Uma traição leva a outra - do Karaokê ao estúdio. 4

Um conto erótico de Bruno
Categoria: Heterossexual
Contém 4600 palavras
Data: 21/06/2025 08:53:13

Estava saindo do trabalho, ao lado de Alberto. O Senhor Fujiwara, ainda permanecia na empresa, depois da discussão. Alberto comentava mais sobre o que desejava de mim á frente da segurança dos seus dados, e foi naquele momento que ele me falou algo.

— Você tem potencial, rapaz. Deveria ser seu próprio patrão.

— Como assim? — Perguntei a ele.

— Você sabe, eu acho que você deveria trabalhar para si mesmo. Sem estar vinculado com ninguém. Você perde mais dinheiro tendo aquele homem como seu chefe, do que sendo dono de sí mesmo. — Disse Alberto.

—Eu não entendi ainda onde quer chegar. — Questionei.

— Olha. Eu sou muito bom em farejar pessoas de má índole, e aquele seu patrão é um grande de um mau caráter. Eu não confiaria a minha empresa nas mãos de um sujeito como ele, mas eu confiaria minha empresa você. Na verdade, eu tenho até alguns amigos que adorariam confiar a segurança de dados de suas empresas para você. Pense nisso.

No caminho de volta para casa fiquei com as palavras de Alberto em minha mente martelando o tempo todo. Será que eu daria conta de abrir uma empresa? Será que eu conseguiria ser maior do que o senhor Fujiwara?

Voltei pra casa por volta das seis da tarde. Havia saído pouco depois do almoço para encontrar Alberto na estação de Osaka.

Parando então para pensar no dia, ele foi até proveitoso: Ele veio direto de Tóquio no trem-bala. Conversamos por algumas horas — um cara simpático, inteligente, visivelmente impressionado com tudo que mostramos. Às cinco, nos reunimos com Fujiwara para selar os detalhes finais do contrato. Estava tudo praticamente certo. A negociação foi um sucesso.

Mas quando abri a porta do apartamento, aquela satisfação deu lugar a um aperto no peito.

E o aperto, deu lugar a um alívio.

Kaori estava na sala. Sentada no sofá, pernas cruzadas, olhando pro nada. A televisão ligada, mas o volume baixo. Quando me viu, forçou um sorriso.

— Oi... voltou cedo — disse ela, fechando um livro que eu nem tinha notado em suas mãos.

— É, o cliente só queria conversar e depois fechar alguns detalhes com o Fujiwara. Nada demais. Achei que ia voltar bem mais tarde, mas rendeu rápido.

Deixei minha pasta sobre a bancada e fui até ela. Fiz menção de beijá-la, mas ela virou o rosto sutilmente, oferecendo apenas a bochecha. Um gesto pequeno, mas que me travou por dentro.

— Bem-vindo... — Ela disse.

— Tentei te ligar mais cedo... — comentei, tentando parecer leve. — Umas duas vezes.

— Eu vi as notificações assim que consegui. Acabou a bateria — respondeu, apontando com o queixo para o celular em cima da mesa, conectado ao carregador.

Fiquei olhando para o aparelho por alguns segundos. Piscava, indicando que já estava ligado. Mas ela não o havia mexido desde então. Silêncio constrangedor.

— E o ensaio? Como foi?

Ela pareceu não me ouvir por um instante. Depois piscou devagar, como quem saía de um devaneio.

— Ah... foi normal. Proveitoso. O fotógrafo era muito profissional.

Observei sua expressão. Ela parecia mais avoada do que o normal, como se a cabeça estivesse em outro lugar. Tentei uma aproximação:

— Você tá bem?

— Tô. Só... cansada. Acho que vou tomar um banho.

Assenti devagar, e ela sumiu no corredor. Fiquei ali, parado, com aquela sensação incômoda — como se algo tivesse sido movido de lugar na casa, mas eu não soubesse o quê.

Tirei a camisa de botões e me sentei no sofá longo, e tentava relaxar enquanto esperei ela voltar.

O barulho da água do chuveiro ecoava pela porta entreaberta. A TV seguia passando qualquer programa, e o celular dela... ainda ali, carregando.

Ela voltou do banho com os cabelos presos, vestindo uma camiseta velha minha e shorts. Estava linda, como sempre. Mas havia algo no jeito dela andar, no silêncio, que parecia novo. Ou errado.

