Onde o Sol se Esconde (Capítulo 7)
O vento batia contra as janelas, fazendo-as ranger como ossos velhos.
No pequeno quarto, iluminado apenas pelos relâmpagos, Samuel e Teo protegiam Guto como podiam, os três amontoados entre cobertores finos e a esperança quebradiça.
Guto tremia.
Seus olhos arregalados saltavam de canto a canto, como se temesse que Padre Buzzi surgisse das sombras a qualquer momento.
Samuel acariciava suas costas em movimentos lentos, tentando transmitir a calma que ele mesmo não sentia.
— Tá tudo bem, Guto — sussurrou. — Você tá seguro aqui.
Teo sentou-se na beirada da cama, seus olhos marejados, mas firmes.
— Você quer contar pra gente o que aconteceu? — perguntou baixinho, com uma ternura que parecia quase quebrar o menino em pedaços.
Guto hesitou.
Suas pequenas mãos agarraram o lençol com força.
Por um momento, Teo achou que ele não conseguiria.
Mas então Guto falou — sua voz um fio rouco:
— Eles me chamaram... disseram que eu ia ser "especial"... — sussurrou, sem olhar para eles.
O trovão rugiu, abafando parte de suas palavras, mas Samuel e Teo ouviram o suficiente.
— Me deram um suco... — continuou Guto, sua voz falhando. — Depois, tudo ficou... estranho... pesado... Eu não conseguia mexer direito...
Teo sentiu seu estômago revirar.
Guto respirou fundo, lutando contra as lágrimas.
— Eu ouvi... ouvi a voz deles... o padre Buzzi... e o novo também... rindo...
— Ele começou a chorar baixinho. — Eles disseram que ninguém ia acreditar em mim... que eu era só um lixo de órfão...
Samuel cerrou os punhos até as unhas cravarem na palma.
Teo deslizou para mais perto e envolveu Guto num abraço apertado.
— Eles nunca mais vão encostar em você. — prometeu, sua voz rouca. — Nunca mais.
**
O pequeno corpo de Guto soluçava, mas pouco a pouco foi se acalmando entre os dois.
Quando finalmente adormeceu — de exaustão e terror — Samuel e Teo ficaram sentados ali, em silêncio, sentindo o peso monstruoso daquela noite.
Sabiam que não podiam mais esperar.
Na manhã seguinte, os inspetores viriam.
Seria a última chance de salvar Guto.
De salvar todos eles.
E de expor os monstros que usavam batinas para esconder seus crimes.
**
Mas, do lado de fora do quarto, passos furtivos ecoavam pelos corredores escuros.
Padre Buzzi não desistiria tão facilmente.
Nem Padre Maurício.
E o tempo, para Samuel, Teo e Guto, começava a se esgotar.
Continua...