Festas de fim de ano me dão preguiça. Sempre o mesmo padrão: a decoração improvisada com pisca-piscas velhos, a rabanada molenga que ninguém admite detestar, as piadas recicladas do setor de RH e aquele clima forçado de “gratidão corporativa”. Mas, como anfitriã da confraternização do nosso setor, vesti meu papel com empenho.
Casa arrumada, playlist organizada, meu marido escalado para a churrasqueira. E, claro, escolhi um vestido que não usaria em lugar nenhum... exceto para causar uma boa impressão.
Quando ele chegou — aquele colega com quem nunca troquei nada além de protocolos e planilhas —, confesso que foi como notar uma luz que sempre esteve acesa, mas que só agora me dei conta. Ele me olhou diferente. Não descaradamente, mas havia algo na maneira como me observou, no cuidado em me elogiar sem palavras.
Naquele instante, quando nos abraçamos no portão, senti que minha escolha de vestido não tinha sido em vão. O tecido floral, leve, moldava minhas curvas com uma suavidade estratégica. Sabia que minhas pernas estavam à mostra (afinal, invisto muito tempo de academia nelas justamente para exibi-las) e também os contornos dos meus seios que, no dia a dia, vivem escondidos, quando não “prensados” sob camisas engomadas.
Não me vesti assim por ele, mas por mim mesma. Mas confesso que me agradou ver que ele me notou.
Apresentei-o ao meu marido, como fiz com os outros convidados. O jeito efusivo com que meu marido o recebeu não era só efeito da cerveja: ele já tinha me ouvido falar dele. De leve. Numa daquelas noites em que confidências surgem entre taças de vinho e travesseiros amassados. Eu contei que ele era bonito, discreto e tinha um ar curioso, como quem olha para as pessoas tentando decifrá-las.
E meu marido, bom... achou graça. Somos um casal liberal muito bem resolvido com nossas escolhas.
O bate-papo entre eles entrou na raia de um gosto em comum: gastronomia. Foi quando meu marido soltou um dos seus comentários típicos — sem filtros e sem limites. Com aquele jeito debochado, disse:
— “Ela não gosta de frango assado… está ficando velha, não dobra mais!”
E caiu na gargalhada, achando a própria piada genial. Eu sorri para não desmontar o clima, mas fiquei vermelha. Um pouco de vergonha da forma súbita e “desengonçada” com que meu corpo virou tema da conversa entre eles.
Vi que meu colega riu no impulso, mas recuou ao perceber meu constrangimento. Aquilo me instigou. A forma como ele tentou aliviar, como me olhou com um pedido mudo de desculpas, me fez ver que ele não era como outros homens. Havia ali uma espécie de delicadeza em tensão.
E, mais que tudo, havia curiosidade.
Quando voltamos a conversar sozinhos, puxei o fio. Toquei de leve no assunto:
— Não repara nas brincadeiras dele… Você deve ter notado que ele é meio sem noção.
Esperava só um comentário leve, o que aconteceu.
— Ah, bobagem. Ele é superdivertido. Gostei muito dele.
— Divertido porque não é de você que ele fica falando de posições sexuais.
Vi o olhar dele congelar por um segundo. Era como se estivesse construindo alguma imagem mental. E então, como quem testa a temperatura da água com o pé, ele respondeu, com um sorriso enviesado:
— “Então você tem uma boa elasticidade?”
Eu poderia rir, fingir que não entendi. Mas mantive o olhar firme:
— “Faço academia e yoga. Duvido que qualquer uma das suas namoradinhas tenha mais elasticidade do que eu. O que eu não tenho achado é homem com fôlego pra me acompanhar.”
Ele engoliu seco. Tentou manter o clima no terreno do deboche:
— “Maldade com ele! Seu marido é tão boa pinta… não parece fugir de você à noite.”
Eu ri, dessa vez maliciosamente:
— “Ele!? Jamais. Ele é meu parceiro de todas as horas. Para tudo. Mas, pensando melhor, não é tudo que você queira saber que eu possa te responder agora...”
Voltei para o salão de festas depois daquela conversa e me senti outra. Uma parte de mim já sabia que algo estava se desenhando. Ele tentava racionalizar demais os gestos, como se todo cuidado fosse necessário para não tropeçar em algum limite ético ou moral.
A brincadeira com a “elasticidade” foi um divisor. Notei quando ele se perdeu por um segundo, como se meu comentário tivesse acendido um farol numa estrada que ele não sabia estar percorrendo. A partir dali, não era mais só desejo meu ou do meu marido. Era nosso desejo convergindo com o dele.