— Bruno...

— Oi? Fala, amor.

— Se acontecesse alguma coisa estranha com você... algo que você achasse que eu devia saber... você me contaria?

Fiquei em silêncio. A pergunta veio como um raio, rápido e direto. E eu congelei.

— Eu... acho que sim. Procuraria o melhor jeito de te dizer... mas contaria.

Ela mordeu o lábio inferior, pensativa.

— Por quê essa pergunta? — Questionei.

— Nada. Curiosidade boba.

Ela se aproximou. Seus dedos tocaram os meus. Me deu um beijo rápido, um selinho suave e incômodo, como quem beija por obrigação. — Ou talvez, era só impressão minha mesmo.

— Eu te amo.

— Também te amo.

— Vou fazer o jantar. Deve estar com fome.

Ela foi até a cozinha. Eu permaneci parado no mesmo lugar com o delioso gosto de seu beijo nos lábios, porém com uma carga de curiosidade

Três ou quatro horas. Foi só isso que fiquei fora. Mas alguma coisa... mudou entre nós nesse intervalo.

Acabamos indo dormir, sem que um tocasse no outro. No meio do sono, eu pensava, onde foi que nos perdemos?

E cheguei a conclusão que a culpa era minha e eu precisava reagir. E havia decidido: Iria contar pra ela a verdade, doa a quem doer. Só iria esperar o momento certo pra isso.

O sol ainda nem havia despontado completamente quando despertei. Por um momento, achei que tinha acordado antes do despertador. Me virei no colchão com o braço esticado, procurando pelo corpo quente de Kaori, mas o lado dela estava vazio. Ainda morno, mas vazio. A ausência dela naquela cama gelou meu estômago. Fiquei alguns segundos parado, sentindo o som abafado dos pássaros lá fora e um leve aroma vindo da cozinha. Café. Arroz talvez. Tamagoyaki? Suspirei, me convencendo de que tudo estava normal.

Levantei devagar. O chão de madeira ainda guardava o frio da madrugada. Caminhei até o banheiro, lavei o rosto, escovei os dentes e tentei me encarar no espelho. Tentei mesmo. Mas não consegui sustentar o próprio reflexo. Havia algo em meus olhos. Um vazio. Um cansaço diferente. Um homem tentando fingir que está tudo bem.

Me olhando naquele espelho por muitas vezes me peguei se perguntando: onde está o verdadeiro Bruno? Aquele Bruno amoroso que fazia de tudo por sua esposa? Eu precisava recuperá-lo, e comecei a perceber que tudo começou a desandar quando comecei a trabalhar naquela empresa. Comecei a me lembrar das palavras de Alberto, e havia me decidido: iria me livrar das garras do Fujiwara.

Saí e fui direto para a cozinha. Kaori estava de costas, concentrada, mexendo algo na panela. Vestia uma camisa larga e o cabelo preso num coque solto. A luz do abajur da cozinha desenhava contornos suaves nas costas dela. Me aproximei sem dizer nada, passei os braços pela cintura dela e beijei sua nuca.

— Bom dia...

Ela sorriu de leve, se inclinando um pouco.

— Bom dia, dorminhoco.

Nos viramos, e nossos lábios se encontraram num beijo rápido, mais protocolar do que apaixonado. E foi nesse instante que senti. Algo no beijo dela... estava diferente. Frio? Ausente? Era como se ela estivesse ali, mas sua alma estivesse atrasada alguns passos. Não tinha mais aquele calor espontâneo.

Me sentei à mesa. O café da manhã era um banquete japonês tradicional: arroz branco fresco, tamagoyaki com um leve adocicado, um belo filé de salmão grelhado, missoshiru perfumado com cebolinha, tsukemono em potinhos delicados e o chá verde já servido. Ela colocou uma xícara de café preto na minha frente, sabendo que eu sempre optava por ele.

— Hoje tem expediente completo? — ela perguntou, com um sorriso suave, enquanto colocava mais arroz na tigela dela.

— Tem. Inclusive, com carga extra. Alguns relatórios para revisar e sistemas para validar. O Sr. Fujiwara... é exigente.

Ela apenas assentiu, mexendo o missoshiru com os hashis.

— Entendo, amor...

