O ranger do colchão segue, suave, rítmico, como se marcasse o tempo de um novo idioma sendo aprendido. As palavras continuam rarefeitas. Eu escuto fragmentos. Metades de sussurros. Um leve estalar de beijo. A respiração dele, mais pesada.
E então, a voz dela:
— Isso... assim... você tá indo bem, João.
Ela diz com aquela mistura de firmeza e ternura que sempre me desmontou. Uma voz que orienta, que molda. E naquele quarto, agora, ela o esculpe com gestos, com a pele, com o corpo inteiro.
Um intervalo.
E então eu escuto.
Não alto, não escandaloso — mas claro. Nítido. Orgânico.
O primeiro gemido dela.
Não é performático. É o som de algo real. O som de uma mulher sendo tocada de um jeito certo. De um jeito sentido. Um som que eu conheço. Que já ouvi muitas vezes. Mas que agora... vem de outra fonte. De outra história.
E ele escuta também. Lá dentro, sei que ele escuta.
Naquele instante, João vira homem.
Porque é isso: a primeira vez que se faz uma mulher gemer não é apenas um feito. É uma confirmação. É quando o corpo dele entende o que significa estar dentro de outro corpo — e causar prazer. O verdadeiro prazer.
O ranger da cama muda. A respiração acelera. O ritmo aumenta.
Ela geme de novo. Mais intenso. Mais livre.
E então, no meio do som dos corpos se encontrando, eu escuto ela dizer:
— Pode vir...
As palavras não são uma ordem. São uma permissão. Um abraço final. Um chamado para que ele cruze, de vez, a fronteira.
E eu fico ali, imóvel, envolto por esses sons. Meu peito apertado, meu sexo desperto, minha alma entregue. Testemunhando o nascimento de um novo homem.
E a beleza disso tudo é que ele nasceu dentro dela.
O som muda.
Primeiro, leve. Depois, mais ritmado. As estaladas sutis de pele contra pele começam a surgir, espaçadas, mas presentes. Como tambores distantes anunciando um novo território sendo conquistado. O colchão range de forma mais solta agora, como se também tivesse cedido.
E então, algo novo se impõe no ar.
O gemido dele.
Baixo no começo. Contido, como se estivesse com medo de fazer barulho. Mas logo cresce, escapa, rouco, ainda desajeitado, quase surpreso. Um som agoniado, como se não estivesse preparado para tanto prazer. Como se o corpo dele estivesse explodindo por dentro, sem saber onde colocar tanta coisa nova.
Ele geme — e eu escuto.
Pela primeira vez, o menino que beijou minha esposa agora geme dentro dela.
E ela... ela responde.
O gemido dela vem logo em seguida. E não é um teatro. É visceral. É resposta, é confirmação. Não é só ele que sente. Ela também sente. E sente fundo. Eu conheço aquele som. É o som dela quando está plena. Quando está sendo realmente comida. Quando está viva.
O barulho das peles se encontra mais forte agora. Um tap-tap-tap abafado, crescente. Um ritmo que não se sustenta na razão, mas no instinto.
E aí eu ouço.
A voz da Rebecca, rouca, orgulhosa, cheia de prazer:
— Isso, meu menino... assim mesmo...
Ela diz como quem sela um rito. Como quem unge. Como quem transforma.
E ele geme de novo, mais alto, quase com dor. Aquele tipo de gemido que só vem na primeira vez, quando o prazer é tão intenso que parece demais. Quando o corpo não sabe se aguenta. Quando o orgasmo vem antes mesmo do gozo — só no estar dentro, no estar sendo recebido.
E eu fico.
Sentado, calado, ereto. Com o peito disparado. E os olhos marejando. Não por tristeza. Mas por saber que fui testemunha — e parte — de um momento que nenhum de nós jamais vai esquecer.
O som das peles se encontra num ritmo mais firme agora, o quarto pulsando em compassos suados e desajeitados. João geme mais alto, num tom aflito, como quem sente demais e não sabe como conter. A respiração dele é entrecortada, urgente, quase infantil na intensidade. O corpo dele parece vacilar entre o descontrole e a rendição.
E então vem a voz dela — firme, doce, cheia de prazer:
— Isso, meu menino... assim... deixa vir...
O barulho das estocadas continua, mais rápido, mais úmido, mais presente. O colchão chora embaixo deles. E eu, do lado de fora, escuto tudo. E sinto tudo.
— Você conseguiu... — ela sussurra, no meio do gemido —. Conseguiu me fazer gozar... foi gostoso demais, João...
A voz dela é um presente, uma consagração. Não é só incentivo — é verdade. Ela gemeu. E agora diz isso a ele. E ele... eu ouço o som da respiração dele quebrar. Um soluço de quem vai gozar. Um grito abafado, como se o prazer tivesse tomado conta por inteiro.
Ele goza.
