Capítulo 11 – O Despertar do Plano
Seis meses. Era esse o tempo que havia passado desde que Nayra começou a trabalhar na clínica médica. Para Jeffi, parecia mais tempo, como se cada semana fosse uma eternidade de expectativa muda. O plano meticuloso que ele mesmo arquitetara com tanta paciência e estratégia parecia ter empacado. Nayra continuava mais leve, mais vaidosa, mais solta, sim — mas o silêncio dela sobre o fetiche começava a corroer sua confiança.
E aí veio a dúvida. Jeffi, que sempre foi frio, lógico, detalhista, começou a cogitar que talvez tivesse errado na abordagem. Será que, ao decidir não forçar o tema, ele tinha escolhido o caminho mais morno? O mais lento? O que faria tudo simplesmente morrer? Começou a desconfiar do próprio plano. Isso o deixava inquieto. Ele não queria perder Nayra, não queria afastá-la... mas, ao mesmo tempo, ansiava por vê-la desabrochar por completo.
Só que ele estava redondamente enganado.
As sementes plantadas não tinham morrido — estavam apenas germinando em silêncio. Nayra ainda tinha conflitos, sim, ainda travava batalhas internas entre a moral e a curiosidade, entre o pudor e o desejo. Mas Jeffi, que a conhecia como ninguém, deveria ter sabido disso. Ele conhecia Nayra nos mínimos gestos. Duvidar dela era tolice. Do plano? Burrice.
A realidade o sacudiu de volta quando começou a notar mudanças. Pequenas, sutis, mas gritantes para quem sabia observar.
Nayra começou a se arrumar mais para ir ao trabalho. Não apenas escovar o cabelo ou passar um batonzinho: ela ficava parada diante do guarda-roupa, analisando cada peça como se fosse montar um look para um desfile. Não era vaidade gratuita — era intenção. Jeffi reconhecia aquele comportamento. Era como se ela quisesse ser vista, desejada, notada. Não mais aquela mulher escondida sob roupas fechadas que prezavam mais o conforto e a elegância, mas alguém que, finalmente, se sentia dona do próprio corpo.
E isso... meu amigo, isso atiçava Jeffi como gasolina jogada na fogueira. O tesão dele não era só físico. Era psicológico. Ver Nayra nesse processo de florescimento era mais excitante do que qualquer cena de filme adulto. E ele desejava — desejava ardentemente — que a intuição dele estivesse certa: que essa transformação tivesse nome, rosto e cheiro. Que houvesse um homem. Não por ciúme, mas por fantasia. Por fetiche.
As semanas passaram e a arrumação elaborada virou rotina. Mas um novo elemento surgiu: Nayra começou a chegar mais tarde em casa. No início, era coisa de meia hora. Depois, passou a ser uma hora, uma hora e meia. Jeffi, atento, começou a perguntar, sem tom de cobrança, com naturalidade.
— Tá voltando mais tarde ultimamente, né?
— Ah, hoje teve hora extra... A clínica tá cheia — respondeu ela, tranquila.
— E ontem?
— Fui no happy hour com o pessoal. Eu não bebo, mas é sempre bom se integrar com as colegas de trabalho.
E ele acreditava. Claro que acreditava. Ele conhecia Nayra. Sabia que, se estivesse vivendo algo mais intenso, ela teria sinais visíveis. Nayra não era boa em disfarçar emoções, muito menos uma culpa daquele tamanho. Se tivesse rolado traição, beijo, toque — ela desmoronaria. E como isso não acontecia, Jeffi quis aceitar que talvez tudo ainda estivesse no campo da fantasia.
Mas aí veio o detalhe. Aquele que acende o faro de qualquer homem atento.
Num dia comum, ele voltou pra casa no horário de almoço, algo que fazia vez ou outra. Nayra estava se aprontando pro trabalho. Nada demais. Até que ele viu. Ela estava escolhendo uma lingerie.
Não era uma calcinha qualquer. Era lingerie. Renda, detalhe, intenção. Algo que ela nunca usaria pra passar um turno na recepção de uma clínica... a não ser que quisesse sentir-se especial. Ou fazer alguém se sentir especial ao vê-la.
Jeffi não disse nada. Só observou.
Nos dias seguintes, voltou a repetir o padrão: aparecer em casa no horário do almoço, sempre com o pretexto de estar com saudade ou ter esquecido alguma coisa. E observava. Cada vez mais, Nayra recorria às lingeries. Não fazia isso antes. Isso era novo. E isso, para Jeffi, era como um sino tocando ao longe, anunciando que a primavera estava chegando.
Foi aí que ele parou de duvidar. A chama reacendeu com força. Ele lembrou quem era. Lembrou o plano. Lembrou que estava colhendo o que plantou com tanto cuidado. E se sentiu idiota por ter hesitado.
Então, o universo respondeu. Porque, quando a mente está pronta, os olhos enxergam o que precisam ver.
Dias depois, Jeffi viu o que precisava: uma notificação no celular. Ele não fuçava o telefone dela — não precisava. Mas naquela noite, Nayra havia esquecido o celular desbloqueado sobre a cama. E ali estava.
O nome dele: Dr. Léo.
Um dos médicos da clínica.
Nada explícito. Nenhum nude, nenhuma transgressão clara. Mas o flerte estava ali. No jeito de elogiar o perfume dela. No emoji fora de hora. No "você tem um sorriso lindo". No "espero que seu dia esteja mais leve hoje". Era sutil. Mas era flerte.
E o mais importante: Nayra estava respondendo. Com risadas. Com emojis também. Com um "você é bobo" aqui, um "para com isso" ali. Coisas que, pra qualquer casal tradicional, já acenderiam o alerta. Mas pra Jeffi... era o paraíso.
Aquilo não era traição. Era descoberta. Era Nayra testando as águas do mundo. Era ela sentindo o sabor de ser desejada por outro homem — e gostando.
Jeffi sentiu o corpo reagir. Não por raiva, nem por ciúme. Era excitação. Pura, crua, mental e física. Era isso. Era o fetiche ganhando corpo. Era a fantasia dando sinais de vida.
Ele fechou o celular e deixou onde estava. Não mencionou nada. Nem um olhar atravessado. Nada.
Sabia que qualquer movimento errado poderia assustá-la. Ele precisava deixá-la viver isso com liberdade. Sem pressões. Sem culpa. Deixá-la explorar. Deixá-la decidir. A mente dela já estava aberta. Agora era questão de tempo até o corpo seguir.
E, pela primeira vez em meses, Jeffi dormiu sorrindo. Coração em chamas. O plano, mais vivo do que nunca.