ALEX, MARCOS, SUZY, MADALENA
Em uma rua estreita e mal iluminada de Cidade del Leste, Paraguai, o calor grudava nas paredes descascadas dos prédios. Diante de um pequeno hotel decadente — quase escondido entre bares fechados e fachadas em ruínas — um carro preto de luxo parou, destoando completamente da paisagem. O motor silenciou. As portas se abriram, e três homens de preto desceram com precisão coreografada.
Marcos veio à frente — impecável, de óculos escuros e expressão gelada. Atrás dele, os dois seguranças: Carlos, com a cicatriz funda que atravessava a bochecha esquerda, e López, calado, atento a tudo. (Carlos e López, os seguranças, foram apresentados no capítulo 12.).
Os três seguiram em silêncio até a recepção, onde um funcionário sonolento os observava com desconfiança por trás de um balcão lascado. Marcos se inclinou levemente, tirou os óculos escuros e disse com voz firme:
— Chame Pietro.
O homem hesitou por um segundo, depois assentiu e desapareceu por uma porta lateral. Pouco depois, quem surgiu não foi um desconhecido, mas sim Alex, agora com barba por fazer e olheiras profundas.
Marcos, sem dizer palavra, tirou um maço de dinheiro do bolso interno do paletó e o entregou ao recepcionista, que o contou rápido demais, como se quisesse se livrar logo daquela presença incômoda.
Os quatro entraram no carro. O ar-condicionado parecia uma dádiva comparado ao calor pegajoso lá fora.
— Já se acostumou com o nome falso? — perguntou Marcos, encarando Alex pelo espelho retrovisor.
— Pietro — respondeu ele, quase como se testasse a sonoridade. — Funciona. Os documentos falsos deram conta. Ninguém fez perguntas quando cruzei a fronteira.
Marcos sorriu de leve, quase imperceptível.
— Eu realmente não esperava que aquela delegada filha da puta fosse te indiciar... muito menos colher provas contra você. A ideia de jogar tudo nas costas do Tiago (ex-namorado de Camila, citado no capítulo 11) parecia perfeita. Mas não... a polícia desvendou tudo. Sorte que eu já tinha me precavido, providenciado documentos falsos para você
Pietro — ou melhor, Alex — soltou um suspiro contido e respondeu, com um leve sorriso resignado:
— Foi melhor assim. De verdade. Eu tô bem com a nova identidade... Pietro Di Matteo. Tem um som elegante, não acha? Italiano, passaporte vermelho, cidadania europeia. Nunca fui tão legalizado na vida.
Olhou diretamente para Marcos e falou:
- Agora só está faltando uma coisinha, né Marcos?
Marcos assentiu lentamente, tirando um envelope do paletó e estendendo-o a ele.
— Agora só falta embarcar. Daqui a menos de três horas, você estará voando para Buenos Aires e de lá para a Flórida.
Alex pegou a passagem e agradeceu com um aceno breve. Mas então, ergueu os olhos:
— Quando eu disse que só faltava uma coisa... não estava falando disso.
Marcos não se surpreendeu. Apenas curvou os lábios num sorriso gelado, abaixou-se e puxou uma maleta preta do assoalho do carro, entregou-a a Alex, que colocou no colo e abriu os fechos metálicos com um clique seco.
Lá dentro, maços organizados de notas de dólar, frescas, silenciosas e tentadoras.
Alex sorriu. Um sorriso que misturava alívio, ganância e algo de perverso.
— Valeu a pena... matar aquela vagabunda da Camila.
Marcos olhou o relógio, depois pela janela. A paisagem urbana começava a rarear, dando lugar às placas que indicavam a proximidade do aeroporto internacional Guarani.
— Falta pouco — murmurou. — Mais quinze minutos e você estará longe daqui.
Logo à frente, luzes vermelhas piscavam na pista. Uma blitz policial bloqueava parcialmente a estrada. Três viaturas e cinco agentes com coletes refletivos. Um deles já fazia sinal para que o carro reduzisse.
O carro parou. Um dos policiais se aproximou, com a mão sobre o coldre.
— Buenas noches, señores. Bajen del vehículo, por favor. Documentos a la vista.
Os quatro obedeceram. Alex ajustou os óculos escuros e tentou disfarçar o suor frio na testa.
Cada um entregou sua identificação. Quando o policial pegou o passaporte bordô, ergueu uma sobrancelha e o virou nas mãos.
— ¿Italiano? — perguntou, olhando diretamente para Alex.
Alex/Pietro forçou um sorriso discreto e respondeu com segurança calculada:
— Sí, señor. Italiano.
