Os mesmos olhos azuis.

Um conto erótico de Nicholas
Categoria: Homossexual
Contém 2011 palavras
Data: 25/08/2025 16:52:37
Última revisão: 25/08/2025 17:06:39

Boa tarde, pessoal.

Essa não é uma história puramente sexual, mas também cheia de emoção, sentimentos e… sim, tesão

Espero que vocês gostem!

Capítulo 1

Eu me apaixonei aos vinte e nove como quem leva um choque e descobre que o coração ainda sabe dançar. João Lucas era tudo o que eu tinha sonhado — e muito mais. Daqueles casos raros, que parecem nascer para caber direitinho no sonho de alguém. O cabelo loiro guardava a claridade do dia, o sorriso de galã desmontava qualquer armadura, e aquele bigodinho safado lhe dava um ar de moleque perigoso, que sabia o estrago que causava. Mas isso era só a embalagem. O que me prendia de verdade era o invisível: ele era trabalhador, honesto, carinhoso. Um homem inteiro. Do tipo que faria o mundo dobrar os joelhos só pra me ver sorrir.

Com ele, a diferença de idade evaporava como névoa. Eu beirando os trinta, ele com vinte e cinco. Algumas vezes, seus olhos, graves demais para a idade, tão cheios de história, me faziam crer que era ele o mais velho.

Fui seu primeiro namorado. Ele sempre soube que gostava de homens, já tinha experimentado uma ou outra vez, mas foi comigo que atravessou a linha. Foi por mim que decidiu se mostrar de verdade, atravessando a fronteira do medo. E eu? Eu só queria estar à altura disso. Não só porque ele merecia. Mas porque eu o amava com uma urgência que não cabia no peito.

Foram seis meses de namoro sério, nove de história juntos, até que Joca decidiu: era hora de conhecer o irmão dele. O plano parecia perfeito — passar o fim de dezembro e o início de janeiro na sua cidade natal. Um mês inteiro. Um mês que virou meu destino do avesso.

Em uma manhã ensolarada, saímos do meu apartamento como se o mundo fosse só leveza. Música alta no carro, nossas vozes desafinadas competindo com os refrões, risadas que estouravam como fogos. A mão dele, atrevida, descansava firme na minha coxa enquanto eu dirigia, como se dissesse que não havia distância entre nós. E, de certa forma, era verdade, já que a gente encaixava em tudo: nas complexidades da vida, na intimidade da cama e nas coisas simples do cotidiano. E, embriagado nesse clima bom, eu não fazia ideia de que estava indo em direção ao meu próprio passado.

— Será que teu irmão vai gostar de mim, bebê? — perguntei, buscando abrigo no azul profundo dos seus olhos.

Ele apertou minha coxa e sorriu, como se não tivesse dúvidas.

— Vai te amar. Vai ver o que todo mundo vê: que você devolveu cor à minha vida.

Era quase injusto como ele conseguia, mesmo com a barba cerrada e aquele bigodinho atrevido, parecer um anjo.

— Engraçado ver meu namorado, tão fodão e mandão, nervoso só de conhecer o cunhado. — provocou, mostrando a língua.

Revirei os olhos, mas devolvi o jogo.

— Só tô preocupado que ele perceba que enchi o caçulinha dele de porra antes da visita.

O silêncio dele, mordendo a bochecha, foi a minha vitória.

— Você é um imbecil, Nicholas. — resmungou, batendo de leve no meu peito. A mão dele, porém, não largava minha coxa. — Só não fico bravo porque eu tava precisando dar antes da viagem, e você entregou tudo que eu precisava. Mas, mô… eu queria mais.

A frase veio junto com a mão deslizando até minha virilha. Um suspiro escapou, mais gemido que riso. O carro inteiro pareceu encolher quando ele afrouxou o cinto e se inclinou, mordendo meu pescoço.

— Joca... porra... se eu bater esse carro, vai ser culpa sua. — minha voz saiu rouca.

Ele riu baixo, mas já apertava meu pau com força e encarava com o olhar travesso.

— Foi você que me viciou, doutor. Esqueceu que foi o primeiro a me comer? Agora é sua obrigação me dar assistência vitalícia.

O mundo sumiu quando ele abriu meu zíper. A minha pele quente contra a palma dele me arrancou um gemido sem disfarce. Quase um rugido.

