Capítulo 7 – A Linguagem do Jogo (Versão Revisada)
As semanas que seguiram à primeira sessão de terapia trouxeram mudanças delicadas. Clara e Marcos não voltaram à intimidade sexual de imediato, mas algo havia se transformado: os silêncios estavam menos pesados, os toques mais cuidadosos. O corpo de Clara ainda carregava os sinais do parto — seios sensíveis, cicatriz do períneo, cansaço crônico. Mas aos poucos, ela voltava a se olhar no espelho com um misto de estranheza e ternura.
Quando voltaram ao consultório de Luísa, a terapeuta notou a diferença nos gestos deles. Os dois pareciam mais próximos, ainda que envoltos em inseguranças. Foi Clara quem falou primeiro.
— A gente andou lembrando de algumas brincadeiras nossas… antes da gravidez.
Luísa sorriu, encorajando:
— Como quais?
Clara olhou para Marcos, que corou imediatamente.
— O “coelhinho” — ela disse, com um ar divertido. — Era uma forma leve de lidar com algo que doía antes: a velocidade do Marcos… e o meu tempo diferente. Eu criei esse apelido para desarmar a tensão, transformar aquilo numa entrega com humor, não num defeito.
Marcos confirmou com um aceno.
— E funcionava. Ela ria, me provocava… e eu me sentia menos… falho.
Luísa anotou algo no caderno.
— Brincadeiras eróticas podem ser recursos poderosos. Criam linguagem íntima, símbolos, pactos. Querem experimentar um jogo novo, mas baseado nesse mesmo espírito?
Clara ergueu as sobrancelhas, curiosa.
— Estamos ouvindo.
A terapeuta cruzou as pernas, com serenidade.
— Vou sugerir algo que chamo de “jogo oral invertido”. Marcos pode chegar ao ápice com o auxílio da boca de Clara… desde que isso venha acompanhado de uma regra clara: para cada clímax dele, ele precisa compensá-la em 300% de cuidado, presença ou prazer. Isso inclui o que vocês considerarem prazer: sexo oral, massagens, leitura erótica, beijos demorados — o que o corpo dela pedir. E Marcos precisa ouvir esse corpo.
Clara sorriu, genuinamente surpresa.
— Então… ele pode gozar na minha boca, contanto que ele banque o preço emocional e físico depois?
— Exatamente. E não como cobrança mecânica. Mas como símbolo de reciprocidade, de justiça do prazer. Não há vergonha em sentir prazer. Mas há responsabilidade em compartilhá-lo.
Marcos engoliu em seco, visivelmente impactado.
— Eu topo. Só preciso… aprender a escutar mais.
Luísa apoiou a caneta.
— Esse é o jogo. Ouvir é o primeiro toque. O resto vem depois.
Naquela noite, Clara preparou o ambiente sem pressa. Colocou o bebê para dormir, ajeitou os travesseiros no chão da sala e desligou o celular. Estava com uma camisola leve, os seios ainda pesados de leite, mas o olhar cheio de faísca.
— Coelhinho — ela disse, divertida. — Temos um jogo novo.
Marcos já sabia do que se tratava. Aproximou-se dela devagar, tocando-lhe os tornozelos, os joelhos, a cintura. Ela se sentou no sofá, abriu levemente as pernas e o olhou com doçura e comando.
— Pode gozar na minha boca, se quiser. Mas saiba que vai me dever. Três vezes mais. Em língua, em beijo, em escuta. Entendido?
Ele assentiu, ruborizado, quase reverente. Ajoelhou-se, sentindo-se exposto e grato. Quando ela o recebeu com a boca quente e lenta, não houve pressa. Havia ritual. Havia permissão.
E quando ele chegou lá, com um sussurro de rendição e a mão trêmula em seus cabelos, Clara permaneceu. Engoliu, com naturalidade e firmeza. Como quem assume um símbolo. Depois, sem hesitar, puxou-o para cima e o beijou — com gosto, com firmeza, com doçura. Sem repulsa. Sem medo.
O beijo não foi apenas um gesto de afeto. Foi um pacto silencioso.
— Agora começa a sua parte — ela sussurrou, ofegante, com um sorriso indecente. — Estou contando, coelhinho.
E ele soube que aquelas três vezes seriam longas. E deliciosamente exigentes.