Com Você Descobri o Amor-9

Um conto erótico de AYOON
Categoria: Gay
Contém 1221 palavras
Data: 23/08/2025 21:04:46

O sol da manhã entrava tímido pelas frestas da cortina quando Dantas fechou a porta atrás de si. Mais uma ronda, mais uma checagem, mais um passo em direção ao fim daquele caso que parecia se arrastar dentro dele. Seus movimentos eram mecânicos, calculados, mas a mente, por mais que tentasse, voltava sempre para a mesma imagem: Elijah, pequeno, frágil, e ao mesmo tempo capaz de mexer com o que ele jurava ter enterrado há muito tempo.

Dentro do apartamento, Elijah já estava desperto. Vestia apenas um shorts de tecido leve, desses de dormir, e uma regata branca surrada que deixava à mostra os ossos delicados dos ombros e parte das costelas. Os pés descalços tocavam o chão frio, algo que para ele já era rotina.

Ele não tinha pressa em calçar nada — também, não havia o que calçar. Desde que vivera com sua madrasta Laura, aprendera a sobreviver sem roupas novas, sem sapatos, sem nada que não fosse o mínimo para não morrer de frio.

Caminhava pela sala com passos curtos e silenciosos, quase como se pedisse desculpas por ocupar espaço. Passou a mão pelo sofá, pela mesa, pelos objetos estranhos que agora o cercavam. Tudo era limpo, sólido, caro… e diferente de qualquer coisa que ele já havia tocado.

Elijah parou diante da janela. A cidade lá embaixo parecia tão viva, tão distante de tudo o que ele conhecia. Apertou o tecido da regata contra o peito, como se aquilo fosse lhe dar segurança.

Uma parte dele queria acreditar que Dantas realmente o havia tirado daquele pesadelo para protegê-lo. Mas outra parte, maior, ainda tremia com medo. Se Dantas apenas estivesse comprando tempo? E se Jonas descobrisse? E se tudo não passasse de mais um jogo de adultos no qual ele era só um objeto de troca?

Elijah suspirou fundo, apoiando a testa no vidro frio.

E foi nesse momento que ouviu o som da fechadura girando. O coração disparou. Por um segundo achou que fosse Jonas, ou algum capanga. Mas quando a porta se abriu, era Dantas.

Ele entrou no apartamento com aquele jeito pesado e controlado, os olhos imediatamente varrendo cada canto como se procurassem ameaças invisíveis. Só então pousaram sobre Elijah.

E por um instante, Dantas ficou imóvel.

O garoto, ali na luz suave da manhã, com a regata fina grudada no peito e os pés nus, parecia ainda mais frágil e, ao mesmo tempo, inexplicavelmente atraente.

Elijah, percebendo o olhar sobre si, encolheu-se um pouco, corando. — Bom dia… — murmurou, a voz quase sumida.

Dantas pigarreou, forçando-se a retomar o controle. — Bom dia. Já comeu alguma coisa?

— N-não, senhor… eu estava esperando… — respondeu Elijah, nervoso, apertando a barra da regata entre os dedos.

— Edgar... pode me chamar de Edgar — disse Dantas, a voz firme, mas com um tom quase imperceptível de suavidade. O olhar, no entanto, continuava impassível, misterioso, impenetrável.

Elijah piscou, surpreso. Era a primeira vez que o homem lhe oferecia algo além de ordens diretas. O nome parecia pesado em sua boca, mas ao mesmo tempo trazia uma estranha sensação de proximidade. — E-Edgar… — repetiu baixinho, como se testasse o som, os olhos azuis fitando o chão.

Dantas desviou o olhar para a cozinha, caminhando até a mesa. — Se estiver com fome, apenas coma. Não há necessidade de me esperar. — O tom era simples, mas carregava autoridade, como se não houvesse espaço para discussão.

Elijah hesitou, os dedos ainda presos à barra da regata. Parte dele queria obedecer, mas outra parte… era como se o hábito de sempre esperar permissão estivesse gravado em sua pele. Por um instante, permaneceu imóvel, sem saber se realmente podia.