Ele se afastou um pouco depois disso, talvez para tentar entender o que estava sentindo.
Só que, para quem está dentro do jogo, esses silêncios também falam. Notei quando me olhou de longe, quando disfarçou ajeitando a calça. Foi discreto, mas mulher sabe quando está sendo observada com vontade. E o modo como ele tentava negar esse olhar só me dava mais vontade de provocá-lo.
A festa seguiu como as de sempre: a trilha sonora começa com música sertaneja, ponto mais elétrico da festividade. É também quando acontecem os sorteios e as apresentações; o pop rock começa a tocar quando a turma começa a ficar “etilicamente introspectiva”, momento em que geralmente alguém perde totalmente a linha de tanto beber, e a turma do “deixa disso” precisa intervir em alguma rusga do escritório que explode em meio à celebração. A MPB começa a tocar quando quase metade da festa já foi embora e o ambiente ganha um tom mais leve.
E, lá pelas 22h, ele anunciou que iria embora. Meu corpo quase se adiantou ao protesto. Insisti para que ficasse.
— Calma, amanhã é domingo. Fica conversando com meu marido. Me ajuda nisso. Tem pouca gente, mas tenho que dividir atenção com eles. Faz companhia para o meu marido. Deixa que a sua parte da cerveja eu pago.
Ele hesitava. Alegava cansaço. Então usei o que sabia que funcionaria.
— “Toma um banho pra despertar. Te empresto uma roupa do meu marido.”
E quando ele ainda resistia com educação, fui até ele, segurei seu braço com firmeza e, com meu marido assistindo a tudo um pouco distante, ele me ajudou:
— “Isso, bicho! Um banho dá uma ressuscitada na gente…”
***
Quando ouvi o som da água correndo no banheiro do nosso quarto, me vi excitada de um jeito quase adolescente. Meu marido riu da situação — era excitante para ele também. A gente nunca tinha feito nada com alguém do nosso convívio direto. Mas havia algo diferente nele: era desejável, era seguro.
Em vez de deixar meu marido levar a toalha, fui até a porta do banheiro. De modo que ele não pudesse me ver, atravessei a toalha apenas com o braço, colocando-a sobre a fechadura. E, propositalmente, deixei uma fresta. Me escondi ali, onde o armário disfarça o vão, e esperei.
Meu coração batia rápido. Queria vê-lo. Queria saber se ele me ofereceria algo de volta.
E ele ofereceu. Ele teve a ousadia, contida, de se exibir discretamente, como se ainda fingisse que não sabia que eu estava ali. Vi o momento exato em que ele levou a mão ao pau, lavando-o mais lentamente do que o necessário. Depois, os movimentos curtos de prazer, como se dissesse sem palavras: estou vendo você me ver.
Fiquei ali até ouvir a água parar. Saí sem ruído, mas levei comigo uma pulsação desgovernada. Já não era mais fantasia.
Voltei para o salão e fingi normalidade. Vi que ele me procurava com os olhos. Cruzei o olhar com ele e, pela primeira vez, mordi os lábios deliberadamente. Queria que soubesse que eu sabia.
Ele desviou os olhos, tímido. Mas seus gestos eram os de quem já tinha perdido o controle.
Quando ele voltou do banho, percebi que havia mudado. Estava mais alerta, os olhos mais fundos, o corpo ligeiramente tenso — não de cansaço, mas de quem armazena desejo. A forma como desviava de mim para não parecer invasivo só denunciava o quanto me queria.
Àquela altura, a festa já era só um cenário. A mesa de copos empilhados, os pratos esquecidos num canto, os resquícios de rabanada fria..
Meu marido, ao contrário, estava solto. Meu cúmplice, ele enchia o copo do nosso convidado, puxava assunto com ele, media os silêncios — tudo era uma forma de acalmar, de acolher, de trazer para dentro o que ainda estava do lado de fora.
E, lá pelas tantas, nosso convidado disse novamente que iria embora. Senti a ansiedade roçar minha pele. Eu não podia deixá-lo sair.
Não depois de tudo que criamos, mesmo sem tocar. O que tivemos naquela noite — olhares, frestas, palavras enviesadas — já era mais íntimo do que muita cama compartilhada por aí.
Insisti para que ficasse. Foi quando meu marido também interveio:
— O melhor da festa começa agora. Fica tranquilo. Se precisar, você dorme aqui. Meus filhos não vão dormir em casa esse final de semana. Você fica no quarto de um deles.
