O Sabor De Uma Doce Vingança! Cap.14 Segunda Temporada

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 2236 palavras
Data: 06/07/2025 19:15:55
Assuntos: Gay

O dia seguinte amanheceu abafado. O céu encoberto e cinzento parecia anunciar uma tragédia, como se o universo conspirasse para que eu não tivesse paz. Ainda deitado, encolhido entre os lençóis, tentava me convencer de que tudo aquilo era um pesadelo prestes a acabar. Mas o toque estridente do celular às nove em ponto me arrancou desse delírio.

Era meu advogado.

— Alô? — atendi com a voz arrastada, o peito pesado.

— Pedro... bom dia. Me desculpa ligar tão cedo, mas é urgente. Você precisa saber de algo agora.

— Fala logo. — Sentei na cama, o coração já disparado.

— A polícia recebeu uma ligação anônima. No mesmo dia em que Bernardo e Pietro supostamente foram assassinados!

Minha garganta secou. Permaneci em silêncio, esperando, temendo cada nova palavra.

— A pessoa que ligou indicou exatamente o apartamento onde os dois estavam. A polícia foi até lá... e encontrou bastante sangue. Muito sangue. Mas nenhum corpo.

— Como assim…? — minha voz mal saiu.

— O estranho é que as câmera estavam desligadas. Não só as externas, como também as do prédio. Tudo desativado no exato dia e horário. Mas isso não é tudo.

— Fala de uma vez, pelo amor de Deus!

— A polícia recebeu um pacote com um pendrive. Dentro, havia vídeos. Vídeos do Mateus... matando Bernardo e Pietro a facadas. As gravações são cruéis.

Senti o mundo desmoronar sob meus pés. Me levantei devagar, como se cada célula do meu corpo estivesse entorpecida.

— Eles... estão mortos ou não ?

— Pedro, a polícia ainda não encontrou os corpos. A casa estava limpa, mas havia muito sangue. O suficiente para acreditar que eles foram assassinados ali. E como os vídeos são muito claros, a polícia já prendeu Mateus. Ele está sob custódia desde a madrugada.

— Meu Deus… — sussurrei. — Mas sem os corpos...

— Ainda assim, os vídeos são fortes o bastante pra manter Mateus preso durante a investigação. Estão tratando como homicídio com ocultação de cadáver. Já iniciaram uma busca por terrenos próximos, matas, rios, qualquer lugar onde os corpos possam ter sido descartados.

Fui até a janela, ofegante, com as mãos trêmulas. O céu parecia ainda mais cinza. A cidade, mais silenciosa. O mundo, mais vazio.

— Tem chance deles estarem vivos?

— É uma possibilidade remota. A polícia não descarta nenhuma hipótese até encontrarem os corpos. Pode ser armação, encenação, ou um crime real. Mas a quantidade de sangue encontrada... não é animadora.

Fechei os olhos com força, sentindo uma lágrima quente escorrer pelo meu rosto.

— Eu preciso ir até lá. Eu preciso ver com meus próprios olhos.

— Pedro, eu entendo. Mas tome cuidado. Não faça nada precipitado.

— Precipitado? Já é tarde pra isso, doutor.

Desliguei a ligação. O silêncio da casa parecia me engolir por dentro. Minha cabeça girava, meu estômago embrulhava. Se Mateus realmente fez aquilo... se ele teve coragem de matar Bernardo e Pietro!

Eu juro por tudo o que ainda me resta: ele vai pagar.

E se tudo isso for uma mentira bem construída, uma encenação cruel...

Quem estiver por trás vai desejar nunca ter mexido comigo.

O calor da manhã já castigava quando estacionei diante da minha velha–nova sorveteria. A antiga sorveteria — aquela que um dia representou meu primeiro passo rumo à vingança— agora se erguia novamente, tijolo por tijolo, após ser destruída covardemente por Wellington. O incêndio tinha deixado cicatrizes profundas, não só nas paredes carbonizadas, mas também em mim. Ver aquela reconstrução avançar era como assistir meu coração tentando, desesperadamente, se refazer.

Desci do carro lentamente, observando os operários na fachada. O letreiro ainda estava por vir, mas as cores suaves começavam a pintar de esperança o cinza da destruição. Por dentro, os pisos novos já reluziam e parte dos balcões estava montada, todos ainda protegidos por plásticos. O som dos martelos, das serras, do vai e vem dos pedreiros, tudo parecia música de reconstrução. Não só de um prédio, mas de mim mesmo.

Seu Olavo, o mestre de obras que havia sido meu braço direito desde o início da reforma, veio ao meu encontro sorrindo, com uma prancheta na mão.

— Pedro, meu querido, o ritmo aqui tá acelerado! Se não houver imprevistos, a gente entrega antes do prazo.

Assenti com um meio sorriso. Os olhos passeavam pelas paredes novinhas, tentando encontrar rastros do terror que Wellington deixou. Mas tudo havia sido arrancado, queimado, demolido e agora renascia. Ainda assim, uma parte de mim ficava atenta, como se o fogo pudesse voltar a qualquer momento.

