O internato - Capítulo 17

Um conto erótico de Bernardo, Daniel e Theo
Categoria: Gay
Contém 2446 palavras
Data: 21/06/2025 22:39:43
Assuntos: Gay, Amor

Capítulo 17 – Intolerância e Falsidades

Daniel

– Eu pensei que tivesse pedido para vocês duas se retirarem. Eu cuidaria disso pessoalmente – disse o diretor, olhando sério para Amanda e Isabela, que ainda estavam sentadas.

– Desculpe, diretor, mas eu precisava ver com meus próprios olhos – respondeu Amanda, levantando-se com um sorriso presunçoso. – Com licença...

Ela passou por mim e, acompanhada de Isabela, ainda teve a ousadia de me lançar um beijo provocador. Aquilo me incomodou, mas me contive e desviei o olhar, preferindo não alimentar a provocação. Assim que a porta se fechou atrás delas, o diretor nos convidou a sentar, e nós quatro obedecemos.

– Lamento chamá-los tão tarde, rapazes – começou ele, com uma voz mais calma. – Mas achei prudente resolvermos isso o quanto antes.

– E exatamente do que se trata? – perguntou Samuel de maneira educada, embora eu soubesse que, assim como eu, já imaginava que Amanda tinha algo a ver com aquilo.

– Antes de tudo, saibam que nossa escola preza por altos padrões e não tolera qualquer tipo de discriminação – disse o diretor, tentando preparar o terreno. – No entanto, também não é permitido que alunos de sexos opostos compartilhem dormitórios... ou que situações que possam gerar desconforto entre colegas ocorram.

– Espera aí – Théo retrucou, visivelmente irritado. – O senhor está insinuando que não podemos dividir o quarto por sermos gays?

Todos nós olhamos perplexos para o diretor Cornélio, que hesitou antes de continuar.

– Calma, rapazes... – disse ele, escolhendo bem as palavras. – Eu já sabia que alguns de vocês dividem o quarto com seus namorados. O problema é que alguns estudantes se queixaram do... barulho.

– Com todo o respeito, diretor, primeiro: eu namoro o Nick, meu irmão está com o Bernardo, e o Samuel está solteiro – Théo disse, levantando-se com indignação. – E ninguém aqui divide o quarto com o namorado! Quem fez essa acusação absurda? A Amanda, por acaso?

– Cuidado com o linguajar, Théo – o diretor o repreendeu. – E não foi só ela. Outros estudantes vieram me relatar que vocês estariam organizando orgias no quarto.

– Isso é calúnia! – Samuel exclamou, revoltado. – É mais uma mentira inventada pela Amanda para prejudicar o Daniel e o Bernardo!

– Independentemente disso, vocês quatro serão remanejados para quartos diferentes a partir de hoje – afirmou o diretor, agora mais firme.

– O senhor não pode simplesmente nos realocar assim, sem qualquer justificativa plausível – argumentei, sentindo o sangue ferver. – Isso é discriminação!

– A decisão está tomada – respondeu ele, levantando-se da cadeira. – Por favor, peguem seus pertences e dirijam-se aos novos dormitórios.

Entregou-nos um papel com o número do novo quarto e uma cópia da chave. O meu era em um andar superior, e aparentemente estaria sozinho lá.

– Tá de brincadeira que vão me jogar no andar dos professores! – Théo explodiu, com o rosto corado de raiva. Seu cabelo loiro com mechas azuis parecia até faiscar.

– E eu vou ficar no dormitório das meninas, é isso? – Bernardo exclamou, indignado. – Isso é surreal!

– É uma medida temporária – justificou o diretor. – Até que tudo seja esclarecido.

– Pois eu não saio do meu quarto! – Théo gritou.

– O senhor está ciente de que meu pai pode processá-lo por isso, não está? – Bernardo retrucou, também de pé. – E é exatamente isso que ele fará ao saber do que está acontecendo!

– Não precisamos levar as coisas a esse extremo – disse Cornélio, voltando a sentar-se e cruzando os dedos sobre a mesa. – Encarem isso como uma chance de conviver com outras pessoas.

– Tipo a professora nojenta de geografia, no meu caso – murmurou Théo.

