Tudo Que Me Quebra, Te Pertence

Um conto erótico de MictianD.
Categoria: Heterossexual
Contém 806 palavras
Data: 06/08/2025 18:34:53

A primeira vez que ela o viu, ele nem olhou em sua direção.

Estava sentado no fundo do bar, encostado na parede com os olhos fixos em algum ponto indefinido. Havia algo nele que não pertencia ao ambiente: enquanto os outros se dissolviam em álcool e risadas frouxas, ele parecia firme demais, quase uma ameaça em repouso. Camiseta preta colada ao peito, calça jeans escura, a mandíbula trincada como se mastigasse os próprios demônios. As mãos, enormes, seguravam um copo de uísque com a lentidão de quem saboreia o controle.

Ela não resistiu.

Vestia um vestido barato, justo demais para uma quarta-feira, e a maquiagem mal escondia os olhos fundos de quem não dormia bem há dias. Sentou-se no balcão fingindo desinteresse, mas passou a observá-lo pelo espelho atrás das garrafas. Sabia que ele a via — mesmo sem encará-la. E isso era o pior. Ele via tudo. Ela sentiu o arrepio antes mesmo de se dar conta do que estava fazendo.

Quando ele finalmente se aproximou, foi como se o bar inteiro se calasse.

“Você gosta de ser observada?”, ele perguntou, encostando-se ao balcão com o rosto perigosamente próximo do dela. A voz era grave, baixa, dita como uma confissão. Ela engoliu seco. “Depende de quem observa”, respondeu, sem piscar. E então ele sorriu, pela primeira vez — um sorriso curto, cruel, como se já soubesse que ela estava entregue.

O primeiro toque não foi com as mãos.

Foi com o olhar. Ele a manteve em suspense por dias — mensagens secas, horários imprevisíveis, sumiços estratégicos. Ela se pegava ansiosa por um sinal, por um comando. Quando veio, foi simples: um endereço e um horário.

Ela chegou pontualmente. Ele a esperava encostado em um carro antigo, sob um poste de luz falha. O lugar era um galpão abandonado, cercado por silêncios desconfortáveis e paredes grafitadas. Não houve conversa. Ele a guiou para dentro com uma mão firme nas costas, como se já tivessem combinado tudo. E talvez tivessem, em silêncio.

Lá dentro, a escuridão era cortada apenas por uma lâmpada pendurada, amarela e instável. O chão de concreto sujo, o cheiro de ferrugem e óleo queimado. Ele a encostou contra a parede e falou, bem rente ao ouvido:

“Você tem namorado, não tem?”

Ela assentiu, ofegante.

“E ele já te olhou como eu olho agora?”

“Não...”, ela murmurou, tremendo, sem saber se de medo ou excitação.

“Claro que não. Ele nunca soube o que fazer com você.”

E então ele a beijou — brutal, faminto, uma mordida disfarçada de afeto. Suas mãos exploravam como se tateassem um território que já lhe pertencia por direito. Ela gemeu, mas ele abafou o som com outra investida, segurando seu queixo com força.

A cada movimento dele, ela sentia a si mesma desabar. Não era apenas o sexo. Era o modo como ele parecia mapear suas falhas emocionais e transformá-las em desejo. Como se cada insegurança dela fosse combustível para o prazer dele.

Os encontros se tornaram viciantes.

Ela mentia para o namorado. Mentia para os amigos. Mas com ele, era sempre verdade — até as partes que ela não queria encarar. Ele a fazia falar, sob pressão, sob gozo, sob lágrimas. A cada visita, ele a desmontava mais um pouco.

“Por que você volta?”, ele perguntou certa vez, os dedos marcando as coxas dela com força enquanto a tinha sentada em seu colo, sem roupas, sem escapatória.

“Porque eu... não consigo evitar”, ela confessou.

“Não. Porque você precisa de alguém que te desmonte. Que quebre essa sua pose de controle. Você gosta de ser frágil. Só não tem coragem de admitir.”

E ela chorou, ali mesmo, no meio de um orgasmo sujo e silencioso, sentindo-se mais viva do que nunca.

Ele impunha regras.

Nada de mensagens fora de hora. Nada de ciúmes. Nada de amor romântico.

Mas ela o desafiava. Aparecia sem avisar. Provocava com fotos indecentes. E ele a punia: ignorava por dias, a fazia esperar nua em quartos escuros, amarrava-a pelas mãos e obrigava-a a sussurrar os próprios pecados enquanto a penetrava com a calma cruel de quem saboreia cada rendição.

“Você é minha falha preferida”, ele disse uma vez, depois de deixá-la presa, suada e exausta, chorando de prazer no chão frio.

Mas ele também começou a fraquejar.

Percebeu que pensava nela mais do que deveria. Que suas ausências eram estudadas, mas doíam. Que o poder que exercia sobre ela era a mesma corrente que o puxava de volta.

Ela, por sua vez, sentia que estava afundando. Não sabia mais onde terminava o jogo e começava a verdade. Passava os dias entorpecida, à espera de ordens, ansiando por humilhações que a lembrassem de sua existência.

Ambos estavam presos — não um ao outro, mas àquilo que despertavam juntos. Um desejo bruto, imoral, insaciável. Uma paixão tóxica alimentada por vícios emocionais, controle, medo e uma entrega que doía mais que qualquer tapa.

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Foto de perfil genéricaMictian DemeanourContos: 10Seguidores: 0Seguindo: 0Mensagem Escritor de Dark Romance, músico e compositor.

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