Assinei a nota de entrega dos novos freezers e, depois de uma rápida vistoria, resolvi sair. A mente cansada precisava de qualquer distração — e lembrei que meu estoque de suplementos estava no fim. Virei na Avenida Principal, estacionando na frente da Muscle Point, a loja de Flávio.

O sino tilintou quando entrei, e Flávio surgiu de trás do balcão com aquela mesma camiseta regata colada no corpo, braços trincados como sempre. O sorriso dele surgiu antes mesmo da fala.

— E aí, sumido. Tá voltando à rotina, hein? — disse, limpando as mãos numa toalhinha de treino.

— A sorveteria tá ganhando forma de novo — murmurei. — Vim buscar o whey de baunilha.

Ele pegou o pote na prateleira mais alta e veio até mim. Quando me entregou o produto, tocou meu ombro com a outra mão, me puxando levemente para mais perto.

— Sabe… pensei em você quando soube do incêndio. Fiquei preocupado. Ainda fico.

Antes que eu pudesse responder, Flávio se inclinou e, sem aviso, me beijou. Firme. Quente. O tipo de beijo que não pede licença. Me pegou tão desprevenido que meu corpo travou por reflexo. E durante aqueles poucos segundos, entre a surpresa e o calor, eu deixei acontecer.

Mas então o peso da realidade bateu: Bernardo e Pietro. A ligação do advogado. Mateus preso. A reconstrução da sorveteria. A memória das chamas. Afastei‑me devagar, atordoado, sem saber o que fazer com aquele gesto.

— Desculpa se fui direto assim — disse ele, coçando a barba com um sorrisinho sem jeito —, mas eu queria fazer isso desde que você entrou por aquela porta!

Paguei pelo suplemento em silêncio, nossas mãos se roçando na maquininha de cartão. Quando cheguei à porta, ele completou:

— Quando quiser conversar… ou repetir — piscou —, estou aqui.

Lá fora, o sol queimava, mas não tanto quanto o calor que subia pelo meu rosto. Encostei a cabeça no volante ao entrar no carro. Não sabia se me sentia invadido, lisonjeado ou confuso. Talvez tudo junto.

Eu só queria reerguer a sorveteria. Reerguer a mim mesmo.

Mas tudo ao redor insistia em me lembrar: nem sempre a gente escolhe o que é reconstruído primeiro.

Precisava de algo que cheirasse a recomeço — e lembrei que a frente da minha casa continuava nua, sem cor nem perfume.

Virei à direita, acelerando até a Floricultura Beija‑Flor, um oásis verde escondido entre prédios de concreto.

O sino da porta tilintou num tom suave quando entrei. Fui recebido por fileiras de manacás floridos e o aroma doce de jasmim‑estrela. Peguei um carrinho de metal, decidido a encher cada canto da varanda com vida nova. Comecei pelas lavandas para espantar mosquitos, depois passei para as roseiras miniatura. Cada planta era como um tijolo invisível, reerguendo minhas próprias paredes internas.

Enquanto comparava dois vasos de suculentas coloridas, o celular vibrou no bolso. Desbloqueei a tela sem pensar e o coração despencou quando vi o nome dele: Arthur postara um novo status. Ele ficava naquela de me bloquear e desbloquear, e eu era fraco demais pra bloquea-lo!

Toquei no ícone. O vídeo se abriu em tela cheia: ele estava no vestiário do quartel, short justo e camiseta regata levantada, exibindo o abdômen suado. A câmera — “por acaso” — descia, focando no volume saliente entre as pernas dele enquanto ele ajustava o elástico da bermuda. Aquilo pulsava em câmera lenta, como se o resto do mundo tivesse ficado mudo.

Um calor lascivo subiu do meu estômago, roubando o ar. Meus joelhos amoleceram; apoiei‑me na prateleira para não tropeçar num vaso de azaléas. A mente disparou lembranças: as noites em que aquele mesmo volume pressionava meu quadril, o cheiro amadeirado dele misturado ao suor. Mordi o lábio, sentindo o rosto corar sob as luzes de LED da estufa.

— Calma, Pedro… — sussurrei pra mim mesmo, fechando o vídeo antes que cometesse a insanidade de responder com um emoji que revelasse demais.

Respirei fundo, capturando o perfume de terra úmida para me ancorar de volta ao presente. Empurrei o carrinho adiante, escolhendo mudas de alecrim e hortelã para a horta. Cada planta que entrava no carrinho era um lembrete de que, independente do caos, minha vida ainda podia florescer.

Na fila do caixa, selecionei um pacote de sementes de girassol — precisava de algo que virasse o rosto pro sol mesmo nos dias mais turvos. Enquanto a atendente embalava tudo em papel craft, fotografei o carrinho abarrotado de verde e tons pastel. Sobrepus um texto simples e bem‑humorado:

“Plantando novas raízes. 🌱 Quem sabe o que mais pode brotar depois?”