– Isso tudo é absurdo! – Bernardo exclamou, virando-se e saindo da sala com passos pesados. A porta bateu com força ao fechar.

Eu, Samuel e Théo trocamos olhares, então olhamos para o diretor, que parecia alheio a tudo.

– Também vamos sair – falei, levantando-me com raiva contida e os punhos fechados.

– Muito bem – respondeu ele, sem emoção. – Espero que saibam se comportar. Estão dispensados.

Levantamo-nos e deixamos a sala em silêncio.

...

Bernardo

Meu corpo fervia de raiva. Tudo ao meu redor parecia tingido de vermelho, como se uma cortina de sangue cobrisse meus olhos. Eu tremia da cabeça aos pés, cerrando os punhos com tanta força que minhas mãos doíam. Só Deus sabe o esforço que fiz para não dar um soco naquele diretor desgraçado. Ele teve a audácia de dizer que a escola não tolerava discriminação — sendo que era exatamente isso que ele estava fazendo. Estava nos punindo por sermos gays. Eu sabia que meu pai não deixaria isso barato. Ia atrás dele, e aquele diretor amargo perderia o cargo.

— Pela sua cara, imagino que a reunião não foi muito agradável — ouvi a voz venenosa daquela víbora debochando de mim.

Virei-me bruscamente e lá estavam Amanda e Isabela, encostadas na parede do prédio, bem abaixo da janela da sala do diretor Cornélio — certamente estiveram ali para escutar cada palavra da nossa conversa.

— Sua cobra miserável! — avancei, tomado pela fúria. — Está satisfeita agora? Perdemos o nosso quarto!

— Na verdade, não tanto — Amanda respondeu com desdém. — Achei que o diretor fosse expulsar vocês... ou no mínimo suspender por estarem promovendo orgias — e caiu na risada.

— Você sabe que isso é mentira! — gritei, cerrando os dentes, sentindo meus punhos latejarem de tanta tensão.

— Pelo que escutamos, eram orgias regadas a álcool e drogas — Isabela completou, sorrindo cinicamente. — Aposto que o diretor ainda vai mandar revirar o quarto de vocês.

— Mesmo que não ache nada, só o vexame que vão passar já vai valer o esforço — Amanda continuou. — É o que dá se meter com o meu namorado.

A raiva me consumia. A risada dela ecoava na minha cabeça como um alarme, me deixando prestes a perder o controle. Eu estava a segundos de agredi-la. Foi quando ouvi a voz de Daniel me puxar de volta à realidade.

— Nunca pensei que você fosse tão baixa, Amanda — ele apareceu, vindo da diretoria junto com Théo e Samuel. — Você me decepciona mais a cada dia.

— Do mesmo jeito que você me decepcionou quando largou tudo por esse viadinho — Amanda retrucou com ódio. — Pelo menos eu ainda tenho minha dignidade.

— E que dignidade é essa? — Samuel rebateu, já irritado. — A de espalhar mentiras e tentar destruir os outros por pura dor de cotovelo?

— Ninguém mandou vocês influenciarem o Daniel nessas viadagens! — ela respondeu, furiosa. — Todos são culpados por fazer ele se tornar um desvio ambulante!

— Ninguém fez nada disso, Amanda — Daniel disse firme. — A única pessoa responsável por quem eu sou... sou eu. Eu nunca fui apaixonado por você. A verdade é que só fiquei com você por pressão dos meus amigos. Me desculpa, mas você foi apenas uma fachada. Mas com o Bernardo... é diferente. É por ele que sinto desejo, por ele que sou apaixonado.

Amanda, em choque e tomada pela raiva, deu um tapa forte no rosto de Daniel. O som ecoou pelo pátio, e ele virou o rosto com o impacto.

— Sua louca! Quer machucar ele, é isso? — gritei, avançando, mas Daniel me segurou com um olhar calmo.

— Nunca pensei que você fosse tão cruel — ele disse, massageando a face onde o tapa havia caído. — Mas eu entendo. Você está ferida. Só não justifica o que está fazendo.

Ela não aguentou e desferiu outro tapa, no outro lado do rosto dele.

— Eu te odeio! — cuspiu as palavras, tremendo.

