O primeiro torneio juvenil da escola começaria em algumas semanas, e Biel estava realmente focado. Eu, por outro lado, já tinha pedido dispensa ao treinador, visto que não era realmente minha praia.
Faltando duas semanas para o campeonato, Biel veio me pedir desculpas.
— Ei, foi mal pelas meninas lá na tua casa.
— Se fizer isso de novo eu paro de falar contigo. — Disse, já deixando claro que meu lance não era aquele.
— Aproveita, mano!
Me segurei para não mandar ele se ferrar, aliás, aquela era nossa primeira conversa desde os acontecimentos na minha casa.
— Foi mal, foi mal!
— Posso ser sincero contigo? — Ele gesticulou que sim. — Eu gosto de você! Sempre gostei! — Fui falando, mas ao mesmo tempo fui tremendo, como se eu precisasse me controlar para não estragar tudo. — Você mexeu comigo. Eu sonho contigo, sinto seu cheiro, e tudo que a gente já viveu e fez tem um significado pra mim.
— Sério?
Ele parecia se importar, pois ficou parado, com aquele olhar penetrante, de frente pra mim.
— Caramba, Breno, achei que você tava só curtindo e tal...
— Não! Me sinto estranho ter que ficar trocando grana contigo pra gente conseguir fazer algo. Queria algo sério, mesmo que não publicamente etc.
— Sério? Namoro?
— Sim, mesmo que às escondidas.
— Mas eu não me vejo namorando com homem.
— Por quê? Você quer namorar mulheres? Seja sincero!
Biel ficou muito estranho nessa hora, como se tivesse se sentido pressionado.
— Não precisa fingir. Estou sendo sincero.
— Olha, eu gosto de você, mas esse nosso lance eu sempre vi como algo errado, irresponsabilidade, sei lá. Acho que não é legal, mas como estamos nessa já, ter umas garotas também ajudava a amenizar tudo.
— Amenizar?
Eu certamente estava ficando chateado, mas ao mesmo tempo estava ficando triste de pensar em ficar sem ele. Será que eu teria outro gostoso e lindo daquele algum dia?
— Vamos fazer o seguinte, vamos tomar um vinho lá em casa esses dias, a gente conversa, coloca tudo na mesa e resolve tudo. Relaxa!
— Vinho?
Ele sempre questionava minhas decisões e pedidos, como se tudo que eu fizesse fosse um pretexto para pegar no pau dele.
— Beleza! A gente faz isso.
Faltavam poucos dias para o primeiro jogo dele, e foi nessa época que marcamos. Lembro-me muito bem a roupa que ele estava vestido nesse dia. Ele chegou lá em casa, e como sempre estava fitado nos carros do meu pai. Olhou as coisas da minha mãe e fomos para o bar da piscina. Nos sentamos no mesmo lugar de sempre, e no lugar do vinho fomos para a cerveja. Biel estava lindo, sorridente como sempre, estava absurdamente gostoso, delicado, aqueles cabelos de astro de cinema, aquela bunda enorme e um tesão guardado dentro de si que eu sabia que poderia ser todo meu naquela noite.
— Estão te ligando — disse, mostrando a chamada no celular dele em cima do balcão.
— Valeu!
Ele atendeu o celular, ficou parado por algum tempo ouvindo alguma coisa, falou algo sobre “não tem nada demais”, “o que você acha que eu fiz?” E depois ficou mais tempo ouvindo coisas. Depois parou, bebeu uma cerveja, e disse que precisava ir embora. Eu fiquei triste, ele saiu pela porta, e aquela foi a última vez que o vi. Me perguntei por várias vezes o que tinha acontecido, mas respostas não existiam. As pessoas não falavam sobre isso pois não sabiam de nada, e eu ficava ainda mais curioso, aflito.
Duas semanas depois lá estava eu tentando explicar ao treinador sobre ele, pois ele perdeu até o campeonato. Ele tinha simplesmente sumido do mapa. Os tios dele já não estavam mais na casa, tudo tinha sido levado com eles. Ao longo desses anos eu conheci algumas pessoas que tiveram pessoas assim na vida delas e que sumiram também, mas nunca tinha uma explicação plausível. Minha paranoia com aquilo foi tão grande que forcei meu pai a comprar a casa onde o Biel morou por um tempo, com o pretexto de montar um negócio (e quando eu falava em fazer negócio meu pai não pensava duas vezes em sair comprando fosse o que fosse para me ver bem nos negócios e ser bem-sucedido). Entrei na casa, fiquei olhando tudo, lembrando de algumas coisas, mas certo de que nunca mais o veria.
E sempre me perguntei: o que aconteceu com Biel?
CONTINUA...