O policial examinou o passaporte com mais atenção, folheando lentamente. Fez sinal para outro agente se aproximar. Os segundos seguintes pareceram longos demais.
O policial que segurava o passaporte ergueu uma sobrancelha, depois deixou escapar uma risada curta, quase zombeteira. Olhou para o colega ao lado e depois voltou-se para Pietro com um sorriso malicioso.
— Por favor, signore... allora parliamo in italiano. È una lingua che mi piace tanto.
(Por favor, senhor... então vamos falar em italiano. É uma língua que eu gosto muito.)
Alex congelou por um instante. Tentou manter o ar confiante, mas achou estranho demais. Além disso sabia que não convenceria como nativo de italiano.
— Yo hablo español. no hay razones
Os policiais se entreolharam — e caíram na risada.
— ¡ Ha’e peteĩ itavýva! (É um idiota) — murmurou um deles em guarani, balançando a cabeça.
O primeiro policial se aproximou e, sem pressa, sacou as algemas.
— Está preso, Pietro... ou deveria dizer Alex?
O som metálico das algemas ecoou no ar abafado da noite. Alex não resistiu. Apenas baixou a cabeça.
— Siempre caen, tarde o temprano - disse o policial, enquanto o empurrava com firmeza em direção à viatura.
— ¡Marcos! — gritou Alex, a voz embargada, tentando se soltar das mãos firmes dos policiais. — Faz alguma coisa, pelo amor de Deus! Eles tão me prendendo, caralho!
Virou-se para trás, os olhos implorando por ajuda.
Mas o que viu o paralisou mais do que as algemas nos pulsos.
Marcos estava parado ao lado do carro, de braços cruzados... sorrindo. Um sorriso torto, frio, quase entediado. Carlos e López também riam — mas era mais do que zombaria. Era uma gargalhada grave, baixa, sinistra. Uma risada de predadores satisfeitos.
O coração de Alex disparou. Tentou entender. Aqueles homens eram sua segurança. Seu bilhete de fuga. Seus aliados.
— Marcos...? — sussurrou, agora em pânico.
Marcos deu alguns passos, com elegância cruel, ajeitando os punhos do paletó.
— Achei que o seu sotaque italiano fosse melhor — disse com ironia. — Desculpa Pietro .. Ah, quer dizer ... Alex, mas não posso correr risco de deixar uma testemunha como você viva!
— Você... você me traiu?
— Eu te dei um palco — respondeu Marcos, com um leve sorriso. — E você atuou como sempre: mal.
- Filho da Puta! Traidor! – esbravejou Alex
- Eu, traidor! Foi você que traiu sua própria irmã!
Carlos e López voltaram a rir, e os policiais apenas observavam, como cúmplices silenciosos.
— Llévenlo. El vuelo de este no va a ser a Florida, sino a Añaretã — disse um dos agentes, enquanto apertava as algemas com gosto.
(Levem-no. O voo desse aí não vai ser para Florida, e sim para o Inferno.)
Enquanto era empurrado para trás da viatura, Alex lutou, chutou, gritou. Mas ninguém ali se importava.
Uma das últimas coisas que seus olhos registraram antes de morrer foi Marcos entregando a maleta preta — aquela mesma, antes cheia de dólares — nas mãos de um dos policiais. O agente abriu discretamente, viu os maços de dinheiro... e assentiu com um sorriso satisfeito.
O preço da traição pago à vista.
E, pela primeira vez, Alex — ou Pietro — entendeu o que era ser descartável.
Não houve audiência. Nem mesmo registro oficial da prisão.
— Por favor... — implorou, com a voz trêmula. — Eu posso sumir. Juro que desapareço. Não conto nada. Não denuncio ninguém.
O que veio em resposta foi o som seco de uma arma sendo engatilhada.
— Muy tarde, amigo — disse um dos policiais.
Dois disparos. Rápidos. Precisos.
O corpo foi jogado no rio Paraguai, sendo engolido pelas águas sem qualquer resistência.
— Liquidado. Os peixes vão comer os olhos azuis do Alex.
Agora Camila estava finalmente enterrada — no corpo e na história.
Camila e Alex eram filhos da mesma mãe, mas de pais diferentes. Tinham sobrenomes distintos e cresceram em um ambiente completamente desestruturado, sem vínculos afetivos sólidos ou reais.