E não goza sozinho.
Goza sendo visto. Sendo ouvido. Sendo nomeado.
Ali, dentro da minha mulher, ele nasceu.
Depois do gemido dele, depois da confirmação dela — silêncio.
Um silêncio espesso, denso, quase reverente. Não sei quanto tempo passa. Podem ser minutos, ou uma eternidade em suspensão. Só sei que a casa parece respirar junto comigo. Ainda escuto os ecos da entrega deles, pairando no ar como um incenso invisível.
Eu permaneço sentado na mesma posição, imóvel, como se qualquer gesto meu pudesse interferir no sagrado que acabou de acontecer. A sala ainda tem o cheiro dela, misturado agora com algo novo — o rastro de outra pele.
E então, finalmente, ouço a porta do quarto se abrir.
Passos leves.
E ela aparece.
Rebecca vem caminhando lentamente até a sala, enrolada apenas em uma toalha branca que gruda no corpo úmido. As pernas nuas ainda estão rosadas, como se vibrassem. O cabelo bagunçado, colado no pescoço. O rosto... o rosto está iluminado. Ela está radiante, leve, orgulhosa. A boca sorrindo sem pressa, como quem sabe que viveu algo importante.
Ela me encara — e então, com a mão esquerda, onde brilha a aliança, levanta dois dedos em forma de chifrinho. Um gesto rápido, provocador, íntimo. Nosso código. Nosso pacto. E eu sorrio de volta, em silêncio.
— Amor... — ela diz, parando à minha frente — ele tá um pouco tímido. Ainda processando, sabe?
Eu apenas aceno com a cabeça, entendendo tudo.
— Será que você pode dar uma voltinha? Vai tomar um café, caminhar... — ela completa, com aquele tom doce que nunca é apenas um pedido. É comando disfarçado de carinho.
— Claro, meu bem — respondo, já me levantando.
Ela se aproxima, me dá um beijo leve na testa. Um beijo que diz tudo.
— Depois eu te conto... — sussurra.
E eu saio.
Deixo os dois ali, deixo a casa para eles. Porque hoje foi o dia em que Rebecca não só recebeu um corpo — ela moldou uma alma. Iniciou um homem. Criou um momento que só nós três vamos entender.
E eu, como sempre, fui parte disso.
Com orgulho.
Com amor.
E com dois dedos invisíveis apontados para o céu.
Já se passaram quase duas horas desde que saí.
Andei sem rumo, entrei numa padaria, tomei um café forte. A cabeça cheia de imagens que eu mesmo não vi, mas que me habitaram o tempo todo. O som da voz dela, o gemido dele, os estalos da cama. Tudo ainda ecoa. Não com dor — mas com uma espécie de admiração silenciosa. Um orgulho estranho, mas real.
Entro em casa e tudo está em silêncio. A luz da cozinha apagada, só o abajur da sala aceso, lançando uma penumbra suave sobre o sofá.
Rebecca está ali, enrolada no roupão, com as pernas cruzadas e um copo de vinho na mão. Me olha com um sorriso calmo, sereno — e algo no olhar dela me diz que foi bonito.
— Ele já foi? — pergunto, tirando os sapatos.
Ela assente com a cabeça, dá um gole no vinho.
— Faz uns vinte minutos. Quis ir logo depois do banho. Tava meio bobo... sabe quando alguém tá leve demais pra ficar?
Sento ao lado dela, e ela encosta a cabeça no meu ombro. O silêncio entre nós é confortável. Ela respira fundo e fala, quase num sussurro:
— Foi bonito, amor. De verdade. Ele tava nervoso no começo, mas foi se soltando. Me ouviu. Me seguiu. E quando viu, tava dentro, gemendo, tremendo... foi intenso, mas doce.
Eu a escuto com atenção. Sinto a mão dela tocar minha perna, acariciando de leve, como quem ancora a emoção em mim.
— E ele? — pergunto.
Ela sorri.
— Fofo. Deu tudo de si. E quando eu gozei, ele ficou tão emocionado que me abraçou forte... e gozou também. A cabeça no meu pescoço, os olhos fechados, o corpo colado no meu... como se fosse um menino encontrando o mundo pela primeira vez.
Fico em silêncio por alguns segundos, digerindo a imagem.
— E você? Tá bem?
Ela me olha nos olhos, com ternura profunda.
— Tô. Tô muito bem. Foi do jeito certo. Com verdade. E com você aqui o tempo todo — mesmo lá fora.
Eu sorrio, seguro sua mão, e beijo os dedos dela devagar. E ali, no calor da sala, no silêncio depois da tempestade de sentidos, entendo tudo.
Foi amor, também. Mesmo sendo com outro.
Ficamos em silêncio por alguns instantes. Só o som do vinho girando no copo dela, a respiração lenta de quem acabou de viver algo forte.