— Eu não. Eu tenho pena — Daniel respondeu com a voz baixa. — Porque tudo o que você está fazendo agora é o reflexo da dor que você sente. Mas mentir para o diretor? Por quê?

Ela riu nervosamente, os olhos brilhando de lágrimas e ódio, passando a mão pelos cabelos em um gesto impulsivo.

— Porque eu quero que você sinta o que eu senti. Que sofra. Que perca tudo. Você me humilhou, Daniel! — gritou. — E quero que seja infeliz. Com ele ou sem ele.

— E você, Isabela? Por que se envolveu nisso? — Daniel perguntou, os olhos cravados na garota.

— Porque você destruiu a minha melhor amiga — Isabela respondeu friamente. — Estou apenas defendendo quem esteve do meu lado desde sempre.

As duas viraram-se e foram embora, mas Amanda fez questão de mostrar o dedo do meio antes de sumirem no prédio das meninas.

Corri até Daniel, que massageava o rosto, já inchado dos tapas, e o abracei com força. Ele retribuiu, me puxando para perto e me dando um beijo cheio de ternura.

— Ela te machucou? — ele perguntou, ainda ofegante.

— Não, mas eu estava a ponto de fazer isso com ela — respondi, indignado. — Ela disse ao diretor que estávamos usando drogas e álcool no quarto.

— Deixa que falem — ele respondeu. — Eu e o Samuel limpamos tudo ontem. Não vão encontrar nada.

— Mas ainda temos que nos mudar de quarto — Samuel resmungou.

— Ninguém vai se mudar — Daniel respondeu, tirando o celular do bolso. — Eu gravei a confissão dela. Estamos salvos. Agora, bora pro quarto. Tô morto.

Chegamos ao dormitório e contamos tudo a Nick e Théo. Eles ficaram pasmos com a tentativa do diretor de nos separar, mas aliviados por Daniel ter conseguido gravar tudo. Estávamos confiantes de que a situação logo seria resolvida.

— Ainda bem que o Dany gravou aquela vadia confessando — Théo comentou ao entrarmos no quarto.

— Ele só precisou fazer isso porque você apareceu e afastou meu irmão dele — retruquei, irritado. — Estava tudo bem até você surgir.

— Acha que eu o afastei? — perguntei, surpreso. — O seu irmão é gay, Théo! Se não fosse comigo, seria com outro.

— Talvez ele tivesse ficado do jeito que estava antes — ele murmurou, pegando roupas no armário. — Desde que você chegou, ele vive se machucando: atropelamento, briga, arma na cara... até quase expulsão!

— E você preferia que ele continuasse escondido, fingindo ser quem não é? — rebati. — Sem viver um amor de verdade?

— Pelo menos ele não estaria passando por isso — retrucou. — Ele parecia feliz antes.

— Ele só parecia. Hoje ele é de verdade. Mesmo com as dificuldades.

— Não é o que eu vejo — disse, com lágrimas escapando dos olhos. — Eu tentei seguir o conselho do Nick, deixar que ele decidisse. Mas já deu. Depois de hoje... não consigo mais ver isso continuar.

— Então quer acabar com a nossa amizade? — perguntei, magoado.

— Queria que fosse diferente — ele disse, cabisbaixo. — Mas como posso ser amigo de quem acho que está destruindo a vida do meu irmão?

— Lamento ouvir isso — falei, sentindo o coração se partir.

— Já tentei aceitar mil vezes... mas sempre dá errado — Théo disse, fungando. — Vou dormir no quarto do Nick hoje.

— Tudo bem — respondi com pesar, sentando na cama.

Ele arrumou algumas roupas na mochila e saiu. Logo depois, meu celular vibrou com uma mensagem do Daniel:

"A gravação não captou o áudio delas."

"Como assim?" — digitei, assustado, no exato momento em que alguém bateu à porta.

Ele arrumou algumas roupas na mochila e saiu. Logo depois, meu celular vibrou com uma mensagem do Daniel:

"A gravação não captou o áudio delas."

"Como assim?" — digitei, assustado, no exato momento em que alguém bateu à porta.

...

Théo

Bati à porta e, em poucos segundos, ela se abriu. Patrick surgiu no vão, e sua expressão mudou assim que me viu — talvez pelo meu estado, já que havia chorado durante todo o caminho até ali.