Quando conheceu Eduardo, Camila optou por esconder a existência de Alex. No entanto, ao descobrir que a meia-irmã estava casada com um homem rico, Alex – sem recursos e enfrentando dificuldades – passou a procurá-la pedindo ajuda financeira. Camila alegava que não podia ajudá-lo, pois Eduardo controlava rigidamente suas finanças. Ainda assim, Alex insistia. E foi além: passou a chantageá-la, ameaçando revelar a Eduardo que eram irmãos e expor segredos obscuros de seu passado, que ela jamais havia compartilhado com o marido.
Na tentativa de obter uma renda própria e ajudar Alex longe dos olhos de Eduardo, Camila se candidatou ao cargo de síndica do condomínio. Contudo, perdeu a primeira eleição que disputou.
Foi durante uma espera no Hospital São Francisco, enquanto acompanhava Eduardo em uma bateria de exames, que Camila ouviu discretamente funcionárias comentando sobre Simone, filha do dono do hospital — uma mulher rica, solteira e carente. Intrigada, Camila investigou. Pesquisou sobre Simone na internet, e de forma cautelosa, conseguiu mais informações. Tudo isso de forma bem discreta, sem que Simone soubesse de sua existência.
Ela repassou tudo a Alex, que logo apareceu no hospital se passando por paciente. Com sua aparência marcante e charme envolvente — e com a ajuda silenciosa de Camila nos bastidores — Alex conseguiu seduzir Simone, que logo passou a sustentá-lo financeiramente.
Nenhum dos dois jamais revelou a Simone a verdadeira relação entre eles: que Alex era meio-irmão de Camila e que Eduardo, seu cunhado, era paciente do hospital. O segredo permaneceu bem guardado.
Certo dia, durante uma viagem de Eduardo, Alex precisou ir ao apartamento de Camila. Simone o levou de carro e o deixou na porta do condomínio. Alex mentiu, dizendo que visitaria um amigo que morava ali, sem revelar que, na verdade, era a casa de sua meia-irmã.
O condomínio chamou a atenção de Simone, mesmo que vista apenas de fora. Encantada com o local, ela passou a monitorar oportunidades de compra. Coincidentemente, a unidade 11 foi colocada à venda. Simone, já separada de Alex àquela altura, visitou o imóvel e o comprou — pouco antes de reatar com Anderson.
Ela não fazia ideia de que o casal da cobertura era justamente Camila e Eduardo, o paciente de Fernando. Quando os viu no bosque, teve apenas a estranha sensação de que já os conhecia (Capítulo 10).
Após o fim com Simone, Alex voltou a procurar Camila pedindo ajuda.
Quando ela se elegeu síndica (Capítulo 18) passou a sustentá-lo com o salário que agora recebia oficialmente.
Com a morte de Eduardo, Camila sentiu-se ameaçada. Sabia que Marcos, que nunca gostara dela, provavelmente a perseguiria. Para se sentir protegida, vendeu o Porsche e alugou uma mansão em Florianópolis, aguardando a liberação da herança de seu filho, Gabriel.
Com a morte de Eduardo, e sua renúncia como síndica, parou de ajudar Alex.
Mas nunca imaginou que sua morte viria justamente pelas mãos dele — seu meio-irmão — em troca de um pagamento milionário oferecido por Marcos.
No caminho de volta à cidade, o silêncio dominava o interior do carro. As luzes de Cidade del Leste começavam a despontar no horizonte, mas ali dentro o ar permanecia denso, carregado de tensão não verbalizada.
Marcos foi o primeiro a falar, num tom calmo, quase satisfeito:
— Apressa o passo, López. Deixei o Gabriel aos cuidados da babá no hotel em Foz do Iguaçu.
— Pode deixar, chefe. A ponte tá tranquila, logo chegamos.
Houve uma pausa. Então, como se estivesse organizando os próprios fantasmas em voz alta, Marcos retomou:
— Eu jamais deixaria o Gabriel com a Camila. Sempre desconfiei daquela vadia. Desde o começo... aquele olhar. Olhar de psicopata.
Carlos, no banco do passageiro, mantinha-se em silêncio. López dirigia com a mesma expressão impenetrável de sempre.
— Quando meu pai morreu... eu soube. Aquilo não foi acidente. Foi conveniente demais pra ela. — Marcos passou os dedos pelo queixo, remoendo antigas suspeitas. — Só nunca consegui provar.
Eduardo deixara um testamento claro: desejava ser cremado. Marcos, porém, tentou impedir — ou ao menos adiar — a cremação, tomado pela suspeita de que Camila o havia envenenado. Ainda assim, o desejo do pai ia além de uma simples vontade: para ele, a cremação era um rito sagrado de purificação e libertação espiritual, essencial dentro de sua crença religiosa. No fim, foi Suzy, sua noiva, quem o convenceu a cumprir o desejo de Eduardo, o mais rápido possível. "Faça isso por ele", disse, com firmeza e carinho. "É o que ele queria."
