Estava se tornando insuportável para mim. Estar perto dele era como estar à beira de um abismo -
cada olhar, cada gesto, cada respiro me puxava um pouco mais para o fundo. O cheiro do seu
perfume importado, amadeirado e marcante, feito sob medida para ele, invadia meus sentidos
como uma droga. Bastava um passo dele no ambiente e meu corpo já se preparava para arder.
A voz... ah, aquela voz grave, firme, carregada de autoridade e sensualidade. Sempre que ele
falava, eu precisava me controlar para não fechar os olhos e me imaginar ouvindo aquela mesma
voz - só que gemendo rouco no meu ouvido, me tomando com toda a força, como se o mundo
fosse acabar logo depois.
Era impossível ignorar o volume entre suas pernas. Era como se aquilo existisse apenas para me
torturar. Fantasiava com aquilo preenchendo minha boca, fazendo-me engasgar, chorando de
prazer e entrega enquanto ele segurava minha cabeça com as duas mãos - brutal e protetor ao
mesmo tempo. Queria sentir seus braços fortes me envolvendo, apertando meu corpo contra o dele
- aquela sensação de segurança absoluta, como se, mesmo que o mundo desabasse ao nosso
redor, ele estivesse ali... para me proteger.
E no meio de tudo isso, o ódio.
Me odiava por sentir tudo isso. Por desejar o homem que me deu a vida. Por sonhar com ele à
noite, acordando suado e duro, envergonhado e ao mesmo tempo faminto. Cada vez que me
olhava no espelho, via um monstro. Sentia nojo, desprezo, uma raiva surda de mim mesmo.
Eu tentava sufocar esses sentimentos - me distrair, me esconder, me anestesiar. Mas quanto mais
eu lutava, mais eles cresciam. Eles me afundavam, me puxavam para o fundo de um oceano, escuro, silencioso... sufocante. E, mesmo lá, no silêncio absoluto, tudo o que eu conseguia sentir...era o desejo por ele.
Estávamos no escritório - eu e ele - sentados frente a frente. A luz do fim de tarde atravessava as
persianas, desenhando sombras retas sobre seu rosto. Meu pai. Meu chefe. Meu tormento.
Eu fingia prestar atenção nos números, nos mapas, nos relatórios... mas, na verdade, tudo em mim
estava fixado nele. No cheiro do seu perfume, no movimento dos músculos sob a camisa de linho,
na vibração da sua voz, que mesmo ao falar de negócios, exalava algo que ultrapassava qualquer
lógica.
Até que escutei seu tom mudar. Mais pessoal. E me dei conta de que ele me chamava.
- Javier! Filho! Está tudo bem? - ele perguntou, com aquele olhar afiado. - Você parece distante.
Estava escutando o que eu estava te falando?
Sacudi a cabeça, tentando voltar à realidade.
- Estou bem, pai - respondi, disfarçando o tremor na voz. - Mas... do que o senhor estava falando
mesmo? - perguntei, encarando aqueles olhos verdes que me desarmavam por dentro.
Ele foi direto, como sempre.
- Estava falando do seu casamento com a filha dos Castros.
Meu coração parou. Um gelo se espalhou pelo meu peito como se tivesse levado um tiro.
Mas... pai... como assim? - perguntei, desnorteado, sentindo o peso daquelas palavras afundarem em mim como uma bigorna jogada do alto.
- O senhor não pode estar falando sério! - me levantei, a voz mais alta do que deveria. - É isso
mesmo que estou entendendo? Um casamento arranjado com a filha de um dos seus maiores
rivais?
Ele nem se abalou. Apenas me lançou um olhar que me cortou como faca.
- Sente-se. - disse, calmo, frio. E isso bastou para me fazer obedecer. Me joguei de volta na
cadeira, envergonhado pela minha ousadia, com a incômoda sensação de que minha vida já não
era minha.
- Você acha que, quando me casei com sua mãe, tive escolha? - ele continuou. - Você é adulto. Eu
te criei para entender que negócios são negócios. Esse casamento será um acordo de trégua entre
os Riveras e os Castros.
Naquele momento, percebi. Não era só um pacto entre famílias. Era o fim da pouca liberdade que
eu fingia ter.
E pior... eu teria que fingir amar uma mulher, enquanto tudo o que meu corpo implorava era por ele.
Saí daquele escritório completamente quebrado por dentro. O chão parecia ter sido arrancado sob
meus pés. Nunca imaginei que um dia me veria naquela situação - vendido, amarrado a um destino
que não escolhi. Queria fugir, sumir do mundo. Mas eu sabia: ele me encontraria.
Estava tão fora de mim que só percebi o que acontecia ao meu redor quando esbarrei em alguém no corredor da empresa.
Era um homem que eu nunca tinha visto antes. Moreno, por volta de 1,99m, cabelo com corte
degradê e uma listra lateral. Usava cavanhaque, tinha olhos castanhos claros e uma expressão de
arrogância. Dava pra ver, pela camisa justa, que seu corpo era bem definido - músculos tonificados,
postura confiante, presença dominante.
- Olha por onde anda, moleque! - rosnou com voz grave.
- Desculpa - respondi, ainda o observando. Tinha algo nele que me puxava. Um magnetismo bruto,
quase incômodo.
- Da próxima vez, vê se presta mais atenção - disse com um sorriso provocador. Não gostei. Mas
ignorei e segui rumo a casa.
