A conversa que mudou tudo
A noite caía serena sobre o bairro, envolta no murmúrio distante dos carros e no som abafado da televisão de alguma casa vizinha. Na varanda, o aroma de café morno ainda pairava no ar. Álvaro permanecia ali, imóvel, com os braços apoiados no parapeito de ferro, olhando para o vazio como se buscasse respostas no escuro. O tempo havia esculpido sua expressão: rosto vincado, cabelos grisalhos, o peso de três décadas como policial marcando seus ombros curvados.
Foi então que Simone apareceu. Ainda úmida do banho, trajava um roupão curto que deixava à mostra a marquinha do biquíni e as pernas torneadas. O cheiro doce de creme se espalhava com o vento.
— Álvaro… — disse, sentando-se ao lado dele.
Ele a observou de relance. Mesmo após mais de duas décadas de casamento, ela ainda tinha o poder de tirar seu fôlego. Mas ambos sabiam: o desejo não se sustentava apenas no encanto da beleza. E o que existia entre eles — outrora chama — agora era quase cinza.
— Precisamos conversar — começou ele, com a voz baixa e umedecida pelo tempo. — Sobre nós. Sobre o que estamos deixando se apagar.
Simone nada disse de imediato. Respirou fundo. Aquilo que ele tocava em palavras era o que ela sentia em silêncio. A ausência, o vazio morno da rotina.
— Eu sei que tenho estado distante — continuou Álvaro. — E vejo em você o que já não consigo mais oferecer. Fome. Desejo. Vida. E isso me corrói, Simone. Porque você merece mais do que o que tenho sido.
Ela o encarou, olhos verdes marejados de emoção contida. Havia ali amor — mas também uma saudade crua de si mesma.
— Você é o homem da minha vida, Álvaro. Mas sinto falta de me sentir viva. De me perder. De ser desejada… com voracidade.
Ele assentiu, engolindo seco.
— E se pensássemos em outro caminho? Uma forma diferente de reacender o que já foi incêndio?
Simone arqueou a sobrancelha.
— Que tipo de caminho?
— Um terceiro — murmurou ele, quase num sopro.
Por um instante, apenas o vento respondeu, dançando leve pelas cortinas da sala.
— Você está sugerindo… outro homem? — indagou ela, surpresa.
— Não é sobre dividir. É sobre libertar. Sobre ver você viva, acesa. Eu quero assistir. Participar. Quero ver você incendiar de novo.
Ela não respondeu de imediato. Mas o arrepio que percorreu sua pele disse o que a mente ainda tentava entender. Aquilo era ousado. Perigoso. Excitantesemanas depois, Álvaro explorava discretamente um grupo online voltado para conversas adultas. Em meio a perfis vazios e propostas vulgares, um nome chamou sua atenção: Eduardo. Um rapaz de dezenove anos, moreno, cabelo raspado, semblante sereno e descrição tímida. A conversa foi leve, com trocas sutis. Aos poucos, Eduardo revelou que havia sido traído, sentia-se perdido, com a autoestima abalada, mas disposto a explorar novos desejos.
Álvaro foi direto, sem rodeios: era casado, sua esposa sabia, e buscavam algo novo, honesto e respeitoso. Eduardo hesitou, mas seguiu conversando.
Pouco depois, Simone entrou no diálogo.
O impacto foi imediato. Eduardo ficou mudo, nervoso. A foto de perfil dela o desarmou: olhos verdes intensos, cabelos curtos avermelhados, pele dourada de sol. Uma beleza crua e instigante.
Ela começou a brincar. Enviou áudios leves, cheios de riso e provocação. Eduardo tremia entre o embaraço e o desejo.
— Me disseram que você tem um brinquedinho interessante aí, Edu… posso ver? — provocou ela, rindo baixinho.
Minutos depois, chegou a foto. Crua, espelhada. Eduardo nu, sem artifício. O membro rígido, espesso, impressionante. Simone reagiu com um emoji de fogo. Em seguida, enviou um áudio rouco, quase um sussurro:
— Grande demais pra ser tão tímido, amor…
Álvaro ouviu. Sorriu. Um misto de excitação, ciúme e orgulho o percorreu. Estava funcionando. Todos ardiam juntos.
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Durante os três meses seguintes, a conversa entre os três tornou-se diária. Eduardo enviava fotos, vídeos, se abria em desejos. Simone gravava áudios sensuais, gemidos baixos, frases provocantes. Álvaro assistia, interagia, ora comentando, ora apenas observando, olhos famintos.
As fantasias tomavam forma.
— Sonhei com você, Edu — dizia Simone. — Eu de quatro, você me segurando pela cintura. Álvaro filmando cada detalhe.
— Eu acordo molhado só com sua voz — respondia ele. — Você é meu vício.
O desejo ganhava corpo. Era hora de se verem.
No dia do encontro, Álvaro dirigia. Simone vestia um vestido colado, bege, sem sutiã nem calcinha. Perfume envolvente, batom vermelho queimado.
Encontraram Eduardo num shopping. Ele os aguardava, camiseta preta justa, jeans colado, o cabelo alinhado. Ao ver Simone, paralisou. Depois, cumprimentou Álvaro com respeito.
A conversa foi leve: cinema, trabalho, vida. Mas os olhos de Simone não se desviavam dos dele. Álvaro notava. Sentia. Permitia.
Ao final, sob a mesa da praça de alimentação, Simone roçou a mão na coxa de Eduardo. Discreta. Decidida.
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A partir dali, tudo se intensificou. Os áudios ganharam novos tons. As mensagens, novas camadas. Eduardo, antes inseguro, tornou-se audacioso. Simone, entregue, florescia em sensualidade. Álvaro percebia: ela estava viva novamente. Seus olhos tinham brilho. O corpo, uma nova linguagem.
E isso não o afastava. O incendiava.
Até que, numa tarde abafada de sábado, sentado à mesa da cozinha, Álvaro olhou para o calendário preso à parede. Ali, em vermelho, estava o 22 de outubro: aniversário de casamento. Vinte e dois anos.
Pegou o celular. Abriu o grupo com Eduardo e escreveu:
> “Tenho uma ideia.”
> “Fala, senhor.”
> “Dia 22. Quero dar à Simone o que ela nunca vai esquecer. Nós três. Motel. Sem pressa. Sem culpa. Só prazer. Você topa?”
Silêncio. Depois, a resposta:
> “Tô dentro. Vai ser uma honra.”
O coração de Álvaro acelerou. Sentia-se jovem outra vez, tomado por uma ansiedade quente.
Naquela noite, contou tudo a Simone, enquanto suas mãos deslizavam pelas pernas dela, na cama.
— Tem certeza? — perguntou ela, olhos fechados, corpo receptivo.
— Mais do que nunca. Não é só por você. É por nós. Quero ver você brilhar. Sentir. Viver. Quero estar ali. Com você. Com ele.
Ela sorriu, passando a mão pelo peito dele.
— Então me dá esse presente, Álvaro. Me faz tua… mesmo diante dele.
Ele a beijou no ombro e prometeu:
— No dia 22… você vai lembrar exatamente quem é a mulher mais desejada desse mundo.
E ela lembrou.