Olho pra Rebecca. Ela ainda está com aquele brilho nos olhos — não de excitação pura, mas de plenitude. De quem deu algo e recebeu de volta. De quem atravessou alguém com o corpo.
Respiro fundo. Minha voz sai baixa, mas firme:
— E pra você? Foi bom?
Ela vira o rosto pra mim, não responde de imediato. Bebe mais um gole, encosta o copo na mesa de centro. Depois sorri, daquele jeito dela — um sorriso que vem com palavras antes mesmo de abrir a boca.
— Foi sim.
— Você gozou?
Ela inclina levemente a cabeça, como quem pesa a resposta. Mas responde com naturalidade, quase divertida:
— Gozei. Não como com o Vinícius... — diz, com um tom suave, sem deboche, apenas constatando. — Mas foi bom. Ele tem potencial. Sabe ouvir. E tinha uma fome bonita.
Fico em silêncio, absorvendo. O nome de Vinícius paira no ar, como uma sombra familiar. Não dói. Já é parte da nossa história. Mas agora há outra camada: João.
— Fico feliz — digo, e percebo que é verdade.
Rebecca sorri, se aproxima, senta no meu colo, com o corpo ainda quente sob o roupão.
— Você quer saber se ele me fez tremer? Não. Mas ele me fez sorrir. E isso também conta.
Beijo sua cintura, sua pele úmida, o perfume ainda misturado com outro. Sinto a presença do que aconteceu ali, impregnado nela. E gosto. Gosto de saber que ela viveu. Que voltou inteira. E que dividiu tudo comigo.
— Então ele passou no teste? — brinco.
Ela morde o lábio, pensativa.
— Passou. Com nota de menino aplicado. Mas... vai precisar de mais aulas.
O silêncio vira riso. E, no meio disso tudo, sei que o próximo capítulo já está se escrevendo.
A vida da Rebecca com o João foi se desenhando com uma naturalidade que, no começo, até me surpreendia.
Depois daquela primeira noite, ele não desapareceu. Pelo contrário — voltou. Primeiro tímido, com mensagens cheias de cuidado, perguntando se podia vê-la de novo. E ela, com a doçura firme que tem, foi acolhendo. Não com pressa, mas com presença.
Logo ele passou a aparecer mais. Às vezes depois da aula dela. Às vezes antes. Era quase como se ela o tivesse adotado — mas não como um filho. Como um projeto íntimo. Um corpo que ela ia moldando, mas também um espírito que ela queria ajudar a crescer.
João começou a ir lá em casa com frequência. Quando ela chegava da universidade, ele já estava na cozinha, cortando frutas ou esquentando o café. Sentavam juntos, conversavam sobre tudo: livros, música, medos, sexo. Ele ouvia cada coisa que ela dizia com atenção reverente. E ela, em troca, o educava — com palavras, com olhares, com o corpo.
O sexo entre eles era constante, mas não urgente. Era ritual. Às vezes terno, às vezes ousado. Ela o guiava. Ele se entregava. E, pouco a pouco, o menino foi virando homem. Sob o olhar dela.
E eu? Eu assistia tudo com uma mistura de fascínio, orgulho e excitação silenciosa. Sabia que aquele espaço era deles, mas que, de alguma forma, era também nosso. Um triângulo de vontades, afetos e rituais.
Era mais que tesão.
Era uma história.
Com o tempo, não era só Rebecca que se apegava a ele. Eu também.
João era um cara legal. De verdade. Tímido no começo, sim, mas com um olhar limpo, atento, sincero. Nunca passou por cima de mim, nunca forçou a barra. Sempre me cumprimentava com respeito, com aquele sorriso meio sem jeito, mas cheio de verdade.
E mais do que isso — ele entendia a nossa lógica. Não como quem finge aceitar, mas como quem realmente compreendia. Sabia que o que existia entre Rebecca e eu era forte, inquebrável, mesmo que abrisse espaço para outros corpos. Ele sabia que fazer parte da vida dela era também, de alguma forma, fazer parte da minha.
Não era um rival. Era um visitante bem-vindo.
Gostava de vê-lo ali, rindo com ela na cozinha, escutando suas ideias, às vezes até me perguntando coisas sobre a vida, como quem busca orientação. Ele não era um predador. Era um rapaz curioso, grato, apaixonado — por ela, pela chance, por tudo aquilo que vivíamos com tanta clareza.
E eu, no fundo, sentia algo parecido com orgulho.
Porque saber que minha mulher era desejada era uma coisa. Mas ver que ela era respeitada, ouvida, amada... isso ia mais fundo. Isso me dizia que, mesmo nos braços de outro, ela seguia sendo a Rebecca que eu sempre admirei — intensa, inteira, senhora de si.
E João, de certo modo, ajudava a revelar ainda mais isso nela.
E por isso... sim. Eu gostava dele também.