O sábado havia chegado com um céu claro e temperatura amena. Luiz acordou mais tarde do que de costume, com o corpo ainda mole pelas sensações da noite anterior. A lembrança do beijo de Roberto voltava em flashes: o toque firme, o calor, a forma como foi encostado no carro. Mas também o que foi dito... “quero te moldar”, “minha fêmea particular”... palavras que ecoavam como um convite e uma ameaça ao mesmo tempo.
Por volta do meio-dia, enquanto almoçava algo simples em casa, recebeu a mensagem:
Aline: “Boa tarde, precisamos conversar. Em particular. Te espero às 14h, no café do segundo piso do Barra Shopping .”
Luiz leu a mensagem duas vezes. O coração bateu mais rápido. Ele não sabia ao certo o que esperar, mas alguma parte dele já imaginava: ela sabia. Claro que sabia.
Vestiu-se com simplicidade: uma camiseta cinza clara, calça jeans ajustada e tênis limpo. Pela primeira vez em dias, não usava calcinha. Estava de cueca — comum, masculina — e isso por si só o deixava levemente estranho, como se algo estivesse faltando.
Chegou ao shopping com cinco minutos de antecedência. O café era moderno, discreto, com poltronas baixas e mesinhas redondas de madeira. Aline o esperava em pé, do lado de fora da cafeteria. Usava uma calça jeans de cintura alta, perfeitamente ajustada ao corpo, e uma blusa de malha preta, com decote canoa que deixava os ombros à mostra de forma sutil. O cabelo preso em um rabo de cavalo solto, brincos pequenos. Linda. Confiante.
Ela sorriu ao vê-lo se aproximar.
— Olha só quem chegou — disse com tom leve, mas olhar afiado.
Luiz retribuiu o sorriso, envergonhado.
— Você está bonita, Aline.
— Eu sei — respondeu com um piscar de olho. — Vamos sentar?
Escolheram uma mesa no canto, próxima ao vidro. O shopping não estava cheio, e a música ambiente abafava os sons dos poucos clientes. Pediram dois sucos naturais.
— Então... — Luiz começou, sem saber exatamente o que dizer. — Sobre ontem...
Aline interrompeu com um gesto calmo.
— Eu estive com o Roberto antes de marcar isso aqui. — Ela disse, olhando diretamente em seus olhos. — Eu sei de tudo, Luiz. Sem exceções. E não precisa me esconder nada.
Ele baixou os olhos, o rosto levemente corado.
— Até o beijo?
— O beijo. O convite. A calcinha. — Fez uma pausa. — E mais do que isso... eu sei o que você sentiu. Mesmo que ainda não consiga dizer em voz alta.
Luiz engoliu seco. Mexeu no copo de suco com o canudo.
— É difícil pra mim. Eu nem sei o que pensar. O que ele disse... aquilo tudo sobre ser moldado, ser dele. — Fez uma pausa, desviando o olhar. — Não parece algo real.
Aline sorriu, mas com ternura.
— Ninguém vai forçar nada, Luiz. Nem eu, nem ele. Mas você precisa entender uma coisa: às vezes, o que parece impossível é exatamente o que seu corpo e sua alma já sabem que desejam.
Ele soltou um riso nervoso, e comentou:
— Engraçado ouvir isso de você. Eu... nunca imaginei que conversaria assim com alguém do trabalho.
— Nós não estamos no trabalho, querida. — disse Aline, suavemente.
A palavra "querida" o pegou de surpresa. Ele a olhou, e um sorriso tímido se desenhou em seus lábios.
— Desculpa... é estranho ser tratado assim.
— Estranho... ou gostoso? — Aline provocou, pegando a borda do copo com elegância.
Luiz desviou os olhos, mordendo o canto da boca sem perceber. Aline notou.
— Está de calcinha hoje? — perguntou, num tom natural, como se falasse sobre a previsão do tempo.
Luiz arregalou os olhos por um segundo, e depois abaixou o rosto.
— Não... hoje não.
— Uma pena. Fica tão bonitinha de calcinha...
Ele tentou responder algo, mas apenas riu, escondendo parte do rosto com a mão.
— Posso te perguntar uma coisa? — ele disse.
— Claro.
— Como você soube? Quero dizer... antes de tudo isso. Como descobriu?
Aline se inclinou levemente para a frente, apoiando os cotovelos na mesa.
— Eu reparei há algumas semanas, quando você se abaixou ao lado da copiadora. A calcinha subiu levemente pela camisa. Um modelo rosa claro de rendadinha. Uma graça.
Luiz levou a mão ao rosto, cobrindo os olhos. Sentia-se exposto, mas ao mesmo tempo... visto.