Eu tentava manter os olhos na estrada, mas o corpo tremia. Tudo piorou quando seus beijos desceram do meu pescoço para a minha barriga e só pioraram quando ele desceu mais em direção a minha intimidade. Quando ele puxou meu pau para fora do jeans e me engoliu inteiro como quem estivesse com fome, o prazer explodiu como um raio, me obrigando a segurar o volante como náufrago em madeira. Um caminhão buzinou na contramão quando desviei um pouco à esquerda, arrancando-me do transe. Ele levantou, rindo com a boca úmida, os olhos brilhando, o cabelo bagunçado.

— Você ganhou a primeira batalha; eu, a guerra

Arfei, ainda trêmulo. — Desgraçado.

E ele apenas gargalhou, vitorioso.

Em poucos minutos, a estrada se abria e, quando a placa da cidade apareceu, ele suspirou fundo.

— Você vai amar lá, amor. Aquela casa guarda tantas memórias boas… fico feliz que o Zeca manteve tudo. Minha única tristeza é não poder apresentar meus pais pra você.

Os olhos dele se perderam no horizonte. Era uma cidade menor que a capital onde morávamos, mas viva: cheiro de pão fresco nas padarias, crianças correndo pelas ruas, a luz da manhã caindo sobre os telhados e irradiando as calçadas.

— Ei, sem choro, bebê. — toquei-lhe o rosto e limpei uma lágrima teimosa. — Eu sei que dói, mas seus pais não iam querer isso. Esse fim de ano vai ser incrível, eu prometo.

Às vezes, a saudade o sequestrava. Nessas horas, eu o trazia volta.

— Você é um príncipe, Nicholas. Bendito o dia que me mudei pro lado do seu apê e te chamei pra jogar futebol. — murmurou, sorrindo com os olhos fechados, perdido em lembranças.

— Dois gays se conhecendo num jogo de futebol… improvável. — provoquei. Ele riu.

— Ninguém acredita quando conto. Mas depois entendem: não tinha como resistir a você de uniforme de goleiro. — disse, rindo, até que apontou para a casa.

Saltou do carro antes mesmo de eu desligar. Rodeou até chegar em mim e me puxou pela mão, os olhos brilhando.

— Amor, essa é a casa onde cresci. É muito bom te trazer aqui.

Enlaçou meu pescoço, vibrando como criança que ganha doce. Meu coração confirmou o que já sabia: eu era um homem de sorte.

— É um prazer estar aqui, bebê. — sussurrei, me inclinando para acabar com nossa diferença de altura. Joca enfiou o rosto no meu pescoço e respirou fundo, como se quisesse guardar meu cheiro dentro de si. Passei a mão em seus cabelos.

A porta enorme se abriu, e ele correu até uma mulher loira que abriu os braços para recebê-lo.

— Martina! Que saudade! — exclamou, agarrando a cunhada num abraço que parecia infinito.

— Também senti, Joca. É tão bom ter você aqui. — respondeu ela, quase ninando-o na voz. É emocionante ver como ele é amado. Como ele está sendo aceito.

Ano passado, ele não teve forças pra voltar. Agora, o retorno o iluminava — e iluminava a ela também.

— Amor, vem cá. — chamou, me estendendo a mão. Respirei fundo, a estranha ansiedade queimando. Eu só queria fazer daquele fim de ano o melhor possível.

— Esse é o Nicholas. Tenho certeza que você vai amá-lo, Tina.

Martina sorriu largo e me puxou para um abraço caloroso, antes mesmo de qualquer palavra. O perfume dela era doce, floral.

— Então você é o famoso Nicholas. — disse, rindo.

Alta, elegante, uns quinze centímetros abaixo de mim. Bela de um jeito que até eu, gay convicto, precisei admitir: que mulher bonita. Vê-la em pé ali em frente a própria casa abriu uma porta dentro de mim e de repente eu voltei àquela tarde abafada há nove meses.

FLASHBACK

A campainha tocando sem parar me obrigou a largar meus artigos e caminhar até a entrada.

— Doutor, pelo amor de Deus! — João Lucas surgiu esbaforido, os cabelos bagunçados, os olhos azuis faiscando. O novo vizinho, com quem eu tinha trocado um aceno ou outro, disse assim que me enxergou. — Preciso de você no meu time. Nosso goleiro quebrou o dedo. O campeonato é amanhã. Se a gente não tiver alguém, acabou.

