Voltei para a cama como pude, fingindo dormir, tentando ligar os pontos em silêncio. Aquilo tinha sido armado? Eu... fui usada?
O som da porta se abrindo de novo me fez voltar à realidade. Vitor entrou no quarto e veio na minha direção.
— Ei... — disse ele, se aproximando, com aquele sorriso de sempre. — Olha se não é a dorminhoca...
— Oi. — disse, meio seca.
Vitor então respondeu, enquanto caminhava até mim.
— Vai ficar comigo pra tomar o café? Posso te dar mais prazer... Adorei te comer ontem.
Não importava as intenções dele, eu já estava decidida a ir embora. Já estava de pé, abotoando minha calça jeans. Quando ele tentou me abraçar, estendi a mão em sua direção, parando-o no mesmo instante.
— Você pode querer o que quiser, mas não vai ter é mais nada. Isso foi um erro — soltei, sem conseguir olhar nos olhos dele.
Ele riu, com aquela arrogância mascarada de charme.
— Um erro que você gostou. Pode falar.
Levantei o olhar, firme. O coração batendo como um tambor, mas a voz saiu limpa.
— Isso é algo que você diz, Vitor. Independente de qualquer coisa, Continua sendo um erro. E eu ainda tenho um namorado.
— Um namorado que você até ontem disse que estava com outra. Ele não liga pra você.
Ele franziu o cenho, como se esperasse outra reação. Eu continuei:
— Mesmo que ele tenha me traído, ainda é meu namorado. E eu preciso resolver isso antes de fazer qualquer coisa. Nem que seja terminar.
— Eu acho que você nem devia voltar pro Rio... Fica comigo, vai? Larga aquele traste.
— Vitor, quem você pensa que é pra falar assim do Pedro? — eu realmente não gostei daquilo. Vitor não tinha autoridade para falar daquela forma do Pedro, por mais que ele não merecesse ser defendido.
— Eu sou o cara que te defendeu de ser violentada, duas vezes. Que te deu um ombro amigo e um pinto quando preci— naquele momento, explodi. Antes que ele terminasse de falar, eu dei um tapa na cara dele.
— Se você tem amor a qualquer coisa, não termine essa frase que ia falar. Você pensa que é quem?
Peguei minha bolsa, o celular, tudo que era meu. Mas antes que eu pudesse ir embora, eu visualizo uma tentativa de ligação para o celular dele. Era de Elisa. Alguma coisa me dizia que tinha algo errado com aquela ligação.
De qualquer forma, não queria mais ficar ali. Me senti suja. Mas mais do que isso, me senti enganada. Mas não quis demonstrar, não agora. Poderia, simplesmente confronta-lo. Mas não sem antes descobrir qual é a real da fala dele.
— Quer que eu te leve? — ele perguntou.
— Prefiro ir sozinha.
Saí, sem olhar para trás. Porque se eu olhasse, talvez minha força fosse embora. E eu não podia mais me dar esse luxo.
Saí da casa do Vitor e voltei para nossa hospedagem com a cabeça a mil. As palavras do Vitor ainda ecoavam em mim, misturadas com a lembrança de tudo que já tinha rolado até aquela manhã.
Meu coração parecia acelerado. Tudo parecia embaralhado. Eu sabia que precisava conversar com alguém, desabafar, tentar entender o que estava acontecendo… De início, achei que a pessoa mais óbvia, seria Pedro, mas, sinceramente? Se eu falasse com ele agora, eu iria explodir e, não só contar a ele o que rolou, mas também confronta-lo sobre porque me traiu.
Na necessidade de desabafar, eu só conseguia pensar em uma pessoa. Pensei em falar com a Vanessa. Ela sempre foi mais tranquila, parecia mais sensata que a Elisa. Nunca senti confiança completa na Elisa, mas a Vanessa… talvez ela pudesse me ouvir.
Quando cheguei na hospedagem, o corredor estava silencioso. Não tinha muita gente ali, ainda era manhã. Caminhei até o quarto da Vanessa, com a esperança de ter um pouco de clareza. Talvez ela soubesse me dizer se eu estava exagerando… se estava vendo coisa onde não tinha.
Mas assim que me aproximei da porta, notei que ela estava semiaberta.
Ia bater, mas algo me fez parar. Um instinto, talvez. Ou só um mau pressentimento. E foi então que ouvi.
— A Mônica é muito sonsa! — disse Elisa, rindo com desprezo. — Se ela não quer aproveitar o Vitor, a gente aproveita, né?
Meu coração acelerou. Aquilo não podia ser verdade.