— Mas eu terei alguns intervalos, podemos ir nos falando. E talvez, a noite, tenha uma novidade pra você. — Eu comentei.

— Não quero te atrapalhar, meu amor. — Respondeu ela, com uma voz suave.

— Na verdade... — Respondi. — Tudo que eu faço, é por você.

De vez em quando, eu a flagrava olhando para o nada. Como se estivesse perdida em outra cena, longe dali.

— E você? Algum plano pra hoje? — Comentei com ela.

— Nada demais... talvez ir ao mercado à tarde. Estamos com falta de algumas coisas.

— Tudo bem. — Respondi.

Depois do café, nos despedimos. O beijo de novo... ausente. Estranho.

— Até mais, amor. — Ela disse.

Na empresa, algo incomum: Fujiwara não estava. Pela primeira vez desde que entrei lá, ele não apareceu. Nem aviso. Nem recado. E justamente num dia em que o volume de trabalho parecia sufocar todos os setores. Reuniões atrasadas, e-mails sem resposta, clientes exigentes.

Foi ali que recebi um telefonema. Era do senhor Nakajima, um cliente antigo nosso.

— Alô?

— Nakajima-san. Bom dia.

— Bom dia. É o Bruno, não é? — Ele disse.

— Sim, senhor. — Respondo. — No que posso ajuda-lo?

Ele então disparou:

— Você sabe que tenho contrato com esta empresa já faz 3 anos, e para ser sincero eu nunca tive um suporte tão bom quanto eu venho tendo depois que você assumiu a segurança de meus dados.

— Muito obrigado, senhor. — Respondo educadamente. — Mas isso não é mais que minha obrigação.

— É modesto, também. — Ele disse. — Alberto me falou de você. Acho que deveria seguir o conselho dele.

— Conselho?

— Sim. Deixe o Fujiwara. Trabalhe sozinho. Você é muito maior que ele já, e essa empresa que te limita muito. Se precisar de um capital para iniciar, eu te empresto. Depois você me devolve.

Já era a segunda pessoa que havia me dito que deveria largar meu chefe. E naquele momento eu comecei a cogitar isso. Mas não queria pensar nisso agora, ainda era funcionário daqui, e tinha muita coisa a resolver, inclusive, estava desenvolvendo um novo sistema anti-fraude, que iria apresentar aos clientes em breve.

Voltei para casa ao entardecer. Ao abrir a porta, percebi que Kaori não estava. A casa estava silenciosa, as luzes apagadas, a chaleira ainda fria sobre o fogão. Esperei. Quinze minutos. Vinte. Trinta. E então ouvi a chave girando na porta.

Ela entrou com uma sacola de mercado, respirando um pouco ofegante. As bochechas levemente coradas pelo frio.

— Oh, oi! — Ela disse ao me ver na sala. — Não imaginava que chegaria depois de você.

— Sim, amor. Cheguei sim.

— Estava no mercado? — perguntei, tentando manter a voz calma.

— Estava sim. Fila enorme, acabei me distraindo olhando umas coisas.

Assenti, observando o conteúdo da sacola. Algumas verduras, leite de soja, e pacotes de algas. Estava ali o que ela mencionou de manhã... mas nada que justificasse quase uma hora fora.

— Irei guardar essas coisas, já conversamos amor, aliás, quer alguma coisa?

— Não, amor. — Respondi, me sentando no sofá em seguida.

Passamos o restante da noite numa estranha coreografia. Ela mexia no celular com frequência, digitando rápido, bloqueando a tela sempre que me aproximava. No jantar, mal tocou na comida.

— Você está bem? — perguntei.

— Estou sim, amor. — Respondeu a mim.

— Eu estava pensando em uma coisa. — Comentei com ela.

— O que? — Ela respondeu.

— Acho que já está na hora de seguir minhas próprias pernas nesse país. Estou pensando em sair da empresa e começar a ser independente.

— Como assim?

Olhando pra ela, eu peguei suas mãos e uni junto as minhas. Respondi:

— Eu já trabalhei tempo demais para o Fujiwara-san. Eu já consigo falar fluentemente japonês, e até mesmo já tenho um ou outro contato para começar meu próprio negócio. Conversei com um amigo hoje, e ele está disposto a ser meu sócio em uma nova empresa. Eu consegui um Capital Inicial para os equipamentos e também alugar um salão, já tenho 3 clientes em potencial para trabalhar. Eu só preciso agora de tempo para vencer o meu contrato com o senhor Fujiwara, e depois comunicar que não irei renovar.

