Meses haviam se transformado em uma rotina de uma felicidade tranquila e quase convincente. A vida de Renato agora tinha um centro: Junior. Um namorado bom, carinhoso, com um sorriso fácil e um toque gentil. O amor deles era construído em cafés da manhã de domingo, filmes no sofá e uma intimidade que não deixava marcas, apenas um calor reconfortante. Renato se convencia de que estava feliz. A fase de ser usado, de ter o corpo levado ao limite pela fúria de Kaio e a força de Ruan, parecia um pesadelo febril de outra vida, uma história que ele contava a si mesmo que havia ficado no passado.
A calmaria antes da tempestade encontrou-o em uma noite de quarta-feira, na conveniência de um dos postos mais novos e sofisticados da cidade. O ambiente era climatizado, o som era um pop rock nacional em volume agradável, e a companhia era de amigos do trabalho. Ele bebericava uma cerveja long neck, o celular no bolso vibrando ocasionalmente com mensagens de boa noite de Junior. Ele sorriu. Era bom ser amado. Era seguro.
Foi quando a porta de vidro se abriu, e a segurança se estilhaçou.
Ele entrou. Ruan. O tempo só o havia aprimorado. O porte continuava imponente, mas havia uma elegância casual em seu caminhar, uma confiança de predador que silenciava o ambiente ao seu redor. Ele usava uma camisa preta de linho que abraçava seus ombros largos e uma calça de sarja que desenhava coxas grossas e poderosas. Todas as memórias daquela noite, que Renato havia enterrado sob camadas de normalidade, explodiram com a força de uma granada em sua mente: o cheiro de suor e álcool, a sensação de ser esticado ao limite, o som de sua própria voz gemendo em uma mistura de dor e prazer.
O desejo que ele achava estar morto e enterrado não só ressuscitou; ele rugiu. O corpo de Renato o traiu instantaneamente. Um calor se espalhou por seu peito, e seu pau, adormecido e leal a Junior momentos antes, latejou dentro da cueca com uma urgência violenta e vergonhosa.
Ruan caminhou até o freezer, pegou uma água e se dirigiu ao caixa, e foi então que seus olhos encontraram os de Renato. Não houve surpresa. Apenas um reconhecimento lento, um sorriso mínimo, quase imperceptível, que dizia: Eu sei quem você é. Eu sei do que você gosta.
O ar ficou rarefeito. O rosto de Renato queimava. Culpa e luxúria travavam uma guerra em seu estômago. Ele precisava fugir. "Gente, vou ao banheiro rapidinho", ele murmurou para os amigos, a voz um pouco trêmula.
Levantou-se, as pernas instáveis, e caminhou em direção ao corredor, na esperança desesperada de que uma água fria no rosto pudesse apagar o incêndio que se alastrava por suas veias. Foi um erro fatal. Ao virar, ele olhou pelo canto do olho e viu. Ruan, que havia acabado de pagar, notou sua saída. E com aquele mesmo sorriso mínimo e confiante, ele deixou a água no balcão e começou a segui-lo.
O banheiro era limpo, azulejos brancos, bem iluminado. Um santuário que estava prestes a ser profanado. Renato parou em frente a um dos mictórios de parede, as mãos tremendo, sem sequer conseguir abrir o zíper. Ele ouviu a porta se fechar atrás de si, o som da conveniência sendo abafado, substituído pelo zumbido da luminária e pela batida de seu próprio coração.
Ruan parou no mictório ao seu lado. O cheiro dele era uma mistura de perfume amadeirado caro e uísque. Ele não disse nada, apenas ficou ali, criando uma bolha de tensão insuportável. Então, com um movimento lento e deliberado, Ruan abriu o zíper e tirou o pau para fora. Já estava semi-duro, grosso, pesado, uma arma que Renato conhecia intimamente.
Ele se inclinou, a boca perto do ouvido de Renato, o hálito quente e alcoólico fazendo cada pelo de seu corpo se arrepiar.
"Pega", ele sussurrou. A voz era grave, uma ordem disfarçada de convite.
O conflito interno de Renato foi uma batalha curta e sangrenta. De um lado, o rosto de Junior, o amor, a lealdade, a promessa de uma vida tranquila. Do outro, a mão de Ruan em sua nuca, o gosto de submissão, a adrenalina pulsando em suas veias. Era o vício contra a cura.
O vício sempre vencia.
