Onde o mar nos levou - Capítulo VII

Um conto erótico de Rafael & Caio
Categoria: Gay
Contém 2459 palavras
Data: 10/08/2025 10:31:49

Capítulo VII – A calmaria do mar dura pouco...

Algumas horas depois, pararam num restaurante à beira da estrada. O lugar era simples, mas aconchegante — mesas rústicas de madeira, cheiro de comida caseira e um garçom simpático demais.

— Boa tarde, senhores! Sejam bem-vindos! — disse o garçom, sorrindo enquanto entregava os cardápios. — Que prazer receber um casal tão bonito por aqui!

Rafael respondeu com educação, um sorriso discreto e um “muito obrigado”. Só que, a cada vez que o garçom voltava à mesa, Caio ia se fechando um pouco mais. Ele percebia os olhares demorados do rapaz em direção a Rafael, e ainda que Rafael não retribuísse de forma alguma, algo em Caio fervia por dentro.

— A comida tá uma delícia — Rafael comentou, tentando puxar papo. — Mas você tá calado... Tá tudo bem?

Caio apenas assentiu com um movimento curto de cabeça, cortando o bife no prato com força desnecessária.

Voltaram ao carro pouco depois, com Caio visivelmente emburrado. Ele sentou-se de braços cruzados, encarando a estrada à frente. Rafael colocou o cinto, olhou de soslaio e soltou um suspiro.

— Tá bravo por quê? — perguntou, ligando o carro.

— Nada, não.

— Não mente pra mim, Caio.

— Você tava dando trela demais pro garçom — Caio explodiu, virando o rosto. — E ele se jogando pra cima de você daquele jeito... e você todo simpático...

Rafael estacionou o carro no canto do estacionamento, desligou o motor e, sem dizer nada, virou-se para Caio. Ele se inclinou, segurou o rosto dele com as duas mãos e o beijou com força, com intensidade. Um beijo roubado, urgente, como se quisesse dizer tudo sem palavras. Caio tentou resistir no começo, mas logo se entregou, deixando os ombros caírem, relaxando no toque.

— Eu só tenho olhos pra você, idiota — Rafael disse com a testa colada à dele. — Só pra você. Nunca duvide disso.

Caio sorriu, tímido, encostando a cabeça no banco.

— Desculpa... é que... às vezes eu ainda não acredito que você é meu.

— Pois acredite. Porque eu sou. Inteiro. Só teu.

Caio o puxou de volta para mais um beijo, agora mais doce, mais calmo, como um pedido de desculpas mudo.

Rafael ligou o carro novamente.

— Agora vamos embora antes que eu devore você aqui mesmo nesse estacionamento — disse com uma risada maliciosa.

Caio deu uma gargalhada e soltou um “seu bobo”, e a estrada voltou a se abrir diante deles — como se o amor também precisasse, de vez em quando, de uns quilômetros a mais pra se fortalecer.

Narrado por Caio...

A estrada seguia à nossa frente como um fio puxado por entre campos e cidades pequenas, enquanto a tarde ia caindo devagar, lavando o céu de um laranja intenso. O rádio tocava baixinho, mas a música quase desaparecia no fundo da nossa conversa, que ora era leve, ora mergulhava em silêncios carregados de olhares.

Rafael mantinha uma das mãos firmes no volante, e a outra vez ou outra escapava pra minha perna, pro meu joelho, ou pro meu rosto — como se ele precisasse se certificar que eu ainda estava ali. E eu estava. Tão ali que cada vez que ele me olhava rápido, sorrindo meio de lado, eu tinha que morder por dentro pra não me entregar todo de novo.

— Tá mais calmo agora? — ele perguntou, num tom divertido, depois do episódio do garçom.

— Tô tentando, né? Mas você também provoca. Aquele sorriso seu devia ser registrado como arma branca.

Ele riu, e o som preencheu o carro como o sol que invadia pelo vidro.

— Eu só fui simpático com o cara, Caio…

— Simpático demais — resmunguei.

Ele olhou de canto, cheio de charme.

— Vai ver ele também achou meu sorriso perigoso.

— Eu não teria pena dele, juro — rebati, e ele gargalhou.