Quando meu marido reforçou o convite, senti que ele entendeu tudo. Que ele confiava em mim, em nós dois. E mais: confiava nele. Dava para ver nos olhos dele que também o desejava ali, com a gente.
Meu marido se afastou para terminar de juntar as coisas e entrou para tomar banho.
Ficamos conversando só eu e ele, segurando o celular com o aplicativo de corridas aberto.
E então veio a cena que selou tudo.
Ele, ainda confuso, tentava recuar com gentileza. Disse que não queria confundir as coisas, que respeitava demais...
Ah, esse discurso. Tão comum. Tão honesto, até. Mas eu sabia que por trás da confusão havia só medo — e desejo.
A última tentativa dele de entender foi tão doce que me arrancou um sorriso.
— Teve uma hora que você disse que não poderia me responder tudo na festa. Agora posso te fazer uma pergunta?
— Agora pode. Sou um livro aberto...
— Você ficou me olhando no banho?
A pergunta me atravessou feito uma língua quente no meio das pernas.
— Claro que fiquei. Claro que vi...
E quando revelei que não estava sozinha ao olhar, vi nos olhos dele algo desabar. O peso da dúvida se dissolveu. O que era tensão virou alívio. O que era hesitação virou impulso.
— Fica com a gente hoje?
Essa foi minha pergunta mais honesta em toda a noite. E quando ele suspendeu a corrida e disse que sim, o “eba” escapou dos meus lábios com a empolgação de uma menina.
Entrelacei os dedos da sua mão sobre uma das minhas e, como um casal de namorados, saí levando-o para dentro da casa.
***
Nem bem entramos e, quando a porta se fechou atrás de nós, senti o ar mudar. Não era mais o salão de festas. Estávamos dentro da nossa casa e agora o ambiente tinha outro cheiro. Outro silêncio. A expectativa tomava conta até do tapete sob nossos pés.
Não havia urgência nos meus gestos, mas havia “fome”. A vontade vinha de antes — de muito antes. Talvez de meses de olhares disfarçados que só agora faziam sentido. Talvez das conversas com meu marido em que ele dizia:
— Acho que ele toparia. Ele parece o tipo...
Talvez da forma como ele me viu pela primeira vez naquela noite — e eu me senti inteira.
Beijei-o sem cerimônia. Encostei-o na parede, com minhas mãos passeando pelas costas dele. Um beijo úmido, cheio de língua e desejo.
Toquei sua perna, subi pelas coxas e senti sua ereção crescente contra meu quadril. Aquilo me excitava.
Deixei-o tocar minhas coxas, subir o vestido, sentir minha pele quente e úmida entre as pernas. Gemi baixo no ouvido dele. Eu estava encharcada. E ele soube disso com um único toque.
Quando ouvi o chuveiro desligar, puxei-o pela mão. De volta ao quarto. Recompus como pude meu vestido, mas o cabelo ainda bagunçado e o rubor no rosto nos entregavam.
Meu marido estava de pé, de roupão, secando o cabelo com uma toalha. Ao nos ver, sorriu com aquele jeito de quem sabe exatamente o que está prestes a acontecer. E eu soube que não haveria volta.
— Olha quem resolveu ficar — ele disse, com um humor leve e cúmplice.
Beijei meu marido na boca. Ele me puxou com carinho, desceu as alças do meu vestido. Deixei que caísse, com gosto. Meu corpo, finalmente à mostra. Meus seios livres. Meus olhos divididos entre dois homens que eu desejava.
Ele sentou-se na cama. Meu colega se aproximou. Toquei seu peito, levei a mão dele até um dos meus seios. Meu marido fazia o mesmo do outro lado. As mãos deles se cruzavam em mim. Eu era o centro. Eu era o fio entre os dois.
Toquei o pau de um, depois o de outro. Um mais nu, outro ainda semi-vestido. Me deitei e puxei nosso colega para cima de mim. Nossos olhos se encontraram por um instante, cheios de vontade.
Ele encaixou-se entre minhas pernas. Meu corpo já aberto, úmido, latejando. Ele deslizou devagar. Tão devagar que me fez prender o ar. Me invadiu com firmeza, mas com respeito. Meu marido ao lado, vendo. Tocando-se. Beijando meu ombro.
Ele me penetrava devagar, como se seu corpo estivesse aprendendo o meu, milímetro por milímetro. Seu pau escorregava quente dentro de mim, e a cada estocada minha respiração se desfazia em gemidos. Meu marido, deitado ao lado, observava com olhos atentos e uma ereção firme sob o toque da própria mão. Ele estava muito excitado.
Depois de alguns minutos, meu marido se aproximou, tocou meu rosto e disse baixinho, com aquele tom maroto que eu conhecia tão bem:
— Agora deixa eu brincar um pouco também.
Era como se tivessem ensaiado a forma como trocaram de lugar entre as minhas pernas. Era um revezamento quase cômico — como crianças trocando um brinquedo.
Meu marido me puxou pela cintura até a beira da cama e me penetrou em pé, firme entre minhas coxas. Enquanto me invadia com estocadas curtas e firmes, o outro ficou atrás de mim, acariciando meu pescoço, os ombros, meus seios já molhados de saliva e suor.
Depois, aproximou o pau do meu rosto, e eu o recebi com gosto.
— Posso? — perguntou, já segurando o pau, ereto.
— Porra... a boca dela é uma delícia.
Meu marido apenas riu, ainda metendo com estocadas rítmicas.
— Ela é uma delícia em tudo, irmão.
Meu gemido veio abafado pela boca cheia. Aquilo tudo me acendia por dentro. Estava sendo usada e, ao mesmo tempo, era eu quem conduzia o ritmo. Meus quadris ditavam a velocidade. Minha língua fazia o outro perder a fala.
Quando parei para respirar, ouvi meu marido dizer, com a voz baixa e firme:
— Vira. Agora quero você de quatro.
Obedeci sem hesitar. Apoiei nos cotovelos, empinando a bunda com gosto. Senti ele se posicionar atrás, primeiro com os dedos, depois com o pau já duro. Me penetrou devagar. Gemeu fundo quando me sentiu apertar.
O outro se aproximou pela lateral, passou a mão pelo meu rosto, acariciou meus seios. Depois, escorregou os dedos pelas minhas costas, desceu até a minha bunda, e começou a me "preparar" com cuidado.
Acredito que eles devem ter se entendido com um olhar; na posição em que eu estava não pude conferir.
— Você quer? — perguntou meu marido, a voz mais grave que antes.
Ele não precisou explicar. Eu entendi na hora.
— Quero... — respondi, arfando. — Quero os dois...
Nosso convidado se deitou e eu me sentei com as pernas abertas, encaixada sobre o pau dele, que deslizou fácil, molhado pela mistura dos nossos corpos.
Meu marido foi mais devagar. Lubrificou-se bem, usou os dedos antes, abriu caminho com paciência. Massageou primeiro, depois pressionou com cuidado, esperando meu corpo ceder. E cedeu. Meus músculos tremiam de prazer, de nervo e de entrega.
Logo, senti a glande do meu marido pressionar meu cu com paciência. O outro já estava dentro da minha buceta. E quando os dois entraram ao mesmo tempo — um pela frente, o outro por trás — eu arqueei as costas e gemi alto, sem vergonha nenhuma.
Era quente, apertado, intenso. Era como ser tomada em estéreo. O mundo desapareceu. Só existia o meu corpo — e os dois homens que o adoravam.
— Ela tá toda aberta pra gente — sussurrou um deles.
Os dois se moviam com atenção, com sincronia — como se lessem um ao outro pelos meus gemidos. Os dois me invadiam como quem cultiva, não como quem toma. E fui penetrada até não saber mais quem era quem, até não saber onde terminava um e começava o outro.
Gozei antes mesmo de perceber que estava gozando. Um gozo tão profundo que fazia minhas coxas tremerem e minhas mãos cravarem o lençol. Eles gemeram e gozaram comigo, como se estivessem conectados ao meu centro.
Deitaram-me de lado, entre os dois. Beijaram meus ombros, meus quadris, minhas costas. Ficamos ali, juntos, ofegantes. Me deitei entre os dois, com as pernas ainda trêmulas.
No outro dia cedo, acordei e a casa estava em silêncio, mas havia uma vibração quente no ar, como se as paredes tivessem escutado tudo — e aprovado.
Meu corpo doía de um jeito bom. Como depois de um treino intenso, ou de uma dança que durou mais que o planejado. As pernas ainda tremiam de leve. Meus seios estavam sensíveis. A pele, quente. Havia cheiro de sexo na cama, na nuca, entre as coxas.
Deitada entre os dois, senti um braço me puxar de leve pela cintura. Não sei quem era. E não me importava...