Ele desviou o olhar para a janela. As luzes da cidade refletiam em seus óculos escuros.
— Eu sabia que Camila tentaria dar o golpe do baú. Usar o Gabriel pra arrancar metade da herança. Mas comigo, não. Eu não deixaria.
Carlos lançou um olhar sutil pelo retrovisor, atento. Marcos seguiu, com a voz ainda baixa, mas firme:
— Foi por isso que contatei o Alex. Um idiota ganancioso, sem escrúpulos. O tipo certo pra fazer o trabalho sujo. Limpo. Vingança. Justiça... à minha maneira.
Marcos deu um leve sorriso de canto, mas logo sua expressão voltou a se fechar.
— Mas o Alex era burro, não mudo. E um dia ele podia abrir a boca. Podia me chantagear. Podia contar pro Gabriel que fui eu quem mandou matar a mãe dele. — Um silêncio pesado pairou por um instante. — Gabriel nunca me perdoaria. Nunca.
Ele encarou o vazio à frente e concluiu, frio:
— Foi melhor me livrar dele. Antes que ele decidisse pensar demais.
López assentiu levemente com a cabeça — uma confirmação muda de quem estava por dentro de tudo.
Marcos se recostou no banco, satisfeito, sem imaginar o quanto estava enganado. Nunca soube que as verdadeiras responsáveis pela morte de Eduardo haviam sido Suzy e Madalena. E que a morte de Camila fora apenas mais um elo em uma cadeia de mentiras muito maior do que ele jamais suspeitou. Gabriel na verdade nem é sangue do seu sangue.
Mas para Marcos, naquele momento, o jogo parecia vencido. Camila estava morta. Alex, eliminado. E a fortuna, protegida.
O carro deslizava pela estrada, silencioso, enquanto o brilho das luzes da cidade se intensificava à frente. Então, o celular vibrou no bolso interno de seu paletó. Ele atendeu com calma, sem tirar os olhos da estrada.
— Fala.
Do outro lado da linha, a voz seca do detetive particular:
— Senhor Marcos, segui a senhorita Suzy como o senhor mandou. Ela está na casa da tal Madalena, a sócia. Chegou há cerca de uma hora.
Marcos permaneceu em silêncio por alguns segundos, assimilando a informação.
— Só isso? Não havia nenhum homem com ela?
— Nenhum. Só as duas. Parece que estavam conversando. Nada fora do normal.
Marcos soltou um suspiro lento. Alívio. Quase um sorriso.
— Muito bem. Continue vigiando. Me avise se ela sair de lá. — Desligou sem esperar resposta.
Carlos e López, atentos, olharam pelo espelho retrovisor.
— Era o detetive — disse Marcos. — Suzy está com a Madalena. Nada de mais.
Fez uma pausa e ajeitou a manga do terno.
— Mas se algum dia aquela garota ousar me trair... o amante... vai ter o mesmo destino do Alex. Não suporto traição.
Carlos deu uma risada seca, olhando para López.
— É só dizer, patrão. A gente gosta desse tipo de serviço.
López, sempre mais discreto, apenas acenou com um leve sorriso — mas seus olhos brilhavam com a mesma crueldade.
Marcos inclinou levemente a cabeça para trás e murmurou:
— Tem muita gente louca nesse mundo. A diferença é que eu sou um louco com dinheiro e com isso aqui! – Falou sacudindo uma arma.
Carlos e López riram, o carro seguiu pela avenida, engolido pelas luzes de Cidade del Leste.
Enquanto isso, na casa de Madalena ...
Madalena e Suzy estão mergulhadas até os ombros numa banheira luxuosa repleta de espuma.
Taças de champagne nas mãos. Riem entre uma bolha e outra. Há pétalas na água. Música ambiente suave. Celebram a sociedade na nova empresa.
MADALENA
(rindo)
Quem diria, hein? Nós somos as únicas donas ...da Vensys Tech
SUZY
(brinda com ela)
Às sócias mais improváveis do ano. Viva as mulheres poderosas!
As duas brindam. Bebem. Pausa breve, clima descontraído.
MADALENA
E o Marcos?
SUZY
(revirando os olhos)
Diz que foi pra uma reunião em Foz do Iguaçu.
MADALENA
(séria por um segundo, depois com ironia)
Você acha que ele não vai desconfiar? E o detetive que ele pôs atras de você?