Cruzei os braços, incrédulo. — João Lucas, eu sou médico, não jogador de futebol.

Ele apoiou a testa no batente, teatral. — Eu sei que você joga de goleiro. Eu vi você treinando com um cara na quadra do prédio. Eu preciso de você.

Podia ter dito não. Mas quando ele levantou o rosto e me sorriu daquele jeito, aberto, atrevido, eu cedi.

— Tá. Eu jogo. Mas só porque você parece mais desesperado que paciente em pronto-socorro. — Ele riu, e foi ali que tudo começou.

PRESENTE

— Cadê meu irmão? — perguntou Joca, animado, me entregando um copo de água gelada. O líquido contrastou com o calor do corpo de alguém que dirigiu algumas horas. Agradeci com um beijo rápido na bochecha.

— Foi buscar seu bolo favorito. — Martina respondeu, piscando. João Lucas era mesmo o caçula mimado.

Um som metálico cortou o ar: chaves na fechadura. A porta lateral se abriu devagar, como se o tempo avisasse que algo estava prestes a acontecer. O vento parecia cantar, como um presságio de que nada mais seria igual.

E, então, ele entrou.

Alto como Joca, também loiro de olhos cor do mar, barba aparada com precisão, traços mais fortes, marcados pela idade. Oito anos a mais, mas a mesma beleza. Se João Lucas era sol da manhã, ele era sol do entardecer.

Avançou sorridente com os olhos postos no caçula. Mas quando sua cabeça virou e nossos olhos se encontraram — azul contra verde, céu contra floresta — o mundo parou.

E nesse instante, fui arrastado.

FLASHBACK

O verão europeu guardava a leveza de um sonho. Eu tinha viajado para escapar da rotina pesada da clínica, dos horários marcados e das histórias de pacientes que carregava comigo. Queria me perder em ruas antigas, beber vinho e comer massa, sentir o gosto de liberdade depois de tanto tempo respirando apenas trabalho.

Foi numa noite abafada em Lisboa, no meu primeiro final de semana viajando, sob um céu estrelado e preguiçoso, que o destino resolveu brincar comigo. Eu estava sentado num pequeno bar, distraído com a música que ecoava da rua, quando meus olhos cruzaram com os dele. José Ricardo, o Zeca. Cabelos loiros queimados pelo sol, barba impecável, olhos azuis como um mar revolto e uma camisa clara aberta nos primeiros botões. Não havia como não notar — e menos ainda desviar.

Ele puxou assunto com a naturalidade de quem sabe entrar em qualquer conversa. Eu ri, ele riu, e quando dei por mim estávamos dividindo uma garrafa de vinho português e falando sobre tudo — e nada. Descobri que era empresário, envolvido com os negócios da família: uma transportadora. Eu contei que era médico, ginecologista obstetra, especialista em fertilização humana. Rimos da semelhança e da diferença, ambos transportávamos: ele, mercadorias; eu, vidas.

Os dias seguintes viraram semanas. As semanas, meses. Reorganizamos nossos roteiro para ficarmos juntos. Passeios por ruas charmosas, madrugadas dançando em bares escondidos, cafés da manhã preguiçosos em hotéis a beira mar. A química entre nós foi imediata. No primeiro beijo, a cidade pareceu se calar para nos ouvir. E depois dele, as noites nunca mais tiveram fim.

Foram três meses de um romance que parecia eterno. Um pacto silencioso que selava um encontro de almas. Ele tinha vinte e nove, quatro anos mais velho que eu, e às vezes parecia carregar o mundo nos ombros. Mas quando sorria, era como se o peso sumisse. Zeca me mostrava lugares, histórias, sabores, e eu me sentia livre como nunca antes.

Na noite da despedida, fizemos amor como quem grava uma lembrança na pele. Houve lágrimas contidas, silêncios eloquentes. E então, a promessa: "Este verão foi nosso, apenas nosso", ele murmurou, a voz embargada. "Mas deve ficar aqui. Não nos veremos mais.”

PRESENTE

Voltei ao Brasil com a certeza de ter vivido algo raro e inesquecível. Nunca supus que o passado me alcançaria. Nunca cogitei que o reencontraria.

Muito menos… como meu cunhado.

O bolo que José Ricardo carregava escapou de suas mãos, desabando como um corpo vazio. O barulho seco ecoou pelo chão. Logo depois, ele também caiu, desabando como quem vê um fantasma.

E tinha visto.

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