Postei nos meus stories, não só para provocar Arthur ou Flávio, mas para lembrar a mim mesmo de que crescimento leva tempo e cuidado. Guardar segredos embaixo da terra não basta; é preciso regar, podar, recomeçar — e ter coragem de se deixar ver quando as primeiras folhas despontam.

Carreguei as caixas até o porta‑malas. Antes de fechar, uma última olhada na tela: Arthur já tinha visualizado minha postagem. Nenhuma resposta — ainda.

Sorri de canto. Entre flores recém‑compradas, reconstruções em andamento e desejos que insistem em germinar, percebi que a vida, tal qual o jardim, seguia seu curso: às vezes lenta, às vezes impetuosa, sempre teimosa em encontrar luz.

Liguei o carro. O perfume das lavandas invadiu o ar‑condicionado, e eu me permiti sonhar com o quintal cheio de cores — um refúgio pronto para receber tudo o que viesse depois, seja o barulho dos problemas, seja a brisa suave de um novo amor… ou quem sabe o passo pesado de velhos fantasmas que insistem em me fazer tremer.

O sol começava a se inclinar quando ajoelhei‑me no canteiro recém‑cavado, as mãos encharcadas de terra úmida. O perfume das lavandas misturava‑se ao cheiro de húmus, criando um consolo silencioso para a mente turbulenta. Eu batia a pazinha no chão, firmando a muda de alecrim, quando o celular vibrou no bolso do short, irritando‑me com seu toque insistente.

— Alô? — murmurei, limpando a testa suada com o antebraço sujo de barro.

— Pedro? É o Arthur. — A voz grave fez meu estômago afundar. — Será que eu posso falar com você?

Fiquei em silêncio um segundo inteiro, sentindo o coração acelerar como se quisesse fugir pelas costelas. Uma parte de mim queria desligar; outra, curiosa e doída, implorava para ouvir o que ele tinha a dizer.

— Não sei se devo… — comecei, hesitante, mas as palavras escorreram. — Tá, fala logo.

— Não é coisa de telefone. Preciso te ver.

Soltei um suspiro exasperado. — Você mesmo disse que era melhor distância. Agora quer conversa? — A indignação me fez apertar o celular — mas, num misto de raiva e saudade, acabei passando o endereço da casa. — Vem, então. Tô ocupado no jardim. Se chegar e eu não quiser papo, enfia tua bota na boca e volta.

— Chego em quinze.

Desliguei antes de ouvir resposta. Voltei à terra, mas cada pá parecia mais pesada, como se a expectativa empurrasse minhas costas. Quinze minutos depois, ouvi o ronco conhecido da moto parar em frente ao portão.

Arthur surgiu pelo corredor lateral, alto, ombros largos apertados numa camiseta preta fina demais, realçando cada músculo. A luz dourada do fim de tarde recortava‑o como uma visão proibida. Prendi o ar — maldição — e o peito ardeu de lembranças.

Ele deu o primeiro passo sobre o gramado recém‑plantado.

— Nem pisa direito que amassa — rosnei, levantando‑me num pulo, a camiseta colada de suor e barro. Antes que ele tirasse o capacete, comecei a metralhar: — O que você quer agora? Me culpar de novo? Dizer que toda desgraça do universo foi minha culpa? Não sabe nem o que quer da vida, né? Idiota! Se queria distância, era só continuar longe. Que joguinho é esse? Sumir, depois aparecer todo cheio de “posso falar”?

Arthur tirou o capacete devagar. Os olhos castanhos, cansados, cravaram‑se nos meus. Ele engoliu em seco, deu meio passo, mas meu estalo de sarcasmo não parava.

— Resolveu vir bancar o arrependido? — cuspi, gesticulando com mãos lambuzadas de terra. — Ou quem sabe desfilar esse volume que você adora exibir no story? Quer plateia ao vivo?

Ele abriu a boca, fechou, respirou fundo. Então avançou mais um passo, barreira rompida. O barulho do cascalho sob a bota dele pareceu mais alto que meu coração.

— Eu tentei ficar longe, Pedro… juro que tentei — murmurou, a voz rouca. — Mas não consigo.

Foi tudo que disse antes de agarrar minha nuca. O beijo caiu sobre mim como tempestade em tarde abafada, urgente e faminto. O gosto dele misturou‑se ao amargo da terra em meus lábios. Tentei empurrá‑lo, mas as mãos que seguravam meus quadris eram ferro quente. Senti‑o roçar contra mim — duro, pesado — através do tecido sujo do meu short. Um arrepio percorreu‑me a espinha; a raiva derreteu numa onda de desejo confuso.

As lavandas balançaram ao nosso lado, testemunhas mudas do choque entre espinhos e pétalas.

E ali, com os joelhos manchados de barro e o corpo colado ao dele, senti que nenhum jardim do mundo seria simples o bastante para conter as ervas daninhas que insistiam em nascer entre nós.

Continua...

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