— Ai, amiga — respondeu Vanessa, com um tom leve — eu e ele transamos já anteontem. Ele tem pegada, viu?
— Hahaha, tem é? Tô precisando mesmo ser comida. O cara da semana passada é muito broxa. — disse Elisa.
As duas caíram na risada. Eu permaneci imóvel, atrás da fresta da porta. Cada palavra parecia uma facada.
—Eli, você acha mesmo que fizemos certo, sei lá. Em ter feito o que fizemos com a Mônica?
— Claro, vai por mim. O Vitor não te contou do Pedro não?
— O Vitor queria mais é me comer. Hahaha — estava ali, a Vanessa. Rindo. Elisa seguiu.
— Ah sim, então… — Elisa continuou, mais baixa —… Esse Pedro ai não é esse santinho que ele gosta de pregar não. O Vítor disse que até mulher casada ele pegou, e ele sabia. Tu nem sabe o que aconteceu.
— Como assim mulher casada? — disse Vanessa.
Só vi Elisa mandar ela ficar em silêncio e depois desconversou. Falou lá mais uma de suas bobagens, e começou a rir. Mas algo martelou na minha cabeça:
Mulher casada? Que história era essa?
— Sinceridade, a gente tá fazendo um favor pra Mônica — disse Elisa, com um ar convencido. — Afastando ela de alguém que, claramente, não presta.
Senti um gosto amargo na boca. O ar começou a faltar. Tudo estava se embaralhando ainda mais… mas eu não conseguia parar de ouvir.
— Falando nisso… — Elisa disse, mexendo no celular —, vou adicionar o Pedro no Facebook agora mesmo. Eu sei que eles vão terminar. A Mônica é sonsa mas também não é burra, eles vão terminar. E ele vai precisar de um ombro amigo… e de uma cama amiga também, né?
Mais risadas. Gargalhadas, na verdade. E eu apenas escutei um pouco mais, mas só mais um pouco.
Senti o estômago revirar. Elas estavam armando alguma coisa desde o começo. Todas aquelas palavras doces, conselhos falsos, aquele tom compreensivo… tudo encenação. Eu confiava nelas. E agora ali estavam, debochando de mim como se eu fosse só uma trouxa fácil de ser enganada.
Afastei-me da porta com cuidado, tentando não fazer barulho. O corredor parecia mais frio agora. Voltei para o meu quarto em silêncio, trancando a porta com mãos trêmulas.
Sentei na cama, olhando para o nada. Pela primeira vez em dias, as coisas começavam a fazer sentido. Mas era um sentido cruel. Um sentido que doía.
Aquelas duas não eram minhas amigas. Nunca foram.
A ficha caiu de vez. Eu estava sendo feita de boba — e com gosto.
Me chamaram de sonsa, e talvez eu tenha sido mesmo. Sonsa por acreditar demais nas pessoas erradas, por achar que quem sorria ao meu lado queria meu bem. Sonsa por realmente acreditar que algo tenha acontecido além da boquete — o que eu já considero um erro. Mas o meu foi maior.
Minhas mãos tremiam, o coração batia feito louco, e comecei a chorar. Eu me desesperava por dentro, porque eu tinha dado o cuzinho que eu queria dar para o Pedro pra outro cara, que nem é nada meu no fim das contas, apenas uma pessoa que me salvou, e agora, eu nem sei se era essa a intenção dele mesmo.
Uma dor começou a tomar conta de mim por dentro, e ao mesmo tempo… uma frieza que eu nunca vi. Eu não ia mais chorar. Não agora. Eu precisava pensar.
E peguei o celular na mão novamente, e voltei o vídeo algumas vezes. A imagem era ruim, tremida, como se tivesse sido feita às pressas, de propósito. Mas agora, com o olhar certo — com o olhar de quem foi traída por todos ao redor — percebi os detalhes: A pessoa deitada usava a tal sunga do Pedro, mas tinha uma tatuagem na perna, coisa que Pedro não tinha. E eu lembrei bem dessa tatuagem na perna, no dia da boate.
Aquele ali era o tal do Rafael.
Suspirei fundo. O pior de tudo é que eu quis acreditar que era o Pedro. Porque parte de mim sentia medo. Medo de tudo isso ser verdade. E o medo me induziu a um erro grave, que sinceridade, Pedro jamais vai perdoar.
Até porque, se aquilo tudo fosse mentira, então eu tinha cometido um erro enorme.
Elisa sabia. Vanessa também. Elas estavam por trás disso. Estavam jogando comigo.
E agora tinham planos com o Vitor... e com o tal do Rafael. Será que a Iza também?