— Você.... Acha que isso vai dar certo? — Ela perguntou.

— Eu acho sim. Inclusive, isso é uma boa oportunidade pra voltarmos a deixar tudo isso pra lá e sermos somente nós dois de novo. O que acha?

Ela demorou alguns segundos para responder.

— Recebi uma proposta. Do Fujiwara-san.

Senti minha espinha gelar. Aquilo foi quase como um soco no estômago. Olhei para os olhos dela.

— Que tipo de proposta?

Ela ficou pensativa por alguns segundos, e logo respondeu:

— Bom... Ele me disse que um patrocinador internacional adorou as minhas fotos, e...

— Como é? Mas as fotos não seriam apenas nossas? — Disparei.

— Então... — Ela respondeu. — Seriam, mas ele me disse que me achava "bonita demais" pra me esconder em simples fotos caseiras, e que poderia virar uma modelo internacional.

— E depois? O que ele falou?

— Ele quer me convidar para uma campanha de lingeries. De uma marca francesa. Disse que as fotos do ensaio anterior chamaram atenção.

— Eu... Não sei o que pensar sobre isso. E você?

— Eu? Não sei, oras...

Ela não conseguia me encarar. Ficava mexendo nas alfaces da tigela com os hashis.

— E você quer fazer?

Ela hesitou.

— Bom, eu não sei, sabe? Não sei. Mas quis te contar.

Silêncio.

— Eu não acho isso certo. Eu vou falar com ele.

— Mas eu tenho vontade de fazer! — Ela disparou, olhando para mim em seguida.

Aquilo novamente me pegou de surpresa, e não tive como reagir. Ela simplesmente se levantou e pegou a nossa louça, e foi até a pia para lavar, mas muito provavelmente o fez para não ficar me encarando.

Depois de lavar a louça, ela veio até mim. Tocou minha mão, olhou em meus olhos com um brilho incerto.

— Você sabe que eu sou só sua, né? — Ela disse.

— Eu sei. — Respondi.

Foi então que ela levou as mãos em meu rosto, e o segurou, com ternura. Ela então me beijou, e naquele momento, eu a peguei na cintura. E fomos para o quarto.

Ali, eu a joguei na cama, e ela estava de avental e uma camisa larga, e apenas uma calcinha. Estava calor naquele dia. Eu descia sua calcinha. Deixava sua bucetinha á mostra.

Eu levei minha boca ali, e assim eu comecei a chupa-la. Cai de boca nela, e assim comecei a beijar sua bucetinha. Coloquei minha língua para fora e ela começou a tocar os lábios, em ouvir minha boca em seus lábios e comecei a chupar devagar, tomando ali o seu néctar enquanto ouço ali o seu gemido.

Minha Kaori, cheia de tesão, acabou levando sua mão até meus cabelos onde começou a puxá-lo e trazer meu rosto para entre suas pernas para poder chupá-la mais. Eu segurava suas pernas ali enquanto minha boca se deleitava com o seu néctar, logo eu acabei tirando aquela camisa larga e deixando ela completamente nua.

Comecei a subir minha boca pelo seu corpo enquanto eu comecei a seu seio, com a minha boca encaixada naquele mamilo duro. Eu comecei a movimentar minha boca pela região enquanto eu chupava e sugava com vontade, enquanto trazia uma de minhas mãos até o meio de suas pernas onde eu comecei a esfregar os meus dedos ali em seus lábios já meladinho.

Algumas imagens que vinha em minha mente voltaram a vir como todas as vezes que eu tentava possuir a minha esposa, mas dessa vez eu as ignorei.

— Que delícia. — Ela disse. — Ta de pau duro, que saudades. O que te deixou com tesão assim?

Não disse nada, apenas a beijei novamente, enquanto roçava a cabeça do pau na entrada da bucetinha.

Ela levou as mãos sobre as minhas costas, e disse: Mete.

E comecei a meter, e como há muito tempo não fazia, estava ali possuindo a minha mulher. O tesão começou a falar mais alto do que qualquer culpa que eu estava sentindo, e sabia que precisava ser mais homem naquele momento. Meu pau se encaixava dentro dela enquanto movimentava meu quadril, a minha japonesa gostosa jogava o seu corpo contra o meu, estávamos ali cheio de tesão, matando a vontade e saudade de sexo que não acontecia há semanas.