SUZY
(sorri debochada, dá um gole e então diz com desdém)
Ué... não é você que vive dizendo que homem é tudo burro? Estou sempre um passo a frente, o detetivezinho tá nas minhas mãos!
MADALENA
(preocupada)
Você acha que o Marcos tem alguma coisa a ver com a morte de Camila?
SUZY
(Rindo)
O Marcos!? É um banana. Não faz mal a uma mosca!
MADALENA
(rindo)
Quando você contar pra ele que sabe do detetive, não se esqueça de parecer bem ofendida, chorar, faz bastante chantagem emocional ... ah, e faz uma greve de sexo!
SUZY
(séria)
Tá Mada, vou fazer como você falou. Mas se o Marcos continuar com essa palhaçada de colocar detetive atras de mim, eu dou um jeito nele!
Suzy estala os dedos, com um gesto teatral. Aponta com o queixo para o lado.
SUZY
(fazendo charme)
Mais champagne, por favor.
Ricardo surge (o mesmo Ricardo que foi com ela para praia, capítulo 5). Bronzeado, jovem, corpo atlético. Vestido com uma camisa social, gravata borboleta. Pega a garrafa com elegância e serve mais champagne para Suzy.
MADALENA
(sussurrando para Suzy, mas propositalmente alto o bastante)
Meu Deus... esse corpo devia ser tombado pelo patrimônio histórico.
Ricardo sorri de canto, como se tivesse ouvido, mas mantém a postura.
SUZY
(para Ricardo, provocando)
Você ouviu isso, Ricardo?
Ele arqueia uma sobrancelha.
SUZY
Já que ouviu... strip tease. Mas antes...
Ela aponta para uma bandeja ao lado com frutas cortadas.
SUZY
Me sirva um morango. Na boca.
Ricardo obedece sem hesitar. Pega um morango, se aproxima de Suzy e cuidadosamente coloca a fruta em sua boca. Ela morde lentamente, olhando para Madalena com um sorriso cheio de segredos.
O olhar de Madalena alterna entre a surpresa, divertimento e desejo.
Suzy pega o celular, desliza a tela e coloca uma música animada e provocante: “Sweet but Psycho”, de Ava Max. O clima muda levemente — se torna mais agitado e festivo.
SUZY
Ricardo... hora do show.
Ricardo, sorrindo com confiança, começa a dançar. Seus movimentos são coreografados, envolventes, com um toque teatral. Ele tira lentamente a roupa que vestia por cima da sunga, revelando o físico definido.
Madalena e Suzy aplaudem e vibram, como duas rainhas se divertindo com seu cavaleiro de luxo.
MADALENA
(rindo)
Uau... ele leva jeito. Será que dá conta das duas?
SUZY
Dá sim. Você precisava ver ele na praia... E além do mais ele é meu putinho ... tô pagando ... tem que dar conta. Ele está aqui para nos dar prazer.
MADALENA
Lança um olhar divertido para Ricardo e estende lentamente a perna, emergindo o pé da espuma com elegância.
MADALENA
Pois então, já que é assim... uma massagem, por favor.
Ricardo, já completamente nu, se aproxima com respeito. Ajoelha-se ao lado da banheira e começa a massagear delicadamente o pé de Madalena. Ao fim, ele beija o dorso do pé com reverência.
MADALENA
(satisfeita)
Muito bem. Aprovado. Obediente.
SUZY
Ergue a taça novamente.
A nós.
MADALENA
Às mulheres que tomam o que é delas.
SUZY
E aos homens... que saibam o lugar deles.
MADALENA
Mas em relação ao Marcos, tente levar na conversa. Outra morte agora pode ser perigosa para nós.
As duas brindam. A espuma cobre quase tudo, mas seus sorrisos dominam a cena. . Ricardo permanece ao lado da banheira, servindo-as.
Suzy carrega, desde os cinco anos, a cicatriz de ter visto os pais se separarem — e de acreditar, em silêncio, que teve culpa nisso.
Cresceu vendo a mãe se esgotar como empregada doméstica: cansada, invisível.
Bonita desde cedo, descobriu que sua aparência era ao mesmo tempo vitrine e armadilha. Via nela uma rota de fuga da pobreza… mas, sem perceber, acabou repetindo o mesmo olhar que o mundo sempre lançou sobre ela.
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ANDERSON
Quanto a Anderson saiu do puteiro, nunca mais retornou. A decisão de ser um bom pai para Beatriz pesou mais forte.
O que Anderson não sabia, e que Wilfredo jamais lhe contou é que Beatriz não era sua filha Biológica.
O exame de DNA de Beatriz também foi uma mentira, organizada por Wilfredo..
Continua ...