Por impulso, eu acabei saindo do quarto. Eu comecei a andar sem rumo, eu entrei dentro de um shopping que ficava bem próximo onde estava hospedada. Minha cabeça naquele momento estava um turbilhão.
Tudo que consegui pensar naquele momento era pelo menos ouvir a voz dele. Foi então que eu peguei o telefone e liguei pro Pedro.
— Oi amor. —
— Oi, meu amor. — Ele respondeu, com aquele sorriso na voz que conseguia me derreter. Porém, só de ouvir a voz dele e me lembrar de tudo, comecei a desmoronar.
— Eu... só liguei pra avisar que estou bem. E ansiosa pra gente se ver. — Naquele momento, comecei a passar mal. Minha voz falhava, tinha muita gente onde eu estava também. Eu corri pro banheiro feminino, pra passar alguma água no meu rosto, minha visão começou a ficar turva.
— Amor, você está bem? Quer falar alguma coisa? — E quando ouvi aquilo, eu pensei em confessar. Mas eu sabia, que seria o fim. Eu precisava ao menos descobrir sobre tudo, antes de falar, era o que eu tinha colocado pra mim.
— Não. Era só i —isso. — Foi então que minha visão ficou ainda mais turva. Comecei a ficar tonta.
— Eu te amo, Mônica. Estou com saudades.
— Eu também..
Foi então que eu senti minha pressão cair, e não me lembrei de mais nada. Acordei praticamente na enfermaria do shopping, com um dos seguranças tentando me acordar. Mediram minha pressão, estava baixa. Me deram alguma coisa pra comer, e quando me senti melhor, resolvi ir embora.
Eu me levantei devagar, peguei meu celular e abri o bloco de notas.
Comecei a escrever tudo.
Tinha que organizar as ideias, as pistas, os nomes, as conversas.
Se elas estavam me enganando, se tinham mesmo feito uma armação... eu precisava saber. E se eles queriam me prejudicar, ou ao Pedro. Eu precisava arrumar alguma coisa.
Essa viagem ia virar outra coisa agora.
Eu ia fingir. Fingir que não sabia. Fingir que continuava sendo a sonsa que elas pensam.
Mas não iam ver o que viria por trás.
Porque agora, era eu quem começava a investigar.
E ninguém vai brincar com meu coração assim de novo.
Quatro horas. Foi o tempo que levei para finalmente criar coragem e voltar para o apartamento. Entrei em silêncio, sem saber o que esperar, mas o riso abafado das meninas na sala me deu a resposta: elas estavam ali, conversando como se nada tivesse acontecido.
Isa estava sentada no canto do sofá, com uma almofada no colo, enquanto Elisa e Vanessa riam de algo que tinham visto no celular. No instante em que fechei a porta, todos os olhares se voltaram pra mim.
— E aí, minha filha — disse Elisa, com aquele sorrisinho enviesado que me incomodava mais do que eu gostaria de admitir —, cadê o boy? Conta pra gente como foi dar o cuzinho pro Vitor! Ou deu a bucetinha também?
As duas riram. Isa não. Isa só abaixou o olhar.
— Gente, não força. Não quero falar sobre isso. — tentei desconversar, passando direto por elas e indo em direção a minha cama.
Mas Vanessa não deixou barato.
— Ah não, volta aqui! Conta, mulher! A gente quer detalhes. Como foi? Ele mandou bem? Tava no ponto?
Virei de uma vez.
— Foi um erro — soltei, firme. — Eu não deveria ter feito aquilo. Não vai acontecer de novo.
Elas se calaram por alguns segundos, surpresas com a minha reação. Elisa quebrou o silêncio.
— Ah, para com isso, Mô. Você só se vingou. Foi pouco até. O Pedro tirou com a tua cara! Fez papel de otário com você e agora quer santificar ele? Você é linda, tem é que se valorizar!
— É… — completou Vanessa —. Pedro colheu o que plantou.
Isa pigarreou. Sua voz foi mais calma, mas carregava algo diferente. Uma interrogação.
— Mas… será mesmo que era o Pedro?
As outras duas a olharam como se ela tivesse falado uma heresia.
— O quê? — Vanessa se adiantou. — Você tá falando sério?
— Ué — Isa ergueu os ombros, cruzando os braços —, a gente viu o Pedro no dia da nossa viagem. O cara que tava deitado naquela cama… ele tinha a pele mais morena. E... me corrijam se eu estiver errada, mas o Pedro tem tatuagem?
Elisa bufou.
— Ah, pronto. Agora você tá passando pano pra macho traíra. Claro que era o Pedro, até mesmo a Mônica concorda.