A mão trêmula de Renato se estendeu. Os dedos se fecharam ao redor da base quente e grossa do pau de Ruan. A pele era macia, as veias saltadas. Ele começou a masturbá-lo ali mesmo, um movimento lento e hesitante que logo se tornou mais firme, mais confiante. Os dois lado a lado, em um silêncio cúmplice, olhando para a parede branca à sua frente, com o risco absurdo de alguém entrar a qualquer segundo. A adrenalina era um veneno delicioso, mais potente que qualquer droga. Ruan suspirou, um som baixo e gutural de aprovação.
O som da maçaneta da porta girando foi como um tiro.
Em um reflexo, eles se ajeitaram. Renato puxou a mão de volta, o coração na boca. Ruan guardou o pau com uma calma irritante. A porta se abriu e um homem estranho entrou, lançando um olhar desconfiado para os dois antes de seguir para uma das cabines. A oportunidade havia passado, mas a promessa havia sido feita.
Eles saíram do banheiro sem trocar uma palavra. Renato voltou para sua mesa, a mente em um turbilhão, incapaz de encarar seus amigos. Ruan, no entanto, caminhou diretamente para o caixa com uma audácia que beirava a crueldade.
Ele pediu duas cervejas long neck, as mais geladas. A atendente registrou. Quando ela perguntou sobre o pagamento, Ruan, em voz alta o suficiente para que a mesa de Renato ouvisse, apontou com o queixo na direção dele.
"Pode colocar na comanda daquele moço ali", disse, com a tranquilidade de quem manda.
Foi um ato público de posse. Uma marcação de território na frente de todos. Renato sentiu o sangue subir ao rosto, a humilhação o paralisando na cadeira. Os amigos o olharam, confusos. Ele se levantou, foi até o caixa e pagou pelas cervejas de Ruan, sentindo-se como a puta mais barata do mundo.
Ele pegou suas coisas, murmurou uma desculpa qualquer para os amigos e foi embora, quase correndo. Não olhou para trás, mas sentia o olhar divertido de Ruan em suas costas. Ele sabia, com uma certeza aterrorizante, que não era mais o namorado de Junior. Ele era, mais uma vez, o brinquedo de alguém. E o jogo estava apenas começando.
Ao chegar em casa, Renato fechou a porta e se encostou nela, o corpo tremendo. O lugat, que antes era um refúgio de paz e amor com Junior, agora parecia uma cena de crime prestes a acontecer. A culpa o corroía. A imagem do rosto de Junior, sorrindo, confiando nele, era uma tortura. Mas por baixo da culpa, o tesão pulsava com uma vida própria, uma fera alimentada pela adrenalina do risco e pela promessa de submissão. Ele sabia que a noite não havia acabado. Ruan o havia marcado. Era apenas uma questão de tempo.
O tempo foi de exatos quinze minutos.
Seu celular vibrou sobre a mesinha de centro. Ele olhou para a tela e seu estômago gelou. Uma notificação no Instagram, a plataforma que ele usava para curtir as fotos de Junior e de seus amigos, agora era o canal de sua perdição.
"Ruan_Barber quer te enviar uma mensagem"
Com os dedos trêmulos, ele aceitou. A mensagem apareceu imediatamente, curta, direta, sem espaço para interpretação.
"Me passa seu número. Agora."
Não havia ponto de interrogação. Era uma ordem. Sentindo-se encurralado, como se a recusa não fosse uma opção viável, Renato digitou os números e enviou. O "visualizado" apareceu no mesmo instante. E então, o telefone tocou. Era ele.
Renato atendeu, sem dizer nada.
"Tô descendo aí", a voz de Ruan, grave e sem rodeios, soou do outro lado. "Me espera."
A chamada foi encerrada. A invasão era iminente. Não havia mais para onde correr. O vício viera cobrar sua dose.
Ruan não bateu na portão, ele deu duas batidas firmes, como alguém que já tem a chave. Renato abriu e ele entrou, trazendo o cheiro da noite e do perigo para dentro do santuário de Renato e Junior. Ele passou por Renato como se ele fosse parte da mobília, seus olhos varrendo o lugar, a sala arrumada, as fotos do casal feliz na estante. Um sorriso de desprezo brincou em seus lábios.
Não houve conversa fiada. Não houve sedução. Ruan estava ali para cobrar o que foi interrompido no banheiro, e seu corpo inteiro comunicava isso. Ele se virou para Renato, que estava paralisado perto da porta.
"Abre a boca", ele ordenou.
E o que aconteceu depois você consegue ler aqui: https://privacy.com.br/@Regard