— Sobe? — perguntei, ainda com a mão no envelope.
Caio me olhou. Sorriu daquele jeito meio debochado de sempre, mas seus olhos não disfarçavam: ele queria.
— Só um brinde rápido — respondeu.
Subimos. O elevador parecia lento demais. Eu sentia a dor no fundo do corpo, uma dormência quente e pulsante, mas também um tipo estranho de poder: eu tinha sobrevivido. Tinha feito minha primeira cena. Estava pago. Estava... inteiro, mesmo depois de ter sido fodido até os olhos marejarem.
Abri a porta. O apê estava escuro, só uma luz da rua entrando pelas persianas velhas. Tirei os tênis, joguei o envelope em cima da mesa da cozinha e fui direto pra geladeira. Peguei a vodka barata e um suco de caixinha. Enchi dois copos até quase derramar. Coloquei gelo.
— Ao estreante mais resistente da produtora — ele disse, erguendo o copo.
— Ao cu mais fodido da Zona Norte — brinquei, com um sorriso amargo.
Bebemos. A vodka desceu rasgando. Mas depois do segundo gole, o calor no corpo foi maior que a dor.
Caio sentou no sofá, largado. Eu fiquei de pé, encostado na pia, olhando pra ele. Tatuagens no braço, coxas largas, o cabelo bagunçado. Eu lembrava das vezes que a gente se pegou antes, sem câmera. Mas hoje era diferente. Tinha um gosto de revanche na minha garganta. Um fogo novo.
— Tu gostou? — ele perguntou, virando pra mim.
— De quê?
— Da cena. De ser filmado. Do Rafael.
— Do Rafael, não. Foi bom... sobreviver.
Ele riu. Ficou em silêncio. Bebeu mais um gole.
— Tu manda bem. Mas sabe o que eu mais gostei? — perguntou.
— O quê?
— Te ver vulnerável. Real. O público vai gozar vendo tua cara de dor.
Eu senti algo virar dentro de mim. Um estalo. Me aproximei.
— Tu gosta de ver os outros vulneráveis, né?
— Gosto da entrega — respondeu, relaxado. Sem medo.
— Então se entrega pra mim? Quero meter em ti.
Ele não respondeu de imediato. A tensão cresceu. O silêncio era grosso.
— Vai devagar, Paulo — ele disse, com um sorriso torto. Mas não era um “não”. Era um aviso.
— Igual o Rafael foi comigo?
Ele me encarou. A rima ficou no ar.
— É isso?
— É.
Tirei a camiseta. Fui até ele. Caio abriu as pernas, como se testasse o que eu ia fazer. Montei no colo dele e beijei com vontade. Língua quente, mordida, pressão. Mordi o queixo dele, a lateral do pescoço. Ele gemeu baixo.
— Tira a roupa — falei.
Ele obedeceu. Sem graça. Sem a arrogância de sempre. Ficou nu ali mesmo no sofá. Tatuagens nos ombros, na barriga, uma bunda redonda e firme. Eu tirei minha bermuda, ainda sem cueca, e deixei meu pau roçar entre as pernas dele. Já tava duro, pesado.
Peguei o lubrificante na gaveta. Ele olhou pra trás.
— Vai com calma, tá?
— Eu vou te guiar — repeti, imitando o que ele me disse mais cedo.
Ele entendeu. Se posicionou de quatro no sofá. A bunda empinada, o corpo oferecendo. Passei o gel, molhei bem. Comecei com o dedo. Ele apertou os olhos.
— Relaxa — falei, com voz firme. Mas eu mesmo não tava calmo. Eu queria descontar no cu dele o arregaço que o Rafael fez em mim...
Entrei devagar. Só a cabeça. Ele arfou. Depois, mais fundo. Mais forte. A pele dele arrepiou. A bunda abriu embaixo de mim.
E então comecei a estocar.
Primeiro no ritmo que Rafael fez comigo. Depois, mais. Mais fundo. Mais duro. Mãos na cintura dele. Suor escorrendo. Caio gemia. Tentava manter a compostura, mas a voz dele falhava. A cada estocada, eu lembrava da pia. Da lágrima. Do olhar sem resposta.
— Tu gosta, né? — falei entre os dentes. — Gosta de ver a dor... Agora sente.
Ele mordeu o braço pra não gritar. Eu bati com a mão na bunda dele. Deixei marca. Continuei metendo. Forte. Sem parar. O barulho do meu quadril contra ele enchia a sala.
Meti ele de lado. Depois sentei ele no meu colo. O corpo dele era quente, suado, tremendo. Ele cavalgava, olhos fechados, boca aberta.
No fim, eu gozei dentro. Profundo. Até o último tremor. Fiquei enterrado ali, respirando forte.
Ele tombou pro lado. Exausto. Silêncio.
Ficamos ali. O cheiro de sexo no ar. O som da rua lá fora.
Caio se levantou primeiro. Foi pro banheiro, limpou-se rápido. Voltou de cueca e camiseta. Pegou o celular.
— Foi foda — disse, com um meio sorriso.
Ele vestiu a calça, pegou as chaves.
— Vai pra casa? — perguntei.
— Tenho que resolver umas coisas. Mas a gente se vê.
Ele saiu.
Fiquei sozinho no apê. A vodka quase no fim. O envelope com o dinheiro em cima da mesa. A toalha jogada no balcão.
Sentei no sofá. O corpo inteiro doía.
Meu cu ainda latejava, mas dessa vez não era só o meu.