— Exato — Vanessa reforçou, cruzando os braços. — É cada uma… Agora vai dizer que era um clone? Isa, você tá viajando.
— Eu só tô dizendo que a Mônica deveria considerar essa possibilidade — insistiu Isa, me olhando direto nos olhos. — Vai que... vai que não era ele.
Eu a encarei. Por dentro, eu sabia que Isa estava certa, e ali, eu percebi que ela talvez não estivesse dentro do jogo daquelas duas. Mas eu ainda precisava encarnar a personagem traída, se eu quisesse chegar a verdade.
— Isa… não tenta aliviar pro lado dele. O Pedro é um cafajeste. Me enganou direitinho. E, olha, eu tô cansada de tentar entender homem. Dessa vez foi demais. Eu não quero mais pensar nisso.
— Tá bom, Mô. Eu só queria ajudar.
— Você ajuda mais ficando calada, Isa. Você é muito sonsa as vezes. — disse Elisa.
Isa abaixou o olhar, como se estivesse pedindo desculpas sem dizer nada. Elisa e Vanessa trocaram olhares de cumplicidade e mudaram de assunto, voltando a comentar algum vídeo bobo do Instagram, e eu respirei fundo, fingindo interesse enquanto me sentava com elas.
Mais tarde, com o clima mais calmo e os ânimos arrefecidos, Isa se levantou do sofá e ficou me observando por um tempo, como se ponderasse algo. Então, falou:
— Mô... eu conversei com a Vanessa uma coisa, e gostaria de compartilhar contigo, se não se importa.
— O quê?
— A Vanessa tras direto homem lá pro quarto, e tipo.. Eu não gosto disso, quero minha privacidade e ela sabe, e como a Elisa faz isso também, nós combinamos de trocar de quarto. Eu no lugar da Elisa.
— Por mim tudo bem — falei, olhando pra Elisa. — Tranquilo?
— Ué, de boa — disse ela, meio indiferente.
Minutos depois, já estávamos trocando os lençóis e levando as coisas de um lado pro outro. Foi estranho pensar que agora eu dividiria o quarto com a Isa, justo ela, que sempre pareceu tão distante do resto das meninas.
Já passava da meia-noite quando terminamos de ajeitar tudo. O clima estava mais silencioso, íntimo. As luzes apagadas, só o abajur do criado-mudo ainda aceso. Isa estava escovando os cabelos quando se virou pra mim.
— Mô?
— Hm?
— Você se incomodaria se a gente conversasse um pouco antes de dormir?
Assenti devagar.
— Claro que não.
Isa já estava ajeitada na cama, com os cabelos presos de qualquer jeito, usando uma camiseta larga e confortável. O abajur ao lado da cama deixava o quarto numa penumbra suave, e mesmo assim, eu conseguia ver nos olhos dela que alguma coisa estava fervendo ali dentro.
— Então, eu nem sei como começar isso. — ela disse com um sorriso fraco, puxando o lençol até o peito. — Mas fico aliviada que as duas não estão aqui.
— Duas, como assim? — retruquei, encostando a cabeça na parede e cruzando os braços. — Desde que a gente entrou aqui, você tá estranha. Tá segurando alguma coisa?
Ela suspirou. Longo, como quem toma coragem. Depois virou de lado, de frente pra mim.
— Tá. Eu preciso falar com você, mas... prometer que não vai achar que eu tô viajando?
— Prometo — respondi sem hesitar.
— Eu acho que a Vanessa e a Elisa... tão aprontando alguma coisa.
Fiquei em silêncio. Só deixei o olhar pesar um pouco mais. A Isa continuou.
— É sério. Desde o começo essa história toda tá esquisita. Mô, eu não conheço seu namorado, mas sei como você sempre falou dele. E assim, quando me mostraram o vídeo eu realmente notei as diferenças que mencionei lá atrás, o cara é muito mais moreno do que ele. Eu sinto que você está caindo numa armadilha Mônica. Você já parou pra pensar que estão te manipulando com essa gravação?
Fiquei encarando o teto por alguns segundos, como se ele pudesse me dar alguma resposta. Mas no fundo, eu já tinha algumas.
— Você tá certa — murmurei, virando lentamente o rosto pra ela. — A gravação foi manipulada.
Ela arregalou os olhos.
— Como assim? Mas você disse que acreditava nela.
— Eu revi várias vezes. Na última vez, com mais calma, percebi detalhes... Sabe, na hora eu não percebi nada, mas depois fiquei me perguntando: desde quando o Rafael conhece o Pedro? Por que os dois de repente se tornam amigos e depois disso acontece a gravação?