Talvez pelo fato de estar há tanto tempo sem sexo, acabei não durando tantos minutos assim e acabei gozando. Fundo.

— Ah!

Jorrava minha porra dentro dela, as pernas dela tremiam. Parece que gozou junto comigo.

Dormimos como uma pedra depois disso, dominados pelo tesão.

Porém, no meio da noite, eu virei para o lado dela na cama, e não a encontrei. A parte dela estava vazia. Ela voltou depois, com o celular na mão, havia dito que foi beber água. Voltamos a dormir.

Acordei com um cheiro delicioso vindo da cozinha. O sol da manhã entrava timidamente pela persiana do nosso quarto, e por um instante, tudo parecia em paz. Minha cabeça ainda estava cheia, mas meu corpo estava leve. Ao meu lado, o espaço vazio da cama indicava que Kaori já havia levantado.

Me espreguicei, levantei com calma e fui direto ao banheiro. Lavei o rosto, escovei os dentes e tentei expulsar o peso que ainda pairava no peito. Quando saí, vi a cena que, mesmo depois de anos, sempre fazia meu coração aquecer: Kaori de avental, descalça, concentrada na cozinha. Estava finalizando os ovos mexidos, enquanto um arroz recém-cozido ainda soltava vapor e filés finos de frango grelhado estavam sobre a tábua. Tudo muito simples, mas feito com tanto carinho.

Me aproximei devagar, a abracei pela cintura por trás e beijei seu pescoço.

— Bom dia — disse, com um sorriso nos lábios.

Ela virou o rosto levemente e me deu um beijo no canto da boca.

— Bom dia, dorminhoco. Tá com fome?

— De você... — brinquei.

Ela riu.

— Vai, senta. Hoje o café tá mais leve. Só arroz, franguinho e ovos. Achei melhor assim depois da nossa... noite intensa.

Sentamos juntos à mesa. Durante alguns minutos, comemos em silêncio, mas não o silêncio incômodo. Era aquele tipo de calmaria depois da tempestade.

— E então... — ela começou, olhando nos meus olhos — vai me contar mais sobre essa ideia da empresa?

— Claro. Para começar uma empresa, é exigido um capital inicial de 5 milhões de ienes no caixa, e eu tenho bem mais que isso, com economias e também todas as promoções que ganhei durante esses poucos anos nossos aqui.

— Legal. O que mais, amor?

— Só preciso agora de um endereço comercial, decidir qual tipo de empresa que eu desejo criar, um sócio, que eu já tenho, e alguns documentos, como contrato social, comprovante de endereço, um certificado emitido pela receita japonesa. Isso não será problema resolver.

— Interessante. — Ela me respondia, entretida.

— Eu só quero nossa independência. Não precisar mais depender de contratos presos, do... Fujiwara.

Ela assentiu com a cabeça, pensativa.

— Acho que é uma boa ideia. Você sempre teve cabeça pra isso.

— Só preciso montar um plano. Estrutura, clientes, contatos. Vai dar trabalho.

— Mas vai valer a pena. — disse ela, sorrindo.

Ficamos em silêncio por um momento. Então eu perguntei, como quem apenas queria esclarecer algo, mas com o coração apertado:

— E sobre as fotos? Você ainda quer fazer?

Kaori colocou os hashis sobre a tigela, olhou bem nos meus olhos, séria, mas com doçura.

— Eu preciso ser bem sincera com você quanto a isso.

— Pois seja. — Respondi.

— Quero sim. Fiquei pensando nisso desde o primeiro ensaio. Nunca imaginei que seria algo que me atrairia, mas... me senti confiante. Me senti bonita. Quero ver se é algo que eu gosto de verdade.

— Certeza?

— Sim. Eu não quero só depender de você, Bruno. Você sabe, que apesar de estarmos no japão, eu fui criada no Brasil. Não gosto de ser sempre assim tão dependente, eu não estudei pra isso.

Assenti, tentando esconder o nó na garganta.

— Você tem razão. Estamos aqui, mas nossa real natureza não é aqui.

— Obrigada por entender, amor.

— Se você quiser, eu posso ir com você. — ofereci.