Dantas o notou pela visão periférica. Suspirou e puxou uma cadeira. — Venha. — Seu tom não deixava dúvidas.

Elijah se aproximou com passos pequenos, quase encolhido, e sentou-se. O silêncio entre eles era pesado, mas não desconfortável. Havia algo tenso no ar, algo que Elijah não conseguia explicar.

Ele serviu-se devagar, pegando um pedaço de pão, um pouco de café. O som mínimo do prato contra a mesa parecia ecoar pelo apartamento inteiro.

Dantas o observava discretamente enquanto mexia em alguns papéis, a postura relaxada, mas os olhos atentos a cada movimento. A simplicidade de Elijah, os gestos contidos, a forma como se retraía mesmo em algo banal como comer… tudo isso mexia com ele de uma forma que não deveria.

E então Elijah, sem perceber, deixou escapar um murmúrio: — Obrigado, Edgar.

Foi a primeira vez que o chamou assim de forma natural.

Dantas ergueu os olhos e por um breve segundo não conseguiu esconder o impacto. O nome em sua boca parecia diferente. Pessoal. Íntimo.

Ele se recompôs rápido, limpando a garganta. — Apenas faça o que eu mandar e ficará bem.

Mas por dentro, sentiu a muralha que havia erguido começar a rachar.

Elijah abaixou a cabeça, mordendo o pedaço de pão em silêncio. O simples fato de estar sentado à mesa, partilhando uma refeição com alguém, já era estranho demais para ele. Não parecia real. A cada garfada, seus olhos azuis fugiam de Dantas, mas voltavam sempre, como se algo naquela presença fosse inevitável.

Dantas, por sua vez, mantinha o semblante fechado, mas dentro dele algo fervia. Ele havia aprendido a controlar emoções, a se blindar de qualquer apego — mas havia algo em Elijah que quebrava suas defesas. A inocência. A dor escondida. A fragilidade. Era como olhar para uma ferida aberta que ninguém quis tratar.

De repente, Elijah quebrou o silêncio.

— Eu… eu não sei como agir… aqui. — A voz dele era baixa, quase tímida. — Sempre me disseram que… que eu só servia para obedecer.

As palavras atingiram Dantas como um soco no estômago. Ele respirou fundo, apertando os punhos em cima da mesa, contendo a raiva que crescia ao imaginar tudo o que Elijah já havia passado.

— Aqui, você não precisa… obedecer desse jeito. — Disse devagar, escolhendo cada palavra. — Apenas faça o que eu mandar para se manter seguro. Fora isso… você pode ser quem quiser.

Elijah ergueu o olhar, surpreso. Os olhos azuis encontraram os dele e, por um instante, houve silêncio absoluto. Um silêncio cheio de algo que ambos não sabiam nomear.

Foi Elijah quem desviou primeiro, as bochechas corando. Ele voltou a comer, mas seus dedos tremiam levemente. Dantas percebeu e, sem pensar, estendeu a mão, tocando de leve a do garoto.

— Respire. — ordenou, a voz baixa, quase um sussurro.

O contato fez Elijah estremecer. Ele puxou a mão rápido, corando ainda mais, mas não conseguiu esconder o arrepio que percorreu seu corpo.

Dantas fechou os olhos por um instante, amaldiçoando a si mesmo. Não podia se deixar levar. Não com ele. Não agora.

Levantou-se bruscamente, a cadeira arrastando no chão. — Vista-se. Hoje teremos movimentação. — Sua voz voltou a ser dura, firme, fria.

Elijah apenas assentiu, mas no fundo do peito algo novo começava a pulsar. E ele sabia que não conseguiria mais ignorar.

Dantas ainda encarava Elijah quando o celular vibrou no bolso de sua calça. Ele atendeu no mesmo instante, a expressão endurecendo ao ouvir a voz do agente do outro lado da linha.

— Código Vermelho. — disse a voz apressada. — Saia do apartamento agora, Edgar. Jonas descobriu sobre o disfarce. Ele vai atrás de você… e do garoto.

O coração de Dantas acelerou, mas por fora ele manteve a mesma máscara de frieza.

— Entendido.

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