— Desde então, comecei a observar. A maneira como você olha, como senta. Como se esforça pra parecer invisível.
— Eu achei que escondia bem...
— Esconde sim... de quem não sabe o que procurar. Mas eu sei. E agora que sei, posso te ajudar.
Luiz ficou em silêncio por alguns segundos. O suco gelado em suas mãos parecia distante. Ele levantou os olhos para ela.
— Ajudar como?
Aline sorriu, mas o tom era sério.
— A entender que você não está só. Que tem gente como você. E que, talvez... já seja hora de aceitar que sua vida vai mudar.
Ela fez uma pausa breve.
— E eu vou estar por perto quando isso acontecer.
— E agora... vem comigo. Preciso comprar umas coisinhas e quero sua opinião.
— Comprar? — Luiz estranhou.
— Um presentinho pro meu marido. Vai me ajudar a escolher — respondeu com um sorriso misterioso.
Luiz seguiu Aline pelas lojas do shopping como quem caminha por um terreno desconhecido, mas estranhamente convidativo. A primeira parada foi em uma boutique feminina especializada em lingerie. Aline pegava peças, comentava sobre rendas, sobre conforto, sobre sensualidade. Mostrava para Luiz e pedia:
— E essa aqui? Muito ousada ou delicada?
Ela levantou um conjunto de cetim rosado com detalhes de renda no busto e lacinho entre os seios do sutiã. Luiz hesitou.
— Eu... eu não sei... — murmurou, os olhos presos na peça.
— Não sabe ou não quer admitir que achou linda? — disse Aline, sorrindo.
Ele pegou a peça, tocou o tecido por instantes, e rapidamente devolveu.
— Acho que essa vai bem... — disse, tentando parecer neutro.
— Vai mesmo — respondeu Aline, com um brilho travesso no olhar.
Na segunda loja, especializada em roupas casuais femininas, Aline experimentou um vestido justo, curto e de tecido leve. Chamou Luiz até a porta do provador e perguntou:
— Esse aqui passa mais sensual ou mais menininha?
Luiz sorriu, nervoso.
— Sensual... — respondeu, quase num sussurro.
Ela riu.
— Achei que você fosse dizer "menininha". Estava torcendo por isso.
Na terceira loja, de maquiagem e acessórios, Aline pegou batons de tons variados, esmaltes rosa-claro e nude, uma nécessaire bordada. Luiz a acompanhava como quem fingia estar apenas ajudando, mas já se envolvia em cada escolha, em cada sugestão.
Foi quando se afastaram da última prateleira que Luiz, sem conter a curiosidade, perguntou:
— Aline... você não ia comprar um presente pro seu marido?
Ela parou, olhou pra ele com um sorriso de canto e disse:
— Já comprei.
— Mas... tudo isso...
— Não era pra mim, Luiz.
Ele parou. Olhou para as sacolas em suas mãos. Um frio percorreu seu corpo.
— Você tá brincando...
— Não mesmo. — Aline se inclinou um pouco, aproximando-se do rosto dele. — Ele adora coisas femininas. Roupas leves, sensuais... detalhes delicados.
— Mas...
— Você achou que só você escondia quem realmente é?
Luiz ficou em silêncio. Os olhos fixos nela, depois nas sacolas. Tentou processar a informação. Alguma parte dele duvidava. Outra, desejava que fosse verdade.
Ao saírem da loja, Luiz ainda parecia abalado. Aline, no entanto, estava em paz.
— Acha mesmo que só você tem segredos, Luiz? — disse, com uma piscadela.
Ele sorriu, tímido, e soltou um suspiro contido.
Do lado de fora do shopping, Aline segurou o braço dele por um instante.
— Se prepara... segunda-feira você vai vê-lo de novo.
Luiz engoliu seco. Aline prosseguiu:
— E faz um favor pra mim... usa aquela calcinha string que vi da primeira vez. Aquela rosinha clara, com rendinha fina nas laterais. Aquela que entrou sutilmente por baixo da sua camisa... e quase me fez te agarrar ali mesmo, naquela dia.
Luiz corou por completo. Sorriu com vergonha.
Ela se aproximou para o beijo de despedida. Um beijo no rosto. Depois outro. E um abraço. Aline apertou com carinho, e ele sentiu a maciez dos seios dela contra seu peito. Seu corpo reagiu com um arrepio silencioso.
— Segunda-feira — ela repetiu. — Estaremos lá. E ele também.
Luiz assentiu, calado, com o coração em disparada.
CONTINUA....
Obrigada pelos comentários. Eu adoro ler os comentários e isso me motiva muito a continuar a escrever a história. Espere que estejam gostando. Fiquem avontade em fazer perguntas e sugerir. Bjss 💋 💋 💋