Enquanto isso, Elijah, acreditando ter sido rejeitado, pegou suas poucas coisas e saiu para o quintal. Sentou-se na grama fria, os joelhos abraçando o corpo franzino, olhando para o horizonte sem saber para onde ir.
Ele não tinha nada antes de Edgar, e agora sentia que Edgar também não o queria. O coração batia acelerado, o peito pesado com a sensação de abandono, e cada sopro de vento parecia amplificar sua solidão.
No quintal, ele se permitiu chorar baixinho, sentindo o mundo desmoronar ao redor.
Edgar, do outro lado da casa, rolava de um lado para outro, cada vez mais ansioso, imaginando se ao amanhecer encontraria o quarto vazio.
A casa inteira estava mergulhada em silêncio, mas cada canto carregava a tensão de um desencontro: dois corações que precisavam um do outro, mas que, por falta de diálogo e compreensão, estavam se afastando de forma irreversível.
O que era para ser proteção e cuidado se transformava em um muro de medo, dor e mal-entendidos. Ambos sofriam — Elijah por acreditar que era indesejado, Edgar por acreditar que estava sendo rejeitado. E entre eles, apenas o eco do silêncio preenchia os espaços que antes eram compartilhados com risadas, olhares e pequenos gestos de carinho.
Edgar levantou da cama sem ao menos ter dormido, era por volta de 3 da madrugada, e, sem pensar, foi ao quarto de Elijah.
Estava vazio…
Ele havia ido embora no meio da noite?
O tormento e desespero tomavam conta de Edgar, e em um ato impensado ligou para Cristina.
— Agente Cristina? — a voz falhando, carregada de pânico.
— Edgar??? — respondeu Cristina, surpresa.
— Aonde vocês estão? Me diga… não devem estar tão longe, vou alcançar vocês… preciso do Elijah — admitiu, com a voz embargada, quase chorando.
— Como assim, Edgar? Elijah não me ligou, não fui buscá-lo… — disse Cristina, confusa.
— Não… não… — murmurou, a voz falhando — Ele não está com você? Ele… ele se foi?
Cristina, percebendo o desespero na voz de Edgar, respirou fundo antes de responder:
— Edgar, calma! O que...
Edgar fechou os olhos, pressionando o telefone contra o peito, sentindo o nó na garganta aumentar. Cada segundo parecia uma eternidade. A mente durona e calculista que sempre tinha controle sobre tudo agora estava completamente dominada pelo pânico.
— Eu… eu preciso encontrá-lo — disse, a voz quase um sussurro, mas carregada de desespero — Não posso deixá-lo… não posso.
Cristina, firme mas compreensiva, tentou acalmá-lo:
— Escute, Edgar. Respire. Ele está seguro. Vou ajudá-lo a rastrear, mas você precisa pensar com clareza
O nó na garganta crescia a cada segundo, a sensação de impotência o sufocava. Cada sombra, cada silêncio, lembrava-lhe do quanto Elijah era frágil e ao mesmo tempo essencial para ele. A raiva, a culpa e o desejo se misturavam, e Edgar sabia que não poderia esperar até o amanhecer. Precisava encontrá-lo antes que qualquer outro pensamento, qualquer outro risco, separasse-os de vez.
Sem saber para onde ir, sem ter informações, ele se lançou para fora do quarto. No impulso, correu pelo quintal, a noite fria cortando sua pele, os pensamentos girando em turbilhão.
Edgar avançou rapidamente pelo quintal, o coração disparado, até ver Elijah encolhido, tremendo de frio e medo. A visão do garoto o atravessou como uma lâmina, cada respiração parecia pequena diante da dor que ele sentia por tê-lo perdido, mesmo que por algumas horas.
— Elijah… — chamou Edgar, a voz rouca e quebrada. — Eu estou aqui, não se preocupe.
O garoto levantou os olhos, inundados de lágrimas e pânico, a voz quase um sussurro entrecortado:
— Por favor… não me deixe… não me mande embora… — implorou Elijah, o desespero rasgando cada sílaba. — Eu… eu preciso ficar com você… só… só não me deixe sozinho!
O nó na garganta de Edgar se apertou. Sem pensar, ele envolveu o pequeno corpo do garoto com os braços e o ergueu contra si, sentindo o tremor intenso de Elijah. Cada centímetro daquele corpo frágil contra o seu despertava uma mistura de proteção, desejo e culpa.
— Está tudo bem, Elijah… ninguém vai te levar. Ninguém vai te machucar. Eu não vou te deixar. — Edgar murmurou, pressionando o rosto do garoto contra seu peito, tentando transmitir segurança.