Ela balançou a cabeça suavemente.

— Não precisa, amor. Sábado já tá marcado. Se você não estiver ocupado, tudo bem. Mas eu posso ir sozinha também. É tranquilo.

Eu tentei sorrir.

— Claro. Como quiser.

Pouco depois, me arrumei e segui para o trabalho. A caminho da empresa, o peso da conversa me voltou à mente. Eu queria confiar nela. Mas havia algo dentro de mim, uma inquietação, que me corroía. E mais do que isso, havia algo no ar... algo no Fujiwara.

Ele já me mostrou que não é de confiança, quando me ameaçou, duas vezes, com aquelas fotos da minha traição.

Naquele momento, eu tinha realmente me decidido que iria dar um basta. Nesse fim de semana, eu contaria tudo a Kaori. Poderia perde-la, mas seria honesto, coisa que não fui durante todos esses dias.

Ao chegar, me surpreendi ao ver a porta da sala dele entreaberta. Ele estava lá, com aquela pose de superior, olhando seu notebook. Pela primeira vez, não hesitei. Bati uma vez e entrei.

Ele estava sozinho, com a camisa aberta no colarinho, distraído com qualquer coisa naquele visor. Ele me olhou.

— Ah, Mutou-san. Precisa de algo?

Fechei a porta atrás de mim.

— Quero saber o que você acha que está fazendo.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Como assim?

— Com minha esposa. Com essa história de fotos. Era pra ser só um ensaio. Você iria entregar as fotos pra nós, como um "presente". Agora vem com essa de modelo internacional?

Ele deu uma risada baixa, debochada.

— Sua esposa é gostosa demais pra ficar só no seu álbum de memórias. Achei que você soubesse disso. Aliás, fui eu quem te ajudou a esconder a merda que você fez no karaokê. Não tem moral pra querer impedir nada.

— O que você quer dizer com isso? — perguntei, minha voz falhando por um segundo.

Ele se levantou, caminhando até mim devagar.

— Quero dizer que você já traiu. Não tem moral pra exigir fidelidade de sua esposa.

— Minha esposa é uma mulher decente. — Disparei.

— Decente? Hahaha. devia chegar nela hoje em sua casa, e perguntar se ela realmente é uma esposa decente. Vamos ver o que ela te responde.

— Você é doente...

— E você é burro. Vai trabalhar, garoto. Hoje é um dia cheio. E lembra de uma coisa... ao contrário de mim, você tem muito a perder.

Furioso, virei as costas e saí da sala. Meu coração batia descompassado. As mãos tremiam. Eu precisava respirar. Pensar. E descobrir o que ele queria dizer com aquilo.

Iniciei meus trabalhos, mas decidido a de uma vez por todas me livrar desse homem. E tive uma ideia. Comecei a olhar no sistema, contratos vencendo de clientes e anotei o telefone de cada um deles.

Comecei a ligar para cada um deles. abordagem era a mesma: Todos, de alguma forma, me conheciam e sabiam de minha reputação, minha dedicação no trabalho e o quanto eu os fiz ficar seguros com seus dados. Comecei a oferecer a eles um contrato mais vantajoso na minha nova empresa, que iria ser formada em breve.

Ja tinha conseguido ali pelo menos sete contratos que assim que se encerrassem aqui, fechariam comigo. Hora do próximo passo.

Horas depois, alegando questões pessoais, deixei o trabalho mais cedo. Liguei para Nakajima, que aceitou um encontro comigo.

Nos encontramos num restaurante de okonomiyaki no centro. Ele me ouviu em silêncio enquanto eu despejava tudo.

— Quero abrir minha empresa. Cuidar da segurança de dados de grandes clientes, como Alberto. Você. Sem estar preso a Fujiwara. Você me ajuda?

Nakajima assentiu, sério, mas com um leve sorriso no canto da boca.

— Achei que nunca ia me pedir isso. Seguiu meu conselho.

— Mas não sei se é certo o que estou fazendo.

— Escute, Mutou. — Ele me olhava sério naquele momento. — No mundo corporativo, o que você está fazendo acontece o tempo todo. O maior, sempre, eventualmente, vai subjulgar o menor. Você tem potencial.

Naquele instante, algo dentro de mim mudou. Pela primeira vez em muito tempo, eu estava pronto para reagir. Fujiwara ainda não sabia... mas tinha acabado de me dar o motivo que faltava pra começar a virar a chave.