— O que aconteceu, cara? — perguntou ele, visivelmente preocupado.

— O Nick está aí? — perguntei, enxugando as lágrimas com a manga da blusa.

— Está no banho — respondeu, abrindo caminho para eu entrar. — Fica à vontade.

Assenti com um leve gesto de cabeça e deixei minha mochila na cama do Nick. Patrick voltou a se sentar, com o notebook no colo e os olhos atentos ao jogo que rodava na tela. Me deitei no colchão ao lado e fiquei esperando. Minha mente não parava de girar em torno do que tinha dito ao Bernardo. Talvez eu tivesse passado dos limites. Talvez não fosse o momento certo. Mas, na verdade, aquelas palavras estavam presas na minha garganta há muito tempo. Fingir que tudo estava bem, quando na verdade o culpava por tudo que o Daniel vinha enfrentando, era cansativo demais.

Ver meu irmão sofrer me destruía. E, no fundo, eu sabia que havia sido cruel com o Bernardo. Vi nos olhos dele o quanto minhas palavras o atingiram. E ele tinha razão: se não fosse com ele, seria com outra pessoa. O Daniel é gay. Fingir o contrário era uma prisão. E eu entendia isso melhor do que ninguém, porque já tinha estado lá.

Me descobri aos dez anos, mas só fui me aceitar — ou melhor, parar de mentir para mim mesmo — aos treze. Viver escondido é sufocante. É como estar preso dentro do próprio corpo. E o Bernardo... o Bernardo não tinha culpa nenhuma por amar meu irmão.

— O que aconteceu, Théo? — Nick saiu do banheiro ainda secando os cabelos com a toalha. Usava apenas uma bermuda azul de tactel. Seu corpo estava mais definido, com músculos discretos, mas visíveis — o suficiente para contrastar com o rosto ainda cheio de traços juvenis.

— Posso dormir aqui hoje? — perguntei, e minha voz falhou. As lágrimas voltaram a cair.

Nick veio até mim e me abraçou forte, como se com aquele gesto pudesse afastar toda a dor. Seus braços ao redor do meu corpo formavam um abrigo silencioso contra tudo o que me sufocava. Ele afagou meus cabelos e beijou minha testa. Olhei de canto e percebi que Patrick, com muita sensibilidade, colocara os fones de ouvido para nos dar privacidade.

— Claro que pode — disse Nick, antes de me dar um selinho suave. — Ainda está mexido com tudo o que aconteceu?

— Estou com raiva... mas não é só isso — falei, deitando ao lado dele, com a cabeça apoiada em seu peito. — Eu disse ao Bernardo que o culpava por tudo o que o Daniel está vivendo.

— E agora está se sentindo culpado — ele disse com aquela calma de quem me conhece bem.

Assenti.

— Acho que fui injusto com ele — confessei.

— Posso falar com sinceridade? — perguntou Nick, com a voz tranquila, porém firme. Percebi que ele escolhia bem as palavras. — Você está tentando encontrar um culpado. Mas o seu irmão já sofria antes de tudo isso começar. Só que o sofrimento era silencioso, escondido. Agora ele está tentando ser quem realmente é. Isso também dói, porque rompe com o que era antes. O Bernardo apenas despertou essa coragem nele. Não foi ele quem causou os problemas. Ele também está se sentindo perdido. Também está machucado.

Fiquei em silêncio. As palavras do Nick me atingiram em cheio.

— Talvez você tenha razão... mas é que eu... — fui interrompido por gritos vindos do corredor.

Nos levantamos num pulo. Fomos até a janela do quarto e vimos um grupo de alunos reunido em frente ao dormitório. Bernardo estava entre eles. Do outro lado, o diretor Cornélio havia aparecido, acompanhado de três seguranças.

O ar estava carregado de tensão. E alguma coisa me dizia que aquilo estava longe de acabar ali.

Continua...

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive Histórias românticas a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.
Foto de perfil genéricaHistórias românticas Contos: 37Seguidores: 17Seguindo: 1Mensagem

Comentários

Foto de perfil de brazzya

👅 💣 👀 Agora você pode ver tudo, sem roupa, de qualquer uma ➤ Afpo.eu/ekuza

0 0