Mas o desespero de Elijah parecia maior que qualquer palavra. No meio de soluços e lágrimas, ele começou a agir de forma impulsiva, tentando agarrar Edgar, arrancando parte da própria roupa, como se pudesse provar que estaria à disposição do homem que amava, contanto que não o deixasse partir.
— Se você… se você precisar de mim… eu farei! — Elijah gritou, a voz entrecortada e agressiva. — Só não… por favor, não me mande embora…!
Edgar recuou um passo, atônito, apertando os olhos. Angústia e confusão se misturavam. Não era isso que ele queria. Ele não queria que Elijah entendesse mal, que achasse que precisava se submeter para ser aceito.
— Elijah… não… não é isso! — Edgar disse com firmeza, mas a voz ainda carregada de emoção. — Eu não quero que você faça nada disso! Você não precisa se machucar, não precisa se expor. Você não vai embora porque… porque eu não deixaria. Eu só… só quero você seguro, comigo.
O garoto parou por um instante, o desespero ainda refletido nos olhos azuis, mas o peso das palavras de Edgar começou a penetrar. O peito dele se ergueu e desceu com soluços controlados, ainda tremendo, mas compreendendo que sua liberdade, mesmo agora, estava nos braços daquele homem que parecia duro, mas que, de alguma forma, se importava mais do que qualquer outro.
Edgar apertou Elijah contra si novamente, fechando os olhos e respirando fundo, lutando para conter o turbilhão de desejo, medo e afeto que aquele momento despertava. Por trás de sua fachada de durão, Edgar sentiu algo que jamais admitiria facilmente: a necessidade de proteger, cuidar e, talvez, não deixar Elijah sair de sua vida jamais.
Edgar continuou segurando Elijah em seus braços, sentindo o corpo do garoto tremer contra o seu. Lentamente, colocou-o sentado no chão, ainda envolvendo-o com seus braços, de modo protetor. Com movimentos suaves, passou uma mão pelos ombros encolhidos de Elijah, tentando transmitir segurança.
— Olha pra mim, Elijah — disse Edgar, com a voz firme, mas carregada de ternura — Eu não quero que você se machuque, entendeu? Não é assim que funciona entre nós.
Elijah ergueu os olhos, ainda marejados, a respiração irregular, e Edgar pôde ver o medo, a vergonha e a confusão misturados com o desejo que ele mesmo tinha despertado no garoto.
— O que eu… eu estava fazendo… — Elijah começou, a voz trêmula. — Eu só… eu queria que você não me deixasse…
— Eu sei — Edgar interrompeu, aproximando-se mais, mantendo as mãos firmes, mas delicadas sobre os ombros de Elijah — E eu também não quero te deixar. Mas o que você fez… não é o que eu quero de você. Eu quero você por inteiro, Elijah, e não porque você acha que precisa se doar para mim.
Elijah ficou em silêncio, os olhos azuis brilhando na luz fraca, enquanto Edgar continuava:
— O que eu sinto por você… não é apenas desejo. Claro que você me atrai, sim, e eu quero você — mas não desse jeito que você estava oferecendo. Eu quero você por vontade, por amor. Eu quero estar com você porque você quer estar comigo, não por medo, não por obrigação, não por desespero.
O garoto parecia ouvir cada palavra, absorvendo o peso e a sinceridade daquelas afirmações. Um soluço suave escapou de seus lábios, e Edgar inclinou-se levemente, passando a mão pelo cabelo loiro de Elijah, afastando algumas mechas molhadas do rosto dele.
— Você me entende, Elijah? — Edgar perguntou, quase sussurrando. — Eu quero te proteger, te cuidar, e sim, te desejar… mas da forma certa, da forma que seja só nossa, e não porque você se sente obrigado.
Elijah engoliu em seco, ainda tremendo, e finalmente se permitiu relaxar um pouco, recostando a cabeça no peito largo de Edgar. Sentiu, pela primeira vez desde que tudo começou, que podia confiar plenamente naquele homem que era durão por fora, mas que agora mostrava uma vulnerabilidade rara, quase romântica, por ele.
— Eu… eu entendo… — murmurou Elijah, a voz baixa e hesitante. — Eu só… não queria te perder…
Por alguns instantes, ambos ficaram assim, o garoto aconchegado contra Edgar, respirando aos poucos com mais calma, enquanto Edgar mantinha seus braços ao redor dele, como se pudesse proteger não só o corpo, mas a alma de Elijah.
A tensão, o medo e o desejo ainda estavam presentes, mas agora havia algo maior: confiança, amor e a certeza de que aquele vínculo não seria quebrado tão facilmente.