Voltei para casa naquela noite e encontrei Kaori na cozinha, finalizando o jantar. Ela estava fazendo salada de repolho, com Karaage e arroz. O cheiro delicioso se espalhava pelo ar, aconchegante. Ela usava um avental claro e cantarolava uma melodia suave em japonês. Quando entrei, ela se virou e sorriu para mim.

— Oi, amor. Está quase pronto — disse ela.

— Cheguei no melhor momento, então — forcei um sorriso, tentando não deixar transparecer a inquietação dentro de mim.

Sentamos à mesa e jantamos em uma paz ensaiada. Conversamos sobre coisas triviais — o tempo, um novo restaurante no bairro, até uma possível viagem no mês seguinte. Nenhum de nós tocou no assunto do ensaio ou do trabalho. Era como se estivéssemos contornando um abismo invisível entre nós.

Enquanto eu mastigava, a pergunta girava em minha mente: "Quando será o momento certo para contar? Como ela reagiria se soubesse?" O peso da traição ainda me corroía. Eu tentava agir normalmente, mas tudo dentro de mim parecia ruir em silêncio.

Dois dias passaram sem nenhum incidente aparente. Kaori seguiu sua rotina e eu continuei preparando o terreno para abrir minha própria empresa. Já havia feito minha inscrição na Receita Japonesa, registrado o nome no município e aberto uma conta bancária comercial. Em duas semanas, estaria livre para iniciar minha jornada como empreendedor. E, mais importante, livre de Fujiwara. Coincidentemente — ou não —, esse era também o tempo restante do meu contrato atual.

Na tarde de quinta-feira, recebi uma mensagem dele:

"Mutou-san, seu contrato está se encerrando. Gostaria de discutir a renovação na segunda-feira. Estou disposto a dobrar seu salário atual, além de incluir comissões. Pense com carinho."

Fiquei olhando para a tela do celular por alguns segundos. A proposta era tentadora... mas agora, era como uma corrente dourada. Eu sabia que precisava romper. A presença de Fujiwara na minha vida era uma âncora — e eu estava afundando.

No sábado, o dia correu como esperado. Fujiwara disse que estaria ocupado com "assuntos pessoais" — eu sabia bem o que isso significava — e me pediu para representar a empresa em uma reunião com um cliente.

Enquanto isso, Kaori saiu cedo para o segundo ensaio. Ela pareceu toda animada, mas tinha algo nela que me incomodava. Uma certa incerteza com algo.

Terminei a negociação com o cliente e voltei para casa por volta das quatro da tarde. A casa estava vazia. Fiz um chá, sentei no sofá e liguei a TV, mas não prestei atenção em nada. O tempo se arrastava.

Por volta das seis, Kaori entrou em casa. O rosto dela estava estranho. Cansada, sim, mas... distante.

— Oi, amor — disse, me aproximando para beijá-la.

Ela desviou sutilmente.

— O que foi?

— Estou só... um pouco cansada. Vou tomar um banho, tá? — respondeu, sem me olhar nos olhos.

Fiquei ali, observando enquanto ela sumia pelo corredor. Algo estava errado. Aquele tipo de errado que se sente antes de se entender.

Minutos depois, ela voltou com os cabelos ainda úmidos, vestida com um moletom claro. Sentou-se no canto do sofá, abraçando uma almofada como se fosse uma armadura.

Me aproximei, o coração pesando no peito. E então, sem conseguir mais suportar o silêncio sufocante, soltei:

— O senhor Fujiwara me pediu para perguntar uma coisa... Ele disse: o que você responderia se eu perguntasse se você é uma pessoa decente?

Ela ergueu os olhos para mim. Aquele olhar... era como se tentasse enxergar algo por trás da minha pergunta.

— Que tipo de pergunta é essa? — ela perguntou, com a voz baixa.

— Eu sei que parece estranha, mas... ele falou isso a dois dias atrás. Como se quisesse provocar. Eu só... queria ouvir da sua boca.

Ela baixou os olhos. Silêncio. Depois disse:

— Eu... Eu diria que sou sim. Não sei... O que ele quis dizer com isso... Mas eu ao menos tento ser, eu acho...