No quarto, o silêncio me esmagou. Me joguei na cama, revivendo tudo o que aconteceu. As
palavras do meu pai ecoavam. A raiva crescia. Como ele pôde me forçar àquilo, mesmo tendo
vivido o mesmo?
Tão imerso estava nos meus pensamentos que nem percebi a porta do quarto abrir. Era ele.
Meu pai.
Apesar de tudo, ele ainda era presente. Sempre foi. Ao ver meu estado, apenas me chamou para
treinar. Era nosso costume desde a infância. Sempre que eu estava perturbado, ele me levava ao
tatame.
A proposta me pegou de surpresa. Fazia tempo que não tínhamos esse tipo de contato. E, mesmo
com tudo, meu coração acelerou. Ele disse que me esperava no tatame, nos fundos da mansão.
O tatame ficava nos fundos da mansão, em uma ala reservada da propriedade que poucos tinham
permissão para acessar. Era um espaço projetado com precisão e luxo, onde a brutalidade
encontrava sofisticação. A entrada era feita por uma porta dupla de madeira escura, com entalhes de símbolos orientais e o brasão da família Rivera esculpido discretamente no centro. Ao cruzar o limiar, o cheiro de couro e madeira encerada preenchia o ar. A iluminação era indireta, vinda de painéis embutidos no teto de
madeira nobre, criando sombras suaves que reforçavam a atmosfera de respeito e tensão.
O tatame em si era amplo, com cerca de 10x10 metros, revestido por placas espessas de EVA
cinza escuro, perfeitamente encaixadas. Nas paredes, havia suportes com armas brancas de
exibição - katanas, bastões, facas e tonfas - além de quadros com fotos antigas dos Rivera em
combates, e certificados de mestres em artes marciais que já treinaram ali.
Espelhos ocupavam uma das paredes, permitindo observar cada movimento com precisão. Do
outro lado, sacos de pancada de couro preto pendiam do teto por correntes reforçadas, ao lado de
um banco de pesos simples - discreto, mas funcional. Um difusor espalhava pelo ambiente um
aroma leve de eucalipto e menta, trazendo um contraste quase terapêutico ao espaço de combate.
Anexo ao tatame, havia um vestiário exclusivo, reservado apenas para os dois. A porta era de correr, preta e fosca, com trava automática. O interior era sofisticado, com armários embutidos em madeira escura, bancos acolchoados e paredes de pedra clara. Dois chuveiros separados por divisórias de vidro jateado ofereciam água com controle de temperatura digital. Um espelho largo
ficava sobre a bancada de mármore negro com lavatórios modernos. Havia toalhas brancas
impecavelmente dobradas, perfumes caros sobre a bancada e até um mini frigobar com garrafas de
água mineral e bebidas energéticas.
O espaço era mais do que funcional - era íntimo. Um santuário masculino onde dor, disciplina e
desejo se misturavam silenciosamente.
E ali, naquele ambiente limpo, fechado e tenso, dois corpos prestes a se enfrentar carregavam
muito mais do que técnicas de combate. Carregavam segredos. Instintos. E uma tensão que não
podia ser dita em palavras.
Antes de começarmos o treino, ele me chamou para irmos ao vestiário. Ainda estávamos com as
roupas que usamos no trabalho - ele de camisa social escura, com os dois primeiros botões abertos
revelando parte do peito musculoso e peludo; eu de blazer e calça social, ainda tentando parecer
no controle.
No momento em que ele falou "vamos nos trocar", um arrepio me percorreu. O estômago gelou.
Era comum, antes, ficarmos nus um na frente do outro - havíamos treinado juntos por anos,
convivido como pai e filho... homens. Mas agora era diferente. Muito diferente.
Fazia tempo que não dividíamos aquele tipo de intimidade. E só de imaginar vê-lo despido de novo,
tão perto, meu coração quase parou. Um calor me subiu entre as pernas. A tensão me engoliu.
- Filho? - ele chamou, me tirando dos meus devaneios.
- Filho! - repetiu, um pouco mais alto.
Eu piscava, meio perdido, ainda em pânico com a possibilidade de dar algum sinal. Meu medo era
que ele percebesse... um olhar a mais, uma ereção traiçoeira... qualquer coisa. Ser descoberto
nesse momento seria catastrófico.
- Oi! - respondi finalmente, com a voz falha, tentando parecer casual.
Ele me olhou com aquela expressão que misturava autoridade e um certo cuidado.
- O que está acontecendo com você? Tem andado muito disperso ultimamente.
- Não é nada... só estou com a mente um pouco cheia - murmurei, evitando o contato visual. Ele
não insistiu. Apenas assentiu e virou-se, indo em direção ao vestiário.
Não tive outra escolha senão segui-lo. Recusar seria estranho. E levantar suspeitas era a última
coisa que eu podia me permitir.
Ao entrar no vestiário, o cheiro familiar de eucalipto e couro limpo me atingiu. Me sentei em um dos
bancos de madeira acolchoada, imóvel, como se minhas pernas pesassem uma tonelada. Meus
olhos, no entanto, estavam vivos - famintos - e fixos na melhor visão que eu poderia ter na vida...
Ele.
Meu pai.
Votem e comentem sobre o que vcs acharam. Aceito sugestões para melhorar minha escrita. E me digam o que vocês esperam do próximo capítulo. Bjs.