O garoto começou a rodar pela rua, via os carros vindo e os imaginava como dinossauros. Começou a correr em pânico.
— Dinossauro! Corram, corram! — Léo gritou, enquanto todos o olhavam perplexos.
Ricardo e Marília
Os dois andavam em silêncio, que foi quebrado por Ricardo. — Quero me desculpar por aquela noite — ele disse, hesitante.
— Se desculpar de quê? — Marília perguntou, um pouco confusa.
— Te tratei mal naquela noite, e você não merece isso. Desculpa, mas é porque não sinto o mesmo por você o que sente por mim — Ricardo explicou, com sinceridade.
— Eu sei, mas tudo bem. Carol me disse que o amor é meu, não seu. Vai demorar para te esquecer, mas pelo menos longe daqui vai ser mais fácil — Marília disse, um leve sorriso triste.
— Longe daqui? Como assim? — Ricardo perguntou, surpreso.
— Vou para o Rio de Janeiro — Marília revelou.
— Sério? Que legal! — Ricardo exclamou, genuinamente feliz por ela.
— Aham. Carol talvez vai comigo, não é certo ainda — Marília acrescentou.
— Nossa, que bom, hein! — Ricardo comentou.
— Sim, muito bom — Marília concordou.
Tony e Maicon
Estavam andando em direção à casa de Tony.
— Ninguém da sua sala sabe que você mora sozinho? — Maicon perguntou, curioso.
— Não, escondi isso de todos. Por favor, não conte a ninguém — Tony pediu, com um tom de súplica.
— Está bem, cara, mas por que você mora só? — Maicon questionou.
— Nunca contei para ninguém, mas sinto algo em você que posso contar e confiar — Tony disse, os olhos marejados.
— Com certeza — Maicon assegurou.
— Eu fugi da minha cidade — Tony confessou.
— Mas por quê, cara? — Maicon perguntou, chocado.
Os olhos de Tony encheram-se de lágrimas novamente. — Vou te contar tudo — ele disse, com a voz embargada.
Residência Dona Fátima
Sâmara estava lavando sua roupa no fundo da casa da avó, quando percebeu que uma Suzuki vermelha parou na porta. Seu coração acelerou. A garota correu em direção ao rapaz sentado em cima da moto: era uma "pérola negra", forte, malhado, cabelo curto, com um ar de "macho mesmo", capaz de fazer qualquer garota e alguns garotos delirarem só de olhar.
— Meu amor! — Sâmara exclamou.
— Conta-me o que houve? — Marcelo perguntou, descendo da moto.
— Aff... calma, eu não roubei nada — Sâmara resmungou.
— Sâmara, sua mãe foi contra você, eles têm fortes motivos — Marcelo disse, sério.
— Meu amor, não acredito que até você acha que sou ladra! — Sâmara protestou.
— Claro que não. Sua avó está aí? — Marcelo perguntou.
— Está sim, por quê? — Sâmara respondeu.
— Quero falar com ela — Marcelo disse.
— Quer falar o quê? — Sâmara perguntou, curiosa.
— Você vai ver — Marcelo respondeu, desligando a moto e entrando na casa, acompanhado da garota. Dona Fátima estava sentada em sua cadeira de balanço.
— Licença, senhora, queria falar com a senhora — Marcelo disse, com respeito, sentando-se no sofá.
— Pois não, meu filho — Fátima respondeu.
— Bem, tenho 26 anos, a Sâmara tem 19. Começamos a namorar há 4 anos. Amo muito ela. Queria a permissão da senhora para que eu possa vir vê-la toda noite — Marcelo disse, surpreendendo Sâmara.
Residência Família Soares
Pedro continuava a socar em Fernando, cada vez mais forte. Metade da dor já estava sumindo, e mesmo sendo violentado, Fernando sentia, de leve, um pequeno prazer. Até que algo assustou Pedro, fazendo-o retirar seu pênis do ânus de Fernando. Alguém bateu na porta.
— Quem é?! — Pedro gritou.
— Socorro, socorro! — Fernando sussurrou, desesperado.
Pedro calou a boca de Fernando com a mão. A porta foi empurrada por Theo.
— Mas o que é isso?! Pedro, o que você está fazendo? Solte ele! — Theo exclamou, chocado.
— Ah, é só o outro veadinho do tipo fêmea louca! Kkk! — Pedro zombou, largando Fernando.
— Sou mesmo, e assumo, e não me escondo por trás de uma falsa aparência como você! — Theo retrucou, com coragem.
— Retire o que você disse, sua bichinha de merda! — Pedro rosnou, e foi até Theo, dando um soco na boca do garoto, que caiu.
Fernando tentou ajudar Theo, mas Pedro o empurrou para trás, fazendo-o cair no chão.
— Escute aqui, sua bicha louca e maluca, nunca mais me insulte, entendeu?! — Pedro gritou, voltando a chutá-lo. Theo se contorcia no chão.
— Nunca vou me rebaixar a você, seu lixo! — Theo cuspiu as palavras.
— Que é isso, Theo? Até parece que você não está doido para ver essa rola aqui deliciosa no seu cuzinho, arrochando! — Pedro provocou, com um sorriso distorcido.
— Preferia ser perfurado por balas do que ter você em meu corpo! — Theo respondeu, desafiador.
— É o que vamos ver. Nando, meu amor, não se importa de me dividir mais seu amigo, não é? — Pedro perguntou, virando-se.
Ao se virar para trás, Pedro viu Fernando desmaiado no chão e se assustou.
Tony e Maicon
— Não acredito, cara, então você é gay? — Maicon perguntou, surpreso.
— Sim, espero que não mude nossa amizade — Tony respondeu, a voz carregada de apreensão.
— Claro que não, comigo não tem isso. Mas então você sofreu muito — Maicon disse, compreensivo.
— Sim, nem imagina o quanto — Tony murmurou.
— Pô, vou para minha casa. Mais tarde, se quiser, venho cá ficar com você para não se sentir só. E você me mostra as cicatrizes — Maicon disse, com um tom carinhoso.
— Obrigado, amigo — Tony agradeceu.
Tony estava na porta de sua casa, que era pequena e velha. Ele entrou. Dentro da casa não havia absolutamente nada, somente uma cama no chão, seus livros postos em cima da cama, e uma mala no canto. Ele deitou-se na cama.
— Seu idiota, não é fácil ser gay, ainda fica ouvindo esses preconceitos bestas. Se soubessem do meu passado, o quanto sofri, o quanto chorei, o quanto tentei suicídio... Ai, Plínio, como queria estar com você agora! Sei que você não vai me perdoar nunca, te abandonei sem nem dizer adeus, meu amor. E você, Ricardo, você se apaixonou por mim, e eu só o usando para tentar esquecer o Plínio e meu passado — Tony desabafou, as lágrimas escorrendo livremente.
Tony levantou-se e chutou sua mochila. Pegou uma garrafa de água mineral do chão e bebeu.
— Droga de vida! — ele praguejou.
Ricardo e Marília
Já estavam próximos à casa de Marília, quando a figura de Léo surgiu ao longe, ainda correndo.
— Aquele não é o Léo? — Marília perguntou, surpresa.
— É sim. Por que será que ele não veio para a escola hoje? — Ricardo questionou, confuso.
— Vai saber, você é amigo dele — Marília respondeu.
Léo foi se aproximando sem parar de correr. Avistou Ricardo e Marília, e seu rosto se contorceu em raiva ao vê-los juntos. Chegou perto de Ricardo e desferiu um soco.
— Léo, para! O que é isso? — Marília gritou.
— O que deu em você, cara? Para com isso! — Ricardo exclamou, caindo no chão.
— Seu traidor, desgraçado! — Léo vociferou, seus olhos dilatados e irracionais.
— Meu Deus, Léo, o que houve com você? — Marília perguntou, assustada.
Léo conseguiu derrubar Ricardo no chão, que chutou o amigo para tirá-lo de cima dele.
— Marília, os olhos dele estão dilatados! — Ricardo alertou.
— O que deu nele, Ricardo? — Marília perguntou, em pânico.
— Você sabe que a amo e está dando em cima dela! — Léo gritou, mirando Marília.
— Como assim, Léo? — Marília perguntou, confusa e assustada.
— Eu te amo, Marília, e essa desgraçada está dando em cima de você! — Léo vociferou, as palavras sem nexo, e continuou a bater em Ricardo.
Residência Família Soares
Pedro assustou-se ao ver Fernando desmaiado no chão.
— O que você fez, seu desgraçado?! Nando, fala comigo, amigo! — Theo exclamou, ajoelhando-se ao lado de Fernando.
Pedro foi para junto de Fernando e o segurou, levantando a cabeça. Ele nem viu o que aconteceu; foi muito rápido. Em um gesto brusco, Fernando, que havia acordado por um instante, enfiou uma faca na mão de Pedro.
— Ahhhhhh...! Seu desgraçado! — Pedro gritou, a faca fincada em sua mão.
Fernando segurava a faca com força. — Eu te juro, Pedro, por tudo que você me fez, hoje eu mato você...!
Continua...