Fiquei parado, escutando aquela resposta ecoar dentro de mim. Não era só a resposta. Era o tom. Era o que ela não disse.

Ela se levantou.

— Vou preparar algo leve pro jantar. Quer comer?

Neguei com a cabeça. Na verdade, naquele momento, aquela resposta não deixava minha mente em nenhum momento. O que ela queria dizer com isso?

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Comentários

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Aparentemente ela já deve saber do que rolou no karaokê e a probabilidade dela já ter sido linguiçada nesses ensaios é bem grande, vendo o modo dela agir.

Lembrando que se algo realmente aconteceu o cidadão não pode achar ruim pois fez merda primeiro.

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Com certeza o chefe ja comeu ela, deve ter comido nesse ensaio de sabado, ela correu direto pro banho. Mulher que trai e se arrepende é a primeira coisa que faz kkkk

Mas ela não deve ainda saber da traição dele, pois seria a primeira coisa que ela falaria quando ele perguntou sobre decencia

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Aqui nesse trecho, ela sabe o que rolou ou já está sentando na bingola.

"Ela voltou do banho com os cabelos presos, vestindo uma camiseta velha minha e shorts. Estava linda, como sempre. Mas havia algo no jeito dela andar, no silêncio, que parecia novo. Ou errado.

— Bruno...

— Oi? Fala, amor.

— Se acontecesse alguma coisa estranha com você... algo que você achasse que eu devia saber... você me contaria?

Fiquei em silêncio. A pergunta veio como um raio, rápido e direto. E eu congelei.

— Eu... acho que sim. Procuraria o melhor jeito de te dizer... mas contaria.

Ela mordeu o lábio inferior, pensativa.

— Por quê essa pergunta? — Questionei.

— Nada. Curiosidade boba."

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Eu interpreto ai que ela queria contar algo a ele, mas não podia contar, então perguntou isso pra ensaiar uma confissão, mas desistiu xD

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Eu imagino que no primeiro encontro deles, o cara deve ter dado um beijo nela, ou deve ter tocado onde devia

ela deve ter ficado se sentido com remorso, talvez pq gostou

porém depois eles transaram de novo, e agora teve essa sessão demorada de sábado, eles devem ter trepado la

Pra mim o patrão ja desceu o pau nela. acabou pro Bruno.

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Não sei se ela já tratou mas algo estranho está por acontecer ela provável está por trair

Tem também a traição dele que acho que foi armação , agora ele está acordando e espero que haja consequências terríveis para o chefe dele

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Ela sempre evita falar de como foram as sessões de fotos pra ele, algo está realmente acontecendo lá, e ela fica por horas avoada quando chega e só depois volta ao normal

ela ainda não sabe da traição dele, e ele, já cansou de estar do lado do chefe e ja planeja dar um arrasta nele levando uma boa quantidade de cliente junto

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Interessante e pela lógica o chefe dele dever está lá rsrs já que some da empresa nos dias do ensaio. O erro não justifica outro, mas tem algo estranho embreve saberemos o que é porém tem algo sobre a indecência ou postura além disso temos comportamentos diferentes 1. Com celular sem deixa outro parceiro ver. 2. Partida em desvaneio. 3. 😩 cansada. 4. Ela hensitou em responder. Ele pode está sendo aliciadas ou ela ou ela descobriu o que as meninas fazem além do das fotos. Ansioso pelo próximo capítulo....... pena que vou aguardar uns dias, wlw Kayrosk

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Continua intrigante,denso,com muitas suspeitas. Nada está muito claro. Isso deixa o conto ainda mais misterioso.

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Espero que o casal consiga se perdoar, mas não nego, estou curioso pra saber o aquele velho anda fazendo com a nossa querida Kaori hahaha

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A melhor parte é que o veio acha que ta por cima e o nosso heroi roubando tudo os cliente dele kkkkkkk

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To achando que ele ja comeu ela, nesse ultimo ensaio ela ter evitado beijo e corrido pro banho e sinal claro que ja deu pra ele, igual fez a nossa heroina do outro conto que chifrou nosso heroi com o gustavo.

Bruno pra mim ja é corno, mas nem pode reclamar, chifrou primeiro, resta saber o que acontecera agora

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a essa altura não resta mais duvidas, nosso heroi ja é corno, mas ta muito delicioso ver que ele ta planejando passar a perna no chefe kkkk

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