Isa pareceu digerir aquela informação como quem toma um remédio amargo.
— Rafael...
— É — confirmei. — Pedro participou de alguma coisa, não vou negar. Não sou boba Tem ele ali recebendo uma boquete bem dada. Mas não foi exatamente como me fizeram acreditar. E eu sinto que tem mais gente envolvida. Elisa, Vanessa... e o Vitor. Principalmente ele.
— Mônica... — Isa sentou na cama, agora completamente alerta. — Ontem à noite, eu ouvi uma conversa. Não contei antes porque achei que tava exagerando, mas agora...
— Que conversa?
— Eu tava tomando banho, e quando saí, ouvi a Vanessa falando por vídeo com alguém. Ela tava rindo, debochando... e quando cheguei mais perto da porta, ouvi o nome do Rafael. Eles estavam conversando numa boa, tipo... achei normal, afinal eles ficam. Mas ai começou uns papos super estranhos.
— Me conta mais. — pedi.
— O Rafael tava comentando que tinha armado um esquema e que o "pato" tinha caído, eu não sei dizer quem era. E a Van perguntou de um plano que o Vitor tinha montado. Disse que tava “dando tudo certo”.
— Dando certo é? — perguntei.
— Tem uma coisa que está me incomodando também, já reparou uma coisa? — comentou a Isa.
— O que?
— Você não acha estranho o Vítor ter aparecido pra te salvar duas vezes de um suposto abuso? Ninguém mais viu o Marcos depois disso.
Meu sangue gelou. Tudo começou a se encaixar. As peças estavam ali o tempo inteiro, mas até então embaralhadas. Agora elas começavam a formar algo mais claro... mais sujo.
— Eu não tinha pensado nisso antes... — murmurei, mais pra mim do que pra ela.
— Será que não estou viajando não? — perguntou a Isa.
— Não Isa, agora alguma coisa faz sentido. Eu também vi o Vitor falando coisas suspeitas no telefone.
— Mônica, se o Vitor fez isso...— disse Isa.
Ela pausou por um momento, e depois continuou.
— Amiga, eu nunca confiei muito nesse Vitor, eu sempre achei que ele e as meninas estão envolvidos em algo. Tipo, estão agindo dos dois lados — completou Isa. — O Rafael com o Pedro, o Vitor com você.
— Agora faz mais sentido algumas coisas... — comentei.
— ...Me desculpa, se eu toquei em um assunto que não queria.— ela completou por mim.
Fechei os olhos. Aquilo doía. Não só pela armação, mas por ter sido feita de joguete. Por ter caído exatamente como eles previram.
— Não fale isso, Isa. Você foi o anjo que me caiu do céu, eu estava precisando desabafar...
— E o que vai fazer á seguir? — perguntou.
Foi então que nesse momento Isa se levantou e sinto na beirada da cama praticamente junto comigo. Pegou então uma de minhas mãos soltas e levou até as suas, onde ela ficou me olhando.
— Só que tem uma coisa que eles não calcularam — falei, sentindo uma chama se acender por dentro. — Que eu perceberia. Que eu juntaria as peças.
— E que você não tá sozinha — Isa disse, segurando minha mão de leve.
Sorri, meio cansada, mas grata.
— Eu preciso descobrir o que eles fizeram exatamente. Como foi que conseguiram manipular tudo. O que o Pedro fez ou deixou de fazer... e o que foi armação pura.
Isa assentiu.
— E como a gente vai fazer isso?
Fiquei um instante em silêncio. Pensando.
Foi então que a ideia veio.
— Eu ainda não sei, mas sei lá, temos a vantagem dessa gente pensar que eu sou sonsa e ainda não descobri nada. Principalmente essas meninas, elas não são muito espertas, posso sei lá. Gravar conversas chave, descobrir coisas. Mas preciso descobrir a verdade.
— ...Como eu disse, você pode contar comigo, Mô. — Isa completou com os olhos brilhando. — Você sempre foi uma boa amiga, não acho justo o que essas meninas estão fazendo.
Assenti lentamente.
— Mas com calma. Discrição total. Se eu conseguisse acesso a alguma coisa dessas meninas...
Isa apertou minha mão.
— Eu posso tentar, elas nem sonham que eu estou desconfiada.
Olhei pra ela com um misto de raiva e alívio.
— Agora... agora eu tenho certeza de quem são minhas amigas de verdade.
E naquela noite, pela primeira vez desde que tudo desmoronou... eu senti que tava recuperando o controle da minha história. Que eu podia fazer mais, do que simplesmente chorar, ou ficar lamentando. Eu precisava descobrir tudo o que aconteceu.
Acordei com o som suave das notificações do celular, e por um instante, hesitei. Parte de mim ainda estava bagunçada, confusa… mas outra parte, aquela que teimava em continuar acreditando, se recusava a ceder ao medo ou à dúvida. Olhei as notificações, e nada do Pedro. Imaginei o remorso dele, pelo que aconteceu, mas até aquela altura, eu já tinha perdoado ele, afinal, eu também cometi um erro. Iria julgar por que? Respirei fundo, sentei na cama e escrevi para o Pedro.
“Bom dia, amor 💛 espero que hoje seja um dia bom pra você. Por aqui, o sol tá brilhando e eu tô decidida a fazer esse dia valer a pena. Beijo, te amo.”
Eu não me aguentei, e duas horas depois, mando uma mensagem de voz:
— Oi, amor... bom dia! Aaaaai, eu tô morrendo de saudades de você… acho que a gente já tá voltando hoje ou amanhã de manhã, tá? Eu te aviso certinho, tá bom? Quero te ver logo, te abraçar, dormir agarradinha em você... te amo!
Eu não sabia exatamente o que esperar dele. Talvez uma resposta calorosa. Talvez apenas o visto azul e o silêncio. Mas, independentemente disso, eu precisava mostrar que ainda estava aqui. Que, apesar da tempestade, eu ainda era Mônica. E ainda acreditava em nós.
Decidi então fazer algo leve, algo pra afastar os pensamentos ruins que insistiam em rondar minha cabeça. Peguei o celular de novo e criei um grupo rápido no WhatsApp:
“Garotas no Front 🛍️💄”
Mandei:
“Meninas, que tal uma tarde no shopping hoje? Preciso me distrair, e aproveitar que logo voltamos pro Rio. ❤️”
Em menos de cinco minutos, as respostas começaram a pipocar.
Elisa: "Não era mais fácil nos chamar no quarto? KKKKK"
Isa: "Vocês sabem que a Mô adora redes sociais 😂"
Vanessa: " Estamos indo ai então, já acordei disposta. Vamos?"
Isa: “Tô dentro! Já tava entediada mesmo 😂”
Elisa: “Por mim, fechou! Zona sul? Amo.”
Vanessa: “Shopping e fofoca? Combinação perfeita. Que horas?”
Sorrindo, combinei com elas por volta do meio-dia no shopping da zona sul. Aproveitar São Paulo, antes de voltar pra minha cidade, que aliás, eu já estava cheia de saudades.
O dia estava bonito, apesar do calor abafado. Coloquei um vestido leve floral, sapatilhas brancas e um óculos escuro, me sentindo, por fora, mais confiante do que realmente estava por dentro.
Encontramos-nos perto da entrada principal. Isa estava com um look casual e chamativo como sempre. Calça jeans justa, cropped e uma bolsa a tiracolo estilosa. Elisa, mais recatada, mas sempre elegante, e Vanessa com sua energia caótica habitual, já estava rindo de algo quando nos viu.
— Olha só esse quarteto de musas! — ela disse, nos puxando para um abraço coletivo.
— Musas que precisam gastar e falar mal de macho, de preferência. — Isa completou com um sorriso.
Rimos e começamos nosso passeio. Entramos em lojas de roupa, experimentamos coisas que sabíamos que não íamos comprar, tiramos selfies em frente a vitrines e, claro, sentamos para comer no nosso lugar favorito: o bistrô no último andar.
Foi lá, entre uma batata frita e outra, que Isa começou a soltar pequenas frases… Que eu sabia muito bem onde iam dar.
— Engraçado como às vezes a gente acha que conhece as pessoas, né? E do nada, elas surpreendem… — disse ela, enquanto olhava o celular.
— É… ainda bem que temos umas às outras, né? — comentou Vanessa.
— Total. Inclusive, tem gente que vive de aparência. Eu, hein. — Isa acrescentou, mordendo o canudo do milk-shake.
Elisa deu uma risadinha, mas não disse nada. Eu, por outro lado, apenas observei.
— Tá tudo bem, Isa? — perguntou Vanessa.
— Tá tudo bem sim. — respondeu a Isa. — Aliás, eu estava pensando ontem. Eu cheguei a comentar com vocês sobre o namorado da Mô, que poderia não ser ele no vídeo, mas ela ontem realmente me convenceu de que era ele mesmo. Como pode...
— Ah, eu falei né? — Comentou Elisa. — Isa, você só teve um namorado na vida, não conhece os homens como eu. Todo homem é canalha.
— Canalha o quanto? — Ela comentou. Eu apenas observei.
— Ah, mas eu sei uma coisa sobre o Pedro que nem a Mõnica deve saber.
Foi então que naquele momento eu franzi minha sobrancelha e olhei diretamente para a Elisa. Aproveitei a deixa e cobrei explicações sobre a última palavra dela:
— Agora que você começou, termine, Elisa. Já é a segunda vez que você diz que sabe algo daquele sem vergonha. Fala.
Elisa então deu de ombros, e então começou a me contar algo que eu nem imaginava que poderia ter ocorrido.
— Monica, o seu namorado não é quem você pensa que é. Você sabia que ele praticamente acabou com um casamento no passado? Você sabia disso? E tudo isso por causa de uma aposta.
— Como é? Me explica essa parada ai. — Perguntei.
Elisa, cheia de si, continuou.
— Bom, por coincidência do destino, eu acabei meio que conhecendo um ficante ai que conhece bem seu namorado. Ele me contou que na época que Pedro ainda era um universitário, numa festa aí, acabou meio que fazendo uma aposta junto com um amigo dele, sobre quem pegaria uma casada e viraria ela do avesso. Óbvio que já sabemos quem ganhou né?
Querendo saber mais, perguntei para Elisa sobre mais do assunto e quem era a pessoa. Elisa então me respondeu:
— Não posso dizer quem é, pois eu fiz uma promessa com essa pessoa que eu não revelaria muitas coisas, ela tem vergonha do que aconteceu. O que eu posso dizer é que ele sabia que ela era casada, que pegou ela e fez o cara ainda saber que era corno.
— Pera, você ta querendo me dizer que o Pedro então fez essa barbaridade aí? Mas cara, isso não é possivel. — disse.
— Por isso que eu sempre disse pra você largar de ser trouxa, Mônica. O Pedro é um galinha sem vergonha, se ele fazia essa maldade na vida de solteiro, imagina agora.
Me lembrando da conversa do Vitor, sobre ele citar algo como se estivesse dando o troco em alguém, o fazendo ser corno, e agora isso, eu comecei a entender melhor a situação. Não quis demonstrar mais nada, e entrei na personagem. Mostrei raiva do Pedro, e recebi ali um conselho da Elisa e Vanessa:
— Se eu fosse você, nem terminava com ele. Eu enfeitava a cabeça dele de mais chifre. Nós queremos tanto incluir você nas nossas safadezas. hahaha.
Durante o passeio, ela fez mais algumas dessas insinuações soltas, sem nunca mencionar nomes, situações, nem apontar nada diretamente. Sempre atenta, eu estava ali, ligando os pontos, e Isa sempre jogando verde.
No fim do dia, voltamos para o apartamento cheias de sacolas (a maioria com besteiras que não precisávamos), fotos no celular, e assuntos pendentes. E principalmente, com muitas coisas ainda na mente.
Deitada na minha cama à noite, olhando para o teto, conversei com a Isa, agradecendo pela ajuda. Isa disse que ainda poderia me ajudar ainda mais.
A partir dali, usei todo o meu tempo e esforço para começar a descobrir tudo. Eu já tinha um norte de tudo o que aconteceu, mas ainda faltava uma peça: e eu sabia muito bem como conseguir essa peça. Foi então que pedi ajuda a Isa, para conseguir pra mim o telefone de uma pessoa que iria concluir completamente essa farsa.
Porém, voltando ao presente sou interrompida por Pedro, que ouviu tudo até aquele momento mas não quis ouvir o resto. Com um semblante de derrota e ao mesmo tempo confusão, ele olhava para mim:
— Deixa eu ver se eu entendi, quer dizer que parece que estão armando alguma para nós dois, por causa de alguma coisa que eu fiz que eu nem mesmo me lembro ou sei, e por isso você foi lá e deu pra outro, é isso?
— Você sabe muito bem que não é bem isso, se você escutou tudo que eu falei até aqui, você sabe... Foi por raiva, por impulso, ta... Talvez até tenha ficado encantada com o cara, tava vulnerável, ele me ajudou.
Eu vejo Pedro olhar seu celular em seguida. Ficou alguns segundos com os olhos na tela. Mordi meu lábio. Ele olhou pra mim, e continuou.
— Ajudou e te traçou depois, não é? — Disse Pedro. Meus olhos então passaram a lacrimejar. Ele só continuou.
— Mônica, você acha mesmo que eu vou acreditar nessa lorota toda?
— Você acha que eu iria ficar aqui esse tempo todo te contando lorota, quando eu disse que eu tenho provas? Eu posso mostrar, você quer?
— Claro que eu quero. Cadê as provas?
Foi então que olhei para ele, e ainda meio pra baixo com tudo, disse:
— Olha ai no seu whatsapp. Tem trechos de conversas que gravei, algumas fotos. E ainda tem algo que você mesma pode ver com seus próprios olhos, se você quiser.
— Você me traiu só essa vez, não é? Tem certeza disso? — completou
— Quem você pensa que eu sou? Ta achando que eu sou uma puta que iria ficar liberando o rabo por ai? Eu já disse, foi um erro. Mas não fiz pra te machucar...
— Então você está tentando me dizer que você estava enrolando esse tempo todo pra dizer que acabou dando pra outro homem, só porque você estava tentando arrumar provas de que você estava sendo usada para me atingir por uma coisa que eu fiz no passado que eu nem mesmo sei o que é? — disse Pedro.
— Pedro, você está me ofendendo assim. Não é isso! — Disse.
— Eu não sei, Mônica, mas eu contei assim que chegou tudo o que aconteceu, devia ter feito o mesmo.
— Devia sim, mas eu ia te provar o que estou falando como? Só escuta os audios, leia o que eu mandei. Não estou jogando nada no seu colo, eu só estou fazendo meu papel de namorada e te mostrando que estão armando contra nós.
— Ah tá. — Ele riu em seguida. Completei.
— Cara, para com isso. Só escuta o que te mandei, veja. Confia em mim, nunca te faltei. — disse, na esperança dele me escutar. No entanto:
— Vai se foder, Mônica. Vou escutar nada não. Você deve ta inventando isso tudo ai só pra se fazer de vítima.
— Sério... Pedro? — Naquele momento, meu coração se quebrou em 1000 pedaços.
Eu imaginei que pelo menos Pedro fosse entender os meus motivos, mesmo que me condenasse. Mas não, ele não só não estava admitindo coisas que eu descobri, como também estava jogando tudo na minha cara. E ele tinha razão, eu poderia ter contado logo sobre o ocorrido com Vitor, mas eu não fiz aquilo na maldade. Como que eu iria conseguir provar a ele tudo aquilo?
Foi então que Naquele momento, fomos interrompidos com a campainha tocando. Pedro interrompeu nossa discussão e foi atender. Era Rafael.
— Coé, cumpadi. Beleza? Fiquei sabendo que tu foi em casa, queria esclarecer ai um entendimento.
— Não precisa, Brother. — Comentou Pedro. — Eu já terminei com essa vadia ai.
— Então é isso, Pedro? Vai terminar? — disse.
— O que aconteceu, pô? — Perguntou Rafael.
— Olha, eu te conto no caminho. Podemos sair e tomar uma breja?
— Demorou, mas e ai, e a sua mina? — Rafael perguntou.
— Ela é só uma mentirosa. Deu o cu pra um ai, e agora ta tentando justificar. — Completou.
— Pedro, para com isso, ta? Olha como você fala de mim pro seu amigo! Tu pode ficar com raiva de mim, mas eu exijo respeito. — Completei, onde as lágrimas começaram a cair de meus olhos.
— Como eu falei, eu vou tomar uma breja. Quando eu voltar, eu quero você fora daqui. Você está ouvindo? Não me mande mais mensagem, não venha atrás de mim. Onde já se viu, querendo meter caô no meu lado, como se eu fosse um filho da puta.
— Tá bom, Pedro. Eu realmente me enganei com você.
Foi então que naquele momento, Pedro acabou indo embora. E eu fiz o mesmo, peguei algumas das roupas que separei para o fim de semana, e coloquei tudo na minha mochila. Enxuguei as lágrimas, e estava pronta para ir embora. Olhei pela última vez a casa do Pedro. Logo, me despedi de tudo, e finalmente passei a seguir pra casa dos meus pais. No caminho, estava no uber, quando recebo uma mensagem.
Ao ler a mensagem, eu sorri. Ainda tinha uma esperança no fim do túnel, e salvar praticamente tudo. Foi então que aproveitei e resolvi finalizar tudo que restava. Mandei uma mensagem pra ele.
" Rafael, eu aceito o que você propôs. Me passa o endereço."
Recebi o endereço em seguida, não sabia se ele estava ou não com o Pedro. Logo em seguida, mandei de volta o endereço para a Isa. Um sorriso veio em meus lábios.
" Amiga, ele vai se encontrar comigo aqui. Vou fazer como você falou."
Depois de quase uma semana, o plano que fiz com Isa, estava quase concluído. Não entendi a reação de Pedro, no fim. Mas, eu contava ao menos que ele ouvisse as provas que consegui nesse meio tempo.