Capítulo 16 – O Espaço de Silêncio
A manhã começou com um som conhecido: o ronco macio da moto de Júlia cruzando o portão. Clara observava pela janela, com um sorriso discreto. A jovem vinha vestida de novo com a ousada roupa de cowgirl, com botas altas e um olhar firme. Mas havia algo diferente em seu semblante — uma maturidade silenciosa, como se o ritual já lhe pertencesse.
Marcos, parado atrás da cortina, engoliu seco. Sabia o que viria. E sabia o que seria exigido.
Clara virou-se para ele, sem pressa.
— Hoje, você precisa estar mais presente do que nunca, coelhinho.
A forma como ela disse aquilo — com uma doçura firme — fez Marcos estremecer por dentro. O nome havia deixado de ser brincadeira. Agora era identidade. Ele assentiu, quieto.
Quando Júlia estacionou a moto e tirou o capacete, ergueu o rosto e encarou a janela, como se soubesse que estava sendo observada. Clara, já de joelhos à frente de Marcos, olhou para trás, trocou um olhar rápido com Júlia e voltou-se para ele. Baixou devagar o moletom dele, o toque meticuloso como se abrisse uma oferenda.
— Não diga nada — sussurrou Clara.
Ela se abaixou, e o som do zíper sendo afastado se confundiu com o leve vento que entrava pela janela. Marcos já não era dono de si. Mas antes que a cena terminasse, Clara subiu uma das mãos pela lateral dele, até alcançar aquele ponto onde a pele se estreita e o controle se rompe. Com um gesto sutil, pressionou com o dedo médio e o polegar em arco — como se ativasse um selo secreto. O corpo de Marcos respondeu com um leve espasmo.
Ela o segurou firme, e quando a carga veio, em silêncio absoluto, Clara permaneceu imóvel. Depois, se ergueu, ainda com ele em mãos, e o beijou com suavidade. Mas desta vez, ao envolvê-lo, apertou-lhe a base das costas. Um leve tremor atravessou o corpo de Marcos, e ela sussurrou:
— O botão está mais sensível, não está?
Ele assentiu, sem voz.
Na sessão com a terapeuta, os três chegaram juntos. Luísa os recebeu com uma expressão serena.
— Hoje, vamos iniciar o Espaço de Silêncio — anunciou. — Nenhum som, nenhuma palavra. Apenas observação e ação. Comunicação pelo corpo e pelo olhar.
Clara sorriu. Júlia também.
— E depois disso, temos uma proposta adicional — disse Clara. — Quero que Marcos tenha um momento de penetração. Controlada. Ritual. Mas... sob o olhar de Júlia.
Marcos arregalou os olhos. A terapeuta ergueu uma sobrancelha.
— Você está propondo um cenário com testemunha? — perguntou Luísa, olhando para Marcos com atenção.
Clara assentiu.
— Mas ela não participa. Só observa. Quero que ele sinta o peso e o poder do próprio pedido. Que peça para chegar ao clímax. Com dignidade. Com a voz.
Luísa olhou para Júlia.
— E você aceita esse lugar? A de testemunha consciente?
Júlia demorou, mas disse:
— Sim. Se for para ajudá-lo a se ouvir, eu aceito. Não como fetiche. Como espelho.
A terapeuta anotou em silêncio.
— Muito bem. Clara, sua liderança precisa ser firme e generosa. Marcos, o ato de pedir não diminui ninguém. E Júlia... seu papel é perceber onde termina o desejo e começa a empatia.
Ela fechou os olhos e concluiu:
— Neste final de semana, o silêncio será mais eloquente do que qualquer grito.
A casa estava escura, o quarto iluminado apenas por uma lâmpada âmbar. Marcos deitou-se lentamente, Clara ao lado. Júlia, sentada a uma distância respeitosa, apenas observava, em silêncio absoluto.
Quando Clara montou sobre Marcos, a respiração dele acelerou. Ela não dizia uma palavra — apenas conduzia, com olhos e mãos.
No ápice, quando o corpo pedia a liberação, Clara segurou seus ombros e o fitou.
Marcos entendeu.
— Posso... me liberar? — disse, com a voz trêmula.
Clara assentiu. E quando ele se entregou, ela o acolheu.
Do outro lado do quarto, Júlia chorava em silêncio. Não por tristeza — mas porque, naquele instante, ela também havia sido tocada.