupo, sendo o centro das atenções como sempre.
As horas passaram voando. Bebíamos, dançávamos, beijávamos, e o ambiente só esquentava mais. Já era quase 5h da manhã e o sol já queria amanhecer quando percebi que estava há um tempo sem ver o Carlos.
Estávamos no corpo da varanda do bar, um espaço mais reservado onde o som era um pouco mais baixo. Olhei ao redor procurando meu namorado e não o encontrei. Também não via o Raul em lugar nenhum.
Meu estômago se contraiu. Um estalo surgiu na minha mente, uma intuição ruim que eu não conseguia ignorar. Algo estava errado.
— Matias! — gritei para meu amigo, que estava conversando com um grupo — Você viu o Carlos?
— Não, cara! Faz um tempo que não vejo ele — respondeu, com a voz meio pastosa de bebida.
Decidi procurar. Caminhei pela festa, passando pela pista principal, pela área do bar, pelos cantos mais escuros onde alguns casais se pegavam. Nada. Meu coração começou a acelerar, não de excitação desta vez, mas de ansiedade.
Foi quando me lembrei do banheiro. Caminhei em direção aos fundos do local, onde ficavam os banheiros e algumas áreas mais reservadas. Conforme me aproximava, meu coração batia cada vez mais forte.
E então eu os vi.
Próximos ao corredor que levava ao banheiro, numa área meio escura e reservada, estavam Carlos e Raul. Eles estavam muito próximos um do outro, próximos demais para uma conversa casual. Carlos estava encostado na parede, e Raul estava à sua frente, quase colado nele. Não consegui ouvir o que falavam por causa da música, mas a linguagem corporal deles era inequívoca.
Raul havia colocado uma mão na parede, ao lado da cabeça do Carlos, numa posição claramente sedutora. Carlos não estava se afastando. Na verdade, ele parecia... interessado?
Meu sangue gelou. Minha respiração ficou presa na garganta. Eles não me viram - eu estava numa posição onde podia observá-los sem ser notado, escondido atrás de um pilar.
Era como se o tempo tivesse parado. Todo o barulho da festa, toda a música, tudo desapareceu. Só existia aquela cena à minha frente: meu namorado e meu amigo numa posição que claramente não era de amizade.
Senti uma mistura de raiva, dor e confusão tomando conta de mim. Minha mão se fechou num punho involuntariamente. Parte de mim queria correr até lá e confrontá-los, mas outra parte estava paralisada, como se meu corpo tivesse esquecido como se mover.
Eles conversavam em sussurros, e vi quando Raul se inclinou mais próximo do Carlos. Meu coração quase parou quando percebi que eles estavam prestes a se beijar.
Era nesse momento que eu precisava decidir: confrontar a situação ou continuar observando para entender melhor o que estava acontecendo. Mas uma coisa era certa - nada mais seria igual depois daquele momento.