2- O Novo Funcionário do Edmundo

Da série VANITAS PERFIDA
Um conto erótico de Lauro Costa
Categoria: Gay
Contém 1433 palavras
Data: 15/06/2025 18:13:08
Assuntos: Gay

O final da tarde se arrastava entre luz dourada e a sombra dos escândalos que já se espalhavam como fumaça pelo Hotel Éden. Álvaro saiu pela porta de serviço, sem se despedir de ninguém. Vestia culpa como se fosse seu melhor terno.

No flat de Gui Osório, no Flamengo, encontrou abrigo, desejo e um jogo ainda mais perigoso.

Gui abriu a porta com uma taça de vinho na mão.

— Atrasado. Eu já estava quase começando sem você.

Álvaro se jogou em seus braços, o beijo voraz. Mas Guilherme, como sempre, beijava e pensava. E pensava em lucro.

— A Fênix precisa de aprovação formal antes da reunião do conselho. Depois que os Curvello assumirem a gestão, esquece. Eles vão querer trocar o piso do saguão por carpete colonial.

— Meu pai é contra qualquer reforma.

— Então se torne o seu pai.

Álvaro recuou.

— Eu não quero o lugar dele. Eu quero sair disso tudo. Fazer algo meu. Trabalhar com interiores, design...

Gui sorriu, manipulador:

— Então comece pelo próprio Éden. Um projeto assinado por Álvaro Santos. Uma renovação de imagem… especialmente agora.

O celular de Álvaro vibrou. O de Gui também.

Tiroteio no saguão do hotel. Edmundo envolvido. Richard ferido.

Álvaro empalideceu.

— Você... foi você quem mandou a foto pro marido da Veridiana?

— Eu não comento minhas obras. Apenas as entrego.

— Eu só falei com você! E o Rich... o Rich foi baleado!

— Você me deu o pavio. Eu só acendi. O escândalo é seu, querido.

Álvaro saiu esbaforido, sem olhar para trás.

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FLASHBACK – Dois dias antes

Veridiana digitava algo no computador quando saiu da sala de Álvaro para atender o telefone. Seu celular, destravado sobre a mesa, acendeu com uma notificação de Edmundo.

Álvaro, curioso e irritado com os atrasos recentes, não resistiu. Abriu a conversa.

Uma selfie no espelho do elevador. Veridiana e Edmundo se beijando, os olhos fechados e a legenda provocante: “Essa suíte tem vista pro paraíso”.

— Que porra é essa…

Veridiana voltou e travou ao ver o celular na mão do chefe.

— Eu... posso explicar…

— Você é casada.

— E infeliz. E carente. E o Edmundo foi gentil...

— Gentil? Ele é um Curvello. Isso aqui é o Éden, não o Big Brother.

Naquela noite, Álvaro contou tudo a Gui, em um sussurro que soou como um presente.

Dois dias depois, o marido traído recebeu a imagem. Gui fez questão de incluir a legenda: “Ela ainda dorme com você, mas acorda com ele.”

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De volta ao Éden

Na enfermaria, Richard recebia pontos no ombro. Ferimento leve. Orgulho ferido em carne viva.

Álvaro entrou nervoso.

— Me perdoa.

— Você contou pra ele, Álvaro. Eu sei.

— Eu não pensei que…

— Que Gui faria disso um espetáculo? Álvaro, acorda. Ele usa pessoas como figurino.

— Eu só queria me livrar da culpa. Mas agora, te ver assim...

— Ele te prende com elogio. E te sufoca com interesse. Um dia você não vai mais saber onde termina o desejo e começa o nojo.

— Cala a boca!

— Só se você me prometer que vai parar de amar um homem que destrói tudo o que você toca.

Álvaro chorou. De verdade.

— Fica comigo hoje. No meu quarto.

— Prefiro a ala psiquiátrica.

Edmundo entrou em seguida, atordoado.

— Você salvou minha vida, cara.

— Não é todo dia que se toma uma bala por um playboy.

— Você me ganhou. Tá contratado.

— Isso tem nome: extorsão emocional.

— Mas até eu conseguir um quarto, você fica comigo. No meu apartamento. Tem três quartos. E uma geladeira só com água de coco.

Richard arqueou a sobrancelha.

— Convite irrecusável.

No saguão do hotel, o marido de Veridiana era detido pela polícia, algemado. Arma apreendida, investigação aberta pela corregedoria da PM.

— Vai prestar queixa? — perguntou um dos oficiais.

— Não. Ele já perdeu tudo. Eu não sou cruel — disse Richard.

— E o senhor? — voltou-se ao Edmundo.

— Sem queixa. Mas bloqueado no WhatsApp.

Enquanto isso, Veridiana trancava a porta de um flat alugado no Catete. Abriu o notebook e localizou uma pasta: “EDY_LOVER”. Vídeos, prints de mensagens, fotos íntimas.

— Você vai me pagar, Edmundo Curvello.

Com juros.

E com seu nome arrastado na lama.

