...CONTINUANDO:
O restaurante era exatamente como Vanessa havia visto no aplicativo - à beira-mar, com luzes baixas e amareladas refletindo nos copos de cristal e nas janelas que emolduravam o oceano. A decoração rústica, feita com madeira escura, plantas suspensas e cortinas de linho, criava um ambiente acolhedor, mas sem tirar a sofisticação do lugar. Um samba tocava ao fundo, embalando com leveza os poucos casais que se aventuravam na pequena pista ao lado do bar.
Vanessa entrou com um ar natural de quem já conhecia o lugar. Foi ela quem escolheu a mesa — uma redonda, perto da janela, de onde se podia ver o mar e o movimento da cidade ao longe. Sentou-se ao lado de Lucas, sem hesitar. Marcão posicionou-se de frente para ela, como se precisasse ter o campo de visão completo da esposa. Pedro, visivelmente desconfortável, ficou entre o marido corno e a janela, tentando desaparecer.
Ela chamou o garçom e pediu com firmeza, como quem está no controle:
— Um bobó de camarão pra todos nós. Com bastante dendê.
— Excelente escolha, senhora — respondeu o garçom, sorridente.
Lucas fez seu pedido sem nem olhar para os outros.
— Um vinho rosé, o melhor que tiver. Gosto de coisa leve, mas que sobe rápido.
Vanessa soltou uma risadinha e encarou o garoto como se ele tivesse dito um segredo obsceno no meio de uma reunião de família.
— Que delícia de ideia. Rosé combina comigo hoje.
Pedro murmurou um pedido por uma cerveja, enquanto Marcão, sempre silencioso, pediu um suco de laranja com gelo e sem açúcar.
O garçom, tentando puxar conversa, soltou:
— Ah, entendi… o maridão tá dirigindo, né? Por isso sem álcool.
Vanessa sorriu de canto, olhos cravados em Lucas.
— Imagina. O corno não bebe por conta do físico. Tem que manter o tanquinho…
O garçom arregalou os olhos, sem saber se tinha ouvido certo. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Vanessa virou-se para Lucas e o beijou com uma entrega que não deixava dúvidas de quem era dela naquela noite. Um beijo com língua, barulhento, sem nenhuma pressa. Lucas retribuiu sem cerimônia, levando uma das mãos até a coxa da casada e apertando com gosto, os dedos escapando para a curva da bunda. O vestido subiu alguns centímetros, revelando pele demais para um restaurante fino. Um casal mais velho olhou com reprovação, mas ninguém disse nada.
Vanessa deu um último selinho em Lucas, os lábios agora manchados de batom rosa avermelhado. O garoto riu.
— Acho que tô sujo…
Virou-se para Marcão, com aquele misto de ousadia e desafio velado:
— Me passa um guardanapo aí?
Marcão pegou o guardanapo da mesa e o estendeu sem sequer olhar nos olhos do garoto. Não hesitou. Não reagiu. Apenas obedeceu.
A comida chegou logo depois, perfumando o ambiente com temperos envolventes, mas discretos. O bobó foi servido em uma travessa de cerâmica quente, o vinho rosé foi decantado com todo o cuidado, e Vanessa, já levemente solta pelo álcool e pela situação, brindou com Lucas.
— Ao prazer da noite. — Ela ergueu a taça. — E ao silêncio dos que apenas assistem.
Pedro fingiu um sorriso e quase não tocou na comida. A tensão ainda o travava. Já Lucas e Vanessa jantavam como se estivessem em lua de mel, compartilhando garfadas, brindando a cada nova provocação, rindo e brincado. Marcão, depois de alguns minutos apenas observando em silêncio, se levantou. Disse que precisava “alongar as pernas”.
Foi até o bar, sentou sozinho em uma das banquetas altas e pediu outro suco de laranja. Ali ficou, como um guarda-costas de terno invisível, vigiando a esposa que estava cada vez mais livre.
Vanessa se levantou, ajeitou o vestido curto, e estendeu a mão para Lucas.
— Vem sambar comigo. Quero que todo mundo saiba que eu tô viva.
Na pista, entre poucos casais, ela deslizava com a elegância de quem domina o próprio corpo até mesmo de salto agulha. A saia subia, os seios ameaçavam pular, mas ela ajeitava tudo com a sensualidade de uma atriz ensaiada — e com a excitação genuína de quem sabia que todos estavam olhando.
Lucas dançava bem. Não tão solto quanto ela, mas o suficiente para acompanhar e ser elogiado. Foram aplaudidos duas vezes por casais mais animados. Um garçom soltou um “Uau…” baixo ao vê-la girar nos braços do garoto.
Pedro apenas observava, como se aquilo fosse um filme. Marcão também, mas com o semblante endurecido de quem carrega humilhação no sangue — e ainda assim, mantém a compostura como um samurai ferido.
O marido chifrudo observava os olhares dos homens em direção a sua mulher. Ela estava fantástica naquela noite. Era uma energia diferente de quando ela estava com ele. Ele sentia ciúmes, mas, ao mesmo tempo, um sentimento forte de prazer. Era algo que ele não conseguia admitir. Não queria admitir.
As duas horas passaram num piscar de olhos. Duas garrafas de vinho vazias, quatro cervejas e dois sucos de laranja depois, o jantar havia terminado.
Marcão se levantou, pediu a conta e pagou tudo sem comentar. Vanessa olhou para ele, satisfeita.
— Liga pro motorista, amor. Quero voltar pro hotel. Tô pronta pra foder.
Lucas sorriu. Pedro quase engasgou. Marcão, com a boca seca, apenas pegou o celular e discou.
A noite ainda não tinha chegado no clímax. Vanessa, essa sim, estava só começando o segundo ato.
...CONTINUA...