Capítulo 10 – Confissões e Espelhos
Clara entrou sozinha no consultório de Luísa naquela manhã. O marido ficaria em casa com a bebê e com Júlia, que agora já estava integrada à rotina doméstica — embora houvesse algo naquele olhar da babá que ainda a deixava em alerta... ou estimulada.
Sentou-se na poltrona e cruzou as pernas com elegância.
— Então? — disse Luísa, sempre direta.
Clara respirou fundo e começou:
— A Júlia chegou de moto… vestida como uma cowgirl saída de uma propaganda. Meu marido travou. Ele... teve um incidente. Duas vezes. Uma ali mesmo. E outra depois, no lavabo, quando eu o beijei. Eu... limpei. E beijei. Forte. Sem deixar escapar o que estava na minha boca. Ele... estremeceu. De novo. — Sorriu. — Foi lindo. E... patético. E meu.
Luísa não se surpreendeu. Apenas pegou a caneta e fez algumas anotações.
— Você o envergonhou?
— Eu o devolvi pra ele mesmo. E devolvi com ternura. Com domínio. Mas sem humilhação.
Luísa assentiu. Então, entregou a Clara um pequeno cartão manuscrito.
— Quero que você execute isso ao longo das próximas semanas. Não é punição. É reconstrução. Seu espaço de liderança emocional. Seu direito à resposta física, simbólica e afetiva.
Clara leu em silêncio.
10 Tarefas para Clara – Terapia de Controle Afetivo-Erotizado
Nomear: Escolha um novo apelido para ele, além de “coelhinho”. Um que ele tema e ame ao mesmo tempo.
Controle de Horários: Ele só poderá se tocar — ou gozar — com sua autorização explícita.
Ordem de Boa Noite: Toda noite, ele deve pedir permissão para dormir. Beijando onde você determinar.
Relatórios Sensoriais: Três vezes por semana, ele deve te enviar mensagens descrevendo o que sentiu ao obedecer.
Tempo de Boca: Em toda relação íntima, ele deve primeiro se dedicar exclusivamente a te satisfazer. Só depois poderá pensar em si.
Olhos Vendados: Uma vez por semana, ele será vendado enquanto você guia tudo. Você decide se haverá toque, palavras ou apenas espera.
Testes de Tentação: Provoque discretamente e observe. Não é para consumar, é para medir.
Memória Auditiva: Grave áudios curtos com comandos ou elogios. Ele deve ouvi-los diariamente antes de dormir.
Treino de Resistência: Sempre que ele estiver prestes a chegar ao clímax, pare. Conte até dez. Só então permita.
Segredos Compartilhados: Toda semana, ele deve confessar algo íntimo que nunca te disse.
Clara sorriu com o papel na mão.
— Isso vai reestruturar tudo — disse. — Inclusive a forma como ele me deseja.
Luísa cruzou os braços, firme:
— Vai reestruturar você. O desejo dele é reflexo da sua linguagem de poder.
Naquela noite, Clara chegou com calma em casa. A bebê já dormia. A casa estava silenciosa, com o cheiro de lavanda ainda no ar.
Marcos estava no quarto, em silêncio, sentado à beira da cama, lendo. Quando ela entrou, ele levantou os olhos, tenso. Ela apenas ergueu o papel que Luísa havia lhe dado.
— Vamos brincar de obedecer?
Ele engoliu seco.
Mas do outro lado do corredor, alguém observava em silêncio. A porta do quarto estava entreaberta, e Júlia, a babá, parou por um instante. Seus olhos tocaram a cena: Clara de pé, com um olhar firme. O marido imóvel, quase curvado, esperando.
Ela não disse nada. Apenas desviou o olhar, fechou lentamente sua própria porta, e entrou no seu quarto.
Deitada na cama, ainda vestida com a blusa de algodão e a calcinha leve do dia, Júlia ficou olhando para o teto, pensativa.
Havia algo naquele casal que lhe escapava. Um tipo de energia estranha, um magnetismo invertido. Uma mulher que guiava, e um homem que tremia... mas sorria no fim.
Ela não sabia se invejava, temia ou desejava aquilo.
Fechou os olhos devagar. Mas demoraria muito a dormir.