— Ciúmes fica bem em você, sabia?

— Ah, é?

— É. Fica com uma cara meio emburrada e ao mesmo tempo irresistível. Dá vontade de te beijar até você esquecer o nome.

Fiquei quieto, mas sorri por dentro. Ele sabia exatamente como me desmontar.

Foi então que paramos num posto de gasolina, e enquanto Rafael foi ao banheiro e depois esticou as pernas perto da lanchonete, duas mulheres paradas ao lado de uma caminhonete não tiravam os olhos dele. Ele vestia uma camiseta cinza que colava no peito largo, calça jeans justa e o cabelo um pouco bagunçado pela viagem. Era impossível não notar o homem lindo que ele era, e as duas estavam praticamente hipnotizadas.

Eu observava da janela do carro, meio rindo por dentro, meio com o sangue começando a ferver.

Quando ele voltou, abriu a porta e me lançou aquele olhar despreocupado.

— Que foi? Tá com cara de que vai me interrogar.

— Não. Só observando como você chama atenção por onde passa.

Ele arqueou a sobrancelha e sorriu.

— Vai começar de novo?

— Não posso evitar. As duas ali te secaram até a alma.

— Se elas soubessem quem é que eu amo… — disse ele, se inclinando, aproximando o rosto do meu. — …nem teriam perdido tempo.

Mordi o lábio e olhei em volta. Não havia ninguém por perto, o posto era daqueles de beira de estrada, com mato em volta e poucos carros.

— Dirige mais um pouco — falei, baixo. — E para onde não tenha ninguém.

Ele me olhou, surpreso, os olhos brilhando de malícia.

— Você que tá me provocando agora?

— Talvez eu queira te mostrar quem é que você tem — falei, puxando a gola da camiseta dele.

Ele deu partida no carro de novo e seguimos por uma estrada de terra lateral, até ele achar um ponto mais afastado, escondido pelas árvores. Assim que parou o carro, desligou o motor e se virou pra mim.

— Agora fala — disse ele, a voz rouca. — Que tipo de prova você quer me dar?

Eu não respondi com palavras. Subi no colo dele, puxando o banco pra trás com um impulso, e colei minha boca na dele com força. O beijo foi intenso, cheio de urgência. Minhas mãos deslizaram pelo peito dele, sentindo o calor da pele sob o tecido fino.

— Você é meu, Rafael — murmurei entre um beijo e outro. — E eu sou seu. Aqui, agora, nesse carro, no meio do mundo.

Ele gemeu contra meus lábios, suas mãos firmes nas minhas coxas, subindo devagar pela barra da minha camiseta.

— Você não sabe o que faz comigo, Caio…

— Sei, sim — respondi. — E vou fazer de novo.

O banco cedeu sob nossos movimentos. O vidro embaçou rápido com o calor que se formava entre nós. Rafael sussurrava meu nome como se fosse uma prece, uma entrega. Eu me movia sobre ele com os olhos cravados nos dele, como se o tempo tivesse parado naquele instante. Nada existia além da nossa respiração ofegante, do som abafado dos toques, da tensão elétrica que invadia cada centímetro do carro.

— Assim? — ele perguntou, a voz arrastada.

— Do seu jeito… mas agora é do meu jeito também — murmurei, afundando meu rosto no pescoço dele, sentindo o cheiro quente da pele suada, da estrada, do nosso desejo misturado.

A cada movimento, a cada toque, parecia que a estrada inteira se curvava ao nosso redor. Era mais do que sexo — era a nossa forma de dizer que ainda estávamos ali, apesar dos medos, das inseguranças, dos ciúmes e das estradas que nos levavam pra longe e nos traziam de volta.

Quando finalmente o silêncio veio, só cortado pela nossa respiração descompassada, eu deitei sobre o peito dele, e ele me abraçou com força. Ficamos ali, em silêncio, ainda suados, o coração batendo forte, e o mundo lá fora totalmente alheio ao que havíamos vivido ali dentro.

— Você é meu lar — ele disse, com a voz embargada.

E eu fechei os olhos, sentindo o mesmo.

O mundo podia girar, as pessoas podiam olhar, as distâncias podiam existir. Mas nada era mais certo do que aquele momento. Nada era mais nosso do que aquele amor suado, ciumento, quente e verdadeiro.

Depois daquela transa selvagem e intensa, seguimos na estrada por mais algumas horas. Rafa tava exausto e eu também, mais de oito horas no trânsito não era para qualquer um. Apesar de insistência dele de querer ir dirigindo, combinamos de voltarmos e eu dirigir uma parte do tempo e ele outra.

São Paulo nos engoliu com sua pressa e seus arranha-céus. Logo que entramos na cidade, senti um peso familiar no ar — não era apenas poluição ou o barulho constante dos motores, era o lugar onde o Rafael vivia antes de mim. Onde, por muito tempo, ele existiu sem mim.

Ele dirigia com a janela meio aberta, o vento bagunçando os cabelos e a camisa colada no peito por conta do calor. A cidade parecia observá-lo também Assim que estacionamos em frente ao prédio dele, olhei para os lados: tudo era cinza, abafado, mas Rafael parecia em casa.

— Chegamos — ele disse, virando-se pra mim com um sorriso cansado, mas sereno.

Subimos com poucas malas — a maioria das nossas lembranças era leve e viva, não precisava de sacola.

O apartamento era moderno, espaçoso e bem iluminado, no décimo andar de um prédio elegante. Assim que entramos, Rafael jogou as chaves na mesinha da entrada e virou-se pra mim.

— Primeira coisa: banho. E depois a gente vê o que fazer — disse ele, tirando a camiseta e indo em direção ao banheiro.

— Vai tomar sozinho? — perguntei com uma sobrancelha arqueada, largando a mochila no sofá.

Ele olhou por cima do ombro, malicioso.

— Se quiser economizar água comigo, tá convidado.

Rimos, e o chuveiro nos envolveu logo depois — mas não rolou nada dessa vez. Estávamos exaustos, e havia algo silencioso entre nós: talvez o peso da volta, talvez o receio de que a vida aqui fosse engolir tudo o que construímos naqueles meses à beira-mar.

Nos jogamos na cama, meio molhados ainda, e cochilamos até a noite cair de verdade. Quando acordamos, já era mais de dez da noite. Rafael se espreguiçou e me puxou pra cima dele, beijando minha testa.

— Quer pedir pizza? Tô morrendo de fome.

— Claro. Desde que não seja com abacaxi.

— Jurava que você gostava…

— Eu gosto de você. Abacaxi na pizza é crime.

Pedimos uma meia calabresa, meia portuguesa. Enquanto esperávamos, ele ficou andando pelo apartamento, me mostrando os cômodos, me contando algumas histórias engraçadas com amigos que vinham ali, e como ele detestava aquele vizinho do lado que ouvia sertanejo às sete da manhã de domingo.

Quando a pizza chegou, comemos no sofá, dividindo o refrigerante na mesma garrafa, assistindo algo aleatório na TV.

Na manhã seguinte, ele levantou cedo.

— Vou até a empresa resolver as últimas burocracias. Pegar meus pertences, assinar a rescisão. Acho que volto na hora do almoço. Pode dormir mais um pouco se quiser.

Assenti. Dei um beijo nele antes de ele sair.

Quando voltou, pouco depois do meio-dia, ele entrou carregando uma sacola com algumas coisas e sorriu ao ver que eu estava cozinhando.

— O quê? Agora além de tudo virou chefe de cozinha?

— A gente precisa almoçar. E você sabe que comida é o meu ponto fraco. Isso aqui é só arroz, feijão e bife acebolado... Mas feito com carinho.

Ele veio por trás de mim e me abraçou. Senti o corpo dele encostar no meu e o cheiro de rua, perfume e saudade se misturando.

— Você é meu ponto fraco, Caio — ele disse, e aquilo me desmontou um pouco.

— Ah, para...

— Tô falando sério.

Sentamos pra comer. Estava quase tudo pronto quando ele olhou pro celular.

— Um colega meu vai passar aqui rapidinho. Precisa de um documento de um projeto que ele vai encerrar no meu lugar. Esqueci de avisar.

Assenti com a cabeça, mesmo sentindo uma pontinha de incômodo. “Colega”, “projeto”, “encerrar no meu lugar”... Tentei não alimentar nada. Mas você sabe como é, né? Quando algo incomoda, a gente percebe no ar.

Cerca de uma hora depois, a campainha tocou.

Rafael foi atender. Eu continuei na cozinha, ouvindo os passos. Em seguida, vozes.

— E aí, irmão! Que bom te ver, cara! — disse a voz do tal colega, Lucas, com um tom animado demais.

— Você também, mano! Que surpresa boa — respondeu Rafael.

Eles se abraçaram. E então, ele me apresentou:

— Caio, esse aqui é o Lucas. A gente trabalhou junto até semana passada. Lucas, esse é o Caio, meu namorado.

A palavra “namorado” me acalmou por uns segundos.

— Prazer, cara! — disse Lucas, estendendo a mão. Cumprimentei.

Eles conversaram um pouco ali mesmo na sala. Eu fiquei em pé, fingindo que limpava alguma coisa no balcão da cozinha, mas observando. Os dois riam de umas histórias internas do trabalho, e Lucas falava muito com as mãos.

— Quer um copo d’água, Lucas? — Rafael ofereceu.

— Não, valeu, mano. Tô de boa.

Depois de uns dez minutos, Rafael entregou um envelope com papéis.

— Aqui tá tudo o que você vai precisar.

— Fechou. Valeu mesmo. Ah — disse Lucas, antes de sair — vamo marcar aquela peladinha, hein?

— Pode deixar. A gente combina — respondeu Rafael, sorrindo.

Eles se abraçaram de novo. Rafael o acompanhou até a porta. Quando voltou, percebi que meu sangue já estava fervendo.

Ele voltou rindo, com uma leveza irritante.

— Pronto. Agora é só esperar cair o dinheiro da rescisão...

— Quem é esse cara? — perguntei, cortando.

— Lucas. Já falei.

— E por que ele te abraçou duas vezes?

— Ué, a gente é amigo. Sempre fomos próximos.

— Amigo? E esse “vamo marcar aquela peladinha”? Isso é futebol ou é outra coisa?

— Você tá brincando, né? — ele riu de canto de boca, sem achar graça.

— Tô não, Rafael. Você sumiu três meses. Volta, e em dois dias aparece um “amigo” que te chama de irmão, ri com você e marca pelada?

— Ah, não, Caio... — ele passou a mão no rosto, impaciente. — Não começa com isso agora.

— Com isso o quê? Com ciúme? Você sabe que eu sou assim. Você some por meses e depois acha que tudo é normal, tudo pode? Que eu vou assistir você rindo com outro cara dentro da nossa casa e ficar calado?

— Nossa casa? Agora é nossa casa? Você me vê como namorado só quando convém, Caio?

— Não me joga isso na cara!

— Eu não tô jogando. Mas você tá distorcendo tudo. O cara só veio pegar um documento. Você já tá criando novela. Eu te apresentei como meu namorado, caralho! Que mais você quer?

— Quero a verdade! Quero saber o que rolou nesses três meses!

O silêncio se instalou por alguns segundos. Eu vi o rosto dele mudar. Não era raiva. Era mágoa pura.

— Não é o momento pra isso — ele disse, com a voz baixa.

— Claro. Nunca é.

— Cansei — ele murmurou, e foi direto pro quarto.

Eu fiquei ali, com a comida esfriando na mesa e o coração pegando fogo no peito.

Naquela noite, não dormimos juntos. Ele deitou sozinho. Eu fiquei na sala, encarando a TV desligada, ouvindo a cidade lá fora tentando me convencer de que nada daquilo era grave. Mas era.

E doeu pra caralho.

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Foto de perfil de T. Lys. RT. Lys. RContos: 8Seguidores: 4Seguindo: 2Mensagem "Escrevo com o coração em carne viva, transformando dor, amor e redenção em capítulos que sangram poesia — onde cada palavra carrega o peso da verdade e o alívio da esperança."

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Ciúmes não leva a nada, o Rafael errou em fugir e não ser verdadeiro, e se ele tiver traído o caio nesse período, será o começo do fim

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