A noite havia caído sobre o Éden, mas o caos ainda ardia como o calor abafado nos corredores do hotel. Horas após o escândalo no saguão, uma reunião emergencial foi convocada. No coração da torre administrativa, a sala de reuniões refletia a gravidade do momento: janelas fechadas, ar-condicionado gelado e uma mesa cercada de olhares atravessados.

Álvaro entrou primeiro, seguido de perto por Gui Osório, que nem se deu ao trabalho de disfarçar o tédio. Logo vieram Clésio Santos, patriarca da família, e Alcebíades Curvello, rígido como uma pintura do século XIX. Edmundo, ainda com o curativo no braço, entrou com os ombros tensos, seguido por Maria Eduarda — ou Madu, com o olhar afiado de quem já tinha feito todas as anotações mentais possíveis. Por fim, Richard. Vestia roupas emprestadas, o corte do ferimento coberto por uma atadura discreta e o andar orgulhoso de quem não se curvava à vergonha.

Clésio mal esperou a porta se fechar para lançar o olhar severo ao novo rosto na sala.

— Este é o rapaz de quem tanto falam?

— Richard — respondeu Edmundo, seco. — Salvou minha vida. Tá morando comigo no apartamento até ajeitarmos um quarto decente.

— Morando com você? — repetiu Alcebíades, franzindo o cenho. — E já trabalha no hotel?

— Funciona melhor que muito gerente antigo — completou Edmundo.

Antes que alguém pudesse questionar, Richard interveio:

— Eu trabalho para o Edmundo. E estou aqui para propor uma solução.

Gui soltou uma risada curta e debochada.

— Solução? Quer virar o caso da bala perdida num conto de fadas?

Richard, impassível, abriu o notebook sobre a mesa. A tela exibia o rascunho de uma proposta clara e visual: “Baile de Máscaras — Um Novo Éden”.

— Um evento beneficente — começou ele — em apoio às vítimas de violência, especialmente mulheres. A renda será doada para uma ONG com reputação nacional. Uma noite elegante, com cobertura da imprensa e presença de nomes influentes. Será o gesto público necessário para mostrar que o Éden não é um hotel em decadência, mas sim um símbolo de resiliência.

Clésio cruzou os braços.

— Você quer tapar um buraco de bala com uma festa?

— Quero transformar uma tragédia em narrativa. Mostrar que reagimos com ação e responsabilidade. E também deixar claro, para os hóspedes e a cidade, que aprimoramos os protocolos de segurança. O hotel sairá disso com um novo rosto.

Madu assentiu discretamente. Já Álvaro parecia dividido entre admiração e desconforto.

— A ideia é boa — disse. — Pelo menos mais produtiva do que apontar culpados.

Gui se inclinou na cadeira, os olhos cravados em Richard.

— Você fala como quem tem prática em contornar escândalos. Ou em criá-los.

Richard sequer piscou.

— E você fala como quem prefere ver o barco afundar do que dividir o leme.

A tensão aumentou. Foi Edmundo quem a cortou.

— Já tá decidido. Eu apoio o Rich, o plano e o baile.

Clésio não respondeu de imediato. Observava Richard com aquela desconfiança típica de quem via nele tudo o que desprezava — e temia.

— Que fique claro que você não é funcionário do hotel — disse, por fim. — É funcionário do meu filho.

— Perfeitamente — respondeu Richard, com um meio sorriso. — Por enquanto.

Madu, silenciosa até então, ajeitou os papéis à sua frente.

— Precisamos de uma estratégia de comunicação e um cronograma. Posso ajudar com a parte operacional. E, se alguém tiver outra proposta, que fale agora.

Gui balançou a cabeça, vencido.

— Se querem brincar de baile, brinquem. Mas esse hotel ainda vai pagar caro por essa infantilidade.

Richard o encarou, só por um segundo.

— Infantilidade é achar que sabotar um caso de adultério com prints e vídeos não vai respingar em você.

Os olhos de Álvaro se arregalaram. Edmundo virou-se, atento. Madu parou de escrever.

— Do que você tá falando? — perguntou Edmundo, desconfiado.

— Nada que já não seja óbvio — respondeu Richard, fechando o notebook com calma. — Mas o importante agora é o baile. E ele já começou.

Silêncio.

Era verdade. A dança de poder, mentira e sedução já estava em andamento. E ninguém naquela sala saía ileso.

No fim do dia, Richard se instalou no apartamento de Edmundo. Três quartos, varanda com vista, e um Edmundo em trajes de academia discutindo sobre qual perfume combina com noite de gala.

Richard jogou a mala na poltrona.

— Uma bala no ombro e agora isso. Devo ter sido alguém muito bom em outra vida.

Edmundo abriu um vinho.

— Ou muito ruim. E tá sendo recompensado com meu convívio.

— Pode ser.

Brindaram.

Longe dali, Veridiana ria em frente ao notebook.

— Baile de máscaras?

Vocês vão precisar mais do que uma máscara pra esconder o que tá vindo.

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Comentários

Foto de perfil de Xandão Sá

Porque vc não tá na Casa de Criadores da Globo? Ou está e usa um pseudônimo aqui? Porque você domina a técnica da narrativa muito bem, isso é